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Estilos da Clinica
versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624
Estilos clin. vol.23 no.3 São Paulo set./dez. 2018
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i3p542-557
DOI: 10.11606/issn.1981-1624.v23i3p542-557
DOSSIÊ
Amor materno e cuidado profissional
Maternal love and professional care
Amor materno y cuidado profesional
Fernanda Schmitt RibeiroI; Silvia Maria Abu-Jamra ZornigII
IDoutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
IIProfessora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Membro-fundadora da Associação Brasileira de Estudos sobre o bebê (ABEBE), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
RESUMO
Este artigo visa trazer uma reflexão acerca dos cuidados profissionais direcionados à primeira infância, especialmente os cuidados oferecidos por babás, tão comum no contexto brasileiro. Primeiramente, foi proposta uma discussão acerca da importância do cuidado para o desenvolvimento emocional do bebê, bem como as distinções existentes entre as relações que a cuidadora estabelece com o bebê, daquela estabelecida entre a díade mãe-bebê. Partindo dessas considerações, um estudo de caso foi apresentado. Este foi realizado com uma mãe e seus três bebês trigêmeos, acompanhados por uma observadora durante os dois primeiros anos de vida dos bebês através do método Bick de observação de bebês.
Descritores: cuidado profissional; amor materno; desenvolvimento emocional; bebê; método Esther Bick.
ABSTRACT
This article aims at bringing a reflection about the professional early childhood care, especially the nannies, so common in the Brazilian context. First, a discussion was proposed about the importance of care for the emotional development of the baby, as well as the distinction between the relationship the caregiver establishes with the baby and that established between the mother and baby. From these considerations, a case study was presented, referring to a mother and her three triplet babies, accompanied by an observer during the first two years of the babies' life, through the Bick method of infant observation.
Index terms: professional care; maternal love; emotional development; baby; Esther Bick Method.
RESUMEN
Este artículo pretende reflexionar sobre los cuidados profesionales dirigidos a la primera infancia, especialmente de las niñeras, muy común en el contexto brasileño. Se propone una discusión acerca de la importancia de los cuidados en el desarrollo emocional del bebé, así como las distinciones existentes entre las relaciones que la cuidadora establece con el bebé y las relaciones madre-bebé. Desde estas consideraciones, se realizó un estudio de caso con una madre y sus tres bebés trillizos, acompañados por una observadora durante los dos primeros años de vida de los bebés a través del método Bick de observación de bebés.
Palabras clave: cuidado profesional; amor materno; desarrollo emocional; bebé; método Esther Bick.
Introdução
Considerando a importância incontornável que a Psicanálise atribui à relação mãe-bebê para a constituição psíquica, compreende-se que todos os contextos que envolvem os cuidados dos bebês ao longo da primeira infância revelam-se instigantes para a investigação psicanalítica. Nessa perspectiva, torna-se pertinente examinar como os cuidados desempenhados por determinados profissionais impactam o processo de construção subjetiva na primeira infância, visto que a terceirização dos cuidados aos bebês tornou-se um fato comum na realidade contemporânea.
É possível perceber que nosso contexto social vem transformando a forma como muitas mães estão vivenciando a maternidade no Brasil. A cada vez mais frequente delegação dos cuidados maternos às babás não parece implicar apenas uma alternativa para que a mulher possa desempenhar suas atividades profissionais. Vê-se como, cada vez mais, o conhecimento íntimo do próprio filho, muitas vezes, parece também estar sendo delegado.
Abrigos, creches e babás implicam contextos distintos de cuidado, mas têm como ponto em comum o fato de se constituírem como forma de cuidado profissional ao bebê. Frente a essas realidades, impõe-se o questionamento de quais seriam as peculiaridades e diferenças existentes entre as relações estabelecidas pelas cuidadoras com os bebês que lhe são confiados, e as desenvolvidas pelas díades mãe-bebê.
O presente artigo pretende analisar como as relações entre os profissionais e os bebês são estabelecidas, bem como as diferenças existentes entre essas relações e as que as mães desenvolvem com seus filhos. Partindo de reflexões teóricas, serão apresentadas algumas observações acerca de um caso onde o cuidado dos bebês era delegado a profissionais.
