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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.23 no.2 Rio de Janeiro 2011
SEÇÃO TEMÁTICA
Representações maternas de mães adultas: relato clínico a partir da Entrevista R1
Maternal representations of adult mothers: clinical report using Interview R
Stela Araújo CabralI; Daniela Centenaro LevandowskiII
IPrograma de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos
IIPrograma de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos
RESUMO
As representações maternas englobam expectativas, fantasias e desejos da mãe sobre o bebê e exercem grande influência nessa relação. Este trabalho apresenta o relato de uma experiência clínica na qual foi feita uma análise dessas representações em mães adultas, a partir da utilização da Entrevista R (Stern et al., 1989). Três mães (26 a 31 anos), cujos bebês tinham entre três e seis meses de idade, responderam a entrevista. Foram analisadas as representações dessas mulheres sobre si mesmas, sobre o bebê e sobre a própria mãe. As informações obtidas revelaram que as representações sobre a própria mãe influenciaram no modelo materno dessas mães. Também foi demonstrada a identificação das mães com seus bebês a partir das representações sobre a criança. As representações sobre si mesmas mostraram diferentes percepções e sentimentos como mãe e pessoa. Destaca-se que a análise das representações maternas a partir da Entrevista R possibilitou um mapeamento do mundo representacional das mães, o que não exclui a utilização de outros instrumentos para tal fim.
Palavras-chave: relação mãe-bebê; representações maternas; Entrevista R.
ABSTRACT
Maternal representations include the mothers expectations, fantasies and desires about the baby, and have great influence on this relationship. This study presents the report of a clinical experience in which these representations in adult mothers were analyzed, using Interview R (Stern et al., 1989). Three mothers (ages ranging from 26 to 31), whose babies were between three and six months old, answered the interview. Representations of these women about themselves, about the baby and their own mother were analyzed. The information obtained showed that the representations about their own mothers influenced the maternal model of these mothers. The identification of mothers with their babies was also demonstrated from representations about the child. Representations about themselves showed different perceptions and feelings as a mother and a person. Its important to emphasize that the analysis of maternal representations using Interview R enabled a mapping of the mothers representational world, which does not exclude the use of other instruments for this purpose.
Keywords: mother-baby relationship; maternal representation; Interview R.
Introdução2
A investigação das representações maternas, que se inserem nos aspectos subjetivos da relação mãe-criança, constitui um campo atual de estudos e um dos eixos principais da clínica pais-bebê (Stern, 1997, 1999). Tais representações englobam expectativas, fantasias, medos, sonhos, lembrança da própria infância, modelos de pais e profecias sobre o futuro bebê, podendo exercer grande influência na relação mãe-criança. Também incluem as experiências da mãe/pais nas interações atuais com o bebê (Stern, 1997). Além disso, podem repercutir na constituição inicial da organização psíquica da criança, contribuindo, assim, para a sua resiliência ou para a instalação de um processo patológico, observado no relacionamento triádico mãe-pai/bebê e/ou na formação de sintomas psicofuncionais no bebê (Guedeney & Lebovici, 1999; Pinto, 2004).
Atualmente, existem diversas formas de análise e intervenção acerca das representações maternas cujo objetivo é promover melhor qualidade da relação mãe-bebê (Pinto, 2004). Nesse sentido, um dos instrumentos mais frequentemente empregados para a avaliação e a intervenção sobre essas representações é a Entrevista R, desenvolvida na Universidade de Genebra por Daniel Stern e colaboradores (Stern et al., 1989). Essa entrevista analisa os principais elementos componentes do mundo representacional materno, conforme propostos por Stern (1997), através de três discursos: o discurso da mãe com sua própria mãe, consigo mesma e com o bebê.
No discurso da mãe sobre sua própria mãe se inserem as representações sobre a própria mãe, que se intensificam com a chegada do bebê, pois a mulher passa a reavaliar sua mãe tanto de maneira consciente quanto inconsciente. Essa reavaliação inclui sua mãe como era para ela quando criança, como esposa, mulher e como avó da criança (Stern, 1997). Assim, a mulher, na construção de um modelo materno próprio, poderá reviver com intensidade as identificações vivenciadas com a própria mãe tanto na infância como na atualidade (Stern, 1997).
Já no discurso da mãe consigo mesma estão englobadas as representações sobre si mesma que remetem à reflexão e à reorganização da identidade pessoal decorrentes da maternidade. De fato, o nascimento de um bebê conduz a mulher à reavaliação e reorganização da maioria das representações de self: como mulher, mãe, esposa, profissional, filha, dela própria enquanto pessoa, de seu lugar em sua família de origem e de seu papel na sociedade. Essas mudanças terão de ser reelaboradas por conta da experiência da maternidade.
