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versão impressa ISSN 0102-7395
Reverso vol.42 no.79 Belo Horizonte jan./jun. 2020
TEORIA E CLÍNICA PSICANALÍTICAS
Considerações sobre o corpo na constituição subjetiva do bebê com deficiência
Considerations on the body in the subjective constitution of the infant with disability
Débora Crivelaro DickelI; Daniela Scheinkman ChatelardII
IPsicóloga, graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Atendimento Clínico Psicanalítico pela UFRGS. Especialista em Clínica Interdisciplinar em Estimulação Precoce pelo Centro Lydia Coriat (Porto Alegre/RS). Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (PPGPsiCC-UnB) como bolsista CNPq
IIMestre em psicanálise pela Université de Paris 8. Doutora em Filosofia pela Université de Paris 8. Professora Associada ao Departamento de Psicologia Clínica e ao Programa de Pós-Graduação de Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília. Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Membro da Associação Nacional dos Estudos sobre o Bebê. Autora do livro O conceito de objeto na psicanálise: do fenômeno à escrita (Ed. UnB, 2005)
RESUMO
Pretende-se situar a questão do corpo na clínica psicanalítica com bebês que apresentam patologias orgânicas, para pensar as possibilidades de inserção do bebê com deficiência na rede simbólica parental. Interroga-se, assim, como a imagem do corpo, constituída e sustentada na relação com o Outro Primordial poderá ser propiciadora ou limitante para a constituição subjetiva da criança, entendendo os efeitos da lesão fantasmática sobre o laço parental na clínica das deficiências.
Palavras-chave: Psicanálise, Clínica com bebês, Imagem do corpo, Subjetividade, Deficiência.
ABSTRACT
This article intends to situate the issue of the body in psychoanalytic clinic with babies with organic pathologies, to discuss the possibilities of insertion of the disabled baby in the symbolic parental network. It's examined, therefore, how the image of the body, constituted and sustained in the relationship with the Primordial Other, can be propitiative or limiting to the subjective constitution of the child, understanding the effects of the phantasmal injury on the parental bond in the clinic of the disabilities.
Keywords: Psychoanalysis, Clinic with babies, Body image, Subjectivity, Disability.
Ao falar de deficiência, falamos desde a nomenclatura diagnóstica do campo da medicina, a qual se refere àquilo que podemos entender como patologias orgânicas que incidem sobre o organismo do bebê e que poderão ter consequências sobre o seu desenvolvimento.
Entretanto, para além disso, o que interessa à psicanálise não são as questões do comprometimento orgânico em si, e sim os efeitos que o real do corpo orgânico possa ter sobre o imaginário parental e, por conseguinte, suas implicações na constituição subjetiva do bebê e na constituição da imagem do corpo.
Desse modo, coloca-se em questão as marcas que a imagem do corpo atravessado pela fantasmática da lesão terá sobre a constituição subjetiva do bebê. A compreensão de corpo se dá pela teoria psicanalítica, que entende o corpo na dimensão da sua imagem constituída na relação com o Outro Primordial e na possibilidade do investimento libidinal que será aí colocado.
Assim, ao falar de corpo já não mais nos referimos aqui com exclusividade à questão do corpo orgânico, que carrega no real as marcas da deficiência, uma vez que, para a psicanálise, o corpo não se reduz ao corpo objetivado da medicina. Trata-se do corpo sobre o qual incide o olhar do Outro, e, a partir de uma cadeia significante, poderá ser falado, revestido de palavras desde as possibilidades que aquele que ocupa esse papel de alteridade terá para oferecer ao bebê, ou seja, desejá-lo.
Nesse sentido, entendemos, como aponta Jacintho (2012), que o processo de constituição subjetiva do bebê passa necessariamente pelo corpo. Isso significa dizer que,
[...] graças ao investimento libidinal da mãe sobre o corpo do seu bebê, este último deixa o registro funcional para aceder ao estatuto de corpo erógeno (Jacintho, 2012, p. 249).
O corpo dividido pela marca da deficiência
Alfredo Jerusalinsky (2010) retoma a sabedoria do Rei Salomão1 para lembrar que o olhar materno opera, a partir de seu desejo, uma unarização sobre o corpo do bebê. Se esse olhar que unifica faz função sobre o sujeito em constituição, interroga o autor
[...] o que podem fazer uma mãe e um pai cujo filho já vem com o corpo 'cortado'? [...] Como sustentar o deslizamento contínuo do significante sobre uma criança que o desagrega?
