EDITORIAL

Dedicamos esse volume da Trivium: estudos interdisciplinares ao tema Ensino, Pesquisa e Transmissão, em seus mais variados aspectos, função pedagógica, produção, reprodução, transmissão de conhecimento, transmissão clínica e transmissão da experiência subjetiva como ato de criação

O segmento de artigos temáticos abre com "Graduação, Formação e Pesquisa: entre o discurso e as práticas", no qual a autora Vera Lucia Alves Breglia, expõe uma discussão sobre a relação entre ensino e pesquisa no processo formativo dos graduandos. O artigo seguinte, "Psicanálise e transmissão de saber", tradução do texto de Paolo Lollo, pesquisador associado à Universidade de Paris VIII, parte da premissa psicanalítica de que ensinar a aprender é uma experiência singular que cada um cria da maneira que lhe é própria.

Em seguida uma série de artigos apresentados no Simpósio Psicanálise e Universidade ocorrido no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (UFBA) em dezembro de 2012, trazem novas contribuições à temática. "Psicanálise e Universidade" de Maria Thereza Ávila Coelho oferece reflexões perpassadas por diálogos interdisciplinares e problematizadas por questionamentos e tensões de diversas naturezas. Já em "Imagens do analista na Universidade", Suely Aires discute a entrada e permanência de analistas na universidade a partir de duas imagens, o estrangeiro e o sintoma como formação de compromisso. Por sua vez, Sergio Augusto Fernandes em "A psicanálise, a Filosofia e a Universidade", defende a transmissão da psicanálise na universidade a todos que, independentemente da área de conhecimento, utilizam esse discurso como referência.

Para finalizar o segmento temático, escolhemos "Autismo, Política e Instituição" de Cristina Abranches Mota Batista, como exemplo de transmissão clínica. Trata-se de um artigo sobre o autismo, contemplado com dois casos clínicos que contribuem para ilustrar o argumento teórico e a aposta da autora na transmissão da psicanálise, aos profissionais de instituições de atendimento à crianças autistas.

Iniciando a seção Artigos, "Sobre a emergência de significante na escuta clínica" de Marisa Terezinha G. de Oliveira e Liliane S. Froemming, apresenta um caso clínico extremamente rico, no qual foi possível apreender um significante de alto valor psíquico que expôs uma rede de pensamentos inconscientes e latentes sob forma de uma cadeia significante sobredeterminada por um trauma infantil. Em seguida, Richard Couto e Sonia Alberti em "Moisés e a verdade: retorno à questão da verdade histórica", apresentam a trajetória da construção do conceito de verdade na obra de Freud. Finalizando, Eduardo Peyon empreende um percurso reflexivo sobre uma distinção possível entre crença e fé a partir do desenvolvimento da noção de imagem na Grécia clássica.

A resenha do livro O medo que temos do corpo, destaca a invejável capacidade de transmissão de Vera Pollo ao apresentar uma série de textos, muito bem embasados teoricamente, sobre o temor de que não sejamos nada além de um corpo que se consome. No segmento Artes, o comentário sobre a peça "O Ato - Variações Freudianas 2", realça a criatividade do autor, Antonio Quinet, em trazer ao palco Freud e a psicanálise, não sem uma dúvida que o acompanha desde o início e é explicitador no fim da peça, algo sobre o que pode ocorrer quando a transmissão da psicanálise é tomada pela divulgação. Por fim, o filme Shrek é apresentado como uma visão crítica e acurada no tocante ao fenômeno social de moralização da beleza da regulação do corpo na contemporaneidade.

Betty Bernardo Fuks
Editora responsável