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Jornal de Psicanálise
versão impressa ISSN 0103-5835
J. psicanal. vol.51 no.94 São Paulo jan./jun. 2018
AULA INAUGURAL DO INSTITUTO DE PSICANÁLISE
Atitude psicanalítica
Rahel Boraks
Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. São Paulo. boraks@uol.com.br
O convite que recebi de Vera Regina para conversar e compartilhar com colegas o que penso sobre a atitude psicanalítica, e, assim, organizar dentro de mim aquilo que tenho experienciado na minha trajetória analítica, me deixou muito honrada e grata por esta oportunidade de estarmos aqui juntos neste momento.
Imediatamente me dei conta da turbulência advinda da responsabilidade, da excitação e do conflito, da ambiguidade feita destes aspectos misturados com o prazer que experimento quando exerço, reflito e descrevo essas experiências. Apesar da constante dúvida e questionamento que rondam a função analítica em mim, o novo e o surpreendente têm sido uma experiência vivificante, de modo ímpar.
Assim, uma vez aceita a tarefa, me vi tendo que conviver com essas diversas facetas, buscando alcançar os movimentos internos aos quais tive acesso. Passo então a dividir com vocês parte das minhas transformações e do uso que fiz delas, para poder compartilhar o que penso serem aspectos essenciais da minha atitude psicanalítica.
Tenho em mente que essa função se desenvolve dentro de mim se diversificando e me convidando a pensar sua diversidade. Portanto, é um processo contínuo. Essa diversificação e aprofundamento ocorrem em função dos diferentes processos psíquicos que experiencio junto aos meus analisandos e que, assim, afinam em mim minha prática, rumo a uma nova viagem ao meu interior e ao do meu analisando.
Em primeiro lugar, quero dividir com vocês um fato interessante da vida de Winnicott.
Há o poema de um autor inglês, Edward Lear, "A coruja e o gatinho". É um poema ingênuo, que Winnicott sabia de cor, de tanto que apreciava a descrição desta dupla improvável, coruja e gatinho convivendo. Fez "uso" do poema desse autor, considerado o mestre da insubmissão, para fortalecer dentro de si, pontos que considerava imprescindíveis para manutenção da atitude psicanalítica, entre os quais, a possibilidade de conviver com certo non sense. Isto é, conviver com o que não se pode compreender, com aquilo ao que não se pode dar sentido, de imediato. Esse fato, tomado por ele (Winnicott) como expressão da área de relaxamento, da não vigilância sobre si mesmo, do descanso necessário, era a expressão genuína de privacidade, da liberdade, do modo peculiar de cada um ser e de quão importante foi para ele a frase "eu não sei". Me ocorreu, então, levar isso muito a sério e dar início resumindo minha transformação, meu "uso" de um conto do Gabriel García Márquez; conto este que muitas vezes, ao longo dos anos de trabalho, se fez presente em mim, quando eu mesma me via diante destas indagações: O que mesmo que eu estou fazendo? O que tenho a dizer sobre atitude analítica? Eu mesma tenho esta atitude? A resposta que me ocorria na grande maioria das vezes tinha a ver com um aspecto que foi ganhando cada vez mais importância, tornando-se primordial: análise, para ser análise, tem que ser presença viva da vida como ela é. Nem boa, nem má, mas original/singular.
O conto é o seguinte:
Em uma aldeia havia uma mulher que estava grávida.
Com o avanço da gestação sentia os movimentos dentro de sua barriga. O que inicialmente parecia a eclosão de bolhas de vida, aos poucos, com o vigor que os movimentos foram adquirindo, lhe parecia um cutucão ameaçador. Não sabia se poderia resistir, se seu ventre iria se rasgar, se sobraria no seu corpo um lugar para si.
Resolveu então ir procurar o médico da aldeia, que também era um conselheiro para todos, dada sua experiência com corpos humanos.
O médico a examinou. Auscultou seu ventre e concluiu:
Sim, a senhora terá um bebê que não sabemos como será. Não sabemos se viverá um ano, dois, três meses ou somente alguns dias.