Amor materno e cuidado profissional: algumas considerações
A literatura que discute o cuidado desempenhado por uma profissional e aquele desempenhado pela mãe do bebê aponta como sendo de fundamental importância a existência de uma distinção entre essas duas formas de relação. Os cuidados profissionais sejam estes vivenciados em creches, escolas infantis ou por babás nas próprias casas dos bebês têm particularidades que os diferenciam dos cuidados desenvolvidos por meio da relação materna.
Para Myriam David (2002/2012), a relação parental é passional, pois os pais cuidam de seu bebê porque o amam. Já a relação profissional acontece de forma inversa, de modo que é o cuidado que vem em primeiro lugar, através do qual a relação se constrói, como é possível ver na seguinte citação:
É essencial compreender que uma relação entre um bebê e um terceiro que não seja a mãe, mas um terceiro que deve cuidar do bebê, deve se diferenciar da relação materna, trazendo à criança a segurança e o calor de um laço. A relação materna e a relação das cuidadoras são de naturezas fundamentalmente diferentes e não respondem ao mesmo objetivo. A relação materna é uma relação contínua, que segue por toda a vida. É uma relação passional, amorosa, sempre complexa, dentro da qual o bebê e a mãe vivem uma dinâmica de ternura, cólera e frustração, inquietude, brincadeiras etc. A relação materna é inspirada por tudo aquilo que o bebê evoca na mãe, evocações que estão relacionadas à sua vida de casal, ao seu passado familiar, às pressões de sua cultura. (David, 2002/2012, pp. 45-46, tradução nossa)
A autora indica como a relação mãe-bebê é única e singular, já que será específica e construída com cada filho, baseada na história infantil da própria mãe, seu passado familiar, assim como no encontro desta com seu bebê. Já a relação estabelecida entre o bebê e a cuidadora seria, nas palavras da autora,
um canal interativo que carrega a relação que vai se desenvolver entre bebê e cuidadora, que, contrariamente à relação materna, é o cuidado que está no começo dessa ligação e é fundador da relação e não o inverso, essa relação não tem um fim em si mesma, ela resulta da qualidade do cuidado, mas, certamente, ela vai de forma circular motivar seu retorno.... Essa relação de cuidado particular, nem melhor, nem menos boa, mas diferente de uma relação materna é suficiente para alimentar o processo de desenvolvimento do bebê enquanto ele estiver privado de sua mãe, lhe permitindo vivenciar a separação como um distanciamento, não como uma perda, e mantém a capacidade de reencontrar essa relação materna. (David, 2002/2012, pp. 48-49, tradução nossa)
É importante destacar, nessa citação, a função do cuidado profissional de favorecer e manter viva a capacidade de o bebê reencontrar sua mãe, pois o cuidado profissional não substituiria a relação parental. Nesse contexto, Golse (2002/2012) afirma que o papel dos profissionais de cuidado na primeira infância consiste em manter aberto o lugar da imagem materna real, a partir de uma função continente que permita reencontros posteriores e possíveis com os objetos parentais.
Contudo, pode-se imaginar que, assim como as mães são atravessadas por suas histórias infantis, seus contextos familiares e uma série de questões psíquicas que fazem com que sejam mães singulares para cada um de seus filhos, também as cuidadoras são perpassadas por suas idiossincrasias. Seria de se esperar que o lugar profissional que ocupam e o treinamento pelo qual muitas vezes passam as resguardassem de determinados sentimentos, uma vez que elas aprenderiam a lidar com eles. No entanto, as coisas não se passam assim e, consequentemente, muitas vezes essas profissionais não sabem lidar com esse encontro de ordem afetiva.
Szanto-Feder (2002/2012) afirmou que Emmi Pikler, fundadora do Instituto Loczy, estava convencida de que seria humanamente impossível para um adulto amar da mesma forma todas as crianças que lhe fossem confiadas ao longo de sua vida profissional, mesmo tendo tido um treinamento extenso, como ocorria com os profissionais dessa renomada instituição.
Emmi Pikler foi a criadora desse instituto localizado em Budapeste, fundado em 1946, que acolhia crianças que haviam perdido seus pais, principalmente devido à situação de guerra em que o país passava. Esse trabalho destacou-se na cena internacional devido à segurança afetiva presente na relação de respeito das cuidadoras com as crianças, partindo do entendimento de que cada criança é um ser singular, com necessidades e expectativas próprias. A partir desse reconhecimento, foram desenvolvidas práticas cotidianas de cuidado que poderiam favorecer o processo de subjetivação dos bebês. Pikler percebia a importância de algumas atitudes na relação das cuidadoras com os bebês, como o olhar nos olhos e a antecipação dos cuidados, que eram sempre verbalizados para as crianças antes de serem realizados (Martino, 2001).