Tomando a noção freudiana de corpo, é possível pensar que é justamente a partir das marcas pulsionais sobre o corpo que ele terá possibilidade de ser para além do orgânico.
Dunker (2011) sinaliza, a partir da teoria lacaniana, que, ainda que seja necessário um corpo dotado de materialidade para se tornar um sujeito, trata-se também de um ser em potência, fazendo-se necessária uma suposição desse sujeito para que realize sua entrada no campo da linguagem, estando assim este "assujeito" posto em relação com o lugar de vir-a-ser.
Desse modo, o autor entende que:
A carne é corpo antes que haja corpo propriamente dito, assim como o organismo é carne antes que haja carne propriamente dita [...]. É na carne que incide a função de identificação simbólica expressa pelo traço unário, que está lá antes que exista sujeito (Dunker, 2011, p. 104).
Podemos compreender, segundo Lacan ([1949] 1998), que há um desencontro entre o corpo pulsional e um organismo que não dá conta, em sua função, de estar a serviço da constituição do sujeito.
Ainda que todo bebê nasça em estado de desamparo e que a relação do organismo com sua realidade está alterada devido ao inacabamento anatômico do sistema piramidal - o que aponta para a prematuração específica do nascimento do homem -, isso incide de maneira ainda mais presente quando se trata de um bebê com um organismo marcado pela deficiência.
A formulação lacaniana traz a compreensão da função do estádio do espelho (Lacan, [1949] 1998) como a função de estabelecer uma relação do organismo com sua realidade. Entende-se que o inacaba-mento anatômico do ser humano resulta em uma relação alterada do organismo com sua realidade. E é em decorrência disso que o estádio do espelho é compreendido como um
[...] drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para a antecipação (Lacan, [1949] 1998, p. 100).
O Outro terá, assim, papel fundamental para o bebê não apenas pela possibilidade de identificação com a imago de seu semelhante, mas também por oferecer o suporte necessário para que ele dê conta desse corpo ainda insuficiente, inacabado - papel que deverá oferecer um suporte ainda mais insistente para que o bebê que carrega as marcas de uma patologia orgânica consiga se precipitar da insuficiência para a antecipação, dadas as limitações orgânicas que se impõem sobre seu desenvolvimento.
Bebê imaginário versus bebê real
A partir desse ponto, buscamos interrogar acerca do que se fala ao dizer que a imagem idealizada do bebê poderá ocupar um lugar no imaginário e nas fantasias parentais, as quais se reeditam no momento do nascimento de seu filho.
Freud ([1914] 2010, p. 36) situa que a afetuosa atitude dos pais para com "Sua Majestade, o bebê" deve ser compreendida e reconhecida "[...] como revivescência e reprodução de seu próprio narcisismo abandonado".
Isso significa dizer que o momento do nascimento da criança tem a ver com o comparecimento do infantil dos pais e, mais especificamente, de seu narcisismo, o que, segundo o autor, leva os pais
[...] a atribuir à criança todas as perfeições [...] e a ocultar e esquecer todos os seus defeitos (Freud, [1914] 2010, p. 36).
Mas, se entendermos, como propõe Freud, que a criança está posta aí, no lugar de concretizar os sonhos não realizados de seus pais, o que podemos esperar dessa relação especular e imaginária em torno de uma criança que apresenta as marcas da deficiência denunciadas em seu corpo? Como será possível ao bebê com patologias orgânicas oferecer essa ilusão de completude e de realização a seus pais?
Podemos compreender que, ainda que a causa do sujeito não resida no orgânico, este por vezes poderá produzir ruídos na relação do bebê com seus cuidadores, podendo, ainda, incidir sobre a construção do aparelho psíquico, tendo efeitos sobre a constituição do sujeito (Coriat, 1997).
Assim, fica claro que a constituição do sujeito em bebês com patologias orgânicas enfrentará difíceis entraves, quiçá mais perturbadores das construções entre a mãe e o bebê do que as dificuldades encontradas por um bebê que apresenta seu orgânico preservado.
Eda Tavares (2013, p. 92), ao falar daquilo que se rompe na construção especular entre a mãe e o bebê com deficiências múltiplas, situa que
[...] quando o espelho quebra por fraturas no corpo da criança, fica comprometida a possibilidade desse jogo especular entre a mãe e o filho, fundamental na constituição da imagem do corpo e da subjetividade.
