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Pesquisas e Práticas Psicossociais
versão On-line ISSN 1809-8908
Pesqui. prát. psicossociais vol.15 no.3 São João del-Rei jul./set. 2020
Ciência no feminino e narrativas de pesquisa: PesquisarCOM e a artesania na pesquisa1
Science in the Feminine and Research Narratives: ResearchWITH and Crafts in Research
La ciencia en femenina y narrativas de investigación: InvestigarCOM e a artesanía en investigación
Marcia Oliveira MoraesI; Laura Cristina de Toledo QuadrosII
IDoutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do CNPq. Faperj: Cientista do Nosso Estado. E-mail: mazamoraes@gmail.com
IIDoutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde atua na graduação e como colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. E-mail: lauractq@gmail.com
RESUMO
Compartilharemos narrativas de pesquisa baseadas em nossa prática como pesquisadoras. Entendemos que narrar, pesquisar e tecer são processos entrelaçados que nos lançam em ações peculiares e imprevisíveis no encontro com o campo de pesquisa. A pesquisa é uma prática arriscada, envolve transformações que se constituem como um fazer artesanal e uma política ontológica: se não existe uma realidade dada de antemão, que realidades são realizadas com nossas práticas de pesquisa? Para que e para quem produzimos conhecimento? Discutiremos políticas de pesquisa a partir de um conhecimento local, situado e encarnado. Assim, compartilharemos o que produzimos em nossos grupos de pesquisa. Nossas produções científicas estão entrelaçadas como uma rede de conexões e afetações, guiadas pelo PesquisarCOM, ou seja, por uma maneira de fazer pesquisas que se entrelaçam com os outros e não sobre eles. Enfatizamos essa experiência como uma forma de fazer ciência no feminino e entendemos esse fazer como artesanal.
Palavras-chave: Ciência no feminino. Fazer artesanal. PesquisarCOM. Narrativas de pesquisa
ABSTRACT
We will share research narratives based on our practice as researchers. We understand that narrating, researching and weaving are intertwined processes that throw us into peculiar and unpredictable actions in the encounter with the research field. Research is a risky practice, it involves transformations that constitute a craft and an ontological policy: If there is no reality given beforehand, what realities are accomplished with our research practices? For what and to whom do we produce knowledge? We will discuss research policies based on local knowledge, situated and embodied. Therefore we will share what we produce in our research groups. Our scientific productions are intertwined as a network of connections and affectations, guided by ResearchWITH, that is, a way of doing research that intertwines with others and not about them. We emphasize this experience as a way of doing science in the feminine and we understand this process as crafted.
Keywords: Science in the feminine. Process as craft. ResearchWITH. Research narratives.
RESUMEN
Compartiremos narrativas de investigación basadas en nuestra práctica como investigadores. Entendemos que narrar, investigar y tejer son procesos entrelazados que nos lanzan a acciones peculiares e impredecibles en el encuentro con el campo de investigación. La investigación es una práctica arriesgada, implica transformaciones que constituyen un hacer artesanal y una política ontológica: si no se da una realidad de antemano, ¿qué realidades se realizan con nuestras prácticas de investigación? ¿Qué y para quién producimos conocimiento? Discutiremos las políticas de investigación basadas en el conocimiento local, situado y encarnado. Entonces compartiremos lo que producimos en nuestros grupos de investigación. Nuestras producciones científicas están entrelazadas como una red de conexiones y afectos, guiados por InvestigarCOM, es decir, una forma de hacer una investigación que se entrelaza con otros y no sobre ellos. Hacemos hincapié en esta experiencia como una forma de hacer ciencia en lo femenino y entendemos esto como hecho a mano.
Palabras clave: Ciencia en femenina. Hacer artesanal. InvestigarCOM. Narrativas de Investigación.
