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Psicologia Hospitalar

versão On-line ISSN 2175-3547

Psicol. hosp. (São Paulo) vol.8 no.1 São Paulo jan. 2010

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

O teste dos três personagens: um teste projetivo a ser validado

 

Test of three characters: a projective test under validation

 

 

Cláudio Garcia CapitãoI, II,1; Raquel Ferreira dos SantosI,2

IInstituto de Infectologia Emílio Ribas
IIUniversidade São Francisco

 

 


RESUMO

O objetivo do presente artigo consiste em resgatar a possibilidade de inspirar estudos que busquem evidências de validade e de precisão para o Teste dos Três Personagens, um instrumento projetivo, cuja finalidade é avaliar aspectos profundos da dinâmica da personalidade. Trata-se de um instrumento de baixo custo e de fácil aplicação e correção, com futuro promissor, especialmente em hospitais públicos, nos quais os recursos financeiros nem sempre estão disponíveis para a compra de instrumentos específicos para a avaliação da personalidade.

Palavras-chave: Mecanismos de defesa; Precisão; Projeção; Validade.


ABSTRACT

The objective of this article is to rescue the ability to inspire studies that aim to find evidence of validation and accuracy for the test of the Three Characters, a projective instrument whose purpose is to evaluate profound aspects of personality dynamics. It is an instrument of low cost and easy application and correction with a promising future, especially in public hospitals, where financial resources are not always available for the purchase of instruments aimed to personality assessment.

Keywords: Defense mechanisms; Accuracy, Projection, Validity.


 

 

INTRODUÇÃO

Projeção e Métodos Projetivos

O termo projeção, conforme assinala Anzieu (1989), foi utilizado pela primeira vez em 1896 em um artigo escrito por Freud acerca da paranoia. Nessa definição, a projeção é entendida como um mecanismo de defesa. Ou seja, a pessoa, ao fazer uso desse mecanismo, atribui a outro a característica ou o próprio desejo que não consegue admitir em si mesmo.

No esboço H, endereçado ao seu amigo Fliess, Freud (1895/1996a) inaugurou então o referido termo. Depois de ter exposto o caso de uma doente paranoica e demonstrado que o objetivo da paranoia era expulsar. Para o renomado psicanalista, tratava-se da utilização de um mecanismo psíquico usual, deslocamento ou projeção, pois, todas as vezes que ocorre uma transformação interior, nós podemos atribuí-la ou a uma causa interior, ou a uma causa exterior. Frequentemente opta-se em favor de um motivo exterior.

Mais tarde, Freud (1911/1996b), em Notas Psicanalíticas Sobre um Relato Autobiográfico de um caso de Paranoia (Autobiografia do Presidente Schreber), afirma que no que diz respeito à formação dos sintomas da paranoia, o traço mais marcante é este processo que é conveniente qualificar de projeção, ou seja, refere-se a quando uma percepção interna é reprimida e, em seu lugar, seu conteúdo, depois de ter sofrido certa deformação, chega à consciência sob a forma de uma percepção vinda do exterior.

Para Backes-Thomas (1974), é a esta definição clássica da defesa paranoica que geralmente são feitas referências quando se fala da noção freudiana de projeção, apesar de Freud ter descrito outros tipos de projeção. A defesa paranoide compreende três operações (repressão de um sentimento de amor; retorno do amor em seu contrário: o ódio; atribuição do ódio ao objeto que havia, primitivamente, suscitado o amor), dentre as quais somente a última constitui um mecanismo de defesa projetivo. A defesa fóbica, também abordada por Freud (1996d), em 1915, compreende ainda o recalque, substituição de objeto, concomitantemente ao deslocamento de um perigo interior para o exterior.