A autora entende que poderão se produzir efeitos catastróficos para os pais a partir de um problema de desenvolvimento de seu bebê, e isso aponta para a importância de compreender, desde o início, que lugar a criança ocupa no fantasma parental.
Quando Freud nos coloca que o bebê vem ao mundo predestinado a cumprir as realizações que não foram possíveis de ser alcançadas por seus pais, ele nos situa justamente em relação a esse lugar do qual o bebê é desejado e esperado. Constrói-se, a partir dessa idealização, um bebê imaginário, que será sempre diferente do bebê real, independentemente das condições orgânicas com as quais a criança advenha ao mundo.
No entanto, atenta-se para que o encontro entre o bebê imaginário e o bebê real enfrentará um grande abismo quando da ocasião de uma deficiência, podendo, segundo Tavares (2013, p. 89),
[...] ser da ordem do irrepresentável, fazendo com que possam claudicar a filiação, a sexuação e a identificação, ou seja, a constituição de um sujeito nesse pequeno ser de carne e ossos.
Possibilidades na constituição subjetiva do bebê com deficiência
Sabemos que, para que uma criança com patologias orgânicas
[...] tenha a possibilidade de advir como sujeito do desejo, é necessário que se cumpram as mesmas premissas, os mesmos passos necessários para que isso aconteça em uma criança organicamente normal (Coriat, 1997, p. 153).
Não se trata de compreender a constituição do sujeito de maneira diferente quando falamos de deficiência, mas de garantir que essa criança possa também ocupar um lugar no desejo parental e que as limitações orgânicas não se interponham às possibilidades de reformulações do ideal-do-eu e das fantasias parentais.
Assim, a pergunta que surge aí tem relação com as possibilidades que estarão dadas desde as particularidades de cada caso que se apresenta, entendendo que nem sempre o investimento lidibinal materno será possível em uma relação atravessada pelo real do organismo que comparece na deficiência.
Por vezes, a quebra do espelho, como citado anteriormente (Tavares, 2013), se mostra irreparável. Nem sempre será possível reconstruir um bebê imaginário que foi despedaçado no encontro com um corpo insuficiente, defeituoso, não desejado.
A partir dessas questões, apontando para as possibilidades de intervenção do psicanalista na clínica com bebês, Julieta Jerusalinsky (2002) entende a necessidade de que o bebê não seja colocado no lugar de exceção a partir do diagnóstico que lhe é atribuído para que possa ser inserido nessa rede de representações parentais.
Aí reside a importância de que esse bebê, diagnosticado com uma patologia orgânica, possa ser falado pelos pais e que a partir disso seja construída uma narrativa e uma historicidade acerca da vida do bebê, podendo ressignificar aquilo que foi deixado de lado desde o estabelecimento do diagnóstico.
A autora traz a compreensão de que, em transferência, se busca:
[...] dar lugar ao estabelecimento de uma borda nessa cratera que se produz na rede de representações parentais pela incidência de uma patologia, para que não seja o bebê quem, amarrado ao diagnóstico, termine caindo no abismo da falta de significação simbólica para a sua vida (Jerusalinsky, 2002, p. 98).
Laznik (2004) sustenta que é a ausência da imagem real que torna impossível a imagem do corpo. Desse modo, podemos pensar que, ainda que a imagem real se veja comprometida ou insuficiente, é preciso elaborar o luto da perda do bebê imaginário e construir novas possibilidades de investimento libidinal para que seja possível a constituição de uma imagem do corpo.
Nesse sentido, a deficiência que marca o corpo real, corpo orgânico da medicina, ainda que incida sobre a fantasia materna e que produza marcas e ruídos nessa relação, não será por si só impossibilitadora da assunção da imagem do corpo do bebê deficiente. É a partir da sustentação simbólica do bebê e da possibilidade em remetê-lo ao ideal-do-eu parental que será possível investir falicamente sua imagem (Jerusalinsky, 2002, p. 104).
As possibilidades e as limitações das ressignificações e do deslizamento de significantes no imaginário parental dependerão, portanto, de como isso irá operar para cada um na relação com seus filhos. Segundo Julieta Jerusalinsky (2002), o diagnóstico incide sempre de modo peculiar sobre a fantasia materna, e para que o bebê possa ser situado na série familiar essa incidência deverá estar em jogo no trabalho clínico.
