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Psic: revista da Vetor Editora
versão impressa ISSN 1676-7314
Psic v.6 n.1 São Paulo jun. 2005
ARTIGOS
Ficar ou namorar: um dilema juvenil
Staying together or dating: a teenagers dilemma
Estar o noviazgo: un dilema juvenil
Jardel Silva Oliveira de Jesus1
Faculdade Pio Décimo, Aracajú
RESUMO
Assim como a sociedade atual, os relacionamentos amorosos entre os adolescentes estão sempre sofrendo modificações. Com tantas mudanças, eles ficam inseguros na hora de escolher uma forma de relacionamento afetivo. A vigente pesquisa foi realizada com 38 adolescentes, de ambos os sexos, na cidade de Aracaju, SE, e tem como objetivo principal verificar a forma de relacionamento que mais atrai os jovens na atualidade e os motivos esses atribuem para essa escolha. Verificou-se que os adolescentes preferem, em um primeiro momento, ficar para em seguida poder vir a concretizar um namoro. Assim, o ficar seria o ponto inicial para estabelecer um compromisso mais sério. É possível observar também uma forte preocupação com a aparência física entre os jovens, o que nos instiga para a elaboração de outras pesquisas visando a tal assunto.
Palavras-chave: Relacionamento, Adolescentes, Escolhas.
ABSTRACT
As the present society, the loving relationships among teenagers are in a constant change. With so many changes, they become insecure at the moment of choose an affective relationship. Thirty-eight teenagers, male and female, of city of Aracaju, State of Sergipe (Brazil), were investigated, and the objective was to verify what kind of relation most attracts these young people nowadays and the reasons why they choose it. The outcomes have showed that teenagers would rather keep a quick and non-steady relationship so they can go dating later. Thus this non-steady relationship is the beginning for the date. The look has also a great value among the youth and this could be an interesting subject for further researches.
Keywords: Relationship, Teenagers, Choices.
RESUMEN
De la misma forma que la sociedad actual, los relacionamientos amorosos entre los adolescentes han estado siempre sufriendo modificaciones. Con tantos cambios ellos muestran inseguridad a la hora de elegir una forma de relacionamiento afectivo. Esta investigación ha sido realizada con 38 adolescentes de ambos sexos en la ciudad de Aracajú, SE, y ha tenido como objetivo principal verificar la forma de relacionamiento que más atrae a los jóvenes en la actualidad y los motivos que ellos atribuyen para esa elección. Se ha verificado que los adolescentes han preferido, primeramente, "ficar" para después poder concretar un noviazgo. Así, "ficar" seria el punto inicial para establecer un compromiso más sério. Ha sido posible observar también entre los jóvenes una preocupación fuerte con la apariencia física, lo que incita a la elaboración de otras investigaciones sobre el tema.
Palabras clave: Relacionamiento, Adolescente, Elección.
Introdução
A sociedade atual está em estado de mutação constante. Termos novos são criados, termos antigos são reinterpretados. Não há verdades absolutas e sim opiniões e verdades particulares. Cada ser é um universo, dizem, e todos devem criar para si os seus próprios padrões e verdades. Jovens e adolescentes estão sendo formados nessa sociedade mutante. Os conceitos aprendidos em família não sobrevivem à avalanche de deseducação encabeçada pela mídia e pelos formadores de opinião. A sociedade impõe modelos que deverão ser seguidos. Aquele que não se adequar ao sistema, será considerado como anormal. Desse modo, implica também as relações interpessoais que se estabelecem de uma forma cada vez mais superficial e com interesses particulares. Isso é igualmente válido para o lado afetivo do jovem.
O Minidicionário Luft define namorar como procurar inspirar amor a, cortejar, galantear; ser namorado de; apaixonar-se, enamorar-se, possuir-se de amor; andar em namoros com alguém. Até pouco tempo atrás, o namoro era algo pré-nupcial, com regras bem-definidas e padrão comumente aceito. Alguém, ao sentir-se atraído por outrem do sexo oposto, procurava-o, propondo-lhe namoro. Esse consistia em encontros constantes, com diálogos sobre os dois, momentos de romance, abraços e beijos limitados, com considerável reserva e planos para o futuro.
Com o advento da era pós-Beatles (conjunto de rock-and-roll inglês, que revolucionou a cultura ocidental após a década de 1960) e o desenrolar do movimento Hippie (jovens americanos que lutavam pela liberação das drogas, extinção da família e amor livre), o namoro sofreu grandes mutações. Seus limites foram ampliados. Os encontros passaram a acontecer sem o consentimento dos familiares. No seu bojo as carícias íntimas e os atos pré-sexuais encontram espaço livre.