Freud (1913/1996c), em Totem e Tabu, descreve projeções que não são precedidas de tantas deformações. Por exemplo, mostra como o conflito ternura-hostilidade em relação aos mortos pode dar lugar à projeção da hostilidade sobre eles. A ternura é assumida pelo indivíduo, enquanto a hostilidade passa a ser colocada no morto, isto modifica o estado afetivo da pessoa, transformando, doravante, a hostilidade ignorada em medo. Além disso, aponta para as vantagens que a projeção pode ocasionar com a diminuição da tensão criada pelo conflito e o surgimento de uma sensação de defender-se melhor contra o perigo exterior.

Backes-Thomas (1974) esclarece que Freud recusou-se a fazer uma teoria geral da projeção, embora várias vezes tenha tentado precisar o que seria projeção normal. A projeção, além das percepções interiores, é um mecanismo primitivo ao qual são submetidas, igualmente, nossas percepções sensoriais, exercendo assim um papel essencial na representação do mundo exterior. A projeção normal aparece como um mecanismo primitivo, ou melhor, parece ser tomado no seu sentido original, fundamental. Seria uma definição de projeção que poderia se aplicar ao mecanismo posto em jogo pelos métodos projetivos. No entanto, as ideias de Freud continuam um tanto vagas no que se refere à projeção. Em seu texto Totem e Tabu também encontramos outro sentido, bem distinto do primeiro, especialmente quando Freud se reporta ao homem primitivo, colocando a projeção como uma tela pela qual este homem construiu a imagem de seu mundo, como resultado da projeção no exterior de suas percepções internas. Desta maneira, a projeção estaria ligada ao animismo e ao dualismo. A ideia de projeção é extremamente rica e talvez não possamos encerrá-la, mesmo que por conveniência, a um conceito reducionista.

A projeção, segundo Laplanche e Pontalis (1982), Mezan (1982), encontra seu princípio mais geral na concepção freudiana de pulsão, pois para Freud o organismo está submetido a duas espécies de excitações geradoras de tensão: aquelas das quais se podem fugir e se proteger, ou seja, as que vêm de fora do organismo; e aquelas das quais a fuga e a proteção são impossíveis, originadas em seu interior. Dessa forma, a projeção surge como uma forma de defesa contra as excitações internas desagradáveis, que a pessoa projeta no exterior, como uma maneira de se afastar, de escapar. Güntert (2001) observa que, no contexto da avaliação psicológica, o termo projeção ganhou um sentido bem mais amplo e relaciona-se com o termo apercepção criado por Herbart e adotado por Bellak em 1967. Definindo-o como um processo pelo qual novas experiências são assimiladas e transformadas por resíduos da experiência passada de um indivíduo para formar uma nova totalidade. Assim, aquilo que é percebido no momento pela pessoa, que está carregado de sentido e a que pode ser atribuído uma carga afetiva, foi vivido no passado (Villemor-Amaral & Pasqualin Casado, 2006).

De acordo com Bellak (1967), a projeção é um dos processos de distorção aperceptiva, sendo a apercepção uma interpretação dinamicamente significativa da percepção. As distorções aperceptivas resultam das influências de recordações das percepções passadas e influem sobre a percepção de estímulos atuais não só com fins de defesa, como foi inicialmente assinalado por Freud o termo projeção. Este passa então a ser concebido, ao invés de projeção, como a interpretação subjetiva que a pessoa faz de sua experiência.

Güntert (2001) também analisa que boa parte dos instrumentos projetivos utilizada em nosso meio tem apresentado estudos estatísticos de validação e, quando empregada em pesquisa, tem possibilitado um modo mais objetivo de lidar com os dados, uma abordagem quantitativa dos resultados, assim como uma abordagem qualitativa, caracterizada pelo seu aspecto interpretativo. Observa ser muito frequente a crítica de um excesso de subjetividade nesse tipo de interpretação, tanto pela metodologia adotada, quanto pelo caráter extremamente singular de alguns achados. No entanto, ela apresenta possibilidades que permitem trabalhar para alcançar ambas as aspirações da psicologia, ou seja, apreender o singular, que vai considerar o indivíduo em seus aspectos únicos e, ao mesmo tempo, organizar as informações obtidas de modo a torná-las parte de um corpo teórico generalizável.

