Grande parte do conjunto de textos que o leitor tem em mãos foi dedicada à temática Estratégias de Resistência. Os autores, oriundos de diferentes áreas do conhecimento, apresentam não apenas o pensamento de alguns teóricos do tema, como também empreendem reflexões, bastante fecundas, a partir de suas práticas e das pesquisas que vêm desenvolvendo em relação aos modos como o sujeito, individual e coletivo, se opõe às formas abusivas e violentas do Outro.

Abrindo a seção "Artigos Temáticos", Resistência e novas forças e formas de cooperação, de Lúcia Osório, reflete a força de um "trabalho vivo", uma tendência inventiva presente como resistência no tecido social. Alterives Maciel, em Resistência e prática de si em Foucault, trabalha a relação entre a noção de resistência e a constituição das práticas de si no último momento da obra de Michel Foucault. Antimonumentos: trabalho de memória e de resistência, de Marcio Seligmann-Silva, apresenta uma vigorosa reflexão sobre o fenômeno dos "antimonumentos" que surgiram no final do século XX, como uma forma de lidar, pelo viés das artes, com a violência de Estado. Edson de Sousa e Marina Pacheco em Civilização, Intolerância e Alteridade, desenvolvem o tema da justiça restaurativa como elemento disparador das reflexões acerca da complexa questão do enfrentamento da violência. Miriam Ximenes e Miriam Debieux, em Luto em versão contemporânea, propõem pensar a produção de tatuagens memoriais como ato em que o luto público tem, de novo, um lugar na cultura. Por fim, Fernanda Canavêz, em Por uma clínica do múltiplo: uma investigação sobre as resistências, explora esse conceito em suas diversas acepções no pensamento freudiano para enaltecer a multiplicidade do psiquismo.

No segmento "Artigos", Ernesto Hartmann e Mirna Costa, em O Desejo representado em Désir op.57 nº 1 de Scriabin: possíveis interações entre Hermenêutica musical e Psicanálise, estabelecem um diálogo original com os conceitos de Desejo, em Freud e Lacan, e com os de Janelas Hermenêuticas de Lawrence Kramer, mediados por uma análise formal-harmônica da obra de Scriabin. O ensaio de Thianne Rezende e Amadeu Weinmann , O(s) tempo(s) na Psicanálise e no Cinema: o sentido baseado no só-depois, defende a hipótese de que a rasgadura no tempo dos filmes é análoga à maneira não linear e múltipla pela qual o sujeito se constitui. Em La Complicidad del artista con el azar, Gabriel Lombardi faz sobressair o fato de o artista, à diferença do homem comum, permitir que emerja do inconsciente o gênio adormecido.

Na seção "Artes", Travessia, de Natasha Corbelino, é uma comovente homenagem a Marci Dória Passos, em sua vocação de resistir à banalização da Psicanálise. Teatro/Literatura/Psicanálise, como espaço de reflexão da dor humana, foi a grande novidade que essa psicanalista trouxe à comunidade do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, aos colegas e alunos da UFRJ e a todos os analistas que se preocupam com o vigor e a atualidade da revolução freudiana.

Finalmente, Luiz M. Guimarães e Thiago Luzz convidam o leitor a "devorar" o livro 100 anos de Totem e tabu, uma compilação de vários textos, nacionais e internacionais, editada simultaneamente no Brasil, no México e na França.

Betty Bernardo Fuks
Editora responsável