Introdução
A proposta deste trabalho é compartilhar narrativas de pesquisa, partindo de nossa prática como pesquisadoras, compreendendo que narrar, pesquisar e tecer são processos entrelaçados, lançando-nos em fazeres que convocam peculiaridades e imprevisibilidades no encontro com o campo de pesquisa. Nesse sentido, pesquisar é uma prática arriscada que envolve transformações não previstas, constituindo-se como um fazer artesanal e uma política ontológica (Mol, 1999): se não há realidade dada de antemão, que realidades são performadas com nossas práticas de pesquisa? Para que e para quem produzimos conhecimento?
Nossa proposta é discutir políticas de pesquisa afinadas com conhecimentos locais, situados e encarnados, modos de pesquisar que tomem o outro, ou o "objeto" da pesquisa, não como um alvo passivo, alguém de quem se coleta informações, mas como expert, compreendendo o pesquisar como partilha de expertises e como dispositivo de transformação recíproca que ativa a todos (Moraes, 2010; Moraes et al. 2014; Quadros, 2014). Compartilharemos, portanto, o que produzimos em nossos grupos de pesquisas no Brasil, um país de dimensões continentais, entrelaçadas como uma rede de conexões e afetações a partir desse manejo, afirmado aqui como PesquisarCOM (Moraes, 2010; Quadros, 2015).
Ao enfatizarmos essa experiência como um modo de fazer ciência no feminino, ressaltamos que o fato de sermos mulheres, pesquisarmos com mulheres, produz atravessamentos e resgates de uma herança que não podemos mais excluir de nossas práticas. Compreendemos esse manejo como artesanal (Quadros, 2015), que encontra ressonâncias com a metáfora do/a pesquisador/a como caçador/a solitário/a de Stengers (1989) disposto/a a esperar, conhecer o tempo do/a interlocutor/a, transitando delicadamente pelo território da pesquisa, atentando para as singularidades. Nossa escrita se dará como a tessitura de uma colcha de retalhos que segue como metáfora de nossas costuras nessa trajetória, configurando a pesquisa como um fazer artesanal e como a arte de fazerCOM, na qual poderes e saberes tornam-se distribuídos nesse campo de afetações, subvertendo tanto o modelo hierárquico do conhecimento, que separa e hierarquiza sujeito e objeto, quanto respondente, que coloca o objeto no lugar passivo de emissor de respostas às perguntas já prontas do/a pesquisador/a.2
Assim, os marcadores aqui dispostos não seguem uma linha tradicional de apresentação de resultados de pesquisa, porém expressam como fomos fortalecendo a narrativa como aposta metodológica em nossas investigações, acreditando que, nos moldes propostos por Mol (1999), essa é uma política ontológica na qual afirmamos outros modos de conduzir e apresentar nossas pesquisas como potências, especialmente nas Ciências Sociais, na quais as afetações de nossos corpos se desdobram em intervenções. Considerando o fazer ciência no feminino, que constitui nossa questão, afirmamos que narrar, sentir e pesquisar são articulados. Intervimos em nossos campos de pesquisa também a partir do que vivemos, pois ciência e vida formam um diálogo ininterrupto. Para tal, é fundamental mantermos nossa presença ativa em nosso trabalho, pois, como nos aponta Despret (2004, p. 131, tradução nossa),
[...] "desapaixonar" o conhecimento não nos dá um mundo mais objetivo, apenas nos dá um mundo "sem nós"; e, portanto, sem "eles" - as linhas são traçadas tão rapidamente. E enquanto esse mundo aparece como um mundo "do qual não ligamos", ele também se torna um mundo empobrecido, um mundo de mentes sem corpos, de corpos sem mentes, corpos sem corações, expectativas, interesses, um mundo sem entusiasmo,autômatos observando criaturas estranhas e mudas; em outras palavras, um mundo mal articulado (e pouco articulado).3
Dessa forma, apresentaremos a seguir o que viemos recolhendo ao longo desse trajeto de pesquisar no feminino, como pesquisadoras vinculadas a diferentes universidades públicas no Brasil.