Na década de 1980, a chamada amizade colorida entrou em ação. Tratava-se de algo diferente do namoro. Rapazes e moças mantinham encontros libidinosos, com o compromisso de não terem quaisquer compromissos! Com o passar dos anos o namoro continuou em processo de mutação.
Assim, uma nova modalidade de namoro surgiu. Como a adolescência é uma idade instável, o desejo de independência e liberdade provocou um novo tipo de relação: o Ficar.
Assim, esta pesquisa tem por objetivo verificar, nas palavras e nas respostas de adolescentes, a preferência por um relacionamento casual e momentâneo, no caso ficar, ou por um relacionamento concreto e duradouro, no caso namorar.
A prática do ficar teve seu advento nos anos 1990. O ficar é um encontro de um dia ou uma noite que pode ir de uma simples troca de beijos a uma relação sexual, define a psicóloga carioca Jacqueline Chaves (1994, p. 12), autora de o livro Ficar com: um novo código entre jovens. O ficar pode ser interpretado como sendo:
Um código de relacionamento marcado pela falta de compromisso e pela pluralidade de desejos, regras e usos. O objetivo principal é a busca de prazer (...) Ficar com é a maneira mais fácil de chagar perto de um outro sem se comprometer. É um exercício da sedução (Chaves, 1994, p. 12).
Esse tipo de relacionamento, em geral, acaba não passando de beijos e carícias. Mas quando a garota se torna mais velha, eventualmente ela continua ficando, só que em estágios mais adiantados. Contudo, para fins didáticos, abordaremos o ficar como sendo um relacionamento sem compromissos e também sem sexo, pois, como afirma Tiba (1994), os jovens ficantes raramente estão maduros para a vida sexual.
Segundo Stengel (2003), a mídia tem veiculado com insistência que o ficar é um relacionamento bem-difundido e natural entre os adolescentes. A massificação e generalização de conceitos apresentados pela mídia tomam essa naturalidade como verdade absoluta e característica imprescindível do adolescer, não levando em consideração as peculiaridades de todo o processo subjetivo e também cultural que envolve o relacionamento entre os jovens.
A modernidade valoriza o consumo como modo ativo de relação, não somente com os objetos, mas com a coletividade e o mundo (...) Não interessa o valor dos objetos ou mesmo a sua importância ou necessidade, o que importa é tê-los ou fingir que os têm (...) Essa situação atribui-se também às pessoas, tornando-as objetos de consumo, e estende-se às relações afetivas. A partir da descrição desse quadro, podemos entender o ficar como uma forma de consumismo, pois é um relacionamento fugaz e com uma troca sucessiva de parceiros (Stengel, 2003, p. 72).
Assim, entendemos a modernidade como um processo de individualização, reflexo imediato de uma sociedade segregacionista e imediatista como a nossa, que nos autoriza a tomar o outro como extensão de nós mesmos em prol da realização de nossos desejos e ambições, reforçando a inexistência da singularidade do outro, apontada por Chaves (1994), já que no ficar, o parceiro deixa de existir como singular, pois o consumismo iguala o diferente. O importante é ficar.
Onde tudo começa: o flerte
O alisar dos cabelos com as mãos, um olhar insinuante, uma súbita piscada de olhos. Esses são, entre outros, os movimentos mais conhecidos do emocionante jogo do flerte, que fazem parte do repertório da conquista entre os jovens. O flerte sempre antecede aos namoros e até mesmo o ficar.
Cada pessoa tem uma forma específica de cortejar, fazendo parte de sua ontogênese, como sendo tudo o que o individuo recebe do meio ambiente, fazendo parte de sua cultura pessoal. É uma espécie de aprendizagem por experiência vivida. Dependendo da forma de criação e das regras impostas ao indivíduo, esse terá mais espontaneidade ou não para o cortejamento do outro.
É essa particularidade que transforma esse jogo emocionante, pois nunca temos a certeza e uma previsão exata da resposta que será emitida pela outra pessoa. Para Tockus (1986), esse ensaio nos dá maior segurança para enfrentar a realidade. É assim que o jovem treina seu novo papel sexual. Mas no caso do flerte, não adianta você tentar predizer a cena, mas sim, ser o mais espontâneo que puder.