Por fim, no que concerne ao discurso com o bebê estão inseridas as expectativas, fantasias, desejos e medos da mulher sobre este como filho, neto e como pessoa que apresenta determinado temperamento, de acordo com as tendências naturais que traz para a relação (Stern, 1997). As predições sobre o bebê também fazem parte de tais representações e se revelam, principalmente, em estágios posteriores ao seu nascimento. A mãe passa a reconstruir as suas representações acerca de quem é o seu bebê e o que ele vai se tornar a partir da imagem do bebê real. Assim, o nascimento do bebê se apresenta como um encontro entre a imagem do bebê que estava na mente da mãe e a imagem do bebê real, que agora faz parte de sua vida.
Ainda fazem parte do discurso da mãe com o bebê: as representações sobre o marido, sobre sua própria família de origem, a família de origem do marido e sobre as figuras parentais substitutas (Stern, 1997). Com a chegada do bebê, o casal passa a formar uma tríade, pois é provocada uma mudança na relação da mulher com o marido, havendo uma alteração dos seus esquemas em relação ao marido como pai, homem e esposo. O nascimento acarreta, então, modificação das representações do casal, pois se faz necessária a inclusão do bebê, estabelecendo-se, por conseguinte, uma nova relação conjugal. O bebê, que surge como o terceiro na relação, pode assumir diversas possibilidades de identidades: parceiro conjugal, que subentende o medo da mãe de ser abandonada pelo marido; amante, que coloca o marido no papel de provedor e protetor para com a mãe; a única pessoa no mundo que vai amá-la incondicionalmente, criando expectativas sobre como o marido deveria amá-la; uma ameaça ao casamento, quando o marido exige ser cuidado como outro bebê, e, por fim, um presente ao marido por algo que lhe devia.
Já nas representações sobre a família de origem da mãe e do marido estão incluídas a atribuição dada ao bebê de garantir a continuidade da família (levar adiante o nome da família), bem como de sucesso familiar (manter o negócio da família, perpetuando-o numa nova geração). O bebê pode representar também uma rixa familiar antiga ou a ascensão social da família (Stern, 1997). As representações sobre o bebê nesse contexto são múltiplas e se referem também aos diversos aspectos transmitidos transgeracionalmente.
No Brasil, não são encontradas, até o presente momento, pesquisas ou estudos clínicos publicados que tenham empregado a Entrevista R na investigação das representações citadas, apesar de seu reconhecido potencial terapêutico e preventivo na clínica pais-bebê. No âmbito internacional, foram encontrados dois estudos portugueses (Almeida, Ataíde, Nascimento, Pires, & Silva, 2003; Marques, 2003) que empregaram, dentre outros instrumentos, essa entrevista. O estudo de Almeida et al. (2003) analisou tais representações no contexto da maternidade múltipla a partir de um caso clínico de trigêmeos. Os autores enfatizaram o papel terapêutico da utilização da Entrevista R no caso analisado, pois permitiu a abordagem de aspectos importantes do passado da mãe que se mostraram relevantes para a sua relação atual com os filhos.
Outro estudo que empregou essa mesma entrevista foi conduzido por Marques (2003) no contexto da depressão materna. Os resultados mostraram diferenças significativas nas representações de mães portuguesas deprimidas e não deprimidas quanto às percepções sobre si mesma, sobre a criança e quanto aos aspectos ligados à identificação mãe-criança.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo apresentar um relato de uma experiência clínica na qual foi feita uma análise dessas representações entre mães adultas a partir da utilização da Entrevista R (Stern et al., 1989). Mais especificamente, buscou analisar as representações dessas mães sobre si mesmas, sobre o bebê e sobre a própria mãe.
Procedimentos
Participantes
Três mães adultas, indicadas por pessoas conhecidas, com idade entre 26 e 31 anos, cujos bebês tinham entre três e seis meses de vida, responderam a entrevista. Duas mães eram de nível socioeconômico médio-baixo, casadas, donas de casa e primíparas. Já a outra era de nível socioeconômico baixo, também era casada, trabalhava como cozinheira e tinha três filhos. Nesse caso, foi solicitado que a mãe respondesse a entrevista tendo em mente o seu filho mais novo. Dois bebês eram do sexo feminino e um, do sexo masculino.
