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IGT na Rede
versão On-line ISSN 1807-2526
IGT rede vol.12 no.23 Rio de Janeiro jul./dez. 2015
Poliamor: da institucionalização da monogamia à revolução sexual de Paul Goodman.
Polyamory: the institutionalization of monogamy sexual revolution Paul Goodman.
Tatiane Costa*; Marcus Cézar Belmino**
FLSJN - Faculdade Leão Sampaio de Juazeiro do Norte - Ceará, Brasil.
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina, Brasil
RESUMO
Poliamor é um termo que designa a possibilidade de estabelecer múltiplas relações afetivo-sexuais de modo concomitante, igualitário e consensual, uma modalidade conjugal que apregoa a primazia do amor não exclusivo e por meio de lógicas institucionalizadas. Este estudo tem como objetivo conhecer os ideais amorosos da atualidade a partir das visões de amor romântico e das distinções entre amor e amizade e entre amor e sexo a que se dispõem os poliamoristas. Usa-se como interlocutor o pensamento de Paul Goodman, um anarquista, crítico literário e teórico do cenário norte-americano dos anos 1960, abordando discussões sobre a natureza humana e a antropologia de Goodman e seus desdobramentos quanto à repressão e revolução sexual. Esta pesquisa foi realizada mediante revisão de literatura em livros, revistas e periódicos de circulação acadêmica. Não pode ser compreendida como um ultimato acerca da temática abordada, ademais agrega contribuições ao estudo frente ao poliamor, ao verificar que as relações afetivo-sexuais desafiadoras da norma monogâmica estão cada vez mais comuns e visíveis, historicamente construídas como alternativa às relações pautadas no mito do amor romântico. Embora ainda haja pouca literatura publicada na área e pesquisas relativas às formas não monogâmicas venham sendo negligenciadas pelos estudos acadêmicos.
Palavras-chave: Poliamor; Paul Goodman; Monogamia.
ABSTRACT
Polyamory is a term that refers to the ability to establish multiple sexual-affective relationships concurrently, egalitarian and in a consensual manner, a marital modality that proclaims the primacy of love and not exclusively through institutionalized logics. This study aims to know the romantic ideals of the present time from the visions of romantic love and the distinctions between love and friendship and love and sex that are available to polyamorists. Used as interlocutor thought of Paul Goodman, an anarchist, literary theorist and critic of the American scene in the 1960s, covering discussions about human nature and anthropology on Goodman and his developments about the sexual revolution and repression. This research was conducted through a literature review of books, magazines and academic journals in circulation. It cannot be understood as an ultimatum about the selected theme, more over it adds contributions to the study about polyamory, verifying that the challenging emotional-sexual relationships of monogamous norm are increasingly common and visible, historically constructed as an alternative to relationships based on myth of romantic love. Although there is little published literature in the area and research on non-monogamous forms have been neglected by the academic studies.
Keywords: Polyamory; Paul Goodman; Monogamy
1 - INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta um mapeamento conceitual de um novo arranjo conjugal presente na atualidade, o poliamor. Procura assim, compreender como esta modalidade é vivenciada pelos sujeitos envolvidos, em alternância às relações afetivo-sexuais baseadas na monogamia e pautadas no amor romântico enraizado na sociedade ocidental. O tema em estudo se torna pertinente ao propor conhecer de forma intrínseca essa nova forma de relacionamento, sendo, portanto, de relevância social para a identificação da realidade conjugal da população e os novos arranjos propostos.
Para tanto surgem como questionamentos a possibilidade das relações poliamorosas substituírem, no futuro, o modelo conjugal tal qual o conhecemos ou se apenas ela fixar-se-á como alternativa, dita radical, às construções histórico-culturais da monogamia. Tem como objetivo, conhecer os ideais amorosos da atualidade a partir das visões de amor romântico e das distinções entre amor e amizade e entre amor e sexo a que se dispõem os poliamoristas.
Traz como base uma leitura do pensamento revolucionário de Paul Goodman, escritor, crítico literário, psicoterapeuta e crítico político, do cenário norte-americano dos anos 1960, tendo seus debates perpassados à antropologia, educação, psicanálise, filosofia, psicologia e outros inúmeros temas (BELMINO, 2014). Goodman é um autor fundamental para a compreensão da vida contemporânea, suas críticas e propostas ainda são impressionantemente atuais e pertinentes para se observar como o mundo ocidental ainda está engendrado sob uma tutela de governos centralistas, alienantes e que destroem a capacidade criativa e o desenvolvimento humano (BELMINO, 2014).
Esta pesquisa, alcançando a qualidade e profundidade necessárias, poderá contribuir para a definição de novos indicadores quanto ao tema, que tem se tornado tão relevante nos últimos anos, de modo a permitir conhecer as visões dos praticantes quanto à vivência do amor em desconformidade com a prática culturalmente aceita.
Ademais, a proposta academicamente constitui-se de um tema pouco explorado, mas que apresenta um potencial de investigação vasto, sendo possível promover um viés de conhecimento rico à Psicologia ao abordar questões de ajustamentos às normas sociais embutidos em novas formas de viver, definir e experienciar o amor.