A experiência do Instituto Loczy nos conduz ao seguinte questionamento: como as questões afetivas, subjetivas e psíquicas são tratadas por babás que não passaram por nenhuma espécie de treinamento, como é tão comum em muitas famílias brasileiras? Ainda que o treinamento não seja, por si só, garantia de coisa alguma, levantamos como hipótese que, na ausência dele, o lugar de cuidado fica mais confuso e a rivalidade com a mãe dos bebês apareça de maneira mais evidente.
Regina Lima (2014) auxilia-nos a pensar acerca dessa realidade que vem sendo observada no contexto da classe média alta/alta brasileira. A autora destaca a frequente presença das babás no cotidiano desse segmento social e dá como exemplo o relato de alguns pediatras que indicam que, comumente, nas consultas médicas, as babás parecem saber mais sobre a criança do que os próprios pais. Observa também como em festas de aniversários infantis, é comum que, no lugar dos nomes dos pais das crianças, estejam na lista de convidados os nomes das babás.
Baseando-se nessas observações, a autora propõe algumas reflexões acerca da tríade mãe-bebê-babá, que se criou a partir desse novo contexto. Para ela, a mulher brasileira que vai trabalhar e escolhe deixar seu bebê com a babá desenvolve com essa profissional relação peculiar, em que emoções ambíguas estão presentes e "afetos e contratos se cruzam" (Lima, 2014, p. 63). Ela conclui dizendo que, essas famílias, paradoxalmente, não podem prescindir da babá, mas apagam o vínculo que ela cria com seus filhos.
A antropóloga Liane Silveira (2015) também nos ajuda a pensar sobre esse fenômeno e suas consequências. Ela realizou um estudo antropológico em que passou 17 meses observando babás e as crianças de que cuidavam em uma praça de um bairro da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. O objetivo da pesquisa antropológica era investigar o universo das babás no contexto brasileiro a partir da perspectiva das profissionais. A praça foi o local escolhido, tendo em vista que, segundo a autora, seria um ambiente em que as interações das babás entre si e com as crianças de que cuidavam dar-se-iam de forma espontânea.
Contudo, a autora também participou de outros contextos que envolviam essas profissionais, como um curso profissionalizante ministrado para babás, onde a ideia principal girava em torno de que elas deveriam estar sempre presentes e disponíveis aos seus patrões, mas de forma imperceptível. A partir dessas constatações, ela, então concluiu que, se as babás não poderiam ser percebidas pelos seus patrões, pais dos bebês, facilmente as demandas dos bebês também passariam despercebidas por eles, considerando que o trabalho das babás é justamente cuidar e resolver as demandas dos bebês. Assim, parece que Silveira revela uma dificuldade dos pais em identificar as necessidades dos seus bebês através de suas babás, uma vez que elas próprias não eram percebidas.
Dentre algumas considerações de Silveira (2015), a autora revela o complexo paradoxo que envolve a hierarquia presente entre os pais e as babás e os laços afetivos estabelecidos entre tais profissionais e as crianças de que um dia cuidaram, inclusive presentes muitos anos depois, quando essas crianças já haviam se tornado adultos. Conforme Lima (2014) afirmou e foi exposto acima, parece que o olhar dos pais não reconhece a afetividade da relação da babá com seu filho. Anterior a esse não reconhecimento, talvez esteja o não reconhecimento de que a lacuna afetiva que se abre nessa delegação de cuidados precisa ser preenchida.
A partir dessas considerações, fica o questionamento: que sujeito está sendo olhado pelos seus pais? A fim de enriquecer nossas reflexões teóricas acerca das distinções entre os cuidados desempenhados por profissionais e aqueles estabelecidos na relação da mãe com seu bebê, será apresentado a seguir um estudo de caso.