Contato com as participantes e Realização da Entrevista R
Após a indicação das mães, foi feito um contato telefônico com as mesmas para explicar a proposta de trabalho e formalizar um convite para a realização da entrevista. Como todas se dispuseram a colaborar, foi agendado com cada mãe um horário para a aplicação da Entrevista R, realizada no consultório da primeira autora, no mês de maio de 2009. Embora tal estudo não se constitua em uma pesquisa científica e sim em uma experiência de prática clínica relacionada ao tema da Dissertação de Mestrado da primeira autora, a fim de garantir um mínimo de segurança às mães nessa ocasião, inicialmente foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi lido e assinado por todas elas, autorizando a utilização dos dados para a realização de estudos científicos e publicações. Em seguida, foram solicitados de cada mãe alguns dados sociodemográficos pessoais (tais como idade, escolaridade, nível socioeconômico, situação conjugal, domicílio, ocupação e dados sobre a gestação e o parto) e algumas informações sobre o bebê (idade, sexo e eventuais problemas de saúde). Logo após, foi aplicada individualmente a Entrevista R. Tal aplicação foi gravada em áudio e posteriormente transcrita para análise. Para essa aplicação, foi dito às mães: "Eu gostaria de conversar sobre como você percebe o seu/sua filho/a; os sentimentos que tem por ele/a e também sobre sua maneira de agir com seu/sua filho/a".
A Entrevista-R (Stern et al., 1989) é composta por 28 questões abertas e fechadas, agrupadas em 10 temas principais:
1) Descrição da criança
- descrição espontânea da criança ("você pode me descrever como é seu filho")
- descrição perceptual da criança (a mãe indica características de personalidade da criança a partir de uma lista que lhe é apresentada)
- descrição situacional versus semântica da criança, na qual a mãe ilustra duas características marcantes da criança com um exemplo específico recente de cada um
- eventos importantes do passado da criança que possam influenciar na atual relação mãe-criança (possíveis situações ocorridas durante a gestação e o parto)
2) Descrição pessoal
- descrição espontânea de si mesma como mãe ("como você é como mãe")
- descrição perceptual de si mesma como mãe (preenchimento de uma lista com algumas características comumente atribuídas às mães, sob a forma de uma escala de adjetivos opostos)
- descrição situacional versus semântica de si própria como mãe (a mãe ilustra dois adjetivos escolhidos com um exemplo específico recente)
3) Descrição de características da relação mãe-criança: a mãe assinala, na lista de características comuns na relação mãe-criança, dispostas sob escala Lickert, a resposta mais próxima a sua experiência como mãe.
4) Papel de sua própria mãe como mãe ("como sua mãe foi para você)
- descrição perceptual de sua própria mãe (preenchimento da lista de características maternais, sob escala de adjetivos opostos)
- descrição situacional versus semântica da própria mãe (ilustração de dois adjetivos escolhidos na descrição de sua mãe com um exemplo recente)
- mudanças na relação com sua mãe (mudanças na comunicação e no vínculo após a gravidez)
5) Semelhanças da criança com a família ("com quem seu(sua) filho(a) se parece mais")
6) Descrição espontânea do pai da criança (ex. "como ele é como pai para seu/sua filho/a") e de características de personalidade do pai (escala de adjetivos opostos)
7) Influências de situações do passado e do presente da mãe sobre a criança: investigação de situações ocorridas na infância e atualmente, tais como doenças, mortes, relação com pais, etc.
8) Afetos ligados às representações sobre a criança: emoções que a mãe sente por seu/sua filho/a
9) Desejos e medos em relação ao futuro da criança e ao seu futuro como mãe
10) Autoestima da mãe e outros temas que o entrevistador julgue necessário investigar, após a realização da entrevista.
Análise da Entrevista R
Quanto à análise dos dados da Entrevista R, em todos os itens que envolvem descrição espontânea das representações da criança, de si mesma e da própria mãe, estas são analisadas segundo sua riqueza (rica = número de características e/ou adjetivos > 3; não rica = número de características e/ou adjetivos < 3). Nesses itens também é analisada a tonalidade afetiva da representação, que pode ser positiva (> 50% de características e/ou adjetivos com tonalidade afetiva positiva) ou não positiva (< 50% de características e/ou adjetivos com tonalidade afetiva não positiva). Analisa-se a tonalidade afetiva também nos itens que englobam a descrição dessas representações sob forma de escala de adjetivos opostos. Destaca-se que a análise da entrevista baseou-se em alguns estudos internacionais que empregaram o mesmo instrumento (Almeida et al., 2003; Marques, 2003).
Relatos e apresentação dos casos
Apresentam-se agora os casos e os relatos da aplicação da Entrevista R nas três mães adultas. As respostas das mães à entrevista foram analisadas segundo os procedimentos acima descritos e foram organizadas em um relato coerente. Após, segue-se um breve entendimento do caso, que ressalta os aspectos principais das representações maternas de cada uma das mulheres entrevistadas.
Caso 1: Mãe Paula3
Duração da Entrevista R: 1h07min
Paula, 31 anos, é dona de casa e mãe de Otávio, de três meses de idade. Após 13 anos de casamento, ela e o marido decidiram tornarem-se pais.