2 - ANTROPOLOGIA E PSICOLOGIA DE PAUL GOODMAN
Em contraposição às ideias marxistas e fascistas de mutabilidade total da natureza humana, Paul Goodman a pensava como um dos pontos fundamentais a serem considerados e discutidos em qualquer investigação. Ele partia do princípio de que esta é dada, porém ao mesmo tempo mutável (VINCENT, 1978). Pautado nas teorias que utilizam o pressuposto da integração organísmica, - ideia na qual o organismo constitui-se por meio da relação intrínseca entre aspectos mentais e fisiológicos -, tais como as ideias de Reich, John Dewey e Kurt Goldstein (BELMINO, 2014), pressupõe a unidade organísmica e a necessidade de uma interlocução entre organismo e meio.
Para Goodman, da natureza humana emanam "três funções básicas: a função criadora, a função sexual e a função comunitária" (Ibidem, p. 137), sendo que destas atribui importância superior à função comunitária, julgando-a necessária ao exercício das demais (VINCENT, 1978).
Goodman entendia que natureza e cultura não se fundem na mesma coisa, são comunicáveis entre si, mas não unidos a ponto de se tornarem irreconhecíveis. Para ele há um processo de alienação política da natureza humana, por meio de uma inibição arrojada desta. Assim, Goodman afirma apenas ser possível compreender um animal em sua constituição mais básica por meio da vinculação entre o organismo e o meio (MULLER-GRANZOTTO; MULLER-GRANZOTTO, 2012).
O que se desenha na história humana nada mais é que uma sucessão de erros antropológicos que distanciam o homem cada vez mais dessas funções básicas. A natureza da sociedade moderna e seu sistema organizado, estatizado e centralizado frustra o homem nas suas funções orgânicas, onde os riscos de uma vida selvagem são substituídos por certezas e previsibilidades da vida burocrática, a sexualidade é reprimida, o outro passa a ser instrumento nas relações humanas e a criatividade infantil é inibida (PERLS; HEFERLINE; GOODMAN, 1997).
Deste modo os excitamentos, ou seja, a energia que mobiliza as ações do indivíduo – conceito elaborado em substituição à ideia de libido freudiana -, buscam atualizar-se em esferas que, sob a ótica de uma sociedade burocrática e organizada, apresentam-se hediondos e inaceitáveis, tais como relações sadomasoquistas, a pornografia, práticas sexuais alternativas, nas formas de degradação do próprio corpo e nas práticas de violência de guerra (PERLS; HEFERLINE; GOODMAN, 1997). Tais manifestações dos excitamentos são tidas como prejudiciais à produção e perigosas à ordem social, sofrem repressão conjugada da ética industrial e dos tabus religiosos e quando conseguem existir, são manifestos geralmente de modo clandestino e, portanto, culpabilizada, sendo o contrário de uma autêntica libertação (VINCENT, 1978).
Mesmo diante de formas tão explícitas de alienação da experiência humana, Goodman acredita ser possível, apesar dos processos coercitivos da sociedade moderna, encontrar uma ampla gama de capacidades de autorregulação organísmica. Sendo esta mais que um processo de reorganização homeostática, Goodman a vê para além do ajustamento do organismo ao meio circundante, há nessa relação uma capacidade criativa, sempre em busca de uma nova alternativa àquilo que foi estabelecido. Processo este que Goodman chama de ajustamento criador ou "ajustamento criativo" (PERLS; HEFERLINE; GOODMAN, 1997, p.60).
Goodman aponta que, o que há de perdido e inadaptado na sociedade contemporânea não é a natureza humana, mas a própria sociedade, que esquecida do arquétipo social não se adapta. Assim, aconselha que antes de tentar moldar os jovens a todo custo aos padrões sociais, melhor seria produzir modificações na cultura e na sociedade que possam satisfazer os desejos e capacidades da natureza humana (VINCENT, 1978, p.140).
[...] Em suma, é a sociedade, porque se esquecida do arquétipo social, que está inadaptada, não o homem. Logo, aconselha Goodman, em vez de procurar adaptar os jovens a todo o custo, inclusive pela força, melhor seria produzir modificações na nossa sociedade e na nossa cultura, a fim de satisfazer os apetites e as capacidades da nossa natureza.
A natureza humana é uma potencialidade e apenas pode ser conhecida da forma como foi realizada nos feitos e na história. A neurose em si é também uma resposta da natureza humana, sendo hoje normal e talvez com um futuro social viável (PERLS; HEFERLINE; GOODMAN, 1997). Sendo assim, Goodman crê como única possibilidade, o processo de autorregulação organísmica, a capacidade de ajustamento criativo dos organismos em relação ao meio (BELMINO, 2014).
As formas de coerção e submissão do outro, irão sempre se sobrepor às formas de ajustamento criativo, "no decorrer dos séculos, fomos nos afastando de nossas experiências mais elementares e fomos reprimindo nossa sensibilidade e criatividade" (BELMINO, 2014, p. 127) uma vez que estas são cooperativas, criativas, não havendo imposição de vencedor e perdedor na vinculação. Já as relações baseadas no poder são sempre coercitivas, impositivas, submetendo o outro, manifestando-se no excesso de inibição, tendo como resultado uma sociedade inibida, ressentida e ansiosa (PERLS; HEFERLINE; GOODMAN, 1997).
Assim, somente ao voltar-se à própria experiência e retornar a confiança na própria natureza, o homem pode recobrar a potencialização da comunidade, da sexualidade, da criação (BELMINO, 2014).
