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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)
versão On-line ISSN 1413-6295
Cad. psicanal. vol.37 no.33 Rio de Jeneiro dez. 2015
ARTIGOS
Mídia, violência e trauma: o caso Isabella Nardoni sob um olhar psicanalítico
Media, violence and trauma: the case of Isabella Nardoni under a psychoanalytical view
Gustavo Adolfo Ramos Mello NetoI*; Telry Shodyi Nakamura**
IUniversidade Estadual de Maringá - UEM - Brasil
RESUMO
O artigo busca analisar a exposição da violência pela mídia à luz da Teoria da Sedução Generalizada. A partir da análise de material jornalístico produzido sobre o assassinato de Isabella Nardoni, apresentamos uma interpretação do modo como a mídia narrou o caso e do interesse do espectador pela violência. Nossa hipótese é de que a mídia lança informações que podem causar gozo, recalcamento e ameaça de trauma e também propõe, através de uma narrativa, uma espécie de elaboração dos possíveis traumas diários de seu público, fornecendo explicações simplificadas de questões complexas. Além disso, a mídia busca, com a violência, seduzir o espectador, que pode reagir a essa sedução, com gozo e, por vezes, com violência.
Palavras-chave: Psicanálise, Violência na mídia, Trauma, Teoria da Sedução Generalizada.
ABSTRACT
This article seeks to analyze violence exposition by the media in the light of the Theory of General Seduction. Through the analysis of journalistic material developed on the murder of Isabella Nardoni, we present an interpretation on the media narrative of the case as well as the interest in violence by the audience. Our hypothesis is that the media release information that may cause pleasure, repression, and threat of trauma as well as employ a narrative to propose a sort of elaboration of possible daily traumas of the public, providing simplified explanations for complex issues. In addition, through violence, the media seeks to seduce the audience, who may react to this seduction with pleasure and, sometimes, violence.
Keywords: Psychoanalysis, Violence in the media, Trauma, Theory of general seduction.
Introdução
Este artigo tem como tema geral o trauma psíquico, compreendido a partir da psicanálise. Consideramos o assunto relevante no contexto em que vivemos devido ao grande número de assassinatos que ocorre no país.1
Mas, para além da violência propriamente dita, que não parece ser algo novo, está a sua espetacularização, e este é o nosso objeto de interesse. Deste modo, o tema específico sobre o qual nos debruçamos é a violência e o trauma, abordados, pois, pelos meios de comunicação de massa, neste caso, no Brasil2. Segundo Endo (2005), há muitos anos, a mídia nacional vem se dedicando a exibição de um tipo de programação cujo assunto principal é a violência. Diariamente, expõem-se informações e imagens da violência social. São atos de violência causados, por exemplo, por roubos, sequestros, assassinatos, violência sexual, policial, violência intrafamiliar e doméstica. Neste artigo, o caso escolhido para análise se aproxima desse último exemplo.
Sabe-se que qualquer situação de violência, de excesso (físico e psíquico), pode causar traumas psíquicos para aqueles que a vivenciaram. Assim, essas situações expostas na mídia, assim como as diversas vozes convocadas pelos meios de comunicação a se pronunciarem sobre tais fatos, produzem o que chamamos de narrativa de testemunho midiático, constituindo, portanto, o objeto de análise deste artigo.
Analisamos a exposição da violência urbana pela mídia à luz da Teoria da Sedução Generalizada (TSG) (LAPLANCHE, 1992), apresentação está que, a nosso ver, ao ser transformada pelos meios de comunicação em narrativa, poderia ser considerada como uma tradução dos fatos ou da realidade para o público. Nas palavras de Laplanche (2003), a TSG resgata, de Freud, "a noção de tradução como motor do recalcamento (p. 404)", o que abre a possibilidade para se pensar que as narrativas da mídia, funcionando como tradução, poderiam ser, consequentemente, motor de algum recalcamento. Neste ponto, tomemos tradução como a passagem de algo que não é plenamente linguagem para uma linguagem ou, ainda, como a passagem elaborativa, por meio da linguagem, de algo mais simples, para um nível psíquico mais complexo.
Analisamos, pois, como a violência, especialmente aquela traumática em potencial, é exibida pelos meios de comunicação e algumas das possíveis razões pelas quais a violência e o trauma ganham a atenção especial do espectador. A análise foi realizada sobre o conjunto da exposição midiática de um caso de violência (vídeos e documentos produzidos por diversos meios de comunicação), bastante divulgado pela mídia, que causou grande repercussão no Brasil, o assassinato de Isabella Nardoni.
O caso Isabella
O assassinato de Isabella Nardoni ocorreu em São Paulo, em 29 de março de 2008.
O caso ganhou grande repercussão nacional e até internacional3, pois se tratava de uma criança de cinco anos de idade que, segundo a polícia, foi estrangulada pela madrasta e atirada do sexto andar do prédio pelo pai. O casal negou a autoria do crime e produziu uma versão para o fato que, segundo a polícia e os peritos criminais, teria o objetivo de afastar a culpa e a suspeita que desde o princípio pesou sobre eles.
O julgamento do casal ocorreu em março de 2010, ou seja, dois anos depois da morte de Isabella, e o tribunal do júri ao final do julgamento considerou ambos culpados pela morte da criança. Na ocasião, o pai, Alexandre Alves Nardoni, recebeu a pena de 31 anos, um mês e 10 dias de prisão, e a madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, recebeu a pena de 26 anos e 8 meses de reclusão pelos seus atos.
Uma grande massa acompanhou o caso tanto pela televisão, rádio, revistas e livros, quanto se deslocando diretamente a locais tais como o edifício do crime, as casas de parentes dos envolvidos, as delegacias e o fórum de Santana, principalmente durante os cinco dias de julgamento do caso.
Teoria da Sedução Generalizada
Para a análise do caso, apoiamo-nos, particularmente, nas ideias de Laplanche (1992) em torno do que ele chamou de Situação Antropológica Fundamental (SAF). A SAF aborda o encontro essencial e inevitável entre o adulto e o recém-nascido, para que o último possa sobreviver, já que o bebê vem ao mundo sem condições mínimas de sobreviver sozinho, necessitando, portanto, de pelo menos um adulto, que não precisa ser necessariamente o pai ou a mãe, para que possa continuar vivo. Nesse encontro, o adulto transmitiria à criança não apenas significantes relativos à subsistência física, mas também mensagens enigmáticas; aquelas que, segundo Laplanche (1992) estariam, ao mesmo tempo para o adulto e para a criança, parasitadas por elementos inconscientes da sexualidade do adulto. Tais mensagens enigmáticas, em última instância, provocariam na criança a fundação do seu próprio inconsciente, pois a sexualidade vinda do outro adulto sofreria nela o processo de tradução, o que seria o próprio recalcamento primário, ou seja, desse processo de tradução resultaria a divisão do psiquismo, pois de um lado estaria o eu pré-consciente, com as traduções, e do outro lado, o inconsciente propriamente dito, formado pelos restos das mensagens não traduzidas, tais como os objetos-fonte da pulsão, resultado dessa tradução/recalcamento originário (LAPLANCHE, 1992). Nas palavras de Laplanche (2003), como citado acima, a TSG resgata, de Freud, "a noção de tradução como motor do recalcamento (p. 404)", pois tal noção, ainda segundo o autor, é mais coerente com uma concepção do homem como um ser de linguagem e comunicação.