Compreendendo as implicações éticas e os desafios que as metodologias de pesquisa qualitativa nos compelem, partimos da questão central "Por que narrar?", na intenção de desdobrá-la para fundamentar nossa política de pesquisa, acreditando que essa é uma discussão pertinente e atual, especialmente na Psicologia e nas Ciências Sociais.
PesquisarCOM: porque narrar?
A expressão "PesquisarCOM", cunhada por Marcia Moraes (2010) e levada adiante por nós e outras autoras e autores, tais como Ronald Arendt (2016), Luciana Franco (2016), Débora Lomba (2016), Diana de Almeida e Laura Quadros (2016), Erika Araujo (2015), Eleonôra Prestrelo (2015),4 ressalta o caráter ativo e engajado da pesquisa, convocando-nos a refletir acerca de nossas práticas no campo da ciência. Há, nessa perspectiva, a ideia de considerar o objeto da pesquisa como ativo, participativo e não como alvo passivo de nossas investigações. Isso confere uma simetria à ação de pesquisar por meio da distribuição de poderes e saberes no processo de construção do conhecimento. Fazer com o outro a pesquisa nos leva a interrogar os sentidos que a preposição "com" toma na relação de conhecimento. Sem dúvida, trata-se de uma forma de ligação. Dizer isso, porém, não nos informa muito sobre o tipo de ligação que está em jogo. Assim, no modo como temos levado adiante o fazer com - e não sobre o outro -, a relação de conhecimento nos leva a afirmar que conhecer envolve um processo de transformação recíproco. Se interpelamos os outros com nossas questões de pesquisa, os outros também nos interpelam de volta. Receber de volta o olhar do outro (Haraway, 2008) é aceitar colocar-se em risco no encontro com a diferença. Risco de que o projeto de pesquisa seja refeito em função das interpelações que nos fazem os sujeitos com quem pesquisamos.
Seguir as pistas que os sujeitos pesquisados nos abrem, não como seres passivos, respondentes, mas como sujeitos ativos, que aceitam, de um modo ou de outro, engajar-se conosco num dispositivo de conhecimento, eis aí o que se constitui num desafio não apenas de método, mas, acima de tudo, ético. Por que convocamos aqui uma questão ética atrelada à discussão de método? Por certo não nos referimos à ética como conjunto de preceitos e diretrizes normativas que legislam sobre a pesquisa. O desafio ético está na imanência do encontro, isto é, naquilo que fazemos juntos, no modo como nos engajamos - coletivamente - no dispositivo de pesquisa. Uma vez que nos colocamos em relação, nós, pesquisadoras, e os sujeitos pesquisados, que mundo iremos compor juntos? Que histórias levaremos adiante a partir do nosso encontro? As histórias que narraremos a partir de nosso encontro dizem dos mundos que iremos compor, do que faremos existir a partir de nossas pesquisas. Ainda que tais perguntas só possam ser respondidas local e situadamente, em cada dispositivo de pesquisa, elas não podem deixar de ser formuladas. São perguntas que insistem se tomamos o PesquisarCOM como direção de trabalho na relação de conhecimento
Tais constatações nos remetem ao que Stengers (1989) destaca como sendo "ciência no feminino", que envolve estabelecer laços, esperar, permitir que um processo dialógico se instale no campo no qual o/a pesquisador/a transita. A referida autora se inspira na trajetória de Bárbara McClintock para distinguir o que seria um/a pesquisador/a como "caçador/a de matilha", afeito/a à rapidez e generalizações, do/a pesquisador/a como "caçador/a solitário/a", que se atém às singularidades e à morosidade que por vezes o objeto nos impõe. Esse último caracterizaria o fazer ciência no feminino, mais atento às vinculações e necessidades do campo da pesquisa. Nessa mesma linha de pensamento, Maria Puig de la Bellacasa (2012, p. 199, tradução nossa) nos lembra que "criar conhecimento é uma prática relacional com consequências importantes na formação de mundos possíveis".5
Ao afirmarmos o PesquisarCOM como um modo de pesquisar no feminino, apoiamo-nos em premissas que ressaltam um fazer ciência como um fazer artesanal, tal e qual as práticas de McClintock, Marie Curie e outras tantas mulheres na ciência que tiveram em seu caminho o desafio da dúvida, da invalidação e desqualificação de suas formas "solitárias" de realizar suas pesquisas.