Goodman conclui, portanto, que sempre na luta pelo poder quando o homem se mostra frágil é nesse momento que constrói estratégias explícitas de ameaça ao outro, sendo este o projeto que perpassa os eixos de sua investigação, uma ética anarquista que procura o desenvolvimento da autonomia e da confiança por meio do ajustamento criativo.
3 - O AMOR NA MODERNIDADE
Em todas as culturas conhecidas há testemunhos da presença do amor-paixão, para Costa (1998) a humanidade está habituada a pensar que este é um dom natural e que qualquer forma de coibição ou proibição é desumana e antinatural.
Em uma análise essencialmente ocidentalizada é possível perceber uma tendência à crença na universalidade do sentimento romântico, porém consonante às ideias de Costa (1998), o amor é uma construção histórico-cultural, uma crença emocional, que como tal pode ser mantida, alterada, melhorada, piorada, dispensada ou abolida, tendo sido, portanto, uma invenção humana.
"O amor foi inventado como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o fabrico do pão, a arte erótica chinesa, o computador, o cuidado com o próximo, as heresias, a democracia, o nazismo, os deuses e as diversas imagens do universo. Nenhum de seus constituintes afetivos, cognitivos ou conativos é fixo por natureza." (COSTA, 1998, p.11).
Assim, tendo-se o amor enquanto invenção humana, este se reconstrói indefinidamente com o passar do tempo e modifica-se por meio dos contextos socioculturais, variando de acordo com as nuances econômicas, religiosas, sociais, etc.
Há uma multiplicidade de significados assumidos pelo amor, de modo que ao citá-lo, indistintamente, fala-se de qualquer manifestação amorosa sem distinção entre suas formas – erotismo, fraternidade, paternalismo, etc. Sendo necessário discutir suas modalidades para que se possam reconhecer suas várias faces na contemporaneidade (BELMINO, 2010).
Historicamente é possível reconhecer três formas de amor: o amor/philia, o amor/caritas e o amor/eros, sendo o primeiro aquele que hoje mais assemelha-se à amizade, implicando num desejo de partilhar a companhia do outro, não buscando possuir o outro, ao contrário, alegrando-se por ele (BORGES, 2004).
Belmino (2010) enfatiza que é esse tipo de amor que permanece após a paixão entre dois amantes ter se esgotado, que com o passar do tempo a relação pode ficar menos baseada na necessidade de posse do outro e mais relacionada ao contentamento em estar junto.
O amor/caritas (BORGES, 2004) se relaciona a um sentimento de compadecimento a toda a humanidade, estando na fundamentação ética de vários pensadores modernos e frequentemente ligados ao cristianismo, uma vez buscar o compromisso ético e solidário com os homens sem nenhuma exigência em contrapartida. O erotismo e o apaixonamento dizem respeito ao amor/eros, sendo visto com um caráter dúbio, pois arrebata de modo irracional, não se tem controle dele, ao mesmo tempo em que leva ao divino (GOBRY, 2007).
O romantismo amoroso foi e continua sendo marca registrada da cultura ocidental, segundo Costa (1998) alguns ideais são formados de modo a estarem ao alcance da maioria e a reverem suas injunções no sentido do aperfeiçoamento, outros resistem às mudanças, à contingência do mundo, este é o caso do amor/eros.
A vida é prevaricação às normas, insistindo em permanecer o mesmo num mundo que se tornou outro, o ideal amoroso fez eclodir latentes contradições em sua história cultural, tendendo a colocar-se o amor como monopolizador da felicidade, deixando de ser um meio de acesso a esta para se tornar seu atributo essencial (COSTA, 1998).
Segundo Giddens (1993), na modernidade surgem novas formas de relacionamentos afetivo-sexuais, onde ainda persistem resquícios do ideal amoroso e romântico, mas destacando-se a emergência do que chamou "sexualidade plástica" (Ibidem, p. 10), uma sexualidade descentralizada, liberta da necessidade de reprodução, pautada nos ideais contemporâneos de liberdade, na crença na possibilidade de viver uma sexualidade de modo livre, sem a obrigatoriedade de atrelar-se a um relacionamento estável ou a um casamento.
Por meio dessa concepção, Giddens aponta o surgimento do que chamou "relacionamento puro" (Ibidem, 1993, p.10), o aflorar de uma nova forma de relação amorosa e sexual, onde ambos os parceiros se mantem pelos ganhos de cada um e no trabalho individual de manutenção da relação.
Na época atual os ideais de amor romântico tendem a se fragmentar diante da emancipação e autonomia sexual feminina, sendo que, na visão de Giddens (1993) o amor confluente assume nuances cada vez mais consolidadas na sociedade, uma forma de amor mais ativo, contingente, que por isso entra em choque com as categorias de "para sempre" e "único" da ideia do amor romântico.
3.1 - RELAÇÕES MONOGÂMICAS – MITO DO AMOR ROMÂNTICO
A figura idealizada do amor apresenta uma longa trajetória, profundamente arraigada na cultura ocidental, uma idealização que segundo Costa (1998), é bifronte: idealiza-se o objeto amado e o sujeito do amor. Para ele o sentido do amor como algo bom e verdadeiro surge no ocidente a partir da Grécia Antiga, sendo apresentado como um impulso que se dirige a um outro, mostrando semelhanças com o amor romântico atual.