A TSG retoma ainda, a teoria da sedução do adulto para com a criança, que Freud propusera em seus primeiros escritos psicanalíticos, mas não de forma focal, perversa ou pedófila, como pensara Freud, mas de forma generalizada, a partir das mensagens inconscientes, portanto, comprometidas com o sexual, que todo adulto transmite a toda criança sem que isso seja proposital ou consciente. Logo, essas mensagens provocam uma sedução generalizada na criança, sem ainda deixarem de ser também traumáticas para ela, uma vez que contêm a sexualidade do adulto, algo com o que o infante não tem condições de lidar ou elaborar inteiramente, devido aos seus escassos recurso psíquicos. Apesar dessas mensagens vindas do outro serem traumáticas para o psiquismo da criança pelo excesso, elas não levam, na maioria dos casos, à estagnação do psiquismo, pelo contrário, fazem uma exigência de trabalho, levando à criança a buscar traduzi-las, metaboliza-las, dando forma ao seu próprio psiquismo. Diz Laplanche (2003):
A tradução ou tentativa de tradução tem por função fundar, no aparelho psíquico, um nível pré-consciente. O pré-consciente - essencialmente o eu - corresponde à maneira pela qual o sujeito se constitui, representa a sua história. A tradução das mensagens do outro adulto é essencialmente uma historização mais ou menos coerente (p. 407).
No entanto, dentre as mensagens enigmáticas enviadas pelo outro adulto, há algumas delas que são, segundo Laplanche (2003), intraduzíveis. Elas se depositariam naquilo que o autor chamou de inconsciente encravado: seriam provenientes de uma variante violenta da implantação e formariam um enclave no psiquismo. Essas mensagens, na linguagem de Laplanche (2003), teriam sido intrometidas de forma violenta pelo outro adulto.
Segundo Gutiérrez-Terrazas (2004), na situação violenta da implantação, quando então surge uma mensagem intraduzível, que Laplanche nomeia intrometida, ocorre um "curto-circuito" que impede a tradução de outras mensagens. Assim o autor se expressa:
Esse curto-circuito impede o sujeito infantil de dar uma saída fantasístico-representacional, só ficando aberto o caminho da atuação, tanto em direção a/contra o exterior quanto em direção a/contra o interior. Com isso, em vez de abrir-se para o sujeito aquilo que por excelência o caracteriza como ser simbólico - isto é, o caminho da interiorização da produção simbólica ou o caminho do espaço de pensamento e reflexão (espaço que pressupõe integração e interiorização da alteridade pulsional) -, o sujeito só vai poder dispor de uma simples evacuação atuadora dessa dinâmica pulsional interna que não se deixa metabolizar (GUTIÉRREZ-TERRAZAS, 2004, p. 124-125).
Neste momento, voltemos a Laplanche (2003), e sua suposição de que existindo o predomínio de mensagens do tipo intrometidas, ou seja, intraduzíveis, o desenvolvimento do psiquismo estaria muito comprometido. Diz o auto r: "O inconsciente encravado não é correlativo de um pré-consciente. No psicótico há pouca ou nenhuma historização. O inconsciente encravado permanece, se assim poderíamos expressar, "à flor da consciência" (LAPLANCHE, 2003, p. 408).
Podemos receber dois tipos de mensagens na SAF: 1) as mensagens enigmáticas implantadas, comprometidas com a sexualidade inconsciente do adulto, passíveis de tradução e desenvolvimento do psiquismo, que formariam, por um lado, o pré-consciente e, por outro lado, o inconsciente clássico recalcado, e 2) mensagens intrometidas de forma violenta, também carregadas com sexualidade, mas de difícil tradução, que formariam o inconsciente encravado, não propício ao desenvolvimento psíquico, que corresponderia à parte psicótica do psiquismo.
Além desses dois modos do inconsciente, o inconsciente implantado/recalcado e o inconsciente encravado/psicótico, Laplanche (2003) propõe ainda uma terceira acepção para a palavra inconsciente que seria um pseudo-inconsciente, denominado por ele de inconsciente mito-simbólico. Segundo Laplanche (2003), ao receber as mensagens enigmáticas do outro adulto, a criança necessita de novos códigos para que possa traduzir tais mensagens, pois ela não tem condições de criar tais códigos sozinha. Desta forma, a criança recebe do seu meio cultural uma "ajuda à tradução"4, isto é, ela recebe esquemas narrativos pré-formados (LAPLANCHE, 2003, p. 413), nos quais se inclui, o complexo de Édipo, o assassinato do pai, o complexo de castração, etc. Os esquemas narrativos pré-formados são os mitos-simbólicos. Tais esquemas mitos-simbólicos não formariam o núcleo do inconsciente, como afirmara Freud. Os mitos estariam mais do lado do que é recalcante do que do lado do recalcado. Neste sentido, o recalcado, que é o sexual infantil polimórfico-perverso, seria ordenado e dessexualizado com o auxílio desses elementos mitos-simbólicos, o que por fim levaria o sujeito para o caminho, segundo Laplanche (2003), "da aliança e da procriação (p. 415)". Diz o autor: "Nada de menos sexual (no sentido originário dos Três Ensaios...) que o mito de Édipo e a tragédia de Sófocles. Nada que nos fale menos do gozo sexual, para não falar da busca de excitação (LAPLANCHE, 2003, p. 415)". Portanto, a terceira acepção laplancheana da palavra inconsciente diz respeito aos elementos mitos-simbólicos, que ajudam a criança a traduzir as mensagens enigmáticas que vêm do outro (mensagens implantadas), dando forma ao inconsciente recalcado.
Dito isso, passemos, pois, ao desenvolvimento dos objetivos propostos.
Desejo e gozo
Milhões de brasileiros acompanharam pela mídia o caso Isabella, que não era de fácil elucidação policial. A morte daquela menina tinha algo de estranho e sinistro. Os suspeitos eram o pai e a madrasta da menina.
