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Trivium - Estudos Interdisciplinares
versão On-line ISSN 2176-4891
Trivium vol.4 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2012
ARTIGOS TEMÁTICOS
Ingresso do conceito de passagem ao ato na teoria psicanalítica
Tatiana LinsI; Ana Maria RudgeII
IMestre em Psicologia Clínica pela PUC- Rio. Especialista em Clínica Psicanalítica pelo IPUB/UFRJ ; Terapeuta do Instituto Cultural Freud; Psicóloga da ONG Casa da Árvore. E-mail tatlins@gmail.com
IIProfessora Associada do Departamento de Psicologia da PUC- Rio ; Membro Psicanalista da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle; Pesquisadora do CNPq; Pesquisadora e Membro Fundador da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. E-mail: ana.rudge@uol.com.br
RESUMO
Este artigo apresenta as consequências da introdução da noção de "passagem ao ato" no campo da psicanálise, feita por Lacan, e o rigor que disso resulta para a noção de "acting out". O conceito freudiano "Agieren", em inglês "acting out", surgiu na teoria de Freud ligado ao de transferência, esta entendida como a mola e ao mesmo tempo como entrave de uma análise. O acting out é um ato no qual o sujeito em análise age ao invés de recordar e colocar em palavras uma cena infantil. A grande contribuição de Lacan para o campo do ato na psicanálise foi demarcar uma nuance no campo do acting out e desdobrar tal conceito, situando a passagem ao ato e o acting out como situações clínica diversas. Isso permite abordar a metapsicologia dos atos impulsivos de forma diversa à do acting out.
Palavras- chave: clínica, passagem ao ato, acting out.
ABSTRACT
Entrance of the concept of passage- to- the- act in psychoanalytic theory This article presents the consequences of the introduction by Lacan of the notion of " passage to the act " in the field of the psychoanalysis, and the conceptual clarity that resulted for the notion of " acting out ". The Freudian concept " Agieren ", in English " acting out ", appeared in the Freudian theory linked to transference, which at the same time makes the analytic process possible and hampers it. Acting out is an act of the patient in analysis, which substitutes remembering a childhood scene, and putting in words. The great contribution of Lacan was to clarify the field of the acting out, as he unfolded such a concept situating the passage to the act and the acting out as different clinical manifestations. That allows us to approach the metapsychology of impulsive acts as different from that of the acting out.
Keywords: Clinic, acting out, passage to the act
Na literatura psicanalítica pós- freudiana, o termo acting out tomou conotações bastante fluidas, o que diluiu seu valor conceituai. Foi usado para designar tanto:
comportamento criminal, delinquência, adicções a drogas, neuroses de caráter severas, perversões sexuais, a tendência geral de seres humanos a eventualmente se comportar de forma irracional, e também para descrever uma ampla diversidade de comportamentos dos pacientes durante o curso do tratamento psicanalítico. Foi portanto fácil a concordância em que o termo acting out foi aplicado de forma muito frouxa. (BOESKY, 1982, p. 39).
Vários autores de língua inglesa [Blos (1978), Blum (1976), Infante et al., 1976] constataram que o termo tomou sentidos muito díspares, tornando-se, entre os pós- freudianos, um verdadeiro saco de gatos; assim, eles se dedicaram a promover em seus trabalhos uma tentativa de definição mais rigorosa do acting out. Embora haja várias contribuições valiosas nessa empreitada, o primeiro caminho que tomaremos é o de circunscrever a noção na obra de Freud, começando pelo que nos adianta sobre o ato em geral, para depois mostrar como Lacan, recuperando a noção de passagem ao ato, da psiquiatria para a psicanálise, contribuiu para a conceituação mais rigorosa do campo do ato. Desde já, é necessário assinalar que na psiquiatria francesa a expressão passage a l'acte tinha um valor puramente descritivo, indicando atos impulsivos, criminais etc. A importação a que Lacan a submeteu significou uma transformação no significado do termo, na medida em que uma elaboração teórica foi empreendida, em sua transposição para o âmbito da psicanálise.
Desde 1900, com o livro A interpretação dos sonhos, Freud busca indícios na vida onírica que lhe permitam demonstrar sua tese de que o material recalcado exerce seus efeitos na vida do sujeito. Fenômenos cotidianos tais como os sonhos, os lapsos e os esquecimentos são regidos pelas leis do inconsciente: a condensação e o deslocamento, as mesmas que fazem parte da formação do sintoma neurótico, e têm a estrutura de formações de compromisso.
A condensação é um ponto de encontro de ideias que possuem uma analogia entre si, ao passo que o deslocamento é responsável pelo deslizamento de um significante a outro. Tanto a condensação quanto o deslocamento são meios pelos quais o material recalcado, alvo da censura, se utiliza para retornar de forma distorcida. Assim, a fórmula freudiana de que o sonho é uma realização de desejo é a principal ideia desse livro. Neste contexto, o desejo recalcado, que não pode ser lembrado, não deixa de operar na vida onírica do sujeito.