Apresentação do caso
O fragmento clínico apresentado tem como base o acompanhamento longitudinal de trigêmeos realizado através do método de observação de bebês de Esther Bick (1964). Bebês e suas famílias foram observados de forma regular durante o primeiro ano de vida deles e, após esse período, houve dois contatos posteriores, aos 19 e 24 meses de vida dos trigêmeos. Essa pesquisa foi submetida à avaliação do Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e obteve o aceite. Além disso, a participante assinou Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O caso acompanhado revela-se pertinente para discutir o contexto de cuidado profissional, uma vez que a mãe, chamada neste artigo de Carolina, delegava os cuidados de seus bebês a duas equipes formadas por três funcionárias, sendo estas uma enfermeira e duas babás. Essas equipes alternavam-se semanalmente, de forma que os bebês passavam sete dias consecutivos com uma equipe e, após esse período, ficavam uma semana sem ver as cuidadoras, enquanto permaneciam então sete dias com as cuidadoras da segunda equipe.
Em meio a um contexto em que as cuidadoras eram muito presentes, alguns aspectos podem ser constatados. Primeiramente, essas babás e enfermeiras eram responsáveis pelos cuidados dispensados aos bebês. A mãe, Carolina, interagia ludicamente com os filhos, assim como eventualmente ficava com algum dos trigêmeos no colo. Visto que Carolina retornou rapidamente às suas atividades de trabalho, a observadora presenciou momentos em que a mãe dos bebês recebia notícias dos seus filhos pelas babás. Situações como a reação deles ao experimentar uma determinada fruta pela primeira vez ou como havia sido a ida à pracinha eram narradas pelas cuidadoras. Interessante destacar o fato de que as cuidadoras participavam de um grupo no WhatsApp formado por babás e cuidadoras de outras crianças que moravam no mesmo condomínio e, por meio desse grupo, combinavam entre elas encontros com as crianças. Ocasionalmente, Carolina mostrava para a observadora vídeos dos bebês brincando, relatando que os vídeos eram feitos pelas babás e que elas os enviavam para ela. Esses fatos revelam que Carolina também estava conhecendo seus filhos através dos recortes que as cuidadoras realizavam do dia a dia deles.
Outro ponto relevante para ser considerado nesta reflexão diz respeito ao fato de que, no caso acompanhado, podemos pensar que os bebês estão sendo constituídos a partir de diversos olhares. As cuidadoras interpretavam os gestos dos bebês e davam sentido a muitas coisas, por exemplo, o "mmm" de um deles foi interpretado por elas como "mamãe". Da mesma forma, elas faziam algumas projeções de conteúdos seus sobre os bebês, assim como reproduziam e desenvolviam algumas projeções "propostas" pela mãe dentro do discurso familiar. Um dos bebês, Lucas, sempre foi comparado por Carolina ao seu marido, e as cuidadoras relatavam fatos que corroboravam essa comparação. Já a única bebê menina, Amanda, era comparada com Carolina e estimulada pelas babás a gostar de música, visto que Carolina dançava. Esses exemplos tornam mais palpável a sugestão de que os bebês estavam sendo constituídos através dos olhares e das falas das cuidadoras, mas o interessante é perceber que o discurso delas vinha, na maioria das vezes, para reforçar e propagar o discurso do enredo familiar.
Dessa forma, torna-se pertinente relembrar que Golse (2002/2012) ressalta que o principal papel das enfermeiras consiste justamente em levar à criança uma função continente suficientemente boa, preservando, ao mesmo tempo, o lugar da imagem materna real. No caso acompanhado, é possível perceber como não apenas a imagem materna real, mas também o enredo familiar, permeado por transmissões psíquicas próprias, é preservado pelo discurso das cuidadoras.
Contudo, essa observação não anula o fato de que as cuidadoras também se relacionavam a partir dos seus próprios desejos e prerrogativas com os bebês. A observadora acabou presenciando algumas situações que demonstraram esse envolvimento. Muitas vezes, a observadora era colocada pelas cuidadoras em um lugar de escuta, em que as babás lhe relatavam as notícias mais recentes dos bebês. Em tais situações, as cuidadoras demonstravam que tinham necessidade de compartilhar as conquistas dos bebês com outras pessoas, visto que Carolina nem sempre estava presente para escutar o que elas percebiam como conquistas dos bebês, ou até mesmo preocupações que tinham em relação a eles.
Em dada observação, uma das babás desabafou com a observadora que, quando chegava o dia de ir embora, ela sentia muita saudade dos bebês, e que, durante os três primeiros dias que estava de folga, ela ainda escutava o choro deles. Nesse ponto, a babá comenta que o que a consolava era saber que após uma semana estaria com eles novamente, mas que isso a fazia questionar-se acerca de como deveria ser difícil para os bebês tamanha rotatividade de profissionais, visto que eles não tinham noção de tempo para saber que ficariam sete dias longe de cada uma delas. Essa babá demonstra a capacidade de se identificar com os bebês e relata como percebe que, no início de uma nova semana, os bebês parecem estranhar a nova equipe, como se ainda sentissem falta da equipe anterior. Importante mencionar que esse diálogo entre observadora e babá ocorreu em uma observação que havia se seguido a uma demissão de uma profissional daquela equipe.