Voltamos à questão "Por que narrar?", compreendendo-a como um dispositivo que fortalece o PesquisarCOM, na medida em que é na intensidade das narrativas, é no acompanhamento miúdo do cotidiano que incide o ato de estabelecer laços e vínculos no campo da pesquisa. Narrar envolve tanto resgatar memórias quanto produzir realidades delas derivadas, pois como nos afirma Certeau (2007, p. 162), "Ela se instala num encontro, no outro", enfatizando o caráter relacional do processo narrativo. A pesquisa que busca a interação, a coparticipação traz em si a responsabilidade ética do/a pesquisador/a, bem como política, pois ele/a cria mundos e produz realidades com suas pesquisas. Mol (1999) nos alerta acerca do que chama de política ontológica, referindo-se às decisões do/a pesquisador/a quanto ao que permanece em seus relatos e quanto ao que é excluído da pesquisa. Esse manejo entre o que é ou não incluído nos relatos produz efeitos, engendra mundos. Ao escolhermos o PesquisarCOM como base ética de pesquisa e a narrativa como aposta metodológica, longe de uma opção romântica, estabelecemos uma postura política em um país em desenvolvimento e com uma democracia historicamente ainda em consolidação, pois como discorreremos mais adiante, narrar é fazer existir e sobretudo resistir para não sucumbir à racionalidade hegemônica (Santos, 2016).
Costurando narrativas: artesania e pesquisa
Parte das pesquisas produzidas pelos grupos que conduzimos em duas universidades públicas no Estado do Rio de Janeiro/Brasil, não por acaso, acontecem em campos de exclusão, tais como o campo da deficiência, das populações de rua e em situação de risco, dos refugiados e de mulheres. Considerando o exposto no item anterior, PesquisarCOM esses campos nos convoca a rever a própria formação em Psicologia, tanto em suas potências quanto em suas lacunas. Somos, então, perpassadas pelo entrecruzamento de muitas histórias que nos afetam e nos formam como pesquisadoras nessa área. Nossa presença ativa e viva no campo nos mantém implicadas e, como destaca Haraway e Goodeve (2015, p. 67), essa forma de atuação faz a diferença.
E conhecimento científico é sobre testemunhar. O método experimental é sobre isto, sobre o fato de estar lá. E o fato de saber certas coisas por estar lá modifica o senso de responsabilidade. Assim, longe de ser indiferente à verdade, o enfoque que tento defender é rigorosamente comprometido com testar e atestar. Com se engajar e compreender que este é um empreendimento sempre interpretativo, interessado, contingente, falível. Não é nunca um relato desinteressado.
Portanto, esse processo vivo traz também o imprevisível e nos remete à pesquisa como uma construção artesanal (Quadros, 2015), na qual temos a difícil missão de costurar narrativas que perpassam nossos sentidos, nossa sensorialidade, incluindo nossos pesquisados, tanto no que eles têm a nos ensinar quanto na leitura que eles fazem das nossas intervenções. Ao atuarmos com mulheres, por exemplo, somos provocadas a trazer à tona questões que também povoam nosso cotidiano e, ao mesmo tempo, lidamos com as peculiaridades que separam nossos mundos. Somos pesquisadoras, professoras universitárias e mães atravessando um campo de pesquisa de mulheres em situação de risco com escolaridades variadas e também mães. Que histórias nos aproximam e nos afastam?
Se nos fixarmos em dados que caracterizam nossos perfis, certamente as diferenças já parecem dadas. Porém, ao colhermos narrativas vivas, nossos mundos se entrelaçam de muitas maneiras, nas preocupações, pressões e anseios que nos dizem sobre certas circunstâncias de sermos mulheres no Brasil. Ressaltamos a importância de não simplificarmos essa questão. Mas o que queremos aqui destacar é a força que a narrativa pode trazer para a pesquisa, deslocando-nos de um lugar central para as margens, provocando-nos a desfazer verdades aparentemente dadas. Isso também envolve a disponibilidade do/a pesquisador/a para correr riscos.