Em sua descrição espontânea como mãe, Paula descreveu-se da seguinte maneira: "Procuro dar para ele carinho, atenção. Sou uma mãe-coruja, cuido até demais dele. Converso bastante com ele. Eu acho que sou cuidadosa, sempre atenta se tem alguma coisa errada com ele". Paula caracterizou-se como uma mãe carinhosa, atenciosa, cuidadosa e atenta. Percebeu-se a dimensão rica dessa representação de si mesma como mãe e sua coerência, que foi demonstrada através de seu relato. Constatou-se o predomínio de tonalidade afetiva positiva da representação, que também foi demonstrada na sua descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características positivas como afetiva, disponível, dedicada, preocupada e paciente.
Já a própria mãe foi descrita espontaneamente como pouco afetiva e apenas cumpridora do atendimento às necessidades básicas: "Foi uma mãe assim, que me criou, não tive muito carinho, atenção. Ela foi uma mãe assim, dedicada, dava a atenção que tinha que dar, mas não era assim, aquela mãe carinhosa... Não era aquela mãe-coruja, dava o que tinha que dar, alimentava, botava pra dormir. Não tinha aquele carinho que a gente precisava". Percebe-se que Paula conseguiu elencar várias características sobre sua própria mãe, apresentando riqueza nessas representações. No entanto, pelo predomínio de características não positivas, a tonalidade afetiva dessas representações também foi não positiva, como observado ainda na descrição da própria mãe na escala de adjetivos opostos, na qual a descreveu como pouco afetiva, dedicada, tolerante e não carinhosa.
Através da descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe, percebeu-se a pouca identificação de Paula com esta. Constatou-se esse fato principalmente no predomínio de características diferentes de personalidade na descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe, o que também foi demonstrado na escala de adjetivos opostos. Contudo, após a maternidade ocorreram algumas mudanças na sua relação com a mãe. Ela sentia-se agora mais próxima dela e já não a percebia de forma tão negativa.
Quanto à descrição espontânea de seu bebê, descreveu-o como sendo "calminho, querido, tranquilo. É amável, brabo, às vezes, ele tem um gênio forte! Quando tá com fome, chora; quando tá feliz, é sorridente. Ontem, nós fomos passear e ele tava muito tranquilo, bem sorridente e sociável com as pessoas". Essa representação mostrou dimensão rica e tonalidade afetiva positiva, assim como na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características positivas do bebê, tais como alegre, inteligente, afetivo, sociável e bonito. Percebeu-se a identificação de Paula com seu bebê em decorrência do predomínio de características semelhantes (afetiva, alegre, inteligente, fácil e calorosa) referidas na descrição do filho e de si mesma como pessoa nas escalas de adjetivos opostos.
Paula descreveu as principais emoções que sente pelo filho da seguinte forma: "Sinto muito amor, é uma dedicação infinita, e muita felicidade também". Quanto aos seus desejos para o futuro de Otávio, relatou: "Espero que ele seja feliz, bem resolvido e que tenha boa educação". Já sobre seus medos acerca do futuro de seu filho, referiu preocupar-se bastante "com as drogas e a criminalidade".
Quanto à relação com o filho, que foi demonstrada principalmente na descrição das principais características que fazem parte da relação mãe-criança, dispostas sob forma de escala Lickert, percebeu-se sua compreensão e disponibilidade de cuidados maternos para com o bebê em todos os itens da escala. Por exemplo, Paula concordou com as afirmativas "posso compreender facilmente o que meu filho quer, ou o que ele necessita", "tenho a impressão de saber como agir com meu filho para alimentá-lo e fazê-lo dormir" e "em geral, tenho o sentimento de ser eficiente como mãe".
No que diz respeito a eventuais semelhanças de seu filho com pessoas da família, Paula destacou que este parece herdar tanto características suas (sorridente, brabo às vezes) como do pai (calmo e sorridente).
Referente a situações e/ou impressões especificamente ocorridas durante a gestação e após o parto, que poderiam influenciar no seu modo de pensar e agir com o filho, Paula destacou sobre o pós-parto a ausência e o abandono do marido: "Eu me senti sozinha com o bebê, era eu e o bebê. Não tive apoio nenhum dele [marido]. Só eu pra cuidar do bebê. Eu achei que teria mais ajuda dele. Ele saía e me deixava sozinha no quarto com o bebê chorando. Eu fiquei estressada, mas não passei nada pra ele [bebê], tentava não mudar a minha atitude como mãe com ele. Mas que, às vezes, dava vontade de sair correndo, sem olhar pra trás, dava!". No momento da entrevista, percebia seu marido mais próximo e participativo. Já sobre situações de seu passado que poderiam influenciar na sua forma de pensar e agir com seu filho, assim mencionou: "Meu pai me batia, às vezes, e não quero que isso aconteça com meu filho".