A pobre mulher saiu muito assustada chorando e foi sendo consolada pelas amigas, que a aconselharam a construir um caixão, mas que fosse do tamanho de um adulto.
Nele ela poderia colocar almofadas dos dois lados, que seriam retiradas aos poucos e desta maneira nada impediria o crescimento. A mulher achou boa a ideia.
O bebê nasceu e logo começou a crescer dentro do caixão, de tal maneira que podiam tirar um pouco de lã do último travesseiro, para dar-lhe margem para o crescimento. Tinham se passado já muitos anos, 25.
A mãe tivera cuidados meticulosos durante o tempo que durou a transição da infância à puberdade. O media com uma fita métrica e via que crescia.
Preocupou-se com a higiene perfeita do caixão e do quarto todo. Colocava flores diariamente para que o ar fresco entrasse no quarto. Tinha satisfação maternal em vê-lo vivo e por isso evitava a entrada de estrangeiros em seu quarto.
Assim, o rapaz chegou à vida adulta e aos poucos à velhice. Certo dia acostumado que estava a acompanhar a vida pelos murmúrios vindos da vila, escutou que o comentário era sobre sua própria vida. Diziam as vozes: Hoje é o dia que o velho do caixão irá morrer!
O velho no seu caixão foi tomado de um grande susto, medo, pavor. Mas este foi o primeiro dia no qual o velho se sentiu vivo.
Tomada pelo grande impacto dessa fábula, passei a me perceber alerta em relação aos perigos que rondam a atitude psicanalítica. Aqueles ligados às nossas preconcepções, ou seja, à nossa língua, à nossa estória, aos nossos valores, às nossas teorias, que, dependendo do modo pelo qual nos relacionamos com estas, podem aprisionar e nos colocar em caixões, desfigurando o que seria a tarefa analítica.
Penso que esse conto exemplifica bem o que acontece hoje entre nós e continuamente em nossa vida cotidiana. Estamos sempre grávidos, iniciando algo novo, uma gestação que tende a ganhar força e vigor vital, com tudo o que desta vitalidade pode decorrer. Como essa mãe que se dedica a uma existência sem vida, corremos o risco de nos voltarmos para a não transformação e para a legitimação do não vivo. O susto, o medo e o desamparo diante do novo e desconhecido é o substrato a partir do qual a psicanálise se desenvolveu como método. A escolha, pelo caminho que hoje nos reúne, é a escolha pela descrição e funcionamento das várias formas de desamparo, nosso e de nossos analisandos. Essencial estarmos atentos e curiosos em relação aos sussurros que surgem dentro de nós. Desta forma, temos a chance de nos sentirmos vivos, condição absolutamente necessária para a função analítica.
Diz Eigen: "Aprender a estar vivo é um trabalho em construção, é o ato de colocar em contato capacidades desconhecidas e nuances da experiência" (2012/2017, p. 32). Vejo muita semelhança nesta afirmação com o que entendo seja uma atitude analítica. Uma contínua e trabalhosa construção, sempre em estado de vir a ser. Um estado que nasce um pouco mais, a cada instante, e a cada vez que renasce permite experiências com intimidades até então desconhecidas.
Se levo em conta o fato a partir do qual a psicanálise teve início, ou seja, que o homem é um excesso para si mesmo, considero também que, não raro, estamos aterrorizados pelo excesso de nossos sentimentos, e é bem provável que por causa deste terror busquemos análise. Quando temos a sorte de desenvolver curiosidade a respeito desse terror e disposição para conviver com seus desdobramentos, estamos vivenciando/realizando parte do que, a meu ver, constitui a atitude psicanalítica.
Quando observamos os desdobramentos de uma análise, podemos dizer que a atitude psicanalítica transforma pânico em sentido, ou mesmo arte, e terror em experiência suportável, fazendo com que o que era abismo, muitas vezes sem representação, possa ser experienciado como algo interessante.