Nessa proposição, acompanhar processos e compor narrativas pode ser comparado a um artesanato refinado que exige perseverança, paciência, respeito e humildade e pode convocar diversas ferramentas (Quadros, 2015). Para Benjamin (1987a; 1987b), a narrativa é uma produção artesanal que faz do/a narrador/a um/a artista, pois, ao narrar a sua experiência, ao resgatar memórias, ao buscar referências no seu cotidiano, ele/a ressignifica o vivido.
A narrativa é, portanto, uma obra aberta, passível de ganhar novos sentidos no próprio ato de narrar. Para a pesquisa, essa é uma arte que se constitui no fazer, nas invenções e arranjos locais que buscam preservar o material colhido, mas podem criar novas possibilidades nesse fazerCOM.
Narrar, tecer, pesquisar: modos de existir e resistir
Escrevo por ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
(Clarice Lispector - A hora da estrela)
A citação da escritora Clarice Lispector nos remete à escrita como forma de resistir ao estabelecido, e o ato de resistência traz contornos ao próprio existir. Essa é uma história que permeia os muitos modos de resitir-existir das mulheres em diferentes tempos e culturas. Em outro contexto, a escritora Glória Anzaldúa (2000, p. 232) também nos brinda com um relato contundente ao discorrer sobre o porquê de ser levada a escrever.
Porque a escrita me salva da complacência que me amedronta. Porque não tenho escolha. Porque devo manter vivo o espírito de minha revolta e a mim mesma também. Porque o mundo que crio na escrita compensa o que o mundo real não me dá. No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele uma alça para poder segurá-lo. Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e minha fome. Escrevo para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal escritas sobre mim, sobre você.
Dessa forma, trazer histórias para o campo da pesquisa, fazer da narrativa uma força propulsora é, sobretudo, um modo de resistir e fazer proliferar outras versões da realidade, além da dominante. E esse é um fazer que se origina dessa ciência no feminino descrita por Stengers (1989). Somos, pois, pesquisadoras artesãs que buscam no PesquisarCOM a valorização da narrativa como agenciadora de dados e realidades constituídas na relação pesquisador/a-objeto de pesquisa.
A metodologia de colher e tecer narrativas na pesquisa nos afasta da busca de generalizações e de afirmações universalizantes. Interessa-nos então a ideia de Haraway (1995) de um saber localizado constituído nas redes e arranjos locais.
Pensando na pesquisa em Psicologia Social, essa forma de conduzir nossos trabalhos nos traz realidades do cotidiano, dos pequenos acontecimentos que nos falam de muitos modos da vida. Isso traz um campo marcado pela heterogeneidade e aguça o/a pesquisador/a a transitar pela diversidade de formas e respostas para as múltiplas questões que emergem desse processo, mais precisamente, do encontro ali produzido entre o/a pesquisador/a e seu campo. Porém, é importante lembrar que essa metodologia que se afasta das generalizações traz em si a ideia de singularidade que é articulada também no método, como nos alertam Law e Mol (1995, pp. 287-288, tradução nossa).
Mas o que acontece se as materialidades forem arranjos locais? Local e descentralizado? O que podemos dizer disso se for difícil reuni-los? O que acontece se não houver um único campo para desvendar? O que acontece se não houver estratégias inter-relacionadas? A resposta, ou como queremos sugerir, nos leva à lógica - a lógica múltipla - da colcha de retalhos, na qual nos movemos de um lugar para outro, procurando por conexões locais, sem a expectativa do padrão "como um todo".6
Portanto, essa não é uma prática que busca explicações ou respostas fechadas, mas sim uma construção artesanal, um patchwork feito a mão a partir dos recursos que nos chegam, nos afetam, e mantém um cenário múltiplo e heterogêneo tal e qual a realidade que nos cerca, sem um contorno absoluto. Esse é um desafio para a pesquisa, a compreensão dos limites de nosso alcance, bem como o cuidado que esse costurar nos exige. Narrar, tecer e pesquisar são entrelaçamentos de uma prática manual, de um tempo próprio, mais lento e articulado pelas relações que estabelecemos e não exatamente por objetivações pré-definidas. Daí nossa responsabilidade de levar o conhecimento para além de nossas fronteiras sem prescindir de parcerias fundamentais com o que nos perpassa no processo da pesquisa.