Noronha (1999), Noronha e Reppold (2010), Primi (2010) afirmam que apesar dos estudos que começam a acontecer na área de avaliação psicológica, em relação aos testes psicológicos, faz-se necessário um desenvolvimento ainda maior desses estudos. Sugere, portanto, o exame das propriedades psicométricas de instrumentos novos e antigos, a criação de normas nacionais e o aumento de pesquisas.

Para Anderson e Anderson (1967), Bornstein, (2002), Cardoso e Capitão (2009), Grassano (1996), Robert (1967), os métodos projetivos constituem uma linguagem, no sentido de que representam, efetivamente, um sistema de signos que permite a comunicação entre as pessoas. A linguagem projetiva pode ser considerada comum a todos os testes projetivos, mas as particularidades de cada material condicionam sistemas de expressão diferentes. Desta forma, se o sistema de expressão que oferece um teste projetivo é uma possibilidade de comunicação, ele pode também limitá-la, pois os testes projetivos não fornecem a mesma flexibilidade de expressão e nem permitem o mesmo grau de utilização desta ou daquela teoria da personalidade.

Backes-Thomas (1974) comenta que a solução do problema interpretativo parece estar na natureza complexa dos métodos projetivos, pois como métodos de exploração da personalidade, eles propiciam o recolhimento de dados psicológicos que podem ser inscritos perfeitamente no quadro das teorias da personalidade já existentes. Por outro lado, os métodos padronizados, trazem dados quantitativos que têm necessariamente uma significação psicossocial, grupos de idades, de gênero, níveis culturais etc. Métodos que utilizam material apto a mediatizar o conhecimento psicológico oferecem sistemas de expressão originais capazes de revelar aspectos psicológicos novos. A articulação desses três aspectos poderia, por sua vez, acarretar uma interpretação mais completa.

Chabert (2004) formula, com muita propriedade em relação aos instrumentos projetivos, que como objetos reais, os testes, em sua própria materialidade, vão solicitar a emergência de discursos que levem em conta imagens e associações introduzidas a partir de mecanismos perceptivos. Assim, o apelo à percepção, sempre presente nas instruções, permite uma sustentação no real, que constitui o fundamento da inscrição no meio ambiente. Entretanto, como os objetos imaginários, os testes projetivos vão, por conseguinte, permitir uma interpretação das percepções em função das preocupações essenciais do sujeito, dos modos de ajustes de suas relações com seus objetos internos e externos, representações e afetos que os traduzem, isto é, todo um campo aberto às suas associações pela indução da projeção tornada possível graças à fortuita característica do material. A instrução, a partir de seu enunciado, faz regular menção, simultaneamente, aos mecanismos perceptivos e projetivos. A partir da solicitação da linguagem verbal, como veículo das mensagens, uma dupla incitação a imaginar, expressar o que pertence à pessoa, seu mundo interno subjetivo e a partir do material do teste, a referência à realidade. A pessoa, assim, confrontar-se-á com uma dupla exigência. Mostrará, na medida em que lhe for possível, como e até que ponto ele se organiza para tratar ao mesmo tempo de seu mundo interno e seu meio ambiente. Pode-se dizer que o objetivo das provas projetivas é permitir ao estudo do funcionamento psicológico individual uma perspectiva psicodinâmica, visando avaliar tanto as condutas psicológicas possíveis de serem localizadas, como as suas articulações singulares e suas potencialidades de mudança. A questão principal que pode orientar todo o trabalho dos testes projetivos é a interrogação sobre as operações mentais empregadas durante a aplicação, com a hipótese de que estas possam representar o modo de funcionamento psicológico da pessoa (Anderson & Anderson, 1967; Cardoso & Capitão, 2009; Rosa, 2008; Villemor-Amaral, 2006).