Isso é alcançado se contempladas a singularidade e as necessidades que cada análise nos sugere, nos convida e, por vezes, nos arrasta a vivenciar. É um risco usar rigidamente dispositivos técnicos ou teóricos sem considerar que estes devem ser construídos e instaurados a partir de cada encontro que é absolutamente único. Ser capaz de se surpreender, de se espantar, de ter lucidez e de sonhar sobre o existente é o que participa da capacidade de pensar a beleza, o justo, o sensato e o próprio sonho.
Girando um pouco o caleidoscópio, posso dizer que busco manter em suspenso o desejo de entender e alcançar algo de modo demasiadamente objetivo ou exato. Sei também do risco que corro na medida em que renuncio a qualquer precisão, apegando-me à ideologia da tolerância, que, quando levada a extremos, pode causar confusão.
Estar atenta ao que sinto me aproxima do que é mais verdadeiro para mim e meu analisando. Surge uma experiência que não é minha, nem dele, é uma experiência nossa, algo absolutamente inédito. Se acaso percebo em mim insistência na busca pela exatidão, suspeito ser esta expressão da necessidade de vigilância em relação ao que poderia ser incômodo. Afinal, psicanálise se ocupa daquilo que não depende de entendimento. É este um dos ângulos que estão presentes no estado de "sendo", da atitude psicanalítica (Bion).
Do ponto de vista centrado sobre o desdobramento da singularidade, nenhum conteúdo psíquico é a priori privilegiado, nem a priori excluído. Do mesmo modo, nenhuma intervenção é prescrita ou interditada. Fundamental é o encontro e a atenção sobre a experiência emocional, que se cria e recria a cada momento.
Trabalhar com dor e trauma requer fé. Uma fé aliada à habilidade e ao cuidado. Fé em quê? Fé no estar junto e emocionalmente atento. Algo que, talvez, possamos chamar de fé psicanalítica. A fé de que, se estivermos juntos, emocionalmente presentes, novas portas, jamais visitadas, podem se abrir.
Há, o tempo todo, um sutil jogo acontecendo, que, por um lado, precisa ser cuidadosamente observado nas suas sutilezas e em que, por outro, é essencial ter a liberdade de se manter jogando. Assim é, ao longo e através do jogo, que se presentifica no processo associativo a função analítica, que não utiliza uma teoria dizendo o que o analisando deve ser. Nossas transferências, por vezes, nos arrastam nessa direção, aquela que privilegia uma teoria em detrimento da experiência emocional.
A isso devemos resistir! Freud foi incansável em alertar sobre os perigos da fetichização, e Adam Phillips, numa citação de Nancy Bauer, alerta: "Não é qualquer homem que pode se dar ao o luxo de não ser fanático".
Está aí posta novamente a contribuição de Winnicott que fala sobre a importância do "uso" do objeto. O uso destrói e reconstrói de modo pessoal aquilo que é possível encontrar. Para que isto seja alcançado, é fundamental a aceitação do paradoxo: encontramos e criamos o que diz respeito a nosso mundo mental.
É importante sustentar o paradoxo. A sustentação permite que novas sensibilidades se ponham em marcha.
Perigosa é a obsessiva busca de sentido e compreensão que pode funcionar como sabotadora da necessidade de experiência, que, assim, pode se perder. O desejo e seus desdobramentos correm o risco de se submeter à coerência, que pode se organizar como defesa contra o assombro, tão necessário para a expansão do mundo psíquico e para o acesso à criatividade.
Na sessão, conduzida que estou por minha função analítica, com essas questões integradas aos meus ossos, me sinto profundamente fiel à tradição que apreende a psicanálise como continente de constante paradoxo: ela é busca do que não pode ser compreendido, mas, também, do que não pode ser ignorado.
Procuro constantemente indagar a mim mesma sobre minhas variações e contratransferências, que frequentemente me conduzem a um trabalho bastante diverso, em um e outro processo. É nesta pluralidade, e através dela, que a minha atitude analítica se faz presente. Para Roussillon (2005), a livre adaptação da análise e do analista, do estilo analítico, parece ser a condição sine qua non da criatividade necessária à pratica psicanalítica.