Na descrição espontânea sobre o marido, relatou: "Ele é um pai dedicado, responsável e preocupado". Apesar da presença de tonalidade afetiva positiva nessa representação, também marcante na escala de adjetivos opostos na qual predominaram características positivas do marido (tais como calmo, alegre, sociável e afetivo), a mesma teve um caráter não rico, pois Paula, no momento, pouco conseguiu falar sobre o marido, descrevendo-o pobremente.
As representações maternas de Paula
De modo geral, a análise das representações de Paula demonstrou sua identificação com o filho, assim como o entrosamento entre a díade foi evidenciado na descrição da relação mãe-criança, que destacou o reconhecimento e o atendimento às necessidades do bebê. Já a identificação com a própria mãe se mostrou prejudicada, pois houve predomínio de características divergentes apontadas na descrição de si mesma como mãe e de sua própria mãe. Entretanto, percebeu-se que este aspecto, bem como algumas vivências difíceis com os pais, principalmente na infância, e com o marido, após o parto, pareceram não interferir na construção de sua identidade materna e na sua relação com seu bebê.
Caso 2: Mãe Joana
Duração da Entrevista R: 58 min
Joana tem 26 anos, é casada e trabalha como cozinheira. É mãe de três filhos: dois meninos, de 11 e 08 anos, e uma menina, Elisa, de três meses de idade. O nascimento da terceira filha foi vivenciado com muita alegria pelo casal, pois essa gravidez havia sido planejada, ao contrário das demais, ocorridas aos 15 e aos 18 anos de Joana.
Descrevendo-se espontaneamente como mãe, Joana relatou: "Eu sou boba assim, eu faço tudo por ela. A minha filha fica em primeiro lugar, em tudo. Eu sou amorosa e dedicada, sou guerreira, luto pelos meus filhos. Às vezes, eu sou ausente por causa do meu trabalho; tô mais no meu trabalho do que em casa. Às vezes ausente dentro de casa mesmo, envolvida com o trabalho da casa, como arrumar, lavar e passar roupa... Eu me cobro muito isso!". Tal descrição mostrou a riqueza e a tonalidade afetiva positiva dessa representação, o que também ocorreu na sua descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características positivas como afetiva, dedicada, preocupada e tolerante.
Diferentemente de sua descrição como mãe, Joana apresentou dificuldades para descrever a própria mãe, destacando características menos positivas: "Da minha mãe eu não lembro, não lembro mesmo... ela era assim brava (silêncio), exigente. Sabe que eu não lembro de nenhuma parte de carinho assim, tô tentando lembrar, mas não lembro". Percebeu-se a tonalidade afetiva não positiva e a falta de riqueza na sua descrição. Tais características não positivas também predominaram na descrição da própria mãe na escala de adjetivos opostos, na qual se destacaram ser pouco afetiva, impaciente, autoritária e braba.
A relação com sua própria mãe foi a principal situação de seu passado lembrada por Joana como tendo repercussão na sua relação com a filha: "Eu nunca vou ser como a minha mãe! Ela vivia pra trabalhar, me botou numa tia pra cuidar desde bebê, só chegava de noite. Acho que é por isso que eu não lembro tanto da parte de carinho... Eu penso em não ter a mesma relação com a minha filha. Eu vou ser muito mais amiga da minha filha do que a minha mãe foi comigo". A pouca identificação com a própria mãe foi demonstrada no predomínio de características opostas na sua descrição como mãe e na descrição de sua própria mãe também nas escalas de adjetivos opostos. No entanto, Joana referiu que, às vezes, sente-se uma mãe ausente, assim como percebia sua mãe nos cuidados com ela.
Contudo, sua percepção e seus sentimentos em relação à própria mãe mudaram após o nascimento de Elisa: "Hoje, eu entendo mais ela, porque tenho uma filha mulher e aí tu começa a ver a diferença na relação, a compreender mais ela como mãe. Também fiquei mais carinhosa com ela. Ela mudou comigo, me pediu perdão pelas coisas que fez de errado, e eu aceitei e entendi".
Joana descreveu a filha espontaneamente com riqueza e tonalidade afetiva positiva: "Ela é uma princesa, é braba e, ao mesmo tempo, alegre. Bastante esperta também. É manhosa, chora pra fazer dengo pra vir pro colo, acho que isso também faz parte de ser esperta. Acho que ela é meiga também. Quando eu pego ela, ela se atira pra mim, como querendo um carinho. Ela vai gostar de um carinho!". Isso também se evidenciou na descrição da filha na escala de adjetivos opostos, destacando características como alegre, bonita, afetiva, sociável e inteligente. Da mesma forma, destacou emoções positivas em relação à filha, tais como alegria, satisfação, euforia e agradecimento.