O teste dos Três Personagens é um teste projetivo verbal que se compõe de uma instrução, de vinte questões e de um comentário. O material pretende fazer imaginar três personagens, colocá-los em relação e depois, em face de uma determinada situação, prever um desfecho. Desenvolvido por Madeleine Backes-Thomas em 1969, teve a sua tradução para a língua portuguesa em 1974 e foi editado pela Editora Zahar, nesse mesmo ano.

O estudo inicial ocorreu com 500 participantes. Pela inutilização de três números de protocolos foi reduzido a 497, dos quais 230 protocolos de homens e 267 protocolos de mulheres. Não foram realizados estudos da consistência interna do questionário, da sua validade ou da sua precisão. Os dados quantitativos foram registrados em forma de frequências e utilizou-se o método interpretativo, baseado na teoria psicanalítica. Seu material verbal simples, culturalmente pouco estruturado, fornece questões básicas para a elaboração de uma história. As respostas a esse teste provocam o aparecimento particularmente do complexo de Êdipo de uma pessoa, suas imagens parentais, seu equilíbrio pulsões e defesas e suas modalidades relacionais com ele e com os outros; revelam igualmente variáveis de gênero, de idade e de nível cultural. Os objetivos propostos por Backes-Thomas (1974) são:

a) Transpor as barreiras culturais por simples tradução linguística, graças a uma tarefa familiar a todos os homens: contar uma história. Uso: pesquisa das diferenças psicológicas de ordem cultural; clínico: extensão a diferentes países, sem modificações.

b) Ser um teste projetivo lápis-papel utilizável coletivamente. Uso: indicação rápida dos casos-problemas dentro de um grupo, seleção, pesquisa psicológica.

c) Situar um sujeito em relação a seu grupo quanto ao gênero, faixa etária e nível cultural. Uso: estudo clínico, estudo de um grupo, pesquisa psicológica.

d) Fornecer um bom instrumento clínico para a exploração do psiquismo sob os aspectos que o teste extrai particularmente. Uso: diagnóstico ou simples conhecimento psicológico de um sujeito.

e) Estabelecer facilmente o contato com o sujeito. Uso: prelúdio para uma entrevista clínica em uma consulta psicológica.

Backes-Thomas (1974) atenta para o fato de que a teoria psicanalítica é o quadro de referência de escolha para a interpretação do teste, porém, recorta, entre as noções psicanalíticas, aquelas que, segundo a autora, podem ser aplicadas fora da situação analítica e que, de outra parte, exprimem-se na linguagem do Teste dos Três Personagens. Alguns conceitos da psicanálise foram extraídos particularmente para serem incorporados na interpretação do teste: o complexo de Êdipo; as três instâncias: Ego, Id e Superego; a libido; as pulsões destruidoras e as defesas.

A instrução do Teste dos Três Personagens: "Imagine três personagens" mobiliza o complexo de Êdipo, pois cada um liberará, na sua resposta, sejam suas posições edipianas e suas imagens parentais, sejam suas defesas contra o Êdipo e suas modalidades de ultrapassar o complexo. No mesmo sentido, será possível conhecer as relações da pessoa consigo mesma, visto que o complexo de Êdipo representa, primeiramente, as relações que a criança mantém com seus pais, o que possibilita, em seguida, a estruturação do Superego, por consequência da interiorização das imagens parentais (Backes-Thomas, 1974).

A compreensão do dinamismo afetivo expresso no Teste dos Três Personagens ocorre por meio das noções de Id, Ego e Superego. Tendo em vista que os conflitos entre essas três instâncias são frequentes. No entanto, quando tais conflitos são elaborados, torna-se o psiquismo, pode-se assim dizer, equilibrado; ao contrário, em certas condições psíquicas, os resultados dos conflitos podem ser dramáticos.