Em Psicopatologia da vida cotidiana (1901/1996), Freud aprofunda-se na questão do ato de lembrar, baseando-se em situações cotidianas durante o período de vigília do sujeito. Assim como no livro anterior, grande parte dos exemplos apresentados neste trabalho é fruto da análise pessoal do próprio autor. Dessa forma, Freud valoriza o conceito de inconsciente, estendendo- o a todos os sujeitos, doentes psíquicos ou não. Certas manifestações normais do cotidiano passam a ser concebidas como manifestações do inconsciente que revelam algo da ordem de um desejo recalcado.
Este trabalho freudiano busca validar a tese de que o sujeito é determinado por algo que lhe escapa. Cotidianamente, o material inconsciente se manifesta à revelia da vontade consciente do sujeito, e muitas vezes produz efeitos contrários ao que se pretendia fazer. É o caso das trocas de nomes, lapsos de memória e até de ações equivocadas. Os diversos tipos de lapso são reunidos pelo autor sob o nome de "atos falhos". São atos que falham do ponto de vista da intenção do sujeito, mas, por outro lado, são atos bem- sucedidos no propósito de fazer valer o desejo inconsciente.
As ideias defendidas por Freud acerca da noção do ato falho são sublinhadas por Lacan, sobretudo no Seminário XV (1967/68). Nesse seminário, Lacan é enfático ao afirmar que o maior legado de Freud sobre os atos falhos é revelar que eles são interpretáveis e, assim como qualquer ato, caracterizam-se por sua dimensão significante.
De acordo com Lacan: "Foi no campo analítico, a saber, a propósito do ato falho, que surgiu que justamente um ato que se apresenta como falho seja um ato, e unicamente pelo fato de que é significante" (1967/68, lição de 10/01/68). Esse caráter falho se dá devido à dimensão significante, que, por sua vez, implica uma alienação à cadeia significante e consequentemente uma perda. Essa perda confere um caráter falho aos atos, podendo advertir o sujeito para o inconsciente.
No campo da psicanálise, o ato não equivale a uma ação, nem a uma descarga motora, mas "os atos são constituídos pela dimensão significante, orientados por coordenadas simbólicas da linguagem" (LACAN, lição de 22 de novembro de 1967). Sendo assim, o ato diz algo.
O ato, uma vez no campo significante, não possui um sentido originário; seu sentido (como de qualquer significante) é construído sempre a posteriori. A articulação entre significante e ato abre a possibilidade de entrever uma outra verdade, além da intenção que moveu o próprio ato. De acordo com Rudge, "para que um vínculo entre o ato e o sujeito se estabeleça, é necessário o trabalho psíquico levando à elaboração de uma representação a posteriori" (RUDGE, 1998, p.129). Esta é a forma pela qual o sujeito se implica no seu ato.
Podemos concluir que a teorização dos atos falhos traz inúmeros desdobramentos para a teoria psicanalítica. As principais considerações acerca de tal conceito são, inicialmente, o reconhecimento da força do inconsciente em convocar o ato à revelia da vontade consciente do sujeito, e, ainda, a constatação de que um ato é interpretável, seja ou não um ato de fala, porque situado no campo da linguagem.
Transferência e acting out
Freud é advertido, em sua prática clínica, de que o sujeito pode vir a atuar o material recalcado quando se vê situado no limite da rememoração. O fenômeno da transferência é justamente a substituição do que não pode ser dito: no lugar da lembrança, surge a repetição em atos.
No texto de 1912 A dinâmica da transferência, Freud compreende que a condução da vida afetiva de cada indivíduo depende das vivências infantis do mesmo. Isso quer dizer que cada sujeito, a partir de suas escolhas e experiências, adquire um modo singular de viver seus relacionamentos amorosos. Sendo assim, o sujeito é marcado por certas satisfações pulsionais, que o levam a repetir "clichês" durante a vida. O campo da transferência - que é o campo relacional entre analista e analisando - é o lugar em que a atualização de repetições amorosas primárias prevalece.
Através da transferência, o analista é incluído nas 'séries' psíquicas do sujeito. (FREUD, 1912/1996, p.112). Desse modo, a relação do analisando com o analista é marcada por um investimento psíquico inconsciente, que tem sua origem na infância. O analista ocupa um lugar que é estabelecido pelo analisando, geralmente um lugar parental, que diz respeito à sua fantasia.
À medida que, através da associação livre, o analisando se aproxima de algum material da ordem do recalcado que revelaria o sentido do sintoma, ele retira a libido investida na realidade e a recolhe para o inconsciente, "seu esconderijo", passando a privilegiar o terreno da fantasia e não mais o da realidade. É o que Freud (1914) chamará de introversão da libido.