Na Europa pré-moderna, por volta do século XII, os casamentos eram contraídos não sobre o alicerce da mútua atração sexual, mas sim da situação econômica. De acordo com Carvalho (1999), durante a Idade Média, o casamento era produto de uma negociação entre os nobres a partir de interesses econômicos e sociais, uma troca entre as famílias para favorecer os patrimônios.
Segundo Costa (1998), a prática de transmissão da herança na Europa do século XII deixava sem poder e propriedades os filhos mais jovens dos senhores feudais, uma vez que essa transmissão lateral da herança, e não vertical, fazia com que os aparentados do herdeiro possuíssem direito aos bens que os descendentes diretos do senhor feudal não tinham. Cria-se assim, um grupo vasto de jovens nobres que tinham como única opção para manter sua posição aristocrática e a posse de terras, casar-se com uma noiva rica.
É dessa massa dos sem-herança que surgem os cavaleiros, precursores do chamado amor cortês, que ainda de acordo com Costa (1998), era uma forma aceitável de rebeldia contra os costumes sociais dominantes. Conforme ilustra Rougemont (2003), o amor cortês, predecessor do amor romântico como conhecido hoje, nasceu de uma reação contra a anarquia brutal dos costumes feudais. No século XII, o casamento era para os senhores um puro e simples meio de enriquecimento e de anexação de terras oferecidas em dote ou prometidas em herança.
O amor cortês seria então, uma construção social, inaugurando no Ocidente uma prática cultural nova em relação ao amor, há uma mundanização deste e uma revalorização da figura feminina, pois de acordo com Costa (1998) a ideia do amor na época medieval estava intrinsecamente ligada às normas cristãs, um amor sagrado e para o sagrado, onde o propósito de felicidade seria alcançado na aceitação da própria renúncia, uma espécie de masoquismo a serviço do amor. Com o amor cortês há uma lascivização do objeto ideal do amor, a dama, passa a substituir o lugar do sagrado como objeto de desejo.
Deste modo, ao separar a ideia de amor não só do sagrado, mas também do vínculo conjugal, o amor cortês prepara as condições culturais necessárias à explosão do amor romântico que aconteceria séculos mais tarde (COSTA, 1998). O amor cortês caracteriza-se então por ser a primeira manifestação do amor como hoje é conhecido, uma relação pessoal, sendo a figura dos trovadores da nobreza de Provença os precursores dessa nova forma que se alastraria pelas demais regiões da Europa (LINS, 2007). Ainda segundo a autora o amor cortês respeitoso reverteu a imagem estabelecida da mulher enquanto ser dominado, desprezado, bem como a do homem brutal e dominador, trazendo um enfoque onde a mulher é honrada e poderosa e o homem honrado e gentil.
O amor romântico não era desconhecido na época pré-medieval, mas foi apenas na Idade Média que foi reconhecido como uma forma de paixão, tendo como essência considerar o objeto amado imensamente precioso e muito difícil de possuir. Sendo que proclamado pelo Romantismo está baseado na idealização do outro, mas também, na impossibilidade de concretizá-lo, é o amor da impossibilidade de completar sua falta, é ilusório e fugaz (ROUGEMONT, 2003).
Conforme Belmino (2010) foi só a partir de então que a paixão passou a ser explícita culturalmente e a manifestar-se entre os casais, o amor apaixonado passou a ser expresso nessa época, influenciando a literatura, a filosofia, a música e as artes em geral. Sendo, contudo, no final do século XVIII que surge a ideia de amor romântico. Ele estava dentro dos padrões da normatividade, pois era considerado puro, no sentido de que não era proibido ou pecaminoso. Dessa maneira, passou a ser regido pelos padrões institucionalizados, pois, ao contrário do amor apaixonado, não tinha caráter avassalador, já que não quebrava a rotina dos casais (BELMINO, 2010).
A indissolubilidade da união conjugal inseriu-se no cenário das sociedades ocidentais apenas a partir do século XIII (LINS, 2007). Até então a Igreja não intervinha no casamento dos nobres, era apenas um contrato entre as famílias. Caso a mulher não procriasse, poderia ser devolvida à família ou colocada em um convento. O casamento era uma instituição com vistas à estabilidade de uma sociedade, desempenhando apenas uma função reprodutiva e de união de bens e riquezas.
Apenas após a transformação do matrimônio em sacramento no século XIII, sendo celebrado de início na porta da igreja e, somente a partir do século XVII, ao pé do altar, que se instituiu o casamento monogâmico e inquebrantável. Na idade média e com a influência do cristianismo, o casamento passou a ser encarado como um sacramento em que intervinha a vontade divina revestia-se de forma canônica e um ministro de culto autorizava a celebração. Apenas com o advento do Concílio de Trento do século XVI o sacerdote passou a intervir.
Com a separação da Igreja retirou-se dela o controle do casamento submetendo-o ao Estado, sendo que apenas após a Revolução Francesa, no final do século XVIII passou-se a adotar a concepção do casamento como um ato meramente civil, um contrato, baseado na vontade dos nubentes, sem estar sujeito à intervenção obrigatória da Igreja. Deste modo, com a substituição da Igreja pelo Estado, este manteve o princípio da indissolubilidade. O molde conjugal monogâmico e insolúvel é o grande fato da história da sexualidade ocidental (LINS, 2007).