Outro grupo de conceito inserido originalmente pela autora para a interpretação do teste é o de libido (Eros) e de pulsões destruidoras (Tânatos). Enquanto o objetivo de Eros é sempre estabelecer maiores unidades a fim de conservá-las; o da outra pulsão, ao contrário, é quebrar todos os laços e de destruir todas as coisas. A pulsão de destruição pode ser dirigida para fora ou, num sentido inverso, voltar-se contra a própria pessoa. A última noção freudiana utilizada pela autora é a de defesa, considerada aqui como um mecanismo inconsciente pelo qual o Ego se dissocia de pulsões ou de afetos sentidos como perigosos para a integridade do organismo. Também especifica as seguintes definições operacionais:

- Exclusão do consciente de todo pensamento ou afeto desagradável ao Ego.

- A regressão leva a uma volta atrás no tempo, no modo de pensamento, nas suas modalidades de relação.

- A volta de uma pulsão sobre o próprio indivíduo, que outrora era dirigida a um objeto exterior.

- O deslocamento, que efetua uma passagem do interesse ou da expressão afetiva da representação de origem para outra representação.

- A projeção patológica que exclui um afeto do Ego atribuindo-o ao outro.

- O isolamento que tem por finalidade desligar um pensamento de seu contexto afetivo.

- A anulação, cuja finalidade é trocar um pensamento por outro, com sentido oposto.

- A negação, que tem como objetivo formular negativamente um pensamento ou um afeto.

- A formação reativa, que mantém uma atitude no sentido inverso a de um desejo recalcado.

- A intelectualização, que acentua o pensamento lógico para dominar os afetos.

- A racionalização, caracterizada pela justificação lógica de uma ideia, de um sentimento ou de um comportamento irracional.

As técnicas projetivas são as mais adequadas para a interpretação desse tipo de material, uma vez que são caracterizadas por tarefas relativamente não estruturadas, que possibilitam ao sujeito uma variedade quase ilimitada de respostas possíveis, bem como liberdade total de fantasia. Dessa forma, os avaliandos raramente se dão conta do tipo de interpretação psicológica que suas respostas poderão ter - "os instrumentos projetivos representam procedimentos de testagem disfarçada" (Anastasi & Urbina, 2000, p. 338).

Pasquali (2001), abordando as técnicas projetivas, elucida que estas estão voltadas para a descrição do fenômeno, para a particularidade dos indivíduos; seu enfoque está no processo de testagem, no comportamento que os sujeitos manifestam durante a resolução de uma determinada tarefa ou item. Nesse contexto, o profissional lida muito com a subjetividade e a interpretação dos resultados torna-se quase que totalmente dependente do avaliador.

Os testes psicológicos são considerados essencialmente uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Eles não medem diretamente as capacidades e funções, mas são amostras que devem representar bem o fenômeno estudado (Anastasi & Urbina, 2000; Primi, 2010; Urbina, 2007). Para os autores citados os testes psicológicos são semelhantes a qualquer outro teste científico, uma vez que por meio de uma pequena amostra, porém cuidadosamente escolhida, são realizadas observações do comportamento de um indivíduo.

Em se tratando dos testes psicológicos, duas características são fundamentais para que sejam considerados legítimos e confiáveis; são elas validade e precisão. A validade de um teste pode ser definida à medida que este mede, efetivamente, aquilo que pretende medir (Anastasi & Urbina, 2000; Pasquali, 2001; Urbina, 2007). E para verificar a validade dos instrumentos, os psicometristas recorrem a uma série de técnicas. Estas técnicas podem ser classificadas em três classes: Validade de Construto, Validade de Conteúdo e Validade de Critério (APA, 1954).

A Validade de Construto consiste no fato de que os testes são construídos para representar e medir os traços latentes, ou seja, conteúdos psicológicos. O que caracteriza a conduta do teste é o traço latente. Esse tipo de validade encontra-se na maioria dos testes psicológicos (Anastasi & Urbina, 2000, Urbina, 2007).