Esse movimento impede a lembrança do que foi recalcado e a transfere para o presente na forma de uma repetição dirigida ao analista. A resistência é ligada à interrupção da associação livre, e à repetição da experiência, que, por sua vez, aponta para o recalcado. O autor anuncia que o único modo de superá- la é através da elaboração. Lacan corrobora a ideia de Freud, ao afirmar que a transferência coloca em ato o inconsciente, mas que ela só o faz pelo viés de seu fechamento.
O inconsciente é formulado por Lacan na perspectiva de abertura e fechamento. Ele aparece como erro, tropeço. Os significados levam ao fechamento do inconsciente. A transferência traz o paradoxo de que ela é fechamento, e, ao mesmo tempo, ela é abertura e atualização do inconsciente. Assim, o sujeito - sujeito do inconsciente - está condenado a ser inapreensível. Ele sempre nos escapa. "Ora, esse achado, uma vez que ele se apresenta, é um reachado, e mais ainda, sempre estará prestes a escapar de novo, instaurando a dimensão da perda" (LACAN, 1964/1998, p.30).
A transferência, sendo um instrumento que permite a atualização do inconsciente, oscila entre uma abertura para o material inconsciente, através da rememoração, e um fechamento para tal material, quando o analisando repete, sem saber que o faz, a favor do movimento de resistência. Essa dinâmica de fechamento e abertura que a transferência comporta traz a marca de um paradoxo que a torna o osso da psicanálise.
No texto de 1914 Recordar, repetir e elaborar, Freud aprofunda-se na discussão acerca desse caráter duplo da transferência. O aspecto de fechamento e resistência que a transferência comporta é alvo de sua inquietação.
Um grupo de pacientes não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa- o pela atuação ou o atua (acts it out). Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete- o, sem, naturalmente, saber que o está repetindo (FREUD, 1914/1996, p.165).
Promovendo a associação livre, o analista evoca a repetição, uma vez que a regra fundamental da associação livre é dizer o que vem à mente, e a resistência se faz presente no discurso. É impossível rememorar todo o material recalcado e, por essa razão, o sujeito repete.
Freud compreende que a rememoração esbarra em um limite, em que a repetição surgirá como uma substituta da palavra e por isso deve ser encarada como uma forma de recordar. "Quanto maior a resistência, mais extensivamente a atuação (acting out) substituirá o recordar" (FREUD, 1914/1996, p.166). A elaboração é um trabalho do sujeito que depende da repetição de sua experiência. A colocação em ato do material inconsciente tem lugar no campo transferencial, e este é o meio possível pelo qual o sujeito pode vir a se implicar em seus próprios atos.
A constatação de que o paciente repete ao invés de lembrar aponta para a noção de repetição como algo separado do conceito de transferência, segundo Freud: "A transferência é ela própria apenas um fragmento da repetição e a repetição é uma transferência de um passado esquecido" (FREUD, 1914/1996, p.169). Dessa forma, transferência e repetição não são equivalentes; a repetição é um dos elementos do fenômeno da transferência.
Lacan, em 1964, no Seminário XI, elabora as especificidades que a repetição comporta, abrindo uma possibilidade de distingui- la da transferência. "A transferência é a atualização da realidade do inconsciente" (LACAN, 1964/1998, p.142), diz o autor. Assim, a transferência diz respeito à realidade psíquica, realidade tecida pela fantasia construída em torno do que não é possível ser dito. A diferença fundamental entre a transferência e a repetição reside no aspecto de que a primeira está ligada a uma ficção, ao passo que a repetição denuncia algo referente a uma dimensão do irrepresentável, ao pulsional.
Lacan toma emprestado de Aristóteles seus termos físicos: o automaton e a tiquê; para ressaltar a particularidade que a repetição possui. O automaton é entendido como retorno dos significantes, é a repetição dos símbolos. Em última instância, ele está ligado ao retorno do recalcado. A tiquê é o encontro com aquilo que é faltoso, encontro com o impossível de ser assimilado. "Nós a traduzimos por encontro com o real. O real está para além do automaton, do retorno, da volta, da insistência dos signos aos quais nos vemos comandados pelo princípio do prazer. O real é o que vige sempre por trás do automaton'" (LACAN, 1964/1998, p.56).
A repetição apresenta-se como um obstáculo ao princípio do prazer, exatamente por ser definida como o retorno daquilo que permanece idêntico por não possuir inscrição possível. "O real é aquilo que retorna sempre ao mesmo lugar - a esse lugar onde o sujeito não o encontra (...) a repetição não é reprodução" (LACAN,1964/1998, p.64).
É por isso que pus em relevo, no conceito desconhecido de repetição, esse recurso que é o do encontro sempre evitado, da chance falhada. A função do ratear está no centro da repetição analítica. O encontro é sempre faltoso - é isso que constitui, do ponto de vista da tiquê, a vaidade da repetição, sua ocultação constitutiva (LACAN,1964/1998, p.123).