Discussão: reflexões acerca da política de narrativas nas pesquisas em Psicologia Social
Uma metodologia de pesquisa que se constitui no entrelaçamento da sensibilidade, ciência e arte traz em si um viés político e de resistência por afirmar um outro modo de pesquisar, não hegemônico. Há uma força na narrativa que reverbera no campo da pesquisa e reconfigura a própria noção de objeto na ação de pesquisar: "O discurso produz então efeitos, não objetos. É narração, não descrição. É uma arte do dizer" (Certeau, 2007, p. 154). Essa é uma perspectiva que faz toda a diferença, pois nos permite uma aproximação com a realidade viva, mediada pelos sentidos e o sentir.
Law (2004) nos aponta a necessidade de criarmos novas apostas metodológicas para conhecermos algumas realidades do mundo que não são alcançáveis por métodos usuais. As Ciências Sociais lidam com realidades múltiplas e, ainda segundo Law, estar nessa área convoca nossas emoções particulares, sensibilidades, paixões, intuições, medos e traições.
Método? O que estamos lidando aqui não é, obviamente, apenas um método. Não é apenas um conjunto de técnicas. Não é apenas uma filosofia de método, uma metodologia. Nem sequer está implícito sobre os tipos de realidades que queremos reconhecer ou os tipos de mundos que podemos esperar criar. É também, e mais fundamentalmente, uma maneira de ser. É sobre que tipos de ciências sociais queremos praticar. (Law, 2004, p. 10, tradução nossa)7
Certamente essa é uma prática arriscada e ao mesmo tempo provocativa. Ao enfatizarmos a artesania na pesquisa e o PesquisarCOM, subvertemos a ideia de uma prática endurecida e passível de ser generalizada, valorizando as singularidades e arranjos locais. Nossa proposta é produzir reflexões que nos desloquem para uma noção de ciência entrelaçada com as possibilidades de errância, hesitação, indefinição, e do vagar no fluxo da experiência que a própria ação de pesquisar pode produzir. Em diálogo com a Teoria Ator-Rede (TAR) e autoras feministas como Stengers (1989), Haraway (1995; 2008) e Despret (2004), enfatizamos as relações entre um pensamento não moderno e as práticas em Psicologia, bem como seus desdobramentos na pesquisa, considerando as peculiaridades desse campo de produção de conhecimento e os desafios de fazer uma ciência nômade, sem prescindir da organização metodológica e do rigor como um valor. Esse é um ponto fundamental.
Ao nos apoiarmos na ideia de artesania e PesquisarCOM, nos deparamos com a necessidade de esclarecer que não prescindimos da metodologia, embora concordemos com Haraway e Goodeve (2015, p. 51, grifos das autoras), quando nos dizem: "Palavras como 'metodologia' são muito assustadoras, você sabe! Em vez de 'metodologia', preferiria dizer que tenho modos definidos de trabalhar que se tornaram mais conscientes com o passar dos anos." Assim, também desenvolvemos modos definidos de pensar, sem confundi-los com modos definitivos. Há uma preocupação de permitir que o campo nos aponte caminhos - prerrogativa do PesquisarCOM -, reconhecê-los como parte do processo, mas considerar que esse é um trajeto que envolve imprevisibilidades que nos levam a realinhar constantemente nossas ações - convocações de um fazer artesanal. Compreendemos que não trabalhamos com realidades estáveis. Nosso campo é caracterizado por modulações e heterogeneidade e, para tal, como nos aponta Law (2004), é necessário criar possibilidades que se coadunem com a variação e riqueza de nossos campos de pesquisa sem reduzi-los, ou pior, minimizá-los. As narrativas nos permitem manter tanto frescor do encontro pesquisador/a - campo, quanto à fidedignidade do vivido por nosso/a narrador/a, sujeito ativo de sua própria experiência. Cabe-nos costurar com arte e respeito esse material vivo que nos chega. Contar histórias é, sobretudo, uma aposta política para manter ativo o campo, a pesquisa e o/a pesquisador/a.
