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Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437
Estud. psicanal. no.37 Belo Horizonte jul. 2012
EDITORIAL
O primeiro número da revista Estudos de Psicanálise foi publicado há mais de quarenta anos. Desde então o projeto editorial tem sido aprimorado e expandido. Nunca será demais agradecer os criadores originais, sua persistência e a dedicação mantidas pelas duas décadas que se seguiram. Uma notável mudança deu-se nos anos 1990, quando foram ampliados o formato da revista e o número de artigos. A revista obteve a forma e conteúdo que hoje a consagram. Estava sólida a fundação.
Com a diretoria eleita em 2002, tendo Maria Mazzarello Cotta Ribeiro na Presidência do CBP, iniciou-se uma fase de novos avanços que ora completam dez anos: a indexação acadêmica nacional e internacional, o reconhecimento pela CAPES, ANPPEP, BVS-PSI e CLASE (UNAM-México), a publicação em mídia eletrônica pelo próprio CBP e pela BVS, o convite de autores não pertencentes ao quadro do CBP e o aprimoramento do projeto editorial e gráfico. Carlos Perktold, Cibele Prado Barbieri, Déborah Pimentel, Ricardo Azevedo Barreto, Isabela Santoro Campanário, Anna Lucia Leão Lopez, Stetina Dacorso, Presidentes do CBP e editores da revista, cada qual fabricando e colocando mais tijolos na morada.
E, claro, o mais importante, os membros e sócios das sociedades filiadas ao CBP que há mais de quarenta anos vêm se cotizando para pagar a construção. Única fonte de recursos para uma empreitada que não lucra com anúncios e jamais contou com verbas públicas.
Por outro lado, a Estudos sofre as mesmas vicissitudes da Psicanálise. Divulga um saber original e autônomo tal como criado por Freud há mais de século. Saber que possui superfícies comuns com a Medicina, Psicologia, Filosofia, Arte, Pedagogia e quiçá outros saberes. Mas não se confunde nem se deixa dominar por qualquer um deles. Num projeto educacional, ou na absoluta falta dele, em que os saberes oficiais são ciosa e corporativamente mantidos em seus nichos, a Psicanálise permanece ao desabrigo. Não apenas a Estudos, mas a enorme e rica quantidade de publicações de sociedades psicanalíticas no Brasil, prova de que não é necessário coberta, estufa ou jazigo.
Outrossim, isto leva que o projeto iniciado há dez anos, buscando reconhecimento acadêmico e governamental, entre em conflito com as origens da Psicanálise. A revista Estudos de Psicanálise pertence a um conjunto eclético de sociedades, nas quais há um grande número de não médicos e não psicólogos, inseridas numa terra em que a Psicanálise não possui qualquer legislação oficial, sendo o CBP participante de um movimento nacional que defende a manutenção da não regulamentação como modo essencial de manter a liberdade do pensamento e da prática psicanalíticas.
A não regulamentação da Psicanálise estende-se também a que não possui uma categoria própria para as agências que classificam as revistas. Explica-se como a avaliação acadêmica da Estudos de Psicanálise tem sido errante nestes últimos dez anos: Psicologia, Arte, Pedagogia, Música, obtendo o único ‘A’ em Teologia. Piora quando se pensa na imposição que vem sofrendo o ensino da Psicologia a favor das linhas comportamentais e o da Psiquiatra ao reducionismo das CID e DSM, com os esperados reflexos por toda área oficialmente regulamentada.
Mas, não é sem modéstia que podemos afirmar: tudo bem, Sócrates, Freud, Klein, Lacan também eram atópicos. A revista Estudos de Psicanálise pertence a um condomínio que se dá ao luxo de dispensar o Registro de Imóveis, vivemos no provisório permanente do “adquirido pelo uso”, o usucapião. Assim, meio como a vida.
Anchyses Jobim Lopes
Editor