Voltando ao mestre de Viena, o acting out se apresenta, em contraposição ao recordar, como a repetição do passado recalcado na análise, na transferência para o analista, mas também em "todos os outros aspectos da situação atual" (1914, p. 151), já que a transferência em análise e o próprio alcance dos efeitos analíticos não se limitam ao que ocorre no âmbito do consultório do analista. O acting out é conceituado como efeito da instalação da neurose de transferência e, portanto, como uma vicissitude do processo analítico. Corroborando essa estreita ligação entre acting out e neurose de transferência, Freud dirá, em 1920, que as repetições da vida sexual infantil se apresentam com surpreendente exatidão, e que "invariavelmente são atuadas (acted out) na esfera da transferência" (1920, p.18).
O sujeito repete sem saber que o faz. Esse tipo de ação ligada à repetição denominada por Freud de "agieren", foi traduzida com felicidade por Strachey como "acting out", que significa demonstrar ou ilustrar por pantomima, palavras e gestos (Webster). Infelizmente, o "out" que compõe a expressão levou muitos comentadores à suposição de que o fenômeno ocorreria "fora" de algum lugar, especialmente do consultório do analista, quando, na verdade, essa expressão significa desempenho ou dramatização, assim como um ator desempenha um papel numa peça de teatro.
A atuação em oposição à rememoração é a tendência do sujeito exposto a um tratamento analítico. Espera-se do trabalho de análise que o sujeito inverta a situação, reproduzindo o material recalcado no plano psíquico ao invés de atuá-lo no plano motor, mesmo sendo isso uma tarefa impossível, como adverte Freud. O autor coloca em foco o lugar do analista ao afirmar que "o instrumento principal para reprimir a compulsão do paciente à repetição e transformá- la num motivo para recordar reside no manejo da transferência." (1914/1996, p.169). De acordo com Rudge:
A transferência é como um palco onde pode ser encenada a repetição, assim como é o instrumento para lidar com a compulsão à repetição e mantê- la no plano psíquico. Freud chega a falar da transferência como o que põe os freios nas pulsões não domadas, que de outra forma se manifestariam em ações repetitivas (1998, p.67).
Somente através da substituição da neurose comum pela neurose transferencial é possível circunscrever a repetição, o que a permite trilhar outro destino diferente do destino da compulsão; em última instância o analisando deve repetir em análise, lugar onde o acting out é promovido ao valor de uma comunicação ao analista.
O analisando tenta dizer algo por meio de uma dramatização; assim o acting out não é pura expressão da repetição, ele também possui o valor de um endereçamento. Trata-se de uma mensagem dramatizada, e Lacan enfatiza esse caráter. O acting out tem valor de informação para o analista, que, através desse material, pode conduzir o sujeito a uma elaboração que envolve a construção de uma narratividade. A face demonstrativa que caracteriza o acting out, o fato de que ele se orienta para o Outro é o que é valorizado por Lacan em sua leitura de Freud. Assim, ele irá retirar todas as referências à impulsividade, violência ou perversão com que os psicanalistas fizeram o tal "saco de gatos" do acting out, introduzindo a passagem ao ato no campo da psicanálise, e advertindo: "Tudo o que é acting out é o oposto da passagem ao ato" (LACAN, 2005, p. 136).
Angústia e objeto a
No Seminário X (1962), Lacan introduz o conceito de passagem ao ato no campo da psicanálise, demarcando- o em relação ao conceito freudiano de acting out. Retirando- o da referência exclusiva à psicose, considera a passagem ao ato como uma resposta do sujeito à angústia.
Lacan parte do texto de Freud Inibição, sintoma e angústia, para inaugurar uma nova revisão do conceito de angústia. O autor reafirma a noção de angústia sinal. No entanto, para Freud, ela sinaliza a perda de um objeto libidinal, que, ao longo da vida, é representado por diversos objetos, desde a perda da presença da mãe ou de seu amor à perda do amor do supereu. A reformulação de Lacan reside justamente no estatuto desta perda. Dito de outra forma, Lacan reformula o fundamento da castração: "a angústia não é sinal de uma falta, mas de algo que devemos conceber num nível duplicado, por ser a falta do apoio dado pela falta" (1962/2005, p.64). A castração implica uma falta que apoia, que estrutura o sujeito. Sua falta é que é responsável pela angústia.
Vocês não sabem que não é a nostalgia do seio materno que gera a angústia, mas a iminência dele? O que provoca a angústia é tudo aquilo que nos anuncia, que nos permite entrever que voltaremos ao colo. Não é, ao contrário do que se diz, o ritmo nem a alternância da presença- ausência da mãe. A prova disso é que a criança se compraz em renovar esse jogo de presença- ausência. A possibilidade da ausência, eis a segurança da presença. O que há de mais angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na qual essa possibilidade se institui, pela falta que a transforma em desejo, é perturbada, e ela fica perturbada ao máximo quando não há possibilidade de falta, quando a mãe está o tempo todo nas costas dela, especialmente a lhe limpar a bunda, modelo da demanda, da demanda que não lhe pode falhar (LACAN, 1962/2005, p.64).
