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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.19 no.3 São Paulo dez. 2014

https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v19i3p396-397 

Editorial

 

 

Estilos da clínica traz em seu terceiro fascículo de 2014 um dossiê sobre estilos de tratar o sofrimento psíquico e os problemas da infância, bem como suas diferentes possiblidades terapêuticas.

Ferreira e Abrão abrem esse número apresentando as importantes contribuições de Francis Tustin, psicoterapeuta de orientação psicanalítica amplamente reconhecida por sua efetividade terapêutica com crianças autistas e psicóticas, que considerou de suma importância entender a natureza e a função dos objetos e formas autísticas como elementos essenciais do tratamento dessas crianças.

Em sua prática clínica com crianças autistas, Tustin percebeu o uso persistente e idiossincrático de certos objetos, que denominou objetos autísticos e notou que, se de um ponto de vista realístico eram utilizados de forma inútil e sem sentido, do ponto de vista da criança, no entanto, eram absolutamente essenciais.

Os autores apresentam as contribuições clínicas de Tustin acerca desse encapsulamento autogerado pelas crianças autistas (com a utilização de objetos e formas autísticos) indicando uma possível forma de compreender e adentrar o mundo dessas crianças e, talvez, promover alguma mudança nele.

Goretti, Almeida e Legnani apresentam uma discussão e uma análise, de orientação psicanalítica, do atendimento a bebês por duas professoras do Programa de Educação Precoce oferecido pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, em que é possível observar os lugares diferenciados que ambas atribuíam à relação mãe-bebê na intervenção profissional.

As autoras destacam que a psicanálise pode apresentar-se como um aporte conceitual relevante para os profissionais que atuam nos campos da saúde e da educação.

No trabalho de Sobral e Viana, temos uma reflexão a respeito da relação entre a fala criativa das crianças e os efeitos poéticos, a partir de recortes da clínica psicanalítica com crianças.

As autores indicam que a clínica psicanalítica com crianças abre espaço para a construção de narrativas que veiculam algo do universo psíquico da criança sendo, portanto, um dispositivo que possibilita, entre palavras e brincadeiras, que a criança possa emergir como sujeito de sua própria história.

Bialer apresenta um interessante trabalho que discute e analisa a literatura produzida por autistas e observa que esses testemunhos falam da vontade de muitos autistas de romper com as barreiras de autoproteção, uma vez que a escrita e a publicação de textos autobiográficos são descritas como uma experiência de ser escutado sendo, portanto, uma experiência potencialmente autoterapêutica.

A autora ressalta que além do importantíssimo trabalho elaborativo realizado por meio dessa escrita autobiográfica, tais literaturas sinalizam a importância dos terapeutas, do campo da psicologia e da psicanálise, debruçarem-se sobre a riqueza desse material clínico que fornece indícios das possibilidades terapêuticas e dos caminhos viáveis para o tratamento.

Temos, assim, um dossiê que ilustra diferentes estilos da clínica, pois representam recortes singulares e propõem maneiras específicas de intervir e suas possibilidades terapêuticas.

 

Marise Bastos
Editora executiva