O estranho desse assassinato evocava, assim como o estranho (Unheimliche) teorizado por Freud (1919/1976), algo secretamente familiar. Neste caso, supomos, evocava o triângulo edípico. As informações e notícias veiculadas pela mídia de algum modo confirmavam tal suposição, pois era traduzida para o público como a existência de um notável ciúme dentro da família. Segundo relatos da mídia5, Isabella era apaixonada pelo pai; falava para ele que seu irmão mais novo, o Cauã, era filho seu e dele, seu pai; disputava o colo do pai com a madrasta, e quando a última a "arrancava" do colo dele, para ela própria se sentar, a menina chorava. A madrasta reconhecidamente tinha ciúmes de Isabella e também de sua mãe, Ana Carolina de Oliveira6.
O que pode ser percebido como estranho no caso Isabella se transforma em conhecido quando analisado no contexto do complexo de Édipo. O caso envolve ciúmes e rivalidade dentro do triângulo familiar, no entanto, a história de Isabella, diferentemente da de Édipo, termina, não com um parricídio e incesto, mas com um filicídio consumado.
Como sabemos, a história de Édipo começa com uma tentativa de filicídio que fracassa, pois, o servo do Rei Laio e da Rainha Jocasta, designado a executar as ordens de deixar o filho deles abandonado para morrer, não teve coragem de cumprir com o ordenado e entregou a criança a outra pessoa, na esperança de que ela a levasse para longe, para que assim Édipo não pudesse cumprir seu destino: matar o pai e casar-se com a mãe, quando crescesse. Como bastante conhecido, em Édipo, na verdade, era o filicídio que estava fadado a fracassar, para que então se realizassem os crimes de parricídio e incesto, previstos anos antes por um oráculo enviado àqueles reis que, então assustados com a previsão, decidiram matar o próprio filho.
O que Freud descobriu (1900/1987), nos primórdios da psicanálise, é que fracassando justamente o filicídio, o homem está, assim como Édipo, condenado a, mesmo sem saber, desejar matar o próprio pai e possuir a própria mãe. Desta forma, os desejos parricida e incestuoso podem habitar, como afirma Freud, todos os filhos dos homens. No entanto, nesta fórmula para se produzir um Édipo, há de se considerar que um outro crime, ou pelo menos, o desejo por um outro crime também deve existir, qual seja, o desejo filicida.
Assim, o desejo filicida, como o que acompanhamos no caso Isabella, é passível de existência e, frequentemente levado a cabo, como também se verifica em outros casos de morte de crianças envolvendo pais7. Supomos que tais casos chamam a atenção de pelo menos alguns dos espectadores por serem uma fonte de realização imaginária de desejos, a partir da identificação do espectador com aqueles que os executam na realidade material.
Desse modo, a hipótese de que o público que acompanhou o caso Isabella buscou um gozo por esse caminho, identificando-se com as atuações filicidas, homicidas e, talvez, até mesmo simbolicamente parricidas (o pai, nesse caso, desaba, pois já não pode ser mais o guardião da moral e das proibições), pode ser sustentada, se levarmos em consideração a existência desse desejo inconsciente nesses espectadores.
O filicídio como desejo é algo que se apreende "diariamente" através dos sonhos dos pacientes; mas, ele também encontra justificação na obra de Freud. É verdade que este último, ao falar do Édipo pouco se importa com o filicídio aí contido, pois está muito mais preocupado com o parricídio, no entanto em Psicologia de grupos e análise do ego (1921/1987), esse autor afirma que quanto mais íntima a relação entre sujeitos, mais ambivalente ela é. O filho, é pois, um objeto muito próximo, íntimo, digamos, assim como os cônjuges e os pais. Esses, então, seriam objetos privilegiados de desejo homicida. Há ainda uma outra justificação em Freud e que nos serve: o filho nos duplica, seja ele pouco ou muito semelhante a nós, e, sendo assim, ele é unheimlich. Dessa forma, a ambivalência de que falava Freud torna-se aumentada, uma vez que, ao duplicar-nos, o filho se nos torna persecutório. E não só o filho, todos os outros sujeitos humanos de algum modo nos duplicam, o que é um elemento importante na ambivalência.
No caso Isabella, o filicídio e o parricídio não foram os únicos desejos possíveis de serem realizados imaginariamente pelos espectadores. Ligada ao filicídio e parricídio simbólicos, houve ainda a satisfação pela vingança, que o público almejou durante toda a investigação e julgamento do casal Nardoni, saindo à rua, buscando agredir o casal, seus familiares e advogados, atirando pedras, dando pontapés e proferindo insultos, sendo que por fim, os espectadores puderam desejar que houvesse justiça: que o poder policial, investigatório, acusatório e o poder judiciário, punissem com prisão quem matou Isabella e se colocasse soberano para além ou em lugar do pai falido.
Além da realização imaginária dos desejos sádicos, agressivos, filicidas, homicidas, parricidas e a realização dos desejos por vingança e justiça contra o casal Nardoni, podemos pensar que alguns dos espectadores tiveram um gozo, como indica Endo (2005), diante da violência na TV, em uma posição essencialmente masoquista. Eventualmente, alguns dos espectadores, enquanto filhos que são, também se identificaram com Isabella e gozaram com isso, mesmo ela sendo a vítima das agressões e morte, ou ainda, por ela ser justamente a vítima das agressões, por parte daqueles que supostamente deveriam protegê-la. No entanto, há de se considerar também que crianças acompanharam o desenrolar do caso, juntamente com seus pais, e possivelmente se identificaram com Isabella. Neste caso, a violência e a morte real e o gozo do adulto podem ter causado na criança medo, pavor e sentimentos persecutórios.
Também podemos supor que parte dos espectadores pode obter satisfação acompanhando o caso e conhecendo algo da intimidade daquelas pessoas envolvidas, ou seja, o casal Nardoni e o triângulo que este compunha ora com a mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, ora com a própria Isabella. Alguns dos espectadores puderam então, de suas poltronas, propiciarem-se um gozo ao acompanhar o caso como se estivessem "espiando" a privacidade do casal pelo buraco da fechadura, no caso em questão pela tela da TV. Desde as imagens das câmeras de segurança do supermercado, que mostraram a família Nardoni passeando de mãos dadas no supermercado horas antes do crime, a mídia conduziu os espectadores, reproduzindo com diversos meios tecnológicos, o que supostamente havia acontecido naquela noite, revelando todos os instantes, desde o supermercado até que Isabella estivesse jogada no chão do gramado do edifício London. Depois do supermercado os espectadores entraram, pelos recursos da mídia, no carro da família Nardoni e viram as primeiras agressões da madrasta contra Isabella. Logo que os Nardoni chegaram à garagem do edifício que moravam, os espectadores também puderam acompanha-los até entrarem no apartamento e, a partir daí, puderam ver todas as supostas agressões que o casal praticou contra Isabella, até que Anna Jatobá, a madrasta, estrangulasse com as mãos a enteada e Alexandre, o pai, jogasse a filha pela janela, ainda viva.