Sobre a ameaça de castração vivida pelo sujeito durante o complexo de Édipo, Marcus André Vieira (2001) observa:
Freud postula que a angústia é anterior ao amor em relação com a mãe, e que está sempre presente. A ameaça de castração, na verdade, transforma este amor em algo proibido por vincular a angústia a conteúdos deste amor, levando- os, assim, a serem recalcados (2001, p.59).
Vieira reflete que o desejo pela mãe é encarado como aceitável, não é naturalmente temível. É preciso que uma ameaça externa intervenha neste amor e o torne proibido. No entanto, esse agente externo só possui esse poder porque ele se utiliza da angústia previamente existente no sujeito. O agente externo somado à angústia originária torna o amor pela mãe proibido. "Trata-se para Freud, não de valorizar o papel do ameaçador, mas universalizar o lugar da ameaça" (VIEIRA, 2001, p.60). A angústia, então, é promovida a um balizador clínico, ela aparece:
como âncora clínica apontando para as diversas maneiras de lidar com a castração (...)
A castração tanto é problema quanto solução. Todo sujeito, necessariamente, se constitui como resposta, grade, ao caos. A castração é o nome tanto do que esta resposta tem de falha quanto de eficaz (VIEIRA, 2001, p.64).
De acordo com a ideia de que todo sujeito tem que se haver com o caos originário que se impõe a todos desde os primórdios, podemos afirmar que a neurose de Hans não foi consequência da ameaça de castração vinda do pai. "Ao contrário, Hans era fóbico porque encontrou uma maneira singular de lidar com a castração, em que a angústia é circunscrita em uma representação específica de castração e transforma-se em medo." (VIEIRA, 2001, p.64).
A propósito da angústia tal como pensada no discurso analítico, Lacan salienta que ela apresenta duas faces: a angústia como defesa contra um desamparo absoluto e a angústia como sinal de perigo. A aproximação entre essas duas vertentes resulta em um paradoxo insustentável para a teoria psicanalítica. Se a angústia é matéria prima de toda defesa, como pode haver uma defesa contra a angústia? "Assim é desse instrumento tão útil para nos avisar do perigo que teríamos de nos defender" (LACAN, 1962/2005, p.153). Para resolver tal paradoxo, Lacan propõe a formulação de que a defesa não é contra a angústia, mas contra aquilo de que a angústia é sinal.
A partir da fórmula freudiana - a angústia é um sinal -, Lacan articula o desejo do Outro com a noção de sinal de perigo, e introduz a angústia como a manifestação do desejo do Outro, ou seja, o perigo sinalizado pela angústia é o desejo do Outro.
Se o eu é o lugar do sinal, não é para o eu que o sinal é dado, isso é bastante evidente. Se isso se acende no nível do eu, é para que o sujeito seja avisado de alguma coisa, a saber, de um desejo, isto é, de uma demanda que não concerne a necessidade alguma, que não concerne a outra coisa senão meu próprio ser, isto é, que me questiona. Digamos que ele me anula. (... ) Ele solicita a minha perda, para que o Outro se encontre aí. Isso que é a angústia (LACAN, 1962/2005, p.169).
Lacan abre o Seminário X, A angústia indicando a sua formulação de que a angústia possui uma relação essencial com o desejo do Outro. O autor retoma uma fábula que ele próprio já havia traçado em outra ocasião, precisamente no seminário A identificação, proferido no ano anterior ao do seminário A angústia. Trata-se do próprio Lacan revestido com uma máscara de animal (uma máscara da qual ele não teria a menor ideia de qual animal seria), diante de uma louva- a- deus fêmea gigante. Por trás da fantasia, ele seria tomado pela angústia ao avaliar que a louva- a- deus gigante poderia confundi-lo com o seu par, caso sua máscara fosse a de um louvaa- deus macho, e devorá-lo, uma vez que a louva- a- deus fêmea devora o macho após o acasalamento.
Essa metáfora ilustra a angústia como pura apreensão do desejo do Outro, situada entre a dialética do desejo e a identificação narcísica. O puro desejo do Outro difere da demanda justamente no ponto em que a demanda contém a coisa pedida, quem demanda define o que quer pedir. Sem a demanda, não sei o que o Outro quer de mim, e isso é o que deslancha a angústia.
O processo mediante o qual a imagem especular é libidinizada não é um processo ilimitado, nem todo investimento libidinal passa pela imagem especular, sempre há um resto. Lacan ensina que o que garante a imagem do corpo, ou seja, a normalidade do campo visual, é a extração do objeto pequeno a. Este é o elemento que escapa à dimensão significante.