Nesse sentido, Tavares retoma as consequências desse encontro com o real do corpo do bebê, entendendo que as relações que aí se estabelecem serão decisivas para a constituição do estádio do espelho, as quais
[...] dependem da antecipação que a mãe poderá realizar, tendo como suporte o jogo que se opera entre corpo da mãe e corpo do filho como suportes para o significante (Tavares, 2013, p. 92).
Considerações finais
A partir do momento em que um diagnóstico de deficiência é atribuído ao bebê, podemos afirmar que algo se rompe para aqueles que ocupam as funções parentais dessa criança. Ainda que essa ruptura seja inevitável, é a partir dela que se deverão produzir novas significações sobre o lugar que esse bebê venha a ocupar no imaginário parental a fim de que ele possa se constituir como sujeito.
Pavone e Abrão (2014) apontam que, para que a lesão real no corpo do bebê não tome proporções de impossibilidade constitutiva do sujeito, será necessário que os pais consigam reorganizar o imaginário e o simbólico sobre a criança, visto que
[...] o diagnóstico de quadro orgânico pode desmontar o imaginário que sustentava as hipóteses sobre o filho esperado/ imaginado (Pavone; Abrão, 2014, p. 375-376).
Assim, as autoras entendem que será fundamental para os pais o reorde-namento dos registros Real, Imaginário e Simbólico,
[...] ou seja, entre o real do organismo, supondo imaginariamente um sujeito além das necessidades físicas, sustentados pelos significantes na cadeia simbólica familiar (Pavone; Abrão, 2014, p. 378).
Entende-se que embora a marca deixada pela deficiência deva ser reconhecida pelos pais no real do corpo de seu bebê, será necessário ver para além desse real, supondo a criança para além de seu "corpo estragado", realizando o que Alfredo Jerusalinsky (2010, p. 97) sugere como uma operação simbólica que só é possível no campo da denegação e que "tem como efeito dizer a verdade amortizando o afeto".
Assim, ao passo que os pais se colocam situados no lugar de saber sobre a deficiência de seu filho, poder denegá-la em suas consequências
[...] permite-lhes conviver com seu filho deficiente num plano de 'normalidade', com efeitos normalizantes para a criança (Jerusalinsky, 2010, p. 97).
Por fim, entendemos que há muito a ser feito na clínica psicanalítica com bebês com deficiência, ainda que esse seja um lugar de difícil entrada para o psicanalista, ao entendermos que muitas vezes a demanda parental se orienta no sentido de
[...] que lhes seja arrumado o 'boneco estragado' do seu narcisismo (Jerusalinsky, 2010, p.92).
Trabalhará o psicanalista no sentido de oferecer o suporte para que os pais consigam produzir marcas significantes sobre o corpo do bebê, fazendo, assim, com que essas inscrições significantes possibilitem um estatuto de sujeito ao bebê, ocupando um lugar na rede de significações parentais. φ
Referências
CORIAT, E. A psicanálise e a criança com problemas orgânicos. In:. Psicanálise e clínica de bebês. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1997. [ Links ]
DUNKER, C. I. L. Corporeidade em psicanálise: corpo, carne e organismo. In: RAMIREZ, H. H. A.; ASSADI, T. C.; DUNKER, C. I. L. (Orgs.). A pele como litoral: fenômeno psicossomático e psicanálise. São Paulo: Annablume, 2011.
FREUD, S. Introdução ao narcisismo. In: ______. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). Tradução e notas Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. [ Links ]
JACINTHO, A. L. Clínica da prevenção: o olhar sobre o corpo do bebê. Estilos clin., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 242-261, jul./dez. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282012000200005. Acesso em: 05 dez. 2019. [ Links ]
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TAVARES, E. E. O espelho quebrado. In: KREISNER, B. G.; CAMPONOGARA, C. B.; LOUREIRO, L. L.; GLEICH, P (Orgs.). Deficiência múltipla: múltiplas interlocuções, interlocuções em rede. São Leopoldo: Oikos, 2013. [ Links ]
Endereço para correspondência:
Débora Crivelaro Dickel
E-mail: debora.dickel@gmail.com
Daniela Scheinkman Chatelard
E-mail: dchatelard@gmail.com
Recebido em: 10/12/2019
Aprovado em: 03/04/2020
1 Referência à passagem bíblica em que o Rei Salomão julga a causa de duas mulheres que alegam, ambas, ser mães do mesmo filho, propondo o rei, assim, dividir a criança em duas partes.