Nesse ponto, podemos primeiramente fazer uma reflexão acerca das relações de poder implícitas nesse triangulo mãe-bebê-babá apresentadas por Lima (2014). Em virtude do vínculo de trabalho, aparentemente está nas mãos da mãe permitir que a relação babá-bebê perdure. Em meio a sentimentos cruzados, delegar os cuidados e afetos dos bebês a outrem pode ser ameaçador para a mãe. Contudo, a necessidade real de que ela se ausente do dia a dia do seu filho se impõe.
Partindo dessas reflexões, a afirmação do psicanalista Alberto Ciccone (2007) pode nos auxiliar a compreendera dinâmica de ausência/presença vivenciada pelos bebês. Para o autor, a dimensão do tempo para os bebês é diferenciada da vivenciada pelos adultos. Para exemplificar essa diferença, Ciccone propõe a seguinte regra de proporcionalidade: oito horas para um bebê de três meses corresponderia a quarenta e quatro dias para um adulto de trinta anos, e cerca de sessenta dias para um adulto de 40 anos, segundo o autor (Ciccone, 2007).
Partindo dessas considerações, a babá que compartilha suas preocupações com a observadora revela um sentimento de empatia em relação aos bebês, demonstrando conexão em relação à forma como eles vivenciavam as alternâncias de equipe. Da mesma forma, seria possível pensar que Carolina não pode se conectar com essa vivência de seus filhos devido às suas próprias questões infantis, que possivelmente desencadeiam um receio do vínculo que pode ser estabelecido entre seus filhos e as cuidadoras.
Em dada observação que havia se seguido à demissão de uma das cuidadoras, a observadora questionou Carolina se os bebês demonstravam sentir falta da cuidadora que havia sido desligada. Carolina então comenta que, como são muitas pessoas em volta dos cuidados dos bebês, ela acredita que isso trouxe a eles uma capacidade de adaptação muito fácil, e conclui dizendo: "eles já estão tão acostumados com tantas pessoas que basta estar de branco para eles se adaptarem" (informação verbal).
Assim, parece que esse caso vem ratificar o que Lima (2014) já havia sugerido: parece que o olhar dos pais não reconhece a afetividade da relação da babá com seu filho. Mas as razões pelas quais essa negação acontece, possivelmente estão ancoradas nos aspectos mais primitivos da história infantil dos próprios pais.
Também se torna importante destacar o papel da individualidade de cada cuidadora. Assim como Szanto-Feder (2002/2012) afirmou que Emmi Pikler, criadora do Instituto Loczy, acreditava que, apesar de qualquer treinamento, seria humanamente impossível um adulto amar da mesma forma todas as crianças que lhe fossem confiadas, pode-se pensar que a forma como cada profissional irá lidar com seus diferentes sentimentos em relação aos bebês que lhe são confiados também será distinta.
Sabe-se que, na realidade brasileira de cuidados domésticos, dificilmente as babás e cuidadoras possuem algum tipo de treinamento formal para lidar com os sentimentos e conseguir atingir um equilíbrio entre o afeto e a relação profissional estabelecida. Muitas vezes, o treinamento consiste na troca de um saber experienciado, em que uma cuidadora aconselha a outra a partir de sua própria vivência. Além desse fator, destaca-se ainda a singularidade da vida psíquica de cada cuidadora, em que características psíquicas e de personalidade transmitem tons distintos às relações de cuidado.
No caso acompanhado, naturalmente, cada um dos bebês acabou elegendo, dentro de cada uma das equipes, alguma profissional de referência. A bebê Amanda e seu irmão Gabriel elegeram babás que possuíam a jovialidade como característica. Essas cuidadoras não tinham filhos, e demonstravam muita leveza na forma como acolhiam as angústias dos bebês. Elas eram capazes de demonstrar empatia pelas dificuldades deles, dando acolhimento quando necessário, e, ao mesmo tempo, procurando tirar os bebês de seu estado de angústia. Além disso, Carolina estava presente no discurso dessas babás, de forma que elas demonstravam conseguir fazer o que Golse (2002/2012) havia defendido como o principal papel das cuidadoras: serem continente aos bebês sem substituir o lugar da imagem materna real, deixando este sempre aberto para a criança reencontrar o objeto materno.