A constituição do sujeito é correlativa de sua inscrição no campo do Outro como lugar do significante. Essa operação é concebida por Lacan como uma divisão justamente porque deste processo surge um resto. A formulação da divisão subjetiva é melhor elaborada em 1964, no seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise,, pelos processos de alienação e separação, que implicam um resto.
Em um primeiro momento, o sujeito se aliena ao campo do Outro em busca de insígnias que possam representá-lo como sujeito. O sujeito se aprisiona na rede de significantes, uma vez que o significante que ele consegue apreender não o define, mas o remete para outro significante. Da alienação aos significantes do Outro, o sujeito não tem como escapar. O sujeito busca no campo do Outro algo que supra o que lhe falta. Por outro lado, o Outro se apresenta a partir de um enigma sobre seu desejo. Esse enigma retorna para o campo do sujeito, provocando a separação do campo do Outro. Portanto, há duas faltas implicadas no processo de constituição do sujeito. Uma falta é responsável pela busca de significantes no campo do Outro por parte do sujeito. A segunda falta recobre a primeira, visto que o Outro é também portador de uma falta de outra ordem.
A falta real ligada ao sexual recobre a falta no nível da linguagem, e, dessa forma, lança o sujeito em uma busca do complemento da parte para sempre perdida dele mesmo. Lacan lembra o mito de Aristófanes (que se resume na ideia de que o amor é a união das partes separadas) como uma imagem explicativa, ainda que enganadora, de que a outra metade sexual pode ser encontrada no Outro. É importante ressaltar que o fenômeno da transferência depende dessa disposição do sujeito, de se lançar ao Outro, a quem ele supõe amor e/ou saber.
Esse resto, essa metade para sempre perdida, abre a via do enigma. Afinal, nem tudo é capturado pela rede significante. "Nos intervalos do discurso do Outro, surge na experiência da criança, o seguinte, que é radicalmente destacável - ele me diz isso, mas o que é que ele quer?" (LACAN, 1964/1998, p.203). "O desejo do Outro é apreendido pelo sujeito justamente por aquilo que "não cola, nas faltas do discurso do Outro (...)" ( LACAN, 1964/1998, p.203).
O sujeito se pergunta o que é que o Outro quer. Qual é o lugar dele (sujeito) no desejo do Outro? Esse enigma é efeito do resto que a linguagem comporta. Este resto impossível de ser simbolizado, ao mesmo tempo que leva o sujeito a se separar do campo do Outro, leva o sujeito a se endereçar a outros. Como um único significante, não consegue representar o sujeito por completo, resta a ele procurar constantemente outros significantes que possam nomeá-lo.
O isolamento desse resto é responsável pela construção do Outro, que não é Um, ou seja, o Outro da alteridade, barrado pela castração. De acordo com Miller, "o Outro é Outro porque há um resto" (MILLER, 2005, p.10). Para além da dimensão significante, há algo no Outro que escapa a tal campo.
A partir do Seminário X (1962/2005), Lacan distingue duas formas de se conceber o objeto. A primeira é o objeto- visado, referente à intencionalidade. O que causa o desejo não é este objeto visado, há um objeto enigmático (objeto a) que está por trás causando o desejo. "O objeto visado do desejo é aquele que pode ser representado na relação amorosa, enquanto Lacan tenta demonstrar a função do objeto- causa através da angústia" (MILLER, 2005, p.49). O objeto que causa o desejo é desconhecido, só temos conhecimento de seus efeitos, enquanto o objetovisado é sempre uma ilusão. O amor "desloca ou falsifica o pequeno a tornando- o objeto- visado" (MILLER, 2005, p.53).
O falo como instrumento garante uma referência que ordena o mundo dos sentidos. A função fálica constrói uma imagem unificada do eu, enquanto a angústia aponta para a dissolução desta imagem.
Diante do que foi dito, convém lembrar que Lacan adverte: "Agir é arrancar da angústia a própria certeza. Agir é efetuar uma transferência de angústia" (1962/2005, p.88). Assim, a tendência a agir possui um nexo direto com a certeza da presença do desejo do Outro. Ainda, segundo o autor, o elemento que medeia o desejo do Outro e destitui a certeza dessa presença é a fantasia, ou seja a fantasia é uma barreira que protege o sujeito desse desejo.
A fantasia é uma resposta que encobre a pergunta sobre o desejo do Outro, tamponando a falta do Outro ao mesmo tempo que estabiliza o sujeito. Esse efeito de estabilização se dá pela razão de que o objeto a funciona na fantasia sob a forma de objeto do desejo, encobrindo a sua essência de objeto- causa do desejo, objeto vazio e sem imagem. O objeto a é, então, enquadrado pela fantasia, que permite que o desejo do Outro seja sentido de uma forma suportável para o sujeito; "(...) digo que esse desejo é desejo na medida em que sua imagem- suporte é equivalente ao desejo do Outro" (LACAN, 1962/2005, p.34).