Almeida (2006) destaca que a monogamia, enquanto norma valorada e aceita pelas sociedades ocidentais surgiu sob a forma de resguardo às propriedades e à herança, uma imposição religiosa que pactuava a exclusividade matrimonial e desencorajava a troca de parceiros, mas que ao mesmo tempo não recriminava o concubinato praticado pelos homens.
Os filhos gerados fora do casamento se mostravam como ameaças ao patrimônio familiar e diminuição do espólio de herança ao fragmentar o poder patriarcal em cada vez mais pedaços, institui-se assim a necessidade de garantir um legado aos filhos legítimos, pautado nos preceitos cristãos de dom divino e do caráter sacro do casamento, a monogamia surge como regra, cujo peso e severidade recaem mais na figura feminina da esposa casta e recatada (ALMEIDA, 2006)
De acordo com o mesmo autor, a monogamia, com a introdução do conceito de amor romântico, produz um sistema que impõe um modelo de relações através de um cerne de práticas formais e informais, produzindo um determinado conjunto de sentimentos, como o ciúme, a possessividade, a desconfiança e várias formas de angústias.
Almeida (2006) ressalta ainda que a monogamia não é meramente um relacionamento entre duas pessoas, ou mesmo duas pessoas juntas que não se relacionam com outras pessoas, mas sim um sistema que torna este modelo único, e cuja forma de exercer essa normatização produz, inevitavelmente, sentimentos negativos. Tais sentimentos não são, porém, mero produto da prática monogâmica, mas também seus produtores, pois é através deles que ela também se mantém e se reforça enquanto instituição social, de início para garantir o monopólio das riquezas dos nobres em detrimento à divisão da herança com os filhos bastardos, atualmente como algo imbuído culturalmente e socialmente aceito como padrão de normatividade.
Prende-se a crença de que o amor romântico é o amor verdadeiro, o que gera infelicidade e frustrações. O mito do amor romântico enquanto construção cultural tem como base a estereotipagem sexual das pessoas em homens verdadeiros e mulheres verdadeiras, envenenando as vidas amorosas. Os escritores de romance e contos de fada sempre souberam do fascínio exercido, mas também que esse tipo de amor não dura. No amor romântico ama-se o amor, o fato próprio de amar, o casal precisa um do outro para arder em paixão, mas não um do outro como cada um é (LINS, 2007).
De acordo com Giddens (1993) o amor apaixonado é um fenômeno encontrado em todas as épocas e lugares, mas se diferencia do amor romântico, por este ser culturalmente específico do ocidente. A sociedade ocidental moderna é a única cultura da história com a experiência do amor romântico como fenômeno de massa.
Não se caracteriza apenas como uma forma de amor, mas como um conjunto psicológico, uma combinação de ideias, crenças, atitudes e expectativas das pessoas dominando seus comportamentos. Predeterminando-se como devem ser os relacionamentos, como agir, sentir e reagir, mas o sujeito é tão condicionado a vivê-lo que se torna comum falar de amor como se ele jamais mudasse (ZELDIN, 1998).
O mundo passa por grandes transformações, no que diz respeito ao amor, o atual dilema situa-se entre o desejo de simbiose com o parceiro e o desejo de liberdade, adaptar essa dualidade à do parceiro, negociar os dois desejos, conciliar o amor por si próprio e pelo outro e tentar ajustar as evoluções recíprocas, são desafios vivenciados pelos casais modernos, onde a duração da relação passa a ser um ideal e não mais uma obrigação (LINS, 2007).
A autora ressalta ainda que a tendência atual é o "desejo de viver um amor baseado na amizade" (Ibidem, p. 245), sendo, para tanto, necessárias novas estratégias e táticas nunca antes tentadas. Um encontro sem idealização, a reprodução do passado já não é mais suficiente, uma grande leva de pessoas gostaria de inventar uma nova forma de amar e historicamente fica evidente que há precedentes, então, é possível ser feito.
Nessa análise sócio histórica vê-se o amor romântico sair de cena, levando com ele a idealização do par romântico, as ideias de que ambos se transformem em um só e, por conseguinte, a ideia de exclusividade, abrindo-se a possibilidade de amar e se relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo (GIKOVATE, 1998). Segundo Lins (2007), a partir do momento em que os modelos de amor, casamento e sexo se tornaram insatisfatórios, abriu-se espaço para novas experimentações no relacionamento afetivo-sexual.
Giddens (1993, p.109), chama esse fenômeno de "transformação da intimidade", movimento pelo qual homens e mulheres buscam consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.
Seria, portanto, um indicativo de que no futuro as relações amorosas serão mais livres e mais satisfatórias. Ao não alimentar fantasias românticas de simbiose com outrem, cada indivíduo tem a oportunidade de pretender sentir-se inteiro, sem a necessidade de completude de um outro. Será então possível descobrir as possibilidades do amor e as formas como ele pode apresentar-se para cada pessoa, em cada situação, em suas diferentes maneiras (LINS, 2007).
3.2 - RELAÇÕES POLIAMOROSAS
O padrão mais aceito para as relações amorosas na cultura ocidental continua sendo a monogamia. A pessoa que, estando em compromisso amoroso com alguém e mantem relações sexuais fora desse relacionamento, geralmente é considerada traidora e infiel (FREIRE, 2013).
