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Psicologia Hospitalar

versão On-line ISSN 2175-3547

Psicol. hosp. (São Paulo) v.3 n.2 São Paulo ago. 2005

 

RESENHA

 

Mary Ellen Dias Barbosa

 

 

Maria Helena Fernandes, Corpo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2. Ed.,2005.

 

O corpo em evidência. Não somente nos hospitais, na mídia, clínicas de estética e academias, mas em toda a forma de relação humana. Um corpo como forma de intermediação das relações. Exposto no patamar das idealizações, as quais estão permeadas pelo desejo da boa forma, da boa saúde, da beleza. Quais seriam os impactos na clínica psicanalítica de uma época, na qual o corpo é revestido por tais ideais, a partir de um referencial externo.

Através da própria prática clínica, a autora remete-nos a exemplos e busca embasar o desenvolvimento de suas discussões a partir de problemáticas que envolvem o corpo como a forma de expressão direta de muitos dos sintomas presentes em sua clínica e em seus trabalhos.

Desenvolve uma discussão sobre tais questões a partir de um esboço do movimento da construção do pensamento freudiano e constrói uma "geografia" teórica da noção de corpo em Freud, para através desta, poder problematizar implicações metodológicas e clínicas na escuta analítica, considerando os desdobramentos ocorridos durante o processo terapêutico.

Considera que o retorno do corpo ao cenário da psicanálise, para além da doença e da psicossomática, nos remete a pensá-lo como campo da expressão de dor e sofrimento.

A partir desta linha de raciocínio, discute o aumento da demanda de análise, demanda esta que ocorre em virtude da problemática que envolve questões corporais que encontram dificuldades de se manifestarem psiquicamente.

A autora pontua que o interesse da psicossomática psicanalítica em relação ao corpo está ligado aos fatores subjetivos inerentes ao processo de seu adoecimento, evidenciando a interface: psicanálise e medicina. No entanto, a autora discute no livro que não apenas através desse adoecimento é que o corpo se faz presente na clínica psicanalítica, ou seja, não é regra que exista uma queixa somática para que o corpo esteja em pauta.

Considera que o trabalho do analista em um Hospital Geral, o coloca em contato com uma diversidade de pacientes, os quais esboçam todo o tipo de demanda. Frente a tal heterogeneidade, discorre sobre o que denomina "enquadres de escuta". Discute, a partir deste conceito, o que precisa ser ouvido, o que precisa ser acolhido e discute o sentido de uma palavra. Tal prática se enriquece frente a grandes interrogações e reflexões pertinentes e existentes entre o somático e o psíquico.

Seu ponto de partida está referendado em Freud, a partir do qual o corpo não se confunde com o organismo biológico, mas sim é um local de inscrição do psíquico e do somático.

O trabalho demonstra a importância da escuta do analista, da existência de um trabalho ético e implicado, com embasamento metodológico e teórico, uma vez que a heterogeneidade da demanda atual, frente aos "novos sintomas", que envolvem o corpo, se faz presente. Também faz nos refletir sobre as mudanças da própria clínica em psicanálise.

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