Para a fantasia operar, é preciso que o objeto a caia como resto, transformando o Outro sem barra em um Outro barrado. Esse resto, objeto a, está entre o sujeito e o Outro. Do lado do Outro, no lugar da falta, produz a fantasia. No entanto, se o objeto não for destacado do Outro, este Outro permanece sem barra, todo poderoso, e não cede espaço para a produção da fantasia. O Outro não barrado determina o sujeito como objeto do desejo.
Desejo, como sujeito, em função do que o Outro desejou para mim, então, logicamente, a primeira posição que ocupo é como objeto, como fui determinado pelo desejo do Outro. Diante desta posição ambígua de um sujeito- objeto, Rabinovich questiona: "O que significa um objeto desejante?" (1992/2005, p.35). A partir deste questionamento, discutiremos a posição do sujeito no lugar de objeto, e a implicação desta posição para as modalidade de ato: acting out e passagem ao ato.
A passagem ao ato
Lacan, no Seminário X, desenvolve os contornos de uma patologia do ato em relação à posição do sujeito no lugar de objeto. Entende-se por patologia do ato modalidades clínicas que se distinguem dos sintomas clássicos, formações de compromisso em obediência ao princípio do prazer.
A primeira aula de Lacan do Seminário X, A angústia (1962-63/2005) inicia-se por um esquema proposto pelo autor a partir da decomposição do termo freudiano "inibição". Lacan entende que o distúrbio que libera o movimento à revelia do sujeito, como acontece na passagem ao ato, tem estreita relação com a inibição que trava o movimento.
As inibições, restrições de alguma função do eu não necessariamente patológicas, são defesas que evitam o desenvolvimento da angústia. O sintoma, como retorno do recalcado, implica um maior gasto de energia por parte do sujeito por implicar novo movimento defensivo. Tanto a inibição quanto o sintoma são maneiras do sujeito lidar com a angústia. O diferencial entre esses dois conceitos está no fato de que a inibição é ligada ao encolhimento, à redução das funções do eu, enquanto o sintoma traz o acréscimo da função.
A partir da decomposição da inibição em dois eixos, respectivamente o eixo do movimento e o eixo da dificuldade, Lacan apresenta um esquema em que as conjunções entre o movimento e a dificuldade irão precipitar o ato (passagem ao ato e acting out).
Este esquema elaborado por Lacan (1962-63) situa o afeto da angústia, partindo do princípio de que o sintoma, a angústia, o acting out e a passagem ao ato são estruturas que se desenvolvem a partir da pulsação psíquica da inibição, que irão surgir de acordo com a localização do sujeito nos eixos de dificuldade e movimento. Portanto, a precipitação do acting out ou da passagem ao ato depende do momento de confluência entre os graus de dificuldade e de movimento, em que o sujeito pode vir a se situar.
O caso clínico do jovem cientista, paciente de Kris, é um caso que Lacan utiliza em alguns momentos de sua obra com a finalidade de destacar esta dimensão do acting out. O relato do paciente, de que ia ao restaurante que servia miolos frescos nos finais das sessões conduzidas por Kris, configurava um acting out direcionado ao analista; era uma tentativa de retificar a interpretação errônea do analista. Assim, o acting out denuncia algo da ordem do desejo. O acting out traz a marca da compulsão à repetição, em que o sujeito coloca em cena o objeto a, e desta forma salva-se de uma identificação maciça com o objeto.
No acting out, o sujeito não sai de cena, pelo contrário, ele encena um material da ordem do recalcado, para que o Outro interprete. É uma forma alienada em relação ao próprio desejo de convocar o Outro, para que o Outro lhe responda sobre o seu desejo.
A passagem ao ato, por sua vez, peculiar recurso que o sujeito pode vir a utilizar para se defender da angústia, comporta a problemática da identificação total do sujeito com o objeto a, identificação com o resto, com o nada, com um objeto do mundo. Assim, Lacan defende a ideia de que o sujeito sai para o mundo, que é o lugar do real, do sem sentido, lugar do objeto a. Rompe com a cena, que tem sempre o Outro como horizonte, único lugar onde o sujeito pode contar a sua estória e tecer os sentidos que compõem a própria vida. A passagem ao ato é um corte em relação ao campo do Outro, que é o que determina o sujeito enquanto tal.
Conceituando o acting out e diferenciando- o do conceito de passagem ao ato, Lacan observa "O acting out é, essencialmente, alguma coisa que se mostra na conduta do sujeito. A ênfase demonstrativa de todo acting out, sua orientação para o Outro deve ser destacada" (1962-63/2005, p.137). Quando um acting out não encontra uma via no simbólico, ele pode evoluir para uma passagem ao ato.