Tais cenas de violência e o imaginário que pode ser construído em torno dessa morte, vistos pelo buraco da fechadura, supomos, podem remeter o espectador à fantasia da cena originária, devido ao caráter sadomasoquista, íntimo, proibido e inconfessável, que foi revelado ou imaginado, pela polícia e mídia, em torno do casal Nardoni e Isabella. Assim, o espectador, pôde se excitar e dar-se um gozo, espiando o que imaginariamente seria uma reprodução da cena primitiva.
No entanto, a violência na cena primitiva é sobre a mulher e não sobre a filha (o), assim, como aproximar o caso Isabella da cena primitiva por esse aspecto? Relembremos o caso do Homem dos Lobos, descrito por Freud (1918/1976), quando, ele, ao presenciar a cena primitiva dos pais, chegou a seguinte conclusão: para obter satisfação sexual do pai, de forma passiva, deveria deixar-se castrar como a mãe, o que ele rejeitou. Segundo Freud, isso ocorreu devido ao protesto masculino ter, digamos, falado mais alto em prol da conservação narcísica do pênis. Podemos, então, pensar, no que tange ao caso Isabella, na possibilidade, para o espectador, dele ver na televisão a confirmação da fantasia de castração, em decorrência do desejo de substituir o pai ou a mãe na relação primitiva do casal: Isabella não abriu mão de estar no lugar da madrasta/mãe e então recebeu, do pai, todo o seu sadismo/violência e foi castrada/morta pelas mãos da madrasta. Diferentemente do Homem dos Lobos, Isabella não teria recuado em seu desejo e então pagou (com a própria vida), para ver. E o pai aí cede a esse desejo, que na verdade é de ambos, pai e filha, e, então, vê-se caído, arruinado.
O espectador, na segurança de sua poltrona, pode eventualmente arriscar-se à fantasia de estar no lugar daqueles personagens fantasmáticos, ora no lugar do pai, ora no lugar da madrasta e ainda no lugar da própria Isabella, como descrevemos acima, sem receio de ser castrado, ao menos não na realidade material.
Busca pelo recalcamento
Os desejos mencionados acima e o gozo decorrente de sua realização imaginária, obtido a partir da possível identificação dos espectadores com os personagens do caso Isabella, também podem ter suas consequências negativas, como o sentimento de culpa e a possibilidade de ocorrer um trauma. Assim, o que segue, busca retratar a formação reativa que pode ter ocorrido nos espectadores diante da emergência dos desejos, da culpa e do trauma. Tomamos a história de Édipo Rei para ilustrar tais ideias.
Édipo Rei
A peça de Sófocles (2005), Édipo Rei, começa por assinalar o clamor e as súplicas do povo Tebano diante do palácio do Rei Édipo que, ao ver aquela multidão, vai até ele e pergunta: "Que terror, ou que desejo vos reuniu? Careceis de amparo?" (p. 5). E complementa afirmando: "Quero prestar-vos todo o meu socorro, pois eu seria insensível a dor, se não me condoesse de vossa angústia" (p. 5-6). Um sacerdote, representante do povo, responde ao Rei que todos aqueles, gente nova e gente velha, andavam à procura dos templos do palácio ou dos templos das praças públicas levando ramos de oliveira na esperança de que os deuses pudessem fazer cessar a crise de calamidades que estava castigando a cidade de Cadmo. Mesmo sabendo que o Rei Édipo não poderia se igualar aos deuses imortais, o povo vinha naquela oportunidade suplicar a ele que intercedesse junto a outros homens ou aos próprios deuses, para por fim aos males que os castigavam, pois nos últimos tempos, naquelas terras nada nascia, os rebanhos definhavam no campo, as crianças morriam no parto e a peste devastava toda a cidade.
O Rei Édipo, dizendo não desconhecer o que afligia seu povo, anuncia que providências já tinham sido tomadas e que naquele próprio instante esperava a chegada de seu cunhado Creonte, que fora enviado ao templo de Apolo para saber do oráculo o que havia de ser feito a fim de que a cidade não fosse dizimada. Não demora muito, Creonte retorna com uma resposta favorável e diz: "O rei Apolo ordena, expressamente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém; que não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável. Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte o assassino, pois o sangue maculou a cidade"
(p. 10-11). Diante de tal anúncio, o Rei Édipo pergunta a Creonte, a que morte ele estaria se referindo, e obtendo como resposta que o homem morto era Laio, o príncipe que havia reinado naquele país antes de Édipo.
Édipo promete, então, encontrar o assassino de Laio para poder livrar a todos dos sofrimentos que os abatiam. Após realizar sua própria investigação descobre, como sabemos, que ele próprio era o assassino do Rei Laio e que, para sua desgraça, Laio era seu pai biológico. Descobre ainda que, ao casar com a mulher do rei morto por suas mãos, estava casando com sua própria mãe, tendo filhos com ela.
Os crimes de Édipo, ou seja, parricídio e incesto eram então o que estava maculando a terra, trazendo a calamidade, a peste e até a morte ao povo Tebano. O crime de um homem, se não fosse punido com a morte ou o desterro, seria capaz de destruir uma cidade inteira.
É bem sabido em psicanálise que a punição exemplar daquele que comete os crimes pode, na verdade, ajudar a sufocar o desejo que muitos têm de cometer os mesmos crimes. Tais desejos, que, em Édipo Rei, seriam a peste do povo, se realizados, poderiam então dizimar a todos e por isso tinham de ser reprimidos com severa punição a quem ousou realiza-los. Além disso, a culpa por terem esses desejos, tinha de ser afastada, localizada, atribuída a alguém, no caso a Édipo, para que ele fosse então julgado e condenado, ou melhor, julgado e condenado por si mesmo com a morte ou com a segregação (o que tem valor semelhante, pois a segregação significa a morte política de Édipo; ele morre para a sua pólis, o que pode também ter o valor de castração simbólica).
Da mesma forma, no caso Isabella, aqueles que se identificaram com o casal Nardoni tinham de reprimir seus próprios desejos agressivos e filicidas e espiar a culpa apontando o outro, no caso os Nardoni, para provarem a si mesmos que não foram eles próprios que desejaram agredir e matar seus filhos. Como o povo Tebano, os que acompanharam de perto o caso Isabella, foram aos templos modernos, igrejas, delegacias, palácios de justiça, em busca de vingança, em busca de Justiça, para verem também afastados de si mesmos, ou reprimidos em si mesmos, os desejos realizados pelo casal Nardoni, também a culpa, e as devastadoras consequências que sobreviriam a todos, como uma peste, se outros começassem a realizar iguais desejos.