O flerte humano é uma espécie de ritual (ou será arte?), que também pode ajudar na compreensão das relações humanas. Além do mais, parece evidente que uma pessoa, que consegue vivenciar diversas situações bem-sucedidas de cortejamento, passe a ter pontos favoráveis em sua auto-estima e, como conseqüência, ocorre um aumento na probabilidade de seleção de um parceiro que venha de acordo com as suas expectativas e necessidades amorosas.
Atração interpessoal
Os fenômenos de atração dizem respeito aos componentes afetivos das relações sociais, em particular, às atitudes, às emoções e aos sentimentos positivos que experimentamos na relação com os outros (Alferes, 2000). Pfromm Netto (1976) descreve que durante os anos da adolescência cresce nos meninos e nas meninas a atração pelo outro sexo e, gradualmente, a ligação afetuosa com alguém do mesmo sexo e a adoração do herói (Elkind, 1972; Busemann, 1988) cedem lugar ao desejo de estar junto a um companheiro do sexo oposto, mais ou menos da mesma idade.
Com o desenvolvimento da atração entre os sexos e da necessidade de união com o outro pólo sexual, normalmente um membro do sexo oposto passa a ser objeto de amor do adolescente.
Estudos realizados por Berscheid e Walster (1973), afirmam que a atração interpessoal não envolve somente quem atrai, como também quem é atraído, e que, quanto mais atraente a pessoa, mais atraente, elegante e delicado espera que seja o seu par.
Embora as qualidades e o comportamento de outra pessoa desempenhem um grande papel na determinação do fato de a considerarmos atraente ou não, os pesquisadores verificaram que os olhos do espectador são tão importantes quanto aquilo que é observado. Para conseguir exatidão de predição na atração interpessoal, precisamos indicar as qualidades do atraído bem como as do atraente (Berscheid & Walster, 1973, p. 1).
No mesmo estudo, foi verificado que a atração física seria um fator primordial para determinar a atração no primeiro encontro. Nas palavras do autor, quanto mais atraente o indivíduo, independentemente de sexo, mais seu par gostava dele, e mais freqüentemente dizia que desejava encontra-lo novamente (Berscheid & Walster, 1973, p. 111).
Relação entre ficar e namorar
Tiba (1994) conceitua o ficar como sendo um relacionamento no qual um rapaz e uma garota ficam juntos sem assumir quaisquer compromissos de que no dia seguinte ainda estarão juntos novamente. Assim, a falta de compromisso é a marca registrada do ficar. A pessoa só fica quando está a fim, não precisa estar apaixonado(a) e nem cair de amores pela outra pessoa, já que não existe compromissos. O ficar é o namoro corporal sem compromisso social (Tiba, 1994, p. 90). Diferentemente do ficar, o namoro é visto, em nossa cultura, como uma relação afetiva constante e duradoura, tendo o compromisso como o elo de ligação e a afetividade sempre presente.
Há alguns anos, o namoro iniciava-se a partir de uma série de passos e regras a serem cumpridas, mas, hoje em dia, os costumes mudaram e, conseqüentemente, as regras, não indicando que elas deixaram de existir. Ao contrário, instituiu-se um instrumento a mais para incrementar os relacionamentos entre os jovens.
O ficar é um ato que tem muita influência sobre o namoro nos dias de hoje. Beijar e trocar carícias com alguém, sem ter compromisso algum, é uma forma mais que atual de procurar a pessoa ideal para namorar, sendo uma espécie de test drive para encontrar o parceiro ideal. Pfromm Netto (1976) afirma que o namoro geralmente começa com experiência pouco duradouras e superficiais de contato entre os jovens, pois para manter vínculos duradouros é necessário maturidade e experiência (Montgomery, 2000). Assim, Busemann (1988) descreve que no namoro, a garota é cortejada inequivocamente como companheira amorosa, mas sem o elemento do definitivo, como acontece no caso do matrimônio. Dessa forma, a instituição do namoro, em nossa sociedade, é o veículo tradicional para fomentar os relacionamentos heterossexuais (Mussen, Conger, Kagan & Huston, 2001).
Método
Participantes
A pesquisa foi realizada com 38 adolescentes do sexo masculino (50%) e feminino (50%), com uma média de idade em torno de 15 anos. Todos estudavam em uma escola de ensino médio na cidade de Aracaju, SE.
Procedimentos
Os pesquisadores foram ao encontro de sua população no Colégio Ofenísia Freire, situado na Rua Aloísio Braga, n. 466, no bairro Índio Palentim, onde fizeram a abordagem em sala de aula, com prévia autorização da direção do colégio. A pesquisa se baseou na coleta de dados obtidos pela aplicação de um questionário individual (ver Anexo), com questões abertas e fechadas, em sala de aula.