Freud nunca perdeu de vista quão importante é conviver, o quanto uma conversa pode modificar a visão que temos de nós mesmos e do mundo, a partir do convívio e das trocas que se estabelecem. Se isto de fato é assim, por que será que alguém busca um psicanalista? Será que nos busca como especialistas? Mas especialistas do quê? Em quê? O que de fato um psicanalista tem a oferecer? Diante destas indagações brota ainda outra questão imprescindível para todos nós que resolvemos/escolhemos trilhar esta rota: tendo eu um inconsciente, como sei o que posso oferecer? Quanto posso oferecer? Do que é de fato que o outro necessita? Pois bem, a minha experiência inundada de constantes dúvidas me faz ver que a atitude psicanalítica não é algo próximo ou semelhante à atitude de uma autoridade ou de um especialista; é muito mais próxima de poder conviver com o que ainda não faz sentido, com aquilo que ainda não sei, tem a ver com apreciar o convívio de minha própria mente com a experiência que está sendo, com tudo o que ela envolve, mesmo que só a alcance em parte.
Permitir que essas experiências façam parte de nós, que se integrem por meio de nossa própria análise pessoal, que sejam a oportunidade de sermos um pouco mais de nós mesmos, de nossa singularidade, nos habilita a nos sentirmos livres para estar com o outro. A combinação destes elementos permite manter a atitude necessária para a função analítica.
É algo como ter uma espécie de membrana maleável, que se presentifica no encontro em relação a um convite imprevisível que vem do analisando. Este convite que a mim jamais encontra neutra, é o chamado que insiste na necessidade de vivermos juntos no sulco da experiência. É expressão da importância que tem para cada um de nós o estar acompanhado para poder manter viva a capacidade de ter a experiência e poder integrá-la como enriquecimento de si. Muitas vezes, nos nossos analisandos, é a capacidade para a experiência que tem de ser reencontrada através da arquitetura imunológica que a atitude psicanalítica estabelece, construindo esferas, que formam díades para o convívio com a realidade, sem as quais, interior e externalidade se fazem radicais e invasivos.
O reencontro com essa capacidade, ou mesmo o desenvolvimento desta, reitera em mim a importância da manutenção de mobilidade psíquica e da minha presença emocional viva, da possibilidade que tenho de oferecer um rosto humano ao informe e de ser capaz de contemplar e acolher a originalidade de quem está junto de mim.
Curioso o paradoxo que ocorre com a neutralidade que propõe um distanciamento, que tem por finalidade evocar familiaridade.
Girando agora mais um pouco o caleidoscópio e compartilhando este giro com vocês, me ocorre destacar que a ação analítica é imprevisível. Não sabemos o que vamos fazer daqui a pouco. Somos desconhecidos para nós mesmos e para o outro. Criamos rupturas com nossa criatividade e geramos o inédito. Distância e proximidade, finitude e infinito, são amparados pelo nosso psiquismo, que nos dá um certo contorno, mantendo porosidade. Ao mesmo tempo e de modo paradoxal, se criam rupturas com estabelecido do mundo interno e externo. A transferência, esta ocorre como algo que não se espera, e somente é possível reconhecê-la quando chega, e quando já estamos sendo aquilo que nos surpreende.
É imprescindível manter intimidade consigo mesmo e é o que, aos poucos, permite criar a intimidade na dupla, lembrando que intimidade é sempre desconcertante.
Algumas vezes, o que digo ou não digo precipita o que é experimentado como traumático, e a vivência que o analisando tem é de um colapso temporário. No final da sessão ou em algum ponto do processo, ocorre uma recuperação. Estes estados, que se assemelham a estados de loucura e desorganização, são muitas vezes a oportunidade que tenho de mostrar minha sobrevivência diante dos aspectos agressivos ou violentos do meu analisando, que, assim, me cria alteridade. Outras vezes, são a ocasião de reeditar uma falha em relação à qual seja possível uma experiência ou a oportunidade de sentir o fluxo de novas realidades que evolvem dentro dele. Deste modo, a infinitude do experienciar contida na realidade psíquica se faz presente, se desdobra em mim e no meu analisando e nos deita em um horizonte aberto que ele e eu somos.