Material e métodos: Como fazer? Riscos, ousadias e cuidados na pesquisa
Recorreremos neste tópico a alguns exemplos de pesquisas publicadas como ilustração do que realizamos. Alertamos de imediato que não há intenção de instruir ou explicar o "como fazemos?", visto que seria contraditório ao que estamos defendendo nesta escrita - uma prática de pesquisa singular, marcada e situada. Assim, costuramos aqui fragmentos de experiências nossas e de nosso grupo de pesquisa para apresentar a força da narrativa. Comecemos apresentando o encontro com Maria dos Anjos (nome fictício),8 uma jovem de 26 anos, mãe solo de um casal de filhos e que se encontra em situação de rua. No início da conversa ela se mostrou desconfiada, questionando o motivo da presença da equipe no local, mas, ou por curiosidade ou até mesmo pensando em obter algum benefício, aceitou nossa conversa nos provocando, nos comovendo e despertando nossa solidariedade por abordar um tema tão caro e tão comum ao universo feminino, que, muitas vezes, é constrangido pela violência sexual e o assédio.
À medida que a conversa flui, podemos ser colocados num delicado impasse, visto que este falar evoca lembranças difíceis. Neste momento, a sensibilidade do acolher apresenta-se na sutileza do olhar e na presença interessada, um acontecimento forjado no encontro. Maria dos Anjos emocionou-se ao contar que já havia sido forçada a fazer sexo contra sua vontade. Com um longo e profundo suspiro, respondeu junto ao curto silêncio em tom de desabafo "Oh... se já fui! E como... não quero nem lembrar isso." Silêncio, breve e pleno. Ali o respeito reflexivo transcendendo o julgamento. E como foi importante para todos sustentar o silêncio. Como não se implicar com as provocações daquele encontro? Como não pensar no contorno necessário ao mal-estar ali instalado? Visando mediar tais atravessamentos, deixamos que ela conduzisse o diálogo, onde transitaria entre o possível e o suportável a partir de si mesma, ficando no lugar de ouvinte/pesquisadora ou pesquisadora/ouvinte, sendo ela a dar o tom. Assim, com poderes e deveres distribuídos, continuamos nossa missão. (Almeida & Quadros, 2016, p. 232)
A narrativa reverbera e torna visível o que às vezes se dilui nos interstícios.9 Esse encontro não fala apenas de uma mulher na rua. Fala de uma realidade de dominação e sofrimento. Há riscos de sermos capturados/as pela carga dramática. Porém, ao reconhecermos nossas implicações, a responsabilidade dos efeitos do relato, bem como a forma como ele é introduzido no texto, se distribui no campo da pesquisa. Afinal, como nos alerta Latour (2007), o texto é também o nosso laboratório e, portanto, um actante na pesquisa.
Em outro campo de pesquisa realizada com pessoas cegas e com baixa visão,10 a proposição de uma oficina de experimentação corporal ativou memórias que nos levaram ao inesperado. Foram distribuídos aos participantes objetos que se tornaram disparadores para despertar histórias. Além de sentir o cheiro, eles também puderam tocar os objetos (alecrim, maçã, tangerina, amaciante de roupa, biscoito, entre outros). O que se seguiu é descrito a seguir.
Ao longo das experimentações percebemos que o que era experimentado fazia brotar palavras, memórias, sensações. O espaço da fala na Oficina