Resultados
Pensando em facilitar a leitura e para não tornar prolixa a apresentação dos resultados da pesquisa, foram utilizadas de tabelas que mostram a variedade das respostas dos adolescentes entrevistados e sua freqüência em percentil. Todas as respostas foram categorizadas de acordo com a análise de seus conteúdos, podendo, dessa forma, uma resposta se contrapor a outra, não influenciando no resultado do trabalho, já que se prioriza aquelas que foram mais consistentes durante o processo de categorização.
Primeiramente foi questionado qual o conceito de namoro para os adolescentes. Pela Tabela 1 observa-se que foi obtida uma grande variedade de respostas, tendo como mais citadas: amar com 19,3%, gostar e confiar com 14,0%, compartilhar sentimentos com 12,3% e relacionamento sério com 10,5%.
Segundo os adolescentes participantes da pesquisa, a aparência física (44,6%) e a conversa (39,5%) eram as qualidades que mais lhes causavam atração numa pessoa, seguidas pela cultura (15,9%). A relação entre atração e status não foi encontrada nessa pesquisa.
A grande maioria desses jovens é fiel em seus relacionamentos (52,6%), mas em alguns casos encontramos a traição por causa da beleza do outro (28,9%). É interessante observar que mesmo com a pouca idade entre os alunos (média: 15 anos) apenas 13,2% ainda não namoraram ninguém e poucos cometem a traição com freqüência em seus relacionamentos (5,3%).
Esses relacionamentos costumam durar mais ou menos um ano (63,1%), encontrando poucos casos de três meses (15,8%) ou três semanas (13,2%). Nesse questionamento, três jovens não deram sua resposta, correspondendo a 7,9% da amostra geral.
Posteriormente foi questionado sobre o conceito do ficar entre os adolescentes, conseguindo uma gama de respostas, sendo as categorias beijar sem compromisso (34,8%) e relacionamento momentâneo (21,8%) as que mais se confirmaram na pesquisa, conforme Tabela 2. Em uma situação particular e individual, os adolescentes preferem ficar e depois namorar na maioria dos casos (55,3%). Por outro lado, encontramos também aqueles que preferem somente ficar (18,4%), apenas namorar (13,2%) e aqueles que não tinham uma idéia formada sobre sua preferência (13,2%).
A questão seguinte consegue reforçar essa categoria mais consistente, pois no caso de ficar com alguém, 84,2% trocam os números do telefone, o que nos dá uma idéia de um possível interesse para marcar um reencontro, que poderá acarretar no namoro. Em apenas 7,9% dos casos, eles pegam somente o telefone da outra pessoa ou não indicam o seu número.
O ficar tem uma forte dependência com a outra pessoa (44,7%) e a minoria fica somente por ficar (15,8%), conforme Tabela 3. A principal razão, porém, que leva uma pessoa ficar com outra, para os jovens questionados, é a aparência física (33,3%), seguida pela conversa (18,3%), o que pode ser observado na Tabela 4.
Em uma visão social, todos os adolescentes da pesquisa acreditam que atualmente os jovens preferem o ficar; isso pode ser verificado em várias respostas, seja por não aceitarem compromissos pela falta de responsabilidade (37,7%), por acreditarem ser melhor um relacionamento que não seja sério como o namoro (20,0%), pela preferência em apenas curtir (13,3%), por não se interessar realmente por alguém (4,5%), por motivos de traição (4,5%), por falta de maturidade (4,5%) ou pelo prestígio social que o instituído ficar desencadeia (2,2%). Nesse questionamento, seis jovens opinaram sobre a preferência dos adolescentes no hoje, mas não indicaram suas possíveis causas, correspondendo a 13,3% da amostra geral.
Discussão
Tiba (1997) afirma que a adolescência é o grande salto para a maioridade. É quando o corpo assume novas funções sexuais, a mente se desenvolve, ao mesmo tempo em que se modifica o ambiente de vida e se transformam as sensações afetivas. Dessa forma, os jovens de hoje se encarregam de criar uma maneira de se iniciar no jogo entre os sexos de uma forma inovadora: com mais afeto e menos responsabilidades.
A vigente pesquisa veio afirmar e confirmar nossas hipóteses de que atualmente os jovens estão preferindo relacionamentos passageiros e sem compromissos reais, e além disso podemos afirmar que a falta de assumir alguma responsabilidade é o fator central para os adolescentes quererem o ficar do que o namorar. Outro dado confirmado pela pesquisa é que o ficar como um ato que influencia e culmina em namoro. O ficar sem compromisso pode vir a se tornar um namoro sério e comprometido. Assim conseguimos cobrir o nosso objetivo principal que foi observar a preferência do jovem na sociedade em optar por uma forma de relacionamento amoroso.