Existem pessoas, no entanto, que aceitam não manter a exclusividade sexual e afetiva, mantendo relações sexuais com outra pessoa, por meio do pleno consentimento do parceiro. O poliamor, enquanto modalidade de relacionamento permite que tal situação ocorra (FREIRE, 2013). A sexualidade, bem como as conjugalidades, sempre estiveram arraigadas nos paradigmas sociais desde os primórdios das civilizações. De acordo com Rougemont (2003) o poliamor constitui-se como fonte de conflito até mesmo para aqueles que defendem sua prática. Há inúmeras definições sendo que estas apresentam pontos de divergência, mas também de convergências.
Como consenso há a ideia de que o termo poliamor se refere à prática de um relacionamento íntimo e sexual simultâneo com mais de uma pessoa, com o consentimento e conhecimento dos envolvidos, sendo assim, os adeptos desta modalidade consideram possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo (ANAPOL, 2010).
Segundo Cardoso (2010) a palavra poliamor foi inventada duas vezes na história e em dois contextos diferentes, o que, por conseguinte, marca a existência das duas correntes atuais. O primeiro registro bibliográfico até então conhecido data de 1953 sob a forma de um adjetivo dado pelo autor de um livro ao rei Henrique VIII declarando-o como uma pessoa poliamorista, ou seja, que amava várias pessoas, porém não no sentido empregado hoje. A noção de poliamor em sua vertente pagã e espiritual, como um adjetivo para referir-se a pessoas que tivessem relações amorosas e sexuais com mais do que uma pessoa simultaneamente, ou que o quisessem fazer, e que reconhecessem o direito de outros o fazerem, surge no contexto da Igreja de Todos os Mundos, em 1990, nos Estados Unidos.
Cardoso (2010) explica ainda que a outra vertente do poliamor possui um cunho marcadamente menos religioso e transcendentalista, estando mais preocupados em resolver os problemas surgidos nas relações monogâmicas consensuais da sociedade ocidental.
Porém, conforme ressalta Lins (2007), os poliamoristas advertem que essa prática amorosa é uma escolha, assim como o é a monogamia, não uma imposição ou uma solução mágica aos problemas surgidos nas relações por esse preceito embasadas. Nessa nova forma de amar também há tantos ou mais desafios quanto o modelo normativo atual.
Dessa forma Cardoso (2010) define o poliamor como uma forma de não-monogamia preocupada com o consentimento de todas as partes envolvidas, sendo que a sociedade vigente mostra esta subcultura como especialmente ameaçadora e perturbadora das normas monogâmicas.
A filosofia adotada no poliamor considera que amar única e exclusivamente uma só pessoa pelo resto da vida é algo inconcebível, que o amor não deve excluir o mundo ou as pessoas. Assim, os indivíduos podem amar e ser amados por mais de uma pessoa simultaneamente; esta é a lógica que esta ideologia tenta defender (FREIRE, 2013). Contudo, para que essa forma de relacionamento seja possível, seus adeptos tendem a cultivar princípios que são norteadores dessa prática, a saber: honestidade e consenso principalmente.
Lins (2007) apresenta o <compersion como um oposto ao ciúme, seria "um sentimento de contentamento advindo do conhecimento de que alguém que você ama é amado por mais alguém" (LINS, 2007, p.495).
Freire (2013) traz que o relacionamento poliamoroso apresenta algumas peculiaridades que o divergem das demais formas de relacionamento não-monogâmicos com as quais é frequentemente confundido. Um dos aspectos fundamentais está no fato de que o centro da questão passa a ser o amor, e não o sexo, tal qual acontece nos movimentos de libertação sexual como amor livre, casamento aberto, swing, etc.
Desde o século passado, o poliamor enquanto movimento, passou a ter notoriedade, mais precisamente por volta da década de 1990 quando do seu surgimento, adquiriu maior visibilidade nos Estados Unidos nos últimos vinte anos, sendo acompanhado de perto pelo Reino Unido e Alemanha.
Ainda segundo Freire (2013), no Brasil, mesmo que timidamente, o poliamor já começa a dar sinais de visibilidade, figuras tem-se destacado no cenário nacional com pesquisas referentes ao assunto tais como a psicanalista Regina Navarro Lins e no campo da psicologia Terezinha Féres-Carneiro tem-se dedicado a pesquisas sobre os novos arranjos conjugais, e dentre essas múltiplas conjugalidades está o poliamor.
Klesse (2011) sugere que alguns dos discursos do amor romântico foram absorvidos pela noção de amor poli, ao se observar a ênfase que é dada à intrínseca relação entre o amor, a intimidade, o afeto, o desejo sexual e a valorização da individualidade no poliamor. Porém ao se propor a ser uma forma de relacionamento que aceita e acolhe a diversidade, pode-se argumentar que a concepção de amor poli vence aspectos da dimensão heteronormativa do amor romântico.
Freire (2013) ainda traz que apesar disso nos discursos quanto à compreensão da forma de amar, os praticantes dessa modalidade ainda se contradizem ao considerar elementos como liberdade e compromisso, pois ao mesmo tempo em que uma pessoa é livre para amar a quem lhe aprouver, ela esbarra nos acordos estabelecidos nos relacionamentos que restringem de algum modo essa liberdade.
