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Cógito

versão impressa ISSN 1519-9479

Cogito vol.12  Salvador  2011

 

EDITORIAL

 

O tempo da psicanálise

 

Carlos Pinto Corrêa

Comissão Editorial

 

 

Dizer que o inconsciente é atemporal, ou como disse Freud em 1915 que o inconsciente ignora o tempo, pode sugerir, em princípio, que ele estaria livre de uma das mais importantes limitações naturais do homem. Na verdade, este atemporal nos mostra que ele possui, a um só tempo, todos os tempos, como se, em vez de ser um atributo ou uma disponibilidade, como no plano consciente, fosse uma fruição permanente. Assim, os acontecimentos, épocas, ou lembranças, em vez de sucessões, se sobrepõem a uma concomitância difícil de ser pensada.

Sem essas condições excepcionais do inconsciente, o exercício da psicanálise, a relação transferencial ou a posição do sujeito analista ou cliente estão impregnados das limitações temporais (tempo de análise, de formação, de sessão, de interpretar ou timing, além das vinculações históricas do sujeito em análise com todas as suas limitações temporais).

Filosoficamente, também se tem tomado o tempo como circunstância, aquilo que desaparece ante o acontecimento em si. Aqui, desgraçadamente, vamos à conceituação do filósofo-dicionarista Lalande, que o entende como o período que vai de um evento anterior a um evento posterior, ou seja, um intervalo subjacente que nada é em si. Em rumo mais elementar, associamos: duração, período, decurso, transcurso, prazo, fase, lapso, formando nosso próprio dicionário analógico.

Para nós psicanalistas, outro bom caminho para reflexão sobre o tema está em Santo Agostinho, que o identifica com “a própria vida da alma” que se estende para o passado, que não existe mais, ou para o futuro que ainda não existe. Um tema abrangente para a XXIII Jornada, que inclui até nossa temporalidade como instituição, ou a psicanálise na Bahia. Resumindo, a implicação da psicanálise, ou nossa implicação com o tempo, na sábia definição de Pitágoras: o tempo como “a esfera que abrange tudo”.