Trauma
Continuemos com Édipo Rei.
Vimos que Édipo, ao investigar um crime, descobre muito mais do que poderia imaginar, pois além de revelar que ele próprio era o responsável por aquele assassinato, o rei morto era seu pai e a mulher com quem se casara era a mesma que lhe deu a vida. Como punição auto infligida, Édipo fura os olhos, segundo Freud (1919/1976), castra-se, e vai solitário para longe daquela cidade.
Então, como se sabe bem, a partir de seu trabalho com pacientes e sobretudo com sua autoanálise, Freud (1900/1987) se deparou com os crimes de Édipo, na forma de desejo, e supôs que isso seria universal8. Se, pois, desejar matar o pai e possuir a mãe e realizar tais desejos como Édipo, para o inconsciente, não diferem muito, podemos dizer que toda a morte do pai é, na verdade, um assassinato do filho, o que abriria ainda a possibilidade de exclusividade sobre a mãe, com a ausência do pai. Assim, como Édipo que ao investigar um crime descobre-se um criminoso, qualquer ser humano, generalizando essa lógica, ao investigar qualquer crime também corre o risco de também se ver criminoso, pois pode encontrar em si mesmo os mesmos desejos que viu ser realizado, pelo outro.
A mídia, em um caso como o de Isabella, busca levar o espectador a ser um parceiro na empreitada pela investigação criminal. Nessa démarche, então há também o risco de se tornar criminoso e, aí, pode-se estar em pleno terreno do trauma. Não é difícil se aceitar a suposição de que o desejo e sua realização assim de forma tão clara, podem ser traumáticos e é por isso que, nos sonhos, por exemplo, Freud nos mostrou, o sujeito deforma e atenua o desejo. Num caso como o de Isabella, como defesa contra a realização de desejos, então é preciso achar um culpado ou, ainda é preciso identificar alguém com a culpa que nos aflige. Desta forma, empenhados em apontar a culpa para o outro, os espectadores, como já dissemos acima, pedem que a justiça seja feita, para então afastar qualquer sentimento impróprio, ou qualquer excesso pulsional, de si mesmos, certificando-se, assim, que não foram eles os verdadeiros culpados por aquela morte. Afastam assim, de si mesmo, um possível trauma.
O Caso Isabella à luz da TSG
Como exposto anteriormente, Laplanche (1992), propõe a ideia de uma constituição traumática do psiquismo, argumentando que a criança, devido a sua imaturidade, não teria condições de lidar adequadamente com as mensagens sexuais do adulto, portanto enigmáticas. Isso causaria um trauma interno que, de acordo com Carvalho (2012), seria equivalente a um ataque pulsional. Para Laplanche (2003), os ajudantes de tradução mito-simbólicos, provenientes da cultura, formados no processo sócio-histórico, incluindo, como já foi dito, por exemplo, o complexo de Édipo, o complexo de castração, etc., teriam a função de organizadores do psiquismo dos sujeitos, haja vista a incapacidade do bebê traduzir sozinho as mensagens sexuais do adulto.
Por conseguinte, desse ponto de vista, o impacto do caso Isabella, no espectador, contendo agressão e filicídio, produziu nele mensagens enigmáticas, de intenso conteúdo sexual infantil, ou seja, polimórfico-perverso, que, de algum modo, pode ter agido de duas formas em alguns dos espectadores. Uma reforçando diretamente o estoque de mensagens não traduzidas do inconsciente, gerando o risco de um trauma interno devido ao excesso pulsional; e, outra, destraduzindo mensagens já traduzidas com o auxílio de esquemas narrativos que têm a função de recalcamento como, por exemplo, mitos/símbolos ou ideias e ideologias que giram em torno da criança, da filha, da mãe, do pai, da madrasta, da família, etc. Isso geraria também como resultado o excesso, potencialmente traumático, pois a pulsão que se mantém ligada aos mitos ou narrativas, como indica Laplanche (2003), ficou desligada, a espera de nova ligação, nova tradução, ou ainda à espera de novo religamento com os mesmos mitos ou narrativas, que como observamos, giram em torno dos conhecidos mitos infantis, Édipo, castração, sedução.
Como pergunta Laplanche (2003), o que seria menos sexual do que, por exemplo, o mito do Édipo? O autor supõe, como já dito, que o Édipo é um produto mito-simbólico cuja função é recalcar e, nesse sentido, auxiliar na tradução das mensagens sexuais vindas do outro. No caso Isabella, o que seria menos sexual do que os mitos em torno da criança, dos pais e da família? Toda criança seria um anjo, uma estrelinha como Isabella, não teria maldade (sexualidade); pai e mãe seriam protetores, amariam os filhos incondicionalmente, não desejando nenhum mal a eles; a madrasta seria má, mas não ao ponto de matar a enteada que, por fim, se tornaria uma princesa, como na história de Cinderela; a família seria o lugar mais seguro para uma criança, etc. Esses são, pois, ajudantes de tradução cuja ação tem como produto o recalcamento do sexual infantil. Eventualmente, como no caso Isabella, o polimórfico-perverso parece mostrar sua face e faz desmoronar, por um momento, qualquer mito ou narrativa, gerando o risco de trauma, e então é preciso contar velhas histórias, como a de Édipo.
Quem poderia fazer isso, narrar, historizar, ajudar nesse religamento, senão a mídia? Justamente ela, que anunciou uma vitória do sexual infantil, que habita o homem, contra o recalque/tradução. Contudo, mais que um clamor por recalcamento do grande público, há um clamor por justiça, o que não pode ser entendido apenas desse ponto de vista, de recalcamento, embora o seja também. A solicitação por justiça, além de carregar algo de vingança, como Freud já dizia em Mal-estar na civilização, diz respeito a restaurar uma ordem, a substituir o pai falido, criminoso. Isso também, a nosso ver, coloca-se ao lado da tradução, da mesma forma que está ao lado do Édipo, pois diz respeito à restauração do triângulo. Na narrativa do assassinato de Isabella, pai e madrasta se fundem num único elemento, formando uma díade com a menina, uma díade sem condições de pôr um paradeiro na atuação psicopática em que se envolveram. A justiça entra, pois, como elemento terceiro, vértice do triângulo, que vem restaurar também uma verdade, o verdadeiro culpado: (o pai/madrasta). Diz Laplanche:
De saída, é forçoso simplesmente inverter a perspectiva do complexo de Édipo: considerando-se sua raiz, a origem da ação sexual não está na criança, como pretende Freud, mas, verdadeiramente, naquele dos pais que seduz a criança. Nesta perspectiva, o complexo de Édipo, tal como Freud o descreve, é apenas um retorno defensivo, auto-acusador, uma espécie de identificação ao agressor, para retomar o termo de Ferenczi. A criança se identifica com o agressor sexual declarando que é a autora do crime sexual (LAPLANCHE, 2007, p. 12).