O caso da jovem homossexual é paradigmático em relação à passagem ao ato. Este caso, relatado no texto Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina (FREUD, 1920), diz respeito a uma jovem que é encaminhada a Freud aos 18 anos de idade após uma tentativa de suicídio. A história da homossexualidade da jovem segue uma decepção em relação aos pais. Aos 16 anos, a jovem demonstrava um grande interesse em cuidar de bebês, o que significava um desejo de ter um filho, em última análise, do pai. No entanto, quem engravida dele é a própria mãe, sua rival inconsciente. Ao se decepcionar com os pais, a jovem se apaixona por uma dama de má reputação. Desse modo, se vinga do pai (que era contra essa paixão) e substitui a mãe como objeto de amor.
A jovem assume uma postura masculina e passa a cortejar insistentemente a dama, que recebe seus favores com certa reserva. Certa tarde, a jovem acompanhava a dama em um passeio nos arredores do escritório do pai, quando deparou-se com o mesmo. O pai, que era fortemente contrário a essa relação, lança um olhar colérico e reprovador à jovem. Em seguida, como uma resposta ao olhar do pai, a dama termina o relacionamento com a jovem, que, por sua vez, reage se jogando na linha trem.
(...)as duas condições essenciais do que se chama propriamente de passagem ao ato realizam-se aqui. A primeira é a identificação absoluta do sujeito com o a ao qual ele se reduz. É justamente o que sucede com a moça no momento do encontro. A segunda é o confronto do desejo com a lei. É através disso que ela se sente definitivamente identificada com o a e, ao mesmo tempo, rejeitada, afastada, fora da cena. E isso, somente o abandonar-se, o deixar-se cair, pode realizar (LACAN, 1962-63/2005, p.125).
Freud faz uma análise a partir do significante "niederkommerí" para situar o enquadre fantasmático que estruturou a passagem ao ato da jovem homossexual. Este significante pode significar "cair" ou "dar à luz". Assim Freud reconhece na passagem ao ato da jovem um duplo significado, o ato realizou um desejo (de parir), ao mesmo tempo que obedeceu a uma necessidade inconsciente de autopunição. Freud considera que o sujeito não possui energia psíquica suficiente para se matar, salvo nas situações em que ele esteja identificado com um objeto. Neste caso, o sujeito dirige para si um desejo de morte que está ligado a um objeto que foi por ele incorporado.
Lacan diz que "o niederkommen é essencial para qualquer relacionamento súbito do sujeito com o que ele é como a" (LACAN, 1962-63/2005, p.124). O sujeito identifica-se com um objeto do mundo, que não pertence à cena. Dessa maneira, ele se perde, e sai para o mundo junto com o objeto.
O acting out tem como característica principal a compulsão à repetição. Ou seja, o sujeito repete sem saber que o faz sempre incluindo o Outro na cena. Assim, o sujeito denuncia algo do seu desejo, mostrando que sujeito e objeto estão separados. Já na passagem ao ato, o sujeito está absolutamente identificado com o objeto a, e por essa razão ele rompe com a cena, e, em última análise, com o Outro.
No Seminário XV, Lacan ressalta que a passagem ao ato bem- sucedida, ou seja, a única passagem ao ato que atinge o objetivo de saída plena do sujeito da cena para o mundo, é o suicídio. Todas as outras passagens ao ato são tentativas de rupturas com a cena, mas, no instante seguinte ao ato que não leva à morte, o sujeito rapidamente é absorvido pela cena e pela cadeia significante. Assim, a posteriori, uma passagem ao ato pode ser interpretada.
Considerações finais
Este artigo abordou as consequências, para a prática e teoria psicanalíticas, da introdução do termo psiquiátrico "passagem ao ato" no campo da psicanálise, promovida por Lacan. Lacan perfilha na psicanálise o termo passagem ao ato, não sem uma fina elaboração teórica que o distancia de seu uso descritivo na psiquiatria, e, assim, reconfigura o conceito freudiano de Agieren. A passagem ao ato para o campo psicanalítico, designando os atos impulsivos em que o sujeito está inteiramente identificado com o objeto e se deixa cair, distingue-se claramente do campo do Agieren, em que a dramatização, a mostração, a orientação para o Outro está presente.
O principal ponto de diferenciação entre o acting out e a passagem ao ato reside no apelo ao Outro no acting out. Como "transferência sem análise" (LACAN, 1962-62/2005, p.140), o acting out convoca o analista à sua função como Outro. Já a passagem ao ato visa romper com o Outro.
Essa distinção teórica, como toda contribuição valiosa à psicanálise, tem efeitos importantes na prática psicanalítica, sugerindo uma condução clínica diferenciada quando se trata de um caso ou do outro.
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Recebido em: 22/07/2012
Aprovado em: 18/12/2012