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Trivium - Estudos Interdisciplinares
versão On-line ISSN 2176-4891
Trivium vol.4 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2012
ARTES
Entrevista: João Gaspar instrumentista e compositor
Christianne Otero1; Gustavo Martins2
Num mercado tão diversificado como o de música, muitas vezes achamos que já vimos e ouvimos de tudo, mas, de repente, nos deparamos com ótimos trabalhos que nos fazem rever conceitos. Grande exemplo disso é o recém lançado CD do guitarrista carioca João Gaspar, intitulado Camaleão Carioca. O álbum traz uma variedade de estilos e timbres, arranjos elaborados e participações de ótimos músicos, como Guinga, Ney Conceição, Leo Gandelman, Daniel Jobim, Marcio Bahia, Alberto Continentino, entre outros.
João Gaspar é um músico muito requisitado no Rio de Janeiro. Ele iniciou seus estudos aos 13 anos e estudou na Musiarte, Rio Musica e Cigam. Mais tarde, tornou-se bacharel em arranjo pela Uni Rio. Já acompanhou artistas como Zélia Duncan, Leo Gandelman e Eduardo Dussek. Hoje é sideman da cantora Angela Ro Ro.
A seguir, Gaspar fala de seu novo disco e seus diversos trabalhos.
O CD Camaleão Carioca apresenta uma variedade de estilos e timbres?
JG: O disco é bem eclético mesmo, tanto nas composições e arranjos quanto nos timbres e estilos. A unidade se dá pelos improvisos e execuções. Cresci ouvindo uma grande variedade de estilos musicais e isso se refletiu em minhas composições e arranjos. Desde jovem, o meu interesse por técnicas diferentes e outros instrumentos de corda foi crescendo. Além da guitarra e dos violões, o álbum tem bandolim, banjo e dobro.
Como foi o processo de composição e estruturação de arranjos para o CD?
JG: Blueseando e Céu aberto são músicas que fiz anos atrás. As outras são mais recentes. Tenho muitas ideias para composições quando estou estudando. Pode ser uma harmonia, uma melodia ou uma convenção rítmica, mas tem de ser algo bonito. Minha relação com arranjo vem de longa data. Desde quando comecei a tocar, sempre me interessei pelo que cada instrumento estava fazendo ou na escolha de vozes de um naipe. Acho fascinante como os arranjos podem mudar completamente o sentido de uma composição. Tenho a tendência de usar muitos detalhes no arranjo. A cada nova audição descobrimos algo novo, principalmente quando usamos fone.
Na faixa Nevoeiro você explora um instrumento não convencional no Brasil, o Sitar Elétrico.
JG: O legal é o som diferente que o instrumento gera, mesmo sendo tocado como uma guitarra comum. O detalhe são as cordas simpáticas, que ficam acima das seis cordas convencionais do instrumento. Há um captador específico para as cordas simpáticas, além de uma chave de afinação igual às usadas em pianos. Logo após comprar o instrumento fiquei tocando de madrugada e a música surgiu. Mudei a afinação da corda mais grave do instrumento e usei uma sonoridade mais rock.
Quais os cuidados necessários para obter bons timbres em uma gravação?
JG: Gravei quase tudo, com exceção das baterias, no estúdio em minha casa. Várias partes de guitarra foram captadas em estéreo, com microfones diferentes - dinâmico e condensador - e até mesmo em linha para alguns sons limpos.Nos violões usei dois microfones condensadores (diafragma pequeno e grande). O segredo de um bom timbre final está na captação e em saber o que você quer. É importante conhecer as técnicas de captação - tipos de microfones e ângulos para capturar o som. Você deve procurar um som bom e fiel sem usar vários plug-ins. É preciso ter uma projeção do som que você deseja: a presença de grave, médio e agudo e a ambiência (ou eco, com reverb ou delay) a ser usada.
A faixa O côco do côco (Guinga/Aldir Blanc) conta com a participação do próprio Guinga.
JG: Ele é uma pessoa maravilhosa e um musico extraordinário. Conheci Guinga pessoalmente quando fiz direção musical da cantora e compositora Simone Guimarães. Ele fez participação especial nos shows dela no SESC Pompéia em SP. Desde então, fiquei fascinado por sua pessoa e seu talento, sempre em efervescência criativa e querendo ouvir ou aprender algo novo. Eu já conhecia esta música há um bom tempo, na voz de Leila Pinheiro. No meu CD gravei ela no bandolim. Guinga compôs uma introdução de violão solo que ele gravou em meu estúdio usando meu violão flamenco.
Você é um musico conceituado, que tem gravado e acompanhado grandes artistas. Qual o segredo para se manter no circuito?
JG: Estou sempre disposto a me aperfeiçoar e poder oferecer esta variedade de técnicas, estilos e timbres aos artistas com quem trabalho. Às vezes, numa mesma semana, posso ter três trabalhos diferentes: uma de guitarra num contexto rock, pop e funk, outra de jazz tradicional com guitarra semiacústica e a terceira com violão de nylon, bandolim e cavaquinho, numa onda MPB, samba e choro. Tudo é musica.
Quais são os seus equipamentos?
JG: Tenho vários tipos de guitarras, de corpo sólido e semiacústicas. Possuo violões de cordas de aço, 12 cordas, Dobro, bandolim, cavaquinho, charango e banjo. Tenho ainda um lap steel de seis cordas. Gosto muito de pedais, mas uso também efeitos digitais em rack. Quanto aos amplificadores de guitarra tenho dois Fender clássicos e um Jazz Chorus.
Se você pudesse descrever em poucas palavras o que o ouvinte vai encontrar no seu CD, o que você diria?
Vai ouvir uma grande variedade de timbres e estilos musicais. Melodias cantáveis, arranjos sofisticados e solos elaborados. Diversos instrumentos de corda como violões, guitarras e bandolim em composições autorais. E, acima de tudo, um grande capricho e carinho com todo o processo.
Ouça um pouco do CD em:
http://www.bandmine.com/artist/music/jgasparmusic/749361
Compre o CD:
http://freenote.com.br/produto.asp?shw_ukey=395401709234761NK8
http://itunes.apple.com/us/album/camaleao-carioca/id286254834
http://www.frettunes.com/browse.php?g=latin&ftmssid=993d207d258dc2fe01c4f5adb2b2b1cb
Musicas (todas de João Gaspar, c/ exceção da número 3, de Guinga/A. Blanc):
Faixas do CD:
1- Rola Bola
2- Céu aberto
3- O côco do côco
4- Nevoeiro
5- Buscapé
6- Blueseando
7- DDA
8- Guarda do Embaú
9- Choro Invisível
10- Sereno
1 Christianne Otero é jornalista , psicanalista e mestranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela UVA-RJ
2 Gustavo Martins é jornalista