Assim, não teria sido Édipo quem primeiro cometera os crimes, homicídio e o crime de sedução. Foram seus pais (biológicos e adotivos). Se, então, compreendemos a situação de Édipo pela TSG, supomos que as propostas dos seus pais eram: matamos-te (filicídio pelos pais biológicos) e te seduzimos (sedução generalizada feita pelos pais adotivos), o que Édipo responde depois de um período de passividade: não, eu é que seduzo (minha mãe) e mato (meu pai).
No caso Isabella, havia sedução de Isabella pelo pai e pela madrasta, e dela para com eles, amor de ambas as partes. Porém, a pesar disto, veio à morte sem explicação, e então sem os ajudantes de tradução, entramos no terreno do sem-sentido, entramos no terreno do desligado, no terreno do trauma.
O veneno e o antídoto
A mídia noticiou o caso Isabella, poderia não tê-lo feito, mas ao fazê-lo, ao anunciar a ocorrência de um tal crime, inoculou uma espécie de "veneno", que teria como principal efeito desconstruir as traduções já conseguidas em torno do Édipo, dos mitos/ideologias em torno da família, da criança, dos pais, etc., podendo liberar assim, provisoriamente, o sexual infantil, o polimórfico-perverso, desligando-o das narrativas auxiliares de tradução.
No entanto, embora tenham sido justamente os meios de comunicação que espalharam o veneno, eles também "entregaram" o "antídoto" para combater esse excesso pulsional. Tal antídoto se constituía justamente de informações, que foram distribuídas diariamente, detalhes do que aconteceu naquela noite, notícias sobre o andamento das investigações, descrição da vida dos personagens envolvidos naquele drama que, por fim, ajudariam os sujeitos a traduzirem, a compreenderem, a fazerem uma historização da situação, para então metabolizá-la, religando o sexual infantil e dominar a dor, a angústia, os fantasmas eventualmente liberados pela identificação com os personagens envolvidos na situação.
Historizar
O casal Nardoni não confessou sua suposta responsabilidade no assassinato de Isabella e também não existiam testemunhas oculares que, com seus depoimentos, pudessem fazer com que as investigações se encerrassem mais rapidamente. Desta forma, para que houvesse a possibilidade de fazer uma teoria sobre o crime, de historizar, era preciso antes descobrir e/ou reconstituir o que aconteceu. No caso Isabella, a prova pericial era a maior esperança para responder às questões sem resposta. A ciência, então, teria papel importante para que se pudesse contar o caso Isabella, indo do macro ao micro, da reação química à medida do tempo. A mídia, então, buscou ter acesso aos resultados de cada perícia, revelando o que poderia ser concluído a partir de cada laudo e cada laudo aparecia como se fosse um capítulo de uma telenovela. Buscou, assim, conhecer os resultados desses laudos, compreender as conclusões às quais a investigação chegou com eles, o que não era tão fácil, e foi, dia após dia, dando a possibilidade de historização, de responder, segundo a versão que chegou da polícia, quem havia assassinado a menina e responder como a teriam assassinado9. Havia ainda outra questão: por que teriam matado Isabella, qual era o móvel do crime?
Para responder a essa questão foi preciso esquadrinhar a vida que o casal Nardoni levava e qual era a relação dos dois com Isabella e também com sua mãe, Ana Carolina de Oliveira. A mídia mais uma vez buscou suas fontes, teve acesso a depoimentos, a boletins de ocorrência, fez entrevistas com vizinhos e familiares do casal Nardoni e com o próprio casal, sendo está última entrevista exibida em rede nacional.
Ao final dos dois meses subsequentes ao assassinato, abril e maio de 2008, e depois de uma semana de julgamento, em março de 2010, a polícia, o promotor do caso, o juiz e o júri popular chegaram à seguinte versão conclusiva dos fatos: Alexandre Nardoni, o pai, e Anna Carolina Jatobá, a madrasta, teriam sido os autores do crime. Este teria começado dentro do carro, antes de chegarem em casa, quando Anna Jatobá teria agredido a vítima com um anel ou uma chave (isso não ficou claro na perícia). Do carro até chegarem ao apartamento, Alexandre Nardoni tinha a menina nos braços, levantando-a e a soltou, de maneira que ela caiu contra o piso da sala, sofrendo fraturas no pulso, na bacia e na vulva. Na sequência, a madrasta a asfixiou com as mãos e o pai jogou-a pela janela do quarto. Esse último então, o pai, desceu até o pátio do prédio, onde caíra Isabella e, postando-se ao lado do corpo, passou a gritar com todas as forças que havia ladrão no prédio. Anna Jatobá, por sua vez, limpou com uma fralda parte do sangue que escorrera no chão do apartamento, que lavou em seguida. Ato contínuo, chamou seu pai e seu sogro pelo celular. A causa das agressões, seguidas de homicídio, teria sido, segundo juiz e júri, um desequilíbrio emocional motivado por ciúmes. A história estava, pois, completa.
(Des) Historizar
Além da versão da acusação, a mídia tinha que mostrar também os argumentos do casal, que se dizia inocente. Tinha que veicular os argumentos dos advogados de defesa e das famílias de Alexandre Nardoni e de Anna Jatobá. Ocorre, porém, que ao se defenderem propunham outra organização dos dados, ou seja, outra tradução, outra narração para a ligação, a historização do traumático, digamos. Isso, contudo, parece ter deixado o público furioso com o casal, com os advogados e com os familiares10, pois esse discurso era uma espécie de "anti-discurso", uma narrativa pouco coerente e pouco convincente e, mais, sem fechamentos, que funcionava como uma desconstrução da narrativa, ia contra a ligação pulsional esperada por quem acompanhava o caso. A polícia afirmava: foram eles. O pai de Isabella afirmava: "Nós não somos os culpados, e ainda encontrarão o culpado". A madrasta afirmava: "Somos inocentes e a verdade sempre prevalecerá". A irmã de Alexandre Nardoni dizia: "Não façam mal a um inocente", referindo-se ao irmão dela11.