Sobre seus desejos em relação ao futuro da filha, relatou: "Quero que ela estude, seja feliz e minha amiga também". Já sobre seus medos sobre o futuro de Elisa, referiu: "Tenho medo que ela se relacione com pessoas erradas, que não escolha um bom futuro. Que se envolva com drogas, prostituição, que seja revoltada".
Ficou evidente na descrição das características da relação mãe-criança o fato de Joana desejar não repetir a postura da própria mãe, demonstrando, em geral, uma boa relação com a filha. Nesse sentido, destacou que se percebe como uma mãe que, "quando minha filha chora, eu consigo consolá-la facilmente", "tenho a impressão de saber como agir com minha filha para alimentá-la e fazê-la dormir" e "consigo facilmente fazer minha filha rir e se divertir". Também ficou evidente a sua identificação com a menina pelas várias características semelhantes apontadas nas escalas de adjetivos opostos na descrição de si mesma como pessoa e da filha, como, por exemplo, ser afetiva, alegre, inteligente, sociável e calorosa.
No que tange às semelhanças da filha com pessoas da família, Joana destacou que Elisa era meiga como a tia e a avó paterna, alegre como o pai e o irmão mais velho e braba como ela e sua mãe (avó materna).
Quanto a situações e/ou impressões ocorridas durante a gravidez e após o parto que poderiam influenciar no seu modo de pensar e agir com sua filha, assim referiu: "Eu sonhei com essa gravidez muito, era a minha alegria e felicidade, porque foi uma gravidez esperada. Eu amei essa gravidez, as outras foram um acidente. Era um sonho ter uma menina, eu tinha dois meninos. Só aconteceram coisas boas na gravidez dela; eu era paparicada demais... Meu marido também queria uma menina, a gente passou tudo de bom pra ela, e eu acho que ela sente isso e só passa coisas boas pra nós...".
Referente ao pai de sua filha, assim o descreveu espontaneamente: "Ele é um pai babão, muito amoroso e brinca bastante com ela. Também é muito cuidadoso; se não tá perto dela, quer saber tudo o que aconteceu com ela, como foi o dia dela, essas coisas". Percebeu-se a dimensão rica e a tonalidade afetiva positiva dessa representação, confirmada também na descrição do pai na escala de adjetivos opostos, na qual se ressaltou o predomínio de características positivas como calmo, alegre, afetivo e inteligente.
As representações maternas de Joana
A análise das representações maternas de Joana destacou uma mãe identificada com a filha através do desejo de ter uma menina (até então era mãe de meninos) e do predomínio de características semelhantes apontadas na descrição da filha e de si mesma como pessoa. Percebeu-se sua preocupação em não repetir com a filha o mesmo tipo de relação e cuidado de sua mãe para com ela, apesar de, no momento, identificar-se parcialmente com sua genitora pela ausência decorrente do trabalho, apontando para o aspecto transgeracional dessa vivência. Contudo, pelo receio de Joana ("Eu tenho medo de errar na educação dela e de não ser uma mãe suficientemente boa"), pode-se pensar o nascimento de Elisa como uma oportunidade de resgate da relação dessa mãe com sua própria mãe.
Caso 3: Mãe Clara
Duração da Entrevista R: 1h11min
Clara tem 29 anos, está casada há dois anos e é mãe de Júlia, de seis meses de idade, sua única filha. Atualmente, dedica-se integralmente a ela. De fato, percebeu-se que a vida dessa mãe girava em torno de seu bebê: "Eu não fiquei um dia longe dela. Eu passo o dia em função dela. Ah! eu não consigo me separar da minha filha, não!".
Na sua descrição espontânea como mãe, além de outros aspectos, esse fato também foi evidenciado: "Eu sou de observar, observo ela 24 horas por dia. Tô sempre cuidando ela, sou carinhosa com ela, dou muita atenção. Sou muito boba assim com ela, largo tudo pra ficar com ela". Tal descrição denotou representação de dimensão rica e tonalidade afetiva positiva. Essa tonalidade afetiva também foi evidenciada na sua descrição como mãe na escala de adjetivos opostos, com predomínio de características positivas como afetiva, tolerante, disponível, dedicada e preocupada.