Contudo, a babá de referência de Lucas não conseguia conectar-se a ele dessa forma. A profissional demonstrava-se muito melancólica, e, a partir de sua própria melancolia, conectava-se aos sentimentos de Lucas. Quando ele demonstrava alguma angústia, resistência ou sofrimento, ela acolhia esse sentimento de forma a conectar-se a ele, sofrendo junto com Lucas. Parecia que essa babá ligava-se a Lucas através de seus próprios afetos, fazendo uso do mecanismo de identificação projetiva, em que ela projetava nele seus sentimentos e se identificava com eles. Em dada observação, ela disse para a observadora que já tinha pedido desculpas para Carolina por amar tanto o seu filho, demonstrando com sua denegação, a competição e a rivalidade com o lugar materno. O desenvolvimento conturbado de Lucas parece corroborar o fato de que tal relação mãe-babá dificultou a instauração de um ritmo entre presença e ausência do objeto e a possibilidade de restauração do vínculo com o objeto materno.
Tendo em vista o contexto conturbado em que os bebês cresceram, no qual os ciclos de ausência/presença não diziam respeito apenas às cuidadoras, mas à Carolina também, uma vez que ela retornou às atividades de trabalho precocemente e realizou algumas viagens durante a primeira infância de seus filhos, pode-se deduzir que as condições ambientais para os bebês se desenvolverem emocionalmente estavam prejudicadas. Dessa forma, a presença das babás de referência de cada um dos bebês demonstrou-se fundamental. Nos casos de Amanda e Gabriel, as babás de referência podem ter contribuído para diminuir os danos dessas perdas. Contudo, no caso de Lucas, a identificação profunda com essa babá, que tinha características melancólicas, pode ter contribuído para uma importante dificuldade de Lucas em ultrapassar o processo de diferenciação eu/outro, assim como alcançar a individuação aos dois anos de idade.
Algumas constatações levam a essa hipótese acerca de seu desenvolvimento emocional. Aos 19 meses, Lucas ainda não apresentava indícios de linguagem e, aos 24 meses, a linguagem ainda estava muito empobrecida. Lucas apresentava uma dificuldade de contato com o outro de uma forma geral, permanecendo muito tempo em brincadeiras introspectivas, além de dormir por um período prolongado. Contudo, o dado que mais chama atenção neste caso é a possibilidade de que Lucas tenha realizado um apagamento parcial do objeto materno, visto que aos 19 meses de vida, apesar dos estímulos de Carolina para que o filho interagisse com ela, o mesmo parecia não a perceber. As atenções de Lucas pareciam estar voltadas para a sua babá de referência.
Selma Fraiberg (1982/2002) pode contribuir para o entendimento do caso de Lucas a partir de suas observações sobre os mecanismos de defesa primitivos desenvolvidos por bebês que se encontram em situações extremas. A autora nomeia de "evitamento" o mecanismo em que o bebê evita de forma total ou parcial o contato com a mãe, mas não o faz com outras pessoas. Segundo Fraiberg, essa defesa indica uma perturbação da relação mãe-bebê, em que estaria presente uma situação patológica extrema. A autora chama a atenção para como, nesses casos, a integração visual e auditiva da imagem materna é suprimida ou diminuída pelo bebê como maneira de atenuar a dor que sua ausência afetiva/física provoca.
Como foi descrito anteriormente, Lucas demonstra perceber e buscar sua babá, enquanto parecia ignorar a mãe. Refletindo acerca das considerações apresentadas por Fraiberg (1982/2002), podemos pensar na possibilidade de que Carolina teve sua imagem associada à dor vivenciada por Lucas na época em que a ausência materna trazia angústia extrema, principalmente nas ocasiões de suas viagens, uma vez que o tempo que Carolina havia ficado distante era superior ao tempo que Lucas podia suportar. Nesses casos, a autora pontua que o bebê apaga o objeto materno e faz a mãe desaparecer enquanto objeto interno. Ou seja, ela pode estar ao seu lado na realidade externa, mas o bebê permanece indiferente, como Lucas demonstrou em algumas ocasiões indiferença que parece ter se instalado de forma ativa, como defesa frente a essa angústia extrema. Contudo, possivelmente no caso de Lucas, o evitamento não se deu de forma extrema, mas sim atenuada. Na observação realizada quando ele estava com dois anos de idade, a observadora percebeu que ele atendia aos chamados da mãe, ainda que demorasse para olhar para Carolina. No entanto, Lucas parecia, nessa ocasião, ter desenvolvido uma anestesia em relação aos estímulos de forma geral, não interagindo com o contexto.