Na Validade de Conteúdo o enfoque está totalmente voltado para o conteúdo, testes referentes a esse tipo de evidência especificam um conteúdo e não tipos de pessoas. Nesse sentido o foco recai naquilo que os testandos podem fazer e sabem, não em como eles se comparam uns com os outros. Ê primordial na construção deste tipo de teste o domínio de conhecimento ou de finalidades claramente definidas a serem avaliadas pelo teste (Anastasi & Urbina, 2000).

A Validade de Critério se caracteriza por ser capaz de discriminar grupos-critérios. Assim, os testes são construídos para diferenciar grupos distintos naquilo que o teste pretende medir e sua validade é adquirida pela capacidade de diferenciar claramente ou não estes grupos-critérios (Pasquali, 1999).

De acordo com Anzieu (1989), a validação de testes projetivos não pode ser tomada do mesmo modo que para os testes de aptidão, pois os testes projetivos não exploram uma variável única; descrevem um indivíduo, em termo de um esquema dinâmico de variáveis de intercorrelação. Eles disponibilizam uma gama ampla de dados qualitativos que devem ser codificados em hipóteses a serem testadas. Nesse sentido, o termo Validade Clínica, proposto por Tavares (2004), parece apropriado e importante de ser considerado para a validação dos instrumentos projetivos. Uma vez que, segundo o autor, a Validade Clínica enfatiza o significado singular de um determinado indicador ou de um conjunto de indicadores para um indivíduo e seu contexto específico de vida e contexto de avaliação. A Validade Clínica é compartilhada com a totalidade do contexto no qual a informação é gerada procurando compreender o conjunto de elementos, ligados por algo em comum, que forma um todo coerente. Realidade que deverá ser considerada mesmo que este estudo busque evidências de validade dentro dos parâmetros psicométricos.

Conforme exposto nos parágrafos anteriores, para que o Teste dos Três Personagens possa de fato ser tido como um instrumento científico e adequado para avaliação de aspectos da personalidade, faz-se necessário, no atual momento, buscar evidências de validade e de precisão em inúmeras amostras e em diferentes contextos, além de sua atualização conceitual, especialmente no que se refere às recentes formulações encontradas na psicanálise.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os métodos projetivos têm demonstrado sua relevância e eficácia ao longo da história na avaliação de aspectos da personalidade, mesmo quando suas propriedades psicométricas são questionadas. O Teste dos Três Personagens foi abandonado em seus estudos e atualização, mas certamente consiste em um instrumento a ser resgatado, não só pela sua abrangência, como também pelas suas ricas possibilidades de avaliação dos aspectos da personalidade, enigma inesgotável de particularidades, assim como o é o ser humano. Por se tratar de um instrumento de baixo custo e de fácil aplicação e correção, o Teste dos Três Personagens teria um futuro promissor na área de saúde, especialmente em hospitais públicos, em que os recursos financeiros nem sempre se encontram disponíveis para a aquisição de instrumentos cuja finalidade seja a avaliação da personalidade.

Como se sabe, cada produção projetiva é uma criação que expressa o modo particular da pessoa em estabelecer seu vínculo e relação com as realidades externa e interna. Assim, o Teste dos Três Personagens, pode, nesse momento histórico de transformações, representar mais um importante recurso na avaliação, prevenção, ajuda e de autoconhecimento às pessoas que, por múltiplos fatores, estão em dificuldades na sua relação com a vida que todos, sem dúvida, merecem vivê-la dignamente e em sua plenitude.

 

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1Doutor pela UNICAMP, com Pós-Doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Hospitalar. Professor dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade São Francisco. Psicólogo, membro do Grupo de Neurociência do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, Brasil.
2Mestranda em Ciências pela CCD (Coordenadoria de Controle de Doenças) junto ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas, onde também integra o grupo de pesquisa em Neurociências. Graduada em Psicologia pela Universidade São Francisco, São Paulo, Brasil.