Percebeu-se que algumas dessas características também foram citadas na descrição espontânea de sua própria mãe: "A mãe sempre foi mais tranquila que meu pai, mais carinhosa. Ela foi uma boa mãe, me dava atenção e carinho, até hoje é a mesma coisa. Eu tenho uma irmã gêmea que precisava de mais cuidado, ela era mais doente e chorona. Eu era mais independente do que a minha irmã, a minha mãe sempre diz isso. Ela era muito observadora com as filhas, sempre prestava muita atenção na gente. Quando eu tive a bebê, ela ficou um tempo comigo na minha casa". Essa representação apresentou dimensão rica e tonalidade afetiva positiva, também demonstrada na descrição da própria mãe na escala de adjetivos opostos, através do predomínio de características positivas (paciente, afetiva, disponível e dedicada).
A intimidade e a proximidade com sua própria mãe se fortaleceram após o nascimento da filha, pois, segundo Clara, passou a compreender melhor algumas atitudes da mãe: "O assunto mãe a gente fala mais. A gente entende mais a mãe, o lado mãe, de cuidar, de atenção. A gente aprende sobre o filho com a mãe, pede ajuda à mãe. Tu acha que a mãe tava errada em algumas coisas, mas ela tava certa...". Foi evidenciada a identificação com sua própria mãe através do predomínio de características positivas na descrição dela e de si mesma na escala de adjetivos opostos, na qual se destacaram as seguintes características comuns: satisfeita como mãe, afetiva, confiante e dedicada.
A descrição espontânea da filha mostrou a confirmação de algumas expectativas e desejos de Clara em relação a ela: "Ela é uma dádiva de Deus, um presente. É muito tranquila. De três meses para cá tá mais curiosa e querendo mais a minha atenção. Uma criança esperta, sempre ligada. Eu canto pra ela e ela já tá me copiando. Acho que ela tem uma inteligência sensacional, muito desenvolvida, ela presta muita atenção nas coisas". Percebeu-se representação de dimensão rica e tonalidade afetiva positiva em relação ao bebê, também presente na descrição da filha na escala de adjetivos opostos, com destaque para características positivas como alegre, inteligente, viva, afetiva e calorosa.
Clara descreveu também de modo positivo as principais emoções que sente pela filha: "Sinto prazer em ver que ela está bem, bem de saúde. Se eu observo que ela não tá bem, eu tenho que fazer alguma coisa pra ajudar ela. Sinto por ela um carinho enorme, um amor sem fim". Descreveu ainda seus maiores desejos ("Espero que ela seja estudiosa, que ela faça o que eu não fiz. Se a mãe não fez, que ela possa fazer, que siga uma vida profissional bem") e medos em relação à filha ("Acredito que as mães pensem que o filho possa abandonar a mãe, mas isso não vai acontecer, porque a gente dá muita atenção, amor e carinho para o filho"). Foi possível perceber Clara como uma mãe identificada com sua filha pela predominância de características semelhantes mencionadas em sua própria descrição como pessoa e da menina na escala de adjetivos opostos (calma, afetiva, inteligente e sociável).
Já sua relação com a filha foi demonstrada principalmente na descrição das principais características presentes na relação mãe-criança, apontadas na escala Lickert, evidenciando a compreensão e a disponibilidade ao atendimento das necessidades de Elisa. Clara se considerou uma mãe que "pode compreender facilmente o que minha filha quer, ou o que ela necessita". Também concordou com as seguintes expressões: "quando minha filha chora, eu consigo consolá-la facilmente", "tenho a impressão de saber agir com minha filha para alimentá-la e fazê-la dormir" e "em geral, tenho o sentimento de ser eficiente como mãe".
Nas semelhanças da filha com pessoas da família, destacou que Elisa fisicamente se parecia com pai, e também era tranquila como ele. De si, acredita que a filha herdou a curiosidade e a inteligência.
Quanto a situações e/ou impressões ocorridas durante a gravidez e após o parto que poderiam influenciar na sua forma de agir com a filha, Clara relatou: "A gente tem uma expectativa, tem medo de que o bebê nasça com alguma doença. Então, é tudo o que a mãe pensa, principalmente nos últimos dias da gravidez. Aí tá naquela expectativa, nasce ou não nasce... Na semana em que ela nasceu eu fui a semana inteira no médico pra ver se tava tudo bem. Quando ela nasceu, aí eu vi que ela era perfeita. Graças a Deus, a gente fica tranquila. Outra coisa que aconteceu é que durante a gravidez qualquer coisa me assustava, qualquer barulho me assustava. Acho que eu tava muito sensível...".
Sobre o pai de sua filha, assim o descreveu espontaneamente: "Ele é um bom pai, responsável, cuida dela quando está em casa, gosta de brincar com ela. É também muito atento, presta atenção para que ela não se machuque". Percebeu-se a dimensão rica e a tonalidade afetiva dessa representação, que foi confirmada na escala de adjetivos opostos, na qual predominaram características positivas como afetivo, alegre, inteligente, sociável e calmo.
