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Revista Mal Estar e Subjetividade
versão impressa ISSN 1518-6148
Rev. Mal-Estar e Subj. v.4 n.1 Fortaleza mar. 2004
RESENHAS DE REVISTAS
Henrique Figueiredo Carneiro
Professor titular do Mestrado em Psicologia da UNIFOR. e-mail: henrique@unifor.br
Mario Pujó. Director
PSICOANÁLISIS Y EL HOSPITAL NO. 24
¿Patologías de época?
Buenos Aires: Ediciones del Seminario, 2003, 220p.
A Revista semestral Psicoanálisis y el Hospital, que sempre primou por trazer a publico temáticas pertinentes aos que transitam entre a clínica, a instituição e a teoria, nos apresenta, em novembro de 2003, um fabuloso retrato do mal-estar da nossa época.
Com o tema ¿Patologías de época? o número 24 da Revista trata de questões relacionadas à leitura sintomática do cotidiano, servindo aos que estamos ocupados em descrever novas leituras do sofrimento psíquico situado na interface sujeito e cultura, uma ferramenta imprescindível para o diálogo exigido hoje sobre o que acontece no mundo dos sintomas, das estruturas, enfim, do lugar que o sujeito ocupa frente à oferta indiscriminada de consumo, de realização e da pretensa satisfação do desejo que sustenta as atuações do sujeito.
¿Patologías de época traz um Editorial, assinado por Mario Pujó, sob o título de La nerviosidad posmoderna. Neste espaço de apresentação e questionamentos relativos à temática, o editor resgata a referência metamórfica do sintoma em cada época, quando lança mão dos sintomas histéricos a partir de Freud e chega à conclusão, à luz dos trabalhos apresentados no corpo da revista, de que o sintoma hoje não privilegia uma forma neurótica de resposta às angústias formuladas em função do que diríamos uma clínica da psicopatologia cotidiana, a que os psicanalistas já estavam acostumados a escutar. Assim sendo, o acento se desloca de uma posição que Freud desenhou em 1908, a partir da moral sexual moderna, como causa do sofrimento, para um outro ponto, que o editor justifica com o título de nerviosidad posmoderna".
Em seguida, acentua na formulação sintomática da época toda a influência da chamada era da tecnociência. Idéia particularmente muito interessante, na medida em que corrobora com os trabalhos que desenvolvemos nas nossas últimas investidas acadêmicas e clínica, a partir da relação Psicanálise e Dietética, uma investigação levada a cabo em um projeto que denominamos de Psicanálise das adições. A importância desse acento, que conjuga ciência, tecnologia e forma de gozo, recai, quiçá, na maior articulação editorial deste número de Psicoanálisis y el Hospital, pois abre novas perspectivas sobre a posição do sujeito em função de um objeto que o coloca em movimento em busca de uma posição de dita, conseqüentemente, aprofundando o que ele não suporta do mal-estar na cultura.
As seções deste número se iniciam com dezesseis matérias agrupadas sob a sigla de Mal de época. Nela, desfilam trabalhos que abordam a ilusão, a patologia, os restos, o encontro com a sexualidade, a exclusão e a pobreza, a falta de desejo, a beleza e a feiúra, loucura, a transferência, entre outros temas de destaque. São estas questões pertinentes à reflexão das especificidades do mal, que por não se encaixarem em uma matriz, proposta dentro de uma concepção neurótica a que estávamos acostumados a escutar, iniciam uma reconstrução sobre a nerviosidad posmoderna.
Dessa forma, o editor prepara o leitor para trabalhar as especificidades dos sintomas mais gritantes, agrupados nas seções de Toxicomania y Alcoholismo, Bulimia y Anorexia; Violência y Actuación e, finalmente, Nominaciones de época.
Na seção dedicada ao trabalho com a Toxicomania y Alcoholismo, cinco artigos sustentam a discussão da temática em relação à lei, à ficção, além de apontar em direção às práticas clínicas e ao ato médico.
Na Bulimia y Anorexia, a discussão é tomada desde as perspectivas clínicas, sugerindo, neste caso, uma clínica do vazio afetada pelos sintomas contemporâneos, destacando a importância da melancolia como um traço psicopatológico das duas enfermidades. Finalmente, faz um acento sobre os feudos institucionais que tratam da questão, a partir da pergunta se estes transtornos podem ser considerados na ordem da alimentação ou se entram na ordem do institucional.
Sobre a Violência y Actuación, desfilam trabalhos que fazem questionamentos sobre a violência na família, vertentes e clínica do acting-out, passando ainda pela referência aos desafios na prática clínica do cotidiano, da patologia do ato, fazendo ainda uma incursão pelo suicídio na adolescência.
A última seção, Nominaciones de época traz uma variedade de trabalhos abordando a AIDS, infertilidade, ataque de pânico e angústia, sintomas borderline, entre outros nomes.
Um dos pontos fortes da Revista é que, por se tratar essencialmente de publicações de praticantes alocados em instituições hospitalares, a riqueza dos dados, bem como a objetividade do recorte presente na proposta da comunicação, quase sempre transportam o leitor para uma situação que alia prática e teoria, motivo pelo qual os trabalhos publicados esbanjam coerência e clareza na exposição.
Para concluir, diria que ¿Patologías de época? se apresenta como um número que, dada a utilidade do que publica, rompe com a finalidade a que se propõe, indo mais além, na medida que deveria ser discutido principalmente nos espaços acadêmicos, pois o vigor com que discorre sobre o sofrimento da nossa época atualiza a transmissão, contribuindo com a formação, supervisão e a escuta psicanalíticas.
É uma publicação que servirá como referência para a atualidade, mas, também, para o futuro, sempre que nos debruçarmos sobre os sintomas cambiantes de cada época.
Recebido em 18 de novembro de 2003
Aceito em 10 de dezembro de 2003
Revisado em 05 de fevereiro de 2003