A partir dessas constatações, é possível imaginar que, se Lucas tivesse se vinculado a uma babá de referência que não se identificasse com ele de forma tão adesiva e não rivalizasse com o objeto materno, talvez ele pudesse sair dos estados demoradamente introspectivos e ter desenvolvido um quadro diferente do apresentado, ao menos mais atenuado.
Considerações finais
A partir dos pontos desenvolvidos neste artigo, torna-se importante trazer uma consideração: as questões abordadas não estão relacionadas diretamente ao fato de uma mãe contar com auxílio profissional nos cuidados de seus filhos. As proposições apresentadas buscam trazer reflexões sobre a diferença entre o cuidado profissional e o amor parental e como essa distinção é essencial para a constituição psíquica da criança. Sem dúvida, existem muitas mães que contam com o auxilio de babás, mas que acompanham de perto seus filhos e se demonstram conectadas nas ocasiões em que estão presentes. Assim, essa discussão teórica encerra-se propondo uma reflexão, e não uma generalização.
Conforme foi apresentado previamente, é possível reconhecer que a relação do bebê com sua babá pode vir a preencher uma lacuna importante quando sua mãe não está presente, e a forma como essa relação bebê-babá constitui-se é de fundamental importância para o desenvolvimento emocional e a constituição psíquica do bebê, desde que promova continuidade de cuidados e não uma ruptura que dificulte a experiência de integração egoica do bebê.
Como indicamos anteriormente, a importância dessa continuidade para o desenvolvimento emocional do bebê pode ser melhor compreendida a partir da experiência de Emmi Pikler e do Instituto Loczy, cuja grande contribuição foi comprovar que, para o estabelecimento de uma relação afetiva e de um vínculo seguro, não é a quantidade de tempo que a cuidadora passa com a criança que faz a diferença uma vez que as cuidadoras cuidavam de algumas crianças ao mesmo tempo , mas sim a qualidade dessas trocas afetivas. Por tais razões, é destacada a presença respeitosa e afetiva das cuidadoras com as crianças, de forma que Pikler pode mostrar que a segurança afetiva constrói-se por meio da qualidade do vínculo desenvolvido, conquistado através da estabilidade das relações e das ações repetidas cotidianamente pelas cuidadoras, o que permite às crianças o desenvolvimento da capacidade de antecipar as ações e tolerar a espera.
David (2002/2012) explica como nesse Instituto os processos psíquicos primários desenvolviam-se graças ao reconhecimento e ao respeito dos ritmos de vida de cada criança. Para tanto, era imprescindível que as cuidadoras conhecessem e levassem em conta os gostos dos bebês, seus interesses, suas capacidades e dificuldades, de forma a reconhecer a singularidade de cada um deles.
Sem dúvida, cada situação de cuidado traz um contexto peculiar. As escolas infantis, as creches e babás oferecem cuidados aos bebês durante um período do dia, para que, depois, eles sejam novamente entregues à mãe. Já o orfanato prepara para uma possível adoção ou reinserção familiar, que não tem data nem garantia de que ocorrerá. Em todos esses casos, é imprescindível que o ambiente de cuidado proporcione uma constância ao bebê, dando a ele o holding necessário para que ele se sinta seguro para se desenvolver emocionalmente. Conforme David explica: "é indiscutível que o bebê tem necessidade de uma relação estável e calorosa com o adulto e, na ausência desta, ele sofrerá então da doença de carência" (2002/2012, p. 43, tradução nossa).
A autora atribui ao ato de cuidar o protagonismo, ao destacar a sua importância particular, na medida em que esse ato é, segundo ela, um modo de troca e de diálogo privilegiado entre o bebê e o adulto. Dessa forma, o bebê também conhece o mundo e aprende a se relacionar com ele através desses cuidados: "o cuidado transmite ao bebê a qualidade da atenção que lhe é dada" (David, 2002/2012, p. 54, tradução nossa).