Sem que a questão seja explicitamente formulada, transita por entre as teorias psicanalíticas uma indagação: o conhecimento que alcançamos deve se manter prevalente em relação à infância, à sexualidade, ao amor, desenvolvimento, sonhos, arte, inconsciente ou ao como viver e o que ser? Seja qual for a área na qual qualquer relação nos apresenta sua demanda, faz parte da atitude psicanalítica a atenção ao uso da linguagem, que não pode distanciar-se do comum da vida. A linguagem não pode ser tão sofisticada a ponto de correr o risco de se distanciar dos interesses comuns e se tornar um saber privativo, tão privativo que se torna inútil. Conversar sobre qualquer dos aspectos mencionados tem que privilegiar estar com, constituindo-se numa espécie de arquitetura do espaço interior.
Qualquer coisa que o analista possa esclarecer abordando qualquer das áreas citadas diz respeito a algum interior, a alguma faceta da privacidade humana. Apesar de jamais estarmos na área das certezas, posso pensar que a atitude psicanalítica dispõe de recursos que transformam o privativo em algo um pouco mais social e aquilo que é antissocial, em algo a ser pensado e tolerado. Somos convidados a uma viagem por interiores que constantemente nos interrogam sobre o que é competência e habilidade em psicanálise. Afinal, o que é ser um analista? Paradoxalmente, um psicanalista tem que aprender como não saber o que ele está fazendo e como continuar a fazer o que não sabe. A prática da psicanálise vai nos ensinando, a todo momento, o que há de sublime na nossa ignorância.
Penso com Bion e Winnicott que a atitude psicanalítica só é possível graças a um estado de fé/esperança, que se mantém acima de qualquer conhecimento ou compreensão, pois toda sessão versa sobre aquilo que não conhecemos. Esse estado de fé garante disponibilidade e abertura para o desconhecido que muitas vezes é feito de impactos emocionais. Estes impactos podem se aproximar de vivências catastróficas ou dar ensejo a abertura de novos caminhos até agora não trilhados.
Faz parte da atitude psicanalítica ser um ouvido para vozes dissonantes, porque, não sendo assim, estaríamos perigosamente próximos daquele que sabe a melhor maneira de o outro organizar sua vida. As novas concepções da psicanálise em algum momento propiciaram um certo repúdio ao sexual e ao desejo, que passou a ser considerado um modo envelhecido de ler psicanálise. Ganhou maior importância ser bom (Klein) ou ser espontâneo (Winnicott) ou poder pensar a vida emocional (Bion). Surpreende, então, a dificuldade que existe entre nós de sustentar aspectos da psicanálise nem sempre facilmente compatíveis entre si.
Quando discutimos entre nós diferentes pontos de vista é fácil esquecermos que estamos falando de histórias sobre histórias e que, como qualquer história, as nossas contêm infinitas interpretações possíveis. É um dos desafios da atitude analítica nos convidar o tempo todo a resistir à nossa própria autoridade, e é esta resistência que sustenta a nossa competência.
Como última nota, é importante destacar o fato de que há um risco sempre presente para quem frequenta a instituição e quem se candidata a cursar e fazer parte dela. Pertencer à instituição não diz nada sobre uma personalidade, nem sobre sua astúcia, nem sobre a candura que nela possa existir. Participar da instituição e perceber em si mesmo transferência com as ideias de Freud, Klein, Bion ou Winnicott não pode ser justificativa para dar a si mesmo uma identidade, uma vez que as próprias teorias psicanalíticas tornam este projeto inviável. A aquisição de conhecimento é somente a posse de um instrumento e é insuficiente para que uma personalidade se desenvolva, nada diz a respeito do que verdadeiramente uma personalidade é.
Referências
Eigen, M. (2017). Cabala e psicanálise São Paulo. São Paulo: Blucher. (Trabalho original publicado em 2012) [ Links ]
Phillips, A.(2016). In writting. Londres: Penguin Random House. [ Links ]
Roussillon; R. (2005). La "conversation" psychanalytique: un divan en latence. Revue Française de Psychanalyse, 69(2),365-381. [ Links ]
Recebido em: 27/2/208
Aceito em: 27/2/2018