4 - POLIAMOR: DAS RELAÇÕES INSTITUCIONALIZADAS À REVOLUÇÃO SEXUAL DE PAUL GOODMAN
Goodman (1973) em seu, Ensaios Utópicos e Propostas Práticas (Ensayos Utópicos y Propuestas Prácticas) apresenta a ideia de que os esforços e proibições destinados a punir determinadas atividades, não surtem o menor efeito e, na verdade, chegam a incrementar o mal que se supunha que iriam combater. Para ele a sexualidade é socialmente já bastante aceitável, mas ao mesmo tempo é também a origem de um sentimento de culpa, de algo delitivo.
Declara que a sociedade usa a censura como forma de inibir a livre sexualidade dos sujeitos, sendo ela uma ação dinâmica e emocional que promove efeitos originais e insuspeitos, deste modo pervertendo o clima sexual da comunidade.
A liberdade de expressão significa, para Goodman (1973), liberdade para falar o que quer que seja. As palavras não tem valor de ação e as limitações são claras: se houver a menor incitação ao tumulto cessa-se a liberdade.
As relações afetivo-sexuais são socialmente institucionalizadas, constituem uma ação e como tal devem seguir regras e não infligir tabus. Quando alguma das virtudes ou das formas positivas adotadas pela energia humana é inibida e condenada, seguramente ela reaparecerá adotando outras características muito mais perigosas do que as que de início tentou-se reprimir (GOODMAN, 1973).
As travas colocadas pela sociedade quanto à expressão erótica proporciona como efeito um aumento na necessidade de dar vazão a esta sexualidade, há uma prévia falta de equilíbrio entre uma acumulação excessiva de estímulos e uma inadequada descarga destes. A este fato Goodman chama "revolução sexual" (Ibidem, p. 83), pois não há como a sociedade restabelecer a amnésia ascética de antes, o que irremediavelmente conduziria a expressões mais virulentas, neuróticas e frustrantes (GOODMAN, 1973).
Em condições normais, diz Goodman (1973), o afeto aumenta o desejo erótico, e o prazer experimentado conduz a uma gratidão e ao afeto. Socialmente o que ocorre é a aceitação da natureza da sexualidade de uma forma abstrata e tolerante, não se consegue chegar a um arranjo, a uma solução para os dilemas morais, familiares e pedagógicos que se apresentam durante este período de transição pelo qual a sociedade passa. O que há é uma sexualidade isolada, no melhor dos casos higiênica e no pior deles que conduz o sujeito a negar a sexualidade àqueles aos quais ama.
Pautadas no mito do amor romântico e nas imposições de exclusividade das sociedades ocidentais as relações amorosas monogâmicas, e alguns dos ramos das que se auto intitulam não monogâmicas, apresentam um discurso irrevogável de exclusividade mutuamente consentida, até mesmo os adeptos de outras modalidades tais como swing e relacionamento aberto se dizem monogâmicos, sendo pautados por aspectos de possessividade, renúncia, e lutas de poder (GOLDENBERG; PILÃO, 2012).
Deste modo os arranjos sociais introjetados provocam um sentimento ambíguo no sujeito que se identifica com a filosofia do poliamor (LINS, 2007). De início reconhece sua vida como monogâmica, mas aspira que não seja; o que gera culpa, frustração e vergonha, na maioria dos casos consegue adotar apenas alguns elementos associados à vivência do poliamor, se reconhecendo nessa posição dúbia de já não estar tão limitado como um monogâmico, mas não completamente realizado enquanto poliamorista.
Para Goodman (2012), é danoso às sociedades reprimir qualquer vitalidade espontânea, considerando que "parte da hostilidade, paranoia e competitividade automática desta sociedade resulta da inibição de contato físico" (Ibidem, p. 39). Sendo que uma sexualidade funcional é provavelmente incompatível com este sistema massificado.
Assim a monogamia seria o outro absoluto do poliamor, seu completo oposto, sendo que a principal dificuldade de seus adeptos reside no fato de já haverem sido monogâmicos um dia, são as margens residuais o que tentam superar, indicando-as como a principal fonte de frustração inicial (GOLDENBERG; PILÃO, 2012).
Para Barker e Langdridge (2010), há um discurso político em meio à filosofia poliamorista, a qual situa a monogamia em um regime capitalista patriarcal, com argumentos anarquistas, pós-estruturalistas e queer para fundamentar a escolha pelo poliamor, numa busca por identidade com a utilização de conceitos bem definidos e sob a organização de uma plataforma de objetivos comuns ao grupo.
Partindo de uma argumentação em muito assemelhada ao relativismo cultural da antropologia do século XX, os poliamoristas, em sua vertente menos conservadora e mais próxima da visão apresentada por Goodman de vivência da sexualidade, não intencionam apontar o poliamor como substituto e prática resolutiva aos dilemas da monogamia. Assim como aborda Goodman (2012, p.41), "é óbvio que toda maneira de viver tem seus problemas, mas é difícil julgar a experiência dos outros, fazer uma comparação".
Os novos poliamoristas afirmam então, que não há uma escolha melhor que outra; todas tem um significado humano distinto que deve ser considerado. Abstraem-se as diferenças e ressalta-se os aspectos que as unificam: todas são pontos de vista, são caminhos, possibilidades e não respostas concretas e fórmulas acabadas (GOLDENBERG; PILÃO, 2012).
5 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Segundo Marconi e Lakatos (2010), metodologia científica é um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência com o intuito de formular e resolver problemas de aquisição objetiva do conhecimento, de modo sistemático.