As representações maternas de Clara
Destaca-se, nas representações dessa mãe, o fato de delegar à filha o papel de realizar coisas que ela própria não conseguiu, depositando em Elisa seus próprios desejos e expectativas. Também se evidenciou sua identificação com a filha, ao mesmo tempo que essa mãe via a própria mãe como um modelo materno. A identificação de Clara com a própria mãe foi demonstrada na descrição de características semelhantes na descrição de si mesma e da própria mãe no papel materno.
Considerações finais
O presente trabalho buscou apresentar um relato clínico sobre as representações maternas em três mães adultas a partir da utilização da Entrevista R. Apesar de sua importância na clínica pais/bebê, por possibilitar a análise da qualidade da relação mãe-criança, dentre outros aspectos, constatou-se a escassa utilização do instrumento especialmente no contexto brasileiro.
A partir da descrição dos relatos das três mães, foi possível observar o potencial da Entrevista R como instrumento de investigação e análise das representações maternas, tanto no contexto clínico, a partir da avaliação e da exploração de tais representações numa psicoterapia ou mesmo em contexto de avaliação, como de pesquisa, o que não exclui a utilização de outros instrumentos para a análise dessas representações.
Destacaram-se nos relatos das participantes as representações sobre as próprias mães como pessoa e como mães. Foi possível observar a sua identificação com elas a partir das características semelhantes mencionadas tanto na sua descrição pessoal como mãe quanto na descrição da própria mãe nesse papel. Esse fato mostrou o quanto a análise dessa representação específica pode ser importante para a compreensão das representações sobre si mesma e sobre o bebê, constituindo um eixo central sobre o qual se desenvolve a relação atual mãe-criança.
Na investigação das representações sobre si mesma, percebeu-se como cada participante estava construindo a sua identidade materna a partir da reelaboração de suas representações de self, por conta dessa nova experiência. A investigação desse aspecto também possibilitou a essas mulheres uma reflexão acerca de si mesmas como pessoas e como mães, destacando o caráter terapêutico da entrevista.
Por fim, quanto às representações sobre o bebê, foi possível constatar a identificação dessas mães também com seus filhos, a partir de semelhanças na descrição da criança e de si mesmas como pessoas. Diante disso, evidenciou-se o investimento de cada mãe em seu bebê e a qualidade da relação com ele.
Cabe ressaltar, ainda, que a análise das representações sobre o bebê possibilitou vislumbrar eventos importantes da vida da mãe que poderiam influenciar de alguma forma nessa relação, demonstrando, nos três casos, a importância dos aspectos transgeracionais. Nesse sentido, algumas vivências consideradas negativas pelas participantes não pareceram estar influenciando na sua maneira de pensar e agir com o/a filho/a, talvez em virtude de um desejo de transformação dessas experiências e/ou de uma elaboração psíquica já realizada sobre as mesmas.
A partir do exposto, constatou-se que o mundo representacional de cada mãe se constituiu através de um entrelaçamento de todas as representações investigadas e que estas se apresentaram de forma singular para cada uma delas, pois estavam ligadas as suas vivências passadas e atuais. Tal singularidade pode ser justificada pelo fato de que as representações maternas dizem respeito a aspectos subjetivos da mãe que permeiam a relação com o bebê.
Finalizando, torna-se importante enfatizar que o instrumento se apresentou como valiosa ferramenta na investigação das representações maternas, possibilitando um mapeamento do mundo representacional materno. Assim, embora o caráter dos conteúdos investigados seja bastante subjetivo, mesmo as questões fechadas da entrevista propiciaram riqueza de informações, pois são apresentadas após o relato livre da mãe, como forma de complementação de suas respostas. As participantes mostraram estar se sentindo à vontade para expressar suas percepções e sentimentos até mesmo nesse tipo de questões.
Contudo, embora valiosos, tais achados não excluem a possibilidade de utilização de outros instrumentos para a investigação e a compreensão de tais representações e consequente análise da qualidade da relação mãe-bebê.
Referências
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Recebido em 03 de agosto de 2009
Aceito para publicação em 02 de junho de 2011
Notas
1O presente relato de experiência é derivado de atividade desenvolvida na Disciplina Prática Clínica pela primeira autora, sob supervisão da segunda, como parte do Mestrado em Psicologia Clínica, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), no ano de 2009.
2Agradecemos às mães que tornaram esta experiência possível e às Profas. Elizabeth Batista Pinto Wiese (USP) e Jaqueline Wendland (Paris V), pelas informações sobre a Entrevista R. Também à Profa. Dra. Christiane Robert-Tissot (Universidade de Genebra), por seu consentimento e estímulo a esse trabalho.
3Foram usados nomes fictícios para denominar as mães e seus bebês.