Considerando a relevância de o que o ato de cuidado pode suscitar ou não em uma criança, Madeleine Vabre (2002/2012) fala da importância de que quem pratica o ato de cuidar considere a criança como um verdadeiro parceiro de uma relação desparelha, em que o bebê encontra-se em dependência extrema em relação àquele que o cuida, mas que ainda assim há uma troca, em que o adulto deve reconhecer os feitos e gestos do bebê. A autora conclui que é necessário "agir com a criança e não sobre ela ou sem ela" (p. 132, tradução nossa). Golse também destaca as capacidades transferenciais dos bebês, "da atitude surpreendente de induzir, no adulto que dele se ocupa, um estilo interativo ou de modalidades de ajuste afetivo" (2002/2012, p. 33, tradução nossa), demonstrando a participação ativa da criança nessas relações.
Natacha Kukucka-Bizos (2002/2012) discorre sobre o cuidado, mas destaca a importância de que seja proporcionado um ambiente contínuo, sendo este essencial para que os bebês se desenvolvam. Ela acredita que não é a separação em si que é traumática para a criança, mas sim a ausência de meios colocados à sua disposição que possam lhe ajudar a tecer a continuidade, ou uma eventual incapacidade sua em utilizar esses elementos que mantêm a continuidade do ambiente. Por essa razão, seria essencial oferecer aos bebês um cuidado que os acolha como um indivíduo singular, entendendo também suas capacidades e restrições.
A partir dessas colocações, é possível pensar que o fato de a mãe deixar seu filho com outras cuidadoras não impede que ele encontre nesse ambiente a continuidade através dos cuidados recebidos, ainda que identifique que os mesmos estão vindo de outra pessoa que não é sua mãe. Da mesma forma, se diferentes profissionais cuidarem de um mesmo bebê em momentos diferentes, mas todas mantiverem uma atitude de respeito no ato de cuidar, assim como o conhecimento às suas características individuais, esse bebê poderá encontrar no próprio ato de cuidado o fio que trará essa continuidade.
Como foi visto no caso apresentado, a presença das babás de referência pode ter feito uma diferença importante para o desenvolvimento emocional de cada um dos bebês, ainda que o papel primordial venha da relação estabelecida entre mãe e bebê. Evidenciou-se que a forma como cada um deles reagiu à ausência/presença materna estava relacionada à continência que a babá de referência de cada um fornecia. Essa continência marcava uma continuidade entre algumas descontinuidades presentes no ambiente desses bebês, proporcionando, assim, um ambiente mais estável para seu desenvolvimento emocional.
Este artigo também apresenta uma questão acerca de uma característica da realidade brasileira nesse contexto de delegação de cuidado: muitas crianças são delegadas a babás que, muitas vezes, não têm preparo para lidar com os sentimentos despertados não apenas pela relação estabelecida com os bebês, mas também em relação às mães dessas crianças. Por essa razão, talvez algumas confusões sejam estabelecidas.
Conforme David (2002/2012) esclarece, a relação estabelecida por uma profissional com o bebê terá como principal motivação os cuidados realizados e será a partir dessas interações de cuidados que a profissional poderá desenvolver laços afetivos. Esses laços são naturalmente constituídos, mas torna-se importante que a profissional não entre em uma relação de rivalidade com a mãe da criança, preservando sempre o objeto materno nos cuidados com o bebê. Considerando que a realidade brasileira tem como característica o fato de que muitas profissionais não possuem um treinamento apropriado para lidar com os sentimentos despertados, pode-se acabar encontrando tal dificuldade, em que os afetos poderiam vir a interferir na relação mãe-bebê, como podemos ver no caso de Lucas.
Além disso, estamos testemunhando uma geração que está tendo que conciliar, mais do que nunca, a carreira profissional com a maternidade. Por essa razão, a delegação dos cuidados práticos, mas também dos afetivos, esteja sendo mais intensa, por ainda ser um lugar novo em que muitas mulheres estão buscando encontrar as suas formas de ser mãe. Tendo em vista as questões abordadas e a contemporaneidade delas, novos estudos acerca desses contextos de cuidado que envolvem a triangulação mãe-bebê-babá podem ser enriquecedores para aqueles profissionais que estudam a primeira infância poderem atuar de forma preventiva.
REFERÊNCIAS
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Recebido em junho/2018.
Aceito em dezembro/2018.