Para tanto se utiliza da pesquisa científica, a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia para alcançar esses resultados.
Pesquisar, em sua significância mais simples, é uma forma de responder indagações propostas. Minayo (1993), com olhar sob um prisma mais filosófico, trata a pesquisa como sendo uma atividade básica das ciências em sua indagação e descoberta da realidade. Uma atitude e uma prática teórica de incessante busca que define um processo inacabado e permanente.
Para Gil (2010), a pesquisa tem um caráter mais pragmático, sendo um "processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos" (Ibidem, p.19).
Em suma, pesquisa é um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para um problema, que tem por base procedimentos racionais e sistemáticos, sendo realizada quando se tem um problema e não se tem informações para solucioná-lo.
Na construção desta pesquisa foi utilizada a classificação bibliográfica, que segundo Gil (2010), é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, enfim, material acessível ao público em geral. Fornece instrumental analítico para qualquer tipo de pesquisa, mas também se esgota em si mesma.
Marconi e Lakatos (2010) trazem que esta tem como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com o que foi escrito sobre determinado assunto, sendo não apenas uma mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas propiciando o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.
Para esta pesquisa utilizou-se como base livros, artigos, teses e dissertações extraídos do SCIELO e da base de dados do Google Acadêmico, sendo de início um total de quinze artigos, três dissertações, uma tese e dezesseis livros.
Adotou-se uma ótica multidisciplinar, articulando saberes da Sociologia, Antropologia, e com destaque ao contexto psicológico do conceito de amor romântico e da não-monogamia como forma de conjugalidade moderna. Para explicar os elementos constituintes dessa modalidade de relacionamento, apresentou-se como de fundamental importância o trabalho de Giddens sobre as transformações da intimidade no mundo contemporâneo, as obras de Paul Goodman, que versam acerca dos processos de individuação e o conflito criado entre a sociedade moderna e a institucionalização das relações, bem como a sexualidade e natureza humana e a conceituação histórica de Denis de Rougemont.
Ao delimitar o objeto de análise o material foi reduzido a seis artigos, duas dissertações, uma tese e quatorze livros, sendo excluídos aqueles que se distanciaram do objetivo da pesquisa, tanto por relevância de conteúdo como por defasagem temporal, para tanto foram mantidos livros clássicos, buscando-se atualização nos periódicos mais recentes.
O material utilizado mostrou-se referencialmente contundente, útil em suas propostas e capaz de promover a argumentação teórica necessária.
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa não pode ser compreendida como um ultimato acerca da temática abordada. Ademais, ela agrega contribuições ao estudo frente ao poliamor, constructo essencial para a construção de uma compreensão sob a maneira como as pessoas pensam e se posicionam frente a esta modalidade de relacionamento.
Freire (2013) explica que os sujeitos que vivenciam relações baseadas nesta estrutura tendem a ser socialmente isolados devido a sua invisibilidade, identificando alguns medos comuns que possivelmente surgem, tais como, perda de amizades, incompreensão, preconceito, etc.
Goodman (2012) apresenta como principal utilidade do sexo a permissão em conhecer outras pessoas intimamente e que dada à frieza e fragmentação da vida comunitária a prática sexual enriqueceria as vidas, uma vez que sua visão pauta-se na construção de uma humanidade mais elementar, mais selvagem, menos estruturada, mais variegada, onde as pessoas prestem mais atenção umas às outras.
Deste modo a abertura ao conhecimento desses novos arranjos conjugais propicia auxílio também ao terapeuta que, para tornar-se eficiente em seu papel clínico, tem como necessidade o estabelecimento de um ambiente terapêutico seguro, onde este sujeito sinta-se confortável e encorajado a discutir clara e explicitamente os temas relacionados às conjugalidades não monogâmicas.
Segundo Freire (2013), as relações afetivo-sexuais desafiadoras da norma monogâmica estão cada vez mais comuns e visíveis, mas ainda há pouca literatura publicada na área e estudos acadêmicos relativos às formas não monogâmicas têm sido negligenciados pelas academias.
Entende-se que o estudo apresentado contribui para a ampliação do arcabouço teórico em torno da temática no meio acadêmico, estando em corroboração com a literatura da área. Fomenta possibilidades de ampliação posterior e oferece informações quanto a aspectos psicológicos e sociais que auxiliam a se fazer possível o entendimento da dinâmica do poliamor, favorecendo uma ampliação das discussões desses temas nos círculos acadêmicos.
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Endereço para correspondência:
Tatiane Costa
Endereço eletrônico:tatianecosta965@gmail.com
Marcus Cesar Belmino
Endereço eletrônico:marcuscezar@leaosampaio.edu.br
Recebido em: 29/06/2015
Aprovado em: 28/09/2015
NOTAS:
* Tatiane Costa: Graduada em Psicologia, bolsista do Programa Universidade para Todos, com formação básica em Gestalt-terapia pela Diálogos Clínica Gestáltica e Centro de Desenvolvimento de Pessoas. Faculdade Leão Sampaio, Juazeiro do Norte - Ceará, Brasil
** Marcus Cezar Belmino: Psicólogo, mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Doutorando em Filosofia pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Formado em Gestalt-terapia pelo Instituto Gestalt do Ceará. Bolsista CAPES/DS.