Um dado que nos oferece uma preocupação maior e que pode ser fonte de uma possível pesquisa é a grande e constante preocupação pela aparência física nos jovens. Essa intensa preocupação com a beleza também foi relatada no trabalho de Márcia Stengel, na dissertação defendida no Programa de Mestrado em Psicologia Social da UFMG, e posteriormente adaptada para uma versão em livro: Obsceno é falar de amor? As relações afetivas dos adolescentes (2003). Anterior a esse, no trabalho realizado por Berscheid e Walster (1973), identificou-se a atração física como principal fator que determina um relacionamento interpessoal. Nos três trabalhos referenciados, os adolescentes entrevistados não fogem à regra e valorizam a beleza, tornando-se esse um critério de escolha do parceiro para ficar.
Esse comportamento pode ser resultado de uma sociedade capitalista, com a visão no ter, dando um valor material para as pessoas, adotando relações cada vez mais superficiais, nas quais a beleza é mais valorizada do que o próprio ser em sua essência. Isso institui o ficar como sendo o melhor, sempre acentuando a coisificação do outro. Pensando assim, o ficar também pode ser compreendido como reflexo das transformações culturais, pois nossa sociedade está cada vez mais individualista, competitiva e hedonista. Atualmente presenciamos um momento em que tudo é provisório e substituível, dos bens materiais aos afetivos.
Com relação a essa preocupação com a beleza, Elkind (1972) descreve que o fato de acreditar que os outros estão preocupados com sua aparência e seu comportamento constitui o egocentrismo do adolescente. Em conseqüência desse egocentrismo é que, em situações reais e iminentes, o jovem antecipa para si mesmo as reações de outras pessoas. Tais antecipações, entretanto, baseiam-se na premissa de que os outros são tão admiradores ou tão críticos do jovem como ele o é de si mesmo (Elkind, 1972; Alferes, 2000).
Então, com relação a essa preocupação intensa com a aparência física, nada mais original do que finalizar nosso trabalho expressando as idéias de Montgomery (2000) de que a preocupação com a beleza se torna tão intensa que acaba por tomar ao pé da letra o verso do poeta As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental. Principalmente quando se trata dos adolescentes de hoje.
Referências
Alferes, V. R. (2000). Atracção interpessoal, sexualidade e relações íntimas. In: J. Vala e M. B. Monteiro (Coord.). Psicologia Social (pp. 125-158). Lisboa: Fundação Calouste Guebenkian. [ Links ]
Berscheid, E. & Walster, E. H. (1973). Atração interpessoal. São Paulo: Edgard Blucher. [ Links ]
Busemann, A. (1988). Psicologia da segunda infância e da idade juvenil. Em D. Katz, J. Piaget, B. Inhelder & A. Busemann. Psicologia das idades (pp 67-95). São Paulo: Manole. [ Links ]
Chaves, J. (1994). Ficar com: um novo código entre os jovens. Rio de Janeiro: Revan. [ Links ]
Elkind, D. (1972). Crianças e adolescentes: ensaios interpretativos sobre Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar. [ Links ]
Montgomery, M. (2000). Dez amores. São Paulo: Gente. [ Links ]
Mussen, P. H., Conger, J. J., Kagan, J. & Huston, A. C. (2001). Desenvolvimento e personalidade da criança. São Paulo: Harbra. [ Links ]
Pfromm Netto, S. (1976). Psicologia da Adolescência. São Paulo: Pioneira. [ Links ]
Stengel, M. (2003). Obsceno é falar de amor? As relações afetivas dos adolescentes. Belo Horizonte: PUC-Minas. [ Links ]
Tiba, I. (1994). Adolescência: o despertar do sexo. São Paulo: Gente. [ Links ]
Tiba, I. (1997). Sexo e adolescência. São Paulo: Ática. [ Links ]
Tockus, R. B. (1986). Sexualidade nos dias de hoje: o sexo sem preconceitos. São Paulo: Agora. [ Links ]
Endereço para correspondência
E-mail: jardel.soj@bol.com.br
Recebido: maio/2005
Reformulado: junho/2005
Aprovado: junho/2005
Sobre o autor:
1 Jardel Silva Oliveira de Jesus é graduando do quarto ano de psicologia, Faculdade Pio Décimo de Aracaju, SE.
ANEXO