A história contada pelo casal era de que um ladrão teria arrombado o apartamento da família e jogado Isabella pela janela, ou ainda, em sua versão oficial, Alexandre contou que não havia dito que era ladrão e que não haviam arrombado a porta do apartamento, mas continuou afirmando que um monstro, havia entrado no apartamento e matado a sua filha12. Por seu lado, o promotor encarregado do caso, Francisco Cembranelli, dizia que havia provas contra o casal. Os advogados de defesa, por sua vez, afirmavam que as provas eram frágeis13. A tática da defesa então foi essa: negação do crime, afirmações opostas da acusação e interpretação das mesmas provas de outra forma, tendo como consequência, a desconstrução da dinâmica do crime, e da formação de uma história lógica e coerente sobre os fatos, portanto, algo muito mais do lado da desconstrução do que da ligação, pelo menos a nível imediato.
Afinal, por quê?
Na Retrospectiva de final de ano da rede Globo de 200814, o caso Isabella foi lembrado como um dos fatos mais marcantes daquele ano. Segundo o apresentador: "Ficaremos marcados para sempre pela mesma pergunta sem resposta: por quê?". Com essa questão, ele, o apresentador do programa, retoma a interrogação essencial do caso e que não foi respondida: por que os pais, ou o pai, mataria a filha? Ou por que o pai deixou que a sua mulher matasse sua filha? A resposta encontrada pela polícia a essas perguntas foi, como vimos, o ciúme de Anna Jatobá em relação à Isabella e sua mãe Ana Carolina de Oliveira. No entanto, essa explicação, mesmo que válida, vem responder somente em parte da questão, já que dá conta somente da motivação da madrasta e não a do pai, que poderia ter impedido que as agressões chegassem ao ponto que chegaram, ou então, denunciaria a mulher por ter matado a menina sem que ele houvesse participado. Sabemos que o que ocorreu foi bem o contrário; Alexandre não só agrediu fisicamente a sua filha, jogando a no chão e depois pela janela, como fez tudo para esconder o crime, buscando modificar a cena do crime, de forma a simular um latrocínio.
Apesar da história de ciúme construída pela polícia e pela promotoria e da condenação dos réus terem, supomos, auxiliado o público a aplacar a angústia e o temor de ter destruídas traduções importantes associadas à família e à criança, a reconstrução da historia só pode responder parte da questão. A mídia, assim como a polícia e o ministério público, buscou dar um sentido para o que aconteceu com aquela família: informou, especulou, questionou, formou convicção, construiu uma história até o ponto que fosse possível, mas, por fim, parou, respondendo ao sem sentido da ação do casal por uma resposta parcial, resumida na palavra ciúme, esta sim tão familiar dentro de qualquer lar.
Bohleber (2007), ao analisar o trauma do holocausto, faz a seguinte pergunta:
Qual a forma apropriada de descrever a experiência coletiva e autêntica de um trauma, sem que o horror dessa experiência e o seu fator chocante, brutal e sem sentido sejam submetidos a categorias históricas atribuidoras de sentido, nas quais a característica traumática do evento viesse a desaparecer? (BOHLEBER, 2007, p. 170).
Esse autor sugere que se recorra à recordação individual das testemunhas, justamente para que a experiência traumática não seja substituída por um ordenamento histórico. No caso do assassinato de Isabella, a narrativa produzida pela mídia gerou a substituição do fator chocante, brutal e sem sentido. Ou seja, o sem sentido do trauma foi substituído pela explicação mais simples, organizadora e conhecida: o ciúme. A característica traumática do evento, então, desapareceu, supomos, justamente pelo sentido atribuído ao evento e pelo retorno dos ajudantes de tradução.
Considerações finais
Neste artigo, procuramos investigar como ocorreu a exposição pela mídia de um caso de violência que ganhou grande repercussão nacional, ficando conhecido como o caso Isabella. Da mesma forma, buscamos também compreender por que tal exposição midiática atraiu um público tão amplo, que se comoveu, que se indignou e que acompanhou a narrativa do caso até o julgamento do casal acusado pela morte da menina em março de 2010.
Nas análises, chegamos à suposição de que o assassinato de Isabella, um caso de filicídio, além do gozo e de seu recalcamento, gerou mensagens enigmáticas com capacidade para desconstruir momentaneamente as traduções já feitas, com auxílio dos ajudantes de tradução mito-simbólicos em torno da criança e da família, o que seria muito ameaçador, isto é, ameaçaria com um excesso; este último seria causado pela iminência de um desligamento do sexual infantil das tradicionais narrativas edípicas. A falta de sentido experienciada frente à ação do casal Nardoni contra Isabella teria, pois, conduzido os espectadores às proximidades do terreno do trauma, mas a mídia, a partir da narrativa que foi construindo pouco a pouco, buscou dar um sentido para o caso, o ciúme, por exemplo, historizando e reforçando, como dissemos, modelos de compreensão já consagrados, como família (pai, mãe, filha, madrasta), crime, vingança, justiça/impunidade, bem e mal, religião, etc., afastando, de modo geral, a possibilidade de trauma.
O discurso, ou narrativa midiática, sobre a violência tem, supomos, assim como o sonho, a função de elaborar traumas e/ou ameaças de traumas diários dos espectadores, sendo que só depois que esses traumas ou ameaças diários são elaborados é que surge a função desejo, ou melhor, a função de realizar imaginariamente desejos para os espectadores, que gozariam com os conteúdos de violência veiculados.
No entanto, a narrativa midiática sobre a violência, além da função historizante, organizadora e propiciadora de gozo, é a exemplo do caso Isabella, uma estratégia de sedução dos espectadores, pois ela veicula mensagens sexuais - sobretudo a violência15- para os espectadores, reativando seus possíveis fantasmas (LAPLANCHE, 2003).
A sedução da mídia é em parte consciente e premeditada, pois busca agradar, entreter, cativar e, ocasionalmente, até cuidar do espectador. Mas, mesmo assim é em grande medida inconsciente. Como a sedução (generalizada) do adulto em relação à criança, tal como é descrita pela TSG, em que o primeiro não sabe (não sabe que sabe) que envia mensagens sexuais à segunda, provocando, mesmo, reações inesperadas, como a própria sexualidade infantil16, também a sedução pela mídia, a partir do seu discurso e narrativa, não parece ser exatamente consciente, pois as mensagens que produz veiculam, quase todo o tempo, o sexual, mesmo que isso ocorra a partir de temas que parecem não portar um tal conteúdo, como a violência, por exemplo ver
(GUTIÉRREZ-TERRAZAS, 2004; LAPLANCHE, 2004).
Os espectadores também manifestam reações "inesperadas", como, por exemplo, gostar (gozar) da violência, por ela também remeter ao sexual, no caso a um sexual polimórfico-perverso. Trata-se, então, seguramente, de uma resposta sexual a uma mensagem sexual. Porém, ocasio nalmente os espectadores também demonstram outras reações, no mínimo, "impróprias", como a atuação dessa sexualidade/violência, tal como se pode ver na reação popular agressiva e violenta contra os Nardoni, seus familiares e advogados.
Por fim, é interessante notar que a mídia, de modo geral, porém especialmente a televisiva por alcançar de maneira instantânea grande parte da população, tem buscado ocupar um papel de promotora de justiça, a partir de um jornalismo dito investigativo ou de programas que têm como foco fazer denúncia de irregularidades nas esferas do público e do privado, almejando restituir assim a lei, a lei, como dissemos, de um pai falido, quando ocorre um crime. No entanto, como anteriormente abordado, somente a justiça na figura, por exemplo, do juiz, dos jurados, da sentença, pode restaurar a ordem simbólica, substituir esse pai que falhou, sendo então o terceiro elemento interditor. No entanto, a realidade mostra que a justiça não chega a todos e não se faz presente em relação a todos os crimes praticados pelos homens, ou ainda, ela tem seu próprio ritmo de tempo para se concretizar na realidade. Nessa lacuna, entre a queda e a possível restituição da lei, entra então a mídia, ora se mostrando como a única solução para que as autoridades se sintam pressionadas a darem uma resposta mais rápida para os casos, ora se antecipando a própria justiça e decretando sua própria visão do que é justo ou injusto, do que é certo ou errado, na maioria das vezes, interpretando de forma rígida as situações, funcionando, portanto, mais como vingança do que como justiça, pois geralmente não há espaço para o contraditório, para outras interpretações, outras versões, principalmente daqueles que estão sendo acusados. Para os espectadores, pode não restar alternativa, sendo que frequentemente é mais satisfatória uma interpretação dos fatos do que nenhuma, ainda mais se essa interpretação concorrer para a realização de desejos sexuais/agressivos por parte dos espectadores, fato que, coincidentemente, na maioria das vezes, sobrevém.
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Artigo recebido em: 10/10/2014
Aprovado para publicação em: 07/04/2014
Endereço para correspondência
Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto
E-mail: garmneto@gmail.com
Telry Shodyi Nakamura
E-mail: telrynakamura@hotmail.com
*Psicanalista, prof. doutor Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá-UEM (Maringá-PR-Brasil).
**Psicólogo, mestre Psicologia/Universidade Estadual de Maringá-UEM (Maringá-PR-Brasil).
1O Brasil tem um nível bastante alto de homicídios. Somente em 2012 registrou-se 64,3 mil mortes por assassinato, o que deu ao país, em termos numéricos, a liderança absoluta no contexto mundial. Ver http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-maior-numero-absoluto-de-homicidios-do-mundo,1604827.
2O artigo é parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Civilização (LEPPSIC/UEM), que tem abrigado nos últimos anos projetos cujo tema principal tem girado em torno do Trauma atual, interpretado a partir da linha de psicanálise conhecida como Teoria da Sedução Generalizada (TSG), iniciada por Jean Laplanche. O trabalho tem que ser considerado nesse contexto.
3Segundo informações encontradas no endereço eletrônico http://www.novabrasilfm.com.br/radar/2008-05-15/caso-isabella-ganha-repercussao-na-imprensa-internacional/, o caso Isabella foi tema de uma crônica intitulada O sorriso de Isabella assombra o Brasil, veiculada no site do jornal francês Le Monde à época do crime.
4Segundo Laplanche (2003), o termo "ajuda à tradução" foi proposto por Francis Martens.
5Ver, por exemplo, revistas Época de 7 de abril de 2008, Veja de 09 e 23 de abril de 2008. Também em Jornal Nacional de 12 de abril de 2008 - http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/policia-ouve-depoimentos-de-vizinhos-no-caso-isabella/814960/, Fantástico de 20 de abril de 2008 - http://www.youtube.com/watch?v=xkoBlCjLX6w, Jornal das Dez de 17 de junho de 2008 - http://globotv.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/v/testemunhas-de-acusacao-prestam-depoimento-sobre-o-caso-isabella/842858/, - e nos endereços eletrônicos: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1533002-15528,00-, http://www.istoe.com.br/reportagens/318426_CASO+ISABELLA+SURGE+UMA+OUTRA+VERSAO.
6O pai de Anna Carolina Jatobá, a madrasta, tinha o mesmo primeiro nome do marido dela, no caso, Alexandre Jatobá. Já Anna Carolina tinha o mesmo primeiro nome de sua própria mãe, no caso, Anna Lucia Trotta Peixoto Jatobá.
7Ver por exemplo Revista Época, 7 de abril de 2008, p.88-89: 1932 - O sequestro do bebê Lindbergh, 1973 - O caso Carlinhos, 1994 - A mãe que afogou os filhos, 2001 - Depressão pós-parto, 2007 - Caso Madeleine.
8É verdade que essa universalidade é contestada, mas, mesmo assim, a ideia de complexo de Édipo vem prestando grandes serviços à psicanálise.
9O casal até hoje se diz inocente. Ver, por exemplo: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1533002-15528,00 - http://www.istoe.com.br/reportagens/318426_CASO+ISABELLA+SURGE+UMA+OUTRA+VERSAO.
10Ver, por exemplo, Jornal da Globo de 07 de maior de 2008 - http://www.youtube.com/watch?v=HNYLkF1am7Q.
11Trechos das cartas de Alexandre Nardoni, Anna Carolina Jatobá e Cristiane Nardoni, lidas no Jornal Hoje em 03de abril de 2008: http://globotv.globo.com/busca/?q=isabella+nardonii&=buscar.
12Ver, por exemplo, Jornal Nacional de 29 de maio de 2008 - http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/pai-e-madrasta-de-isabella-caem-em-contradicao-durante-depoimento/834108/.
13Ver, por exemplo, Jornal Nacional de 06 de maio de 2008 - http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/promotor-pede-prisao-preventiva-do-pai-e-madrasta-de-isabella/824331/.
14Ver em: http://globotv.globo.com/rede-globo/retrospectiva/v/historias-aterradoras-entre-quatro-paredes/941260/.
15Em entrevista concedida a Marta Cardoso, publicada em 2004, Laplanche não teve dúvidas em afirmar que a violência é algo de natureza sexual. Vejamos um trecho: "Marta (M.) - O Sr. acha que a psicanálise pode contribuir para uma reflexão sobre a violência - fenômeno que vem ganhando cada vez mais importância atualmente?
Laplanche (L.) - Claro, penso que ela tem uma contribuição importante a dar: não deixar esquecer que a violência é sempre sexual. Para mim este é o ponto principal: os aspectos da violência que, aparentemente, são dessexualizados, têm sempre um fundamento sexual - tanto na violência individual quanto na coletiva, as guerras, os massacres, etc. (Entrevista de Marta Rezende Cardoso com Jean Laplanche, in Limites, 2004)".
16Que, espantosamente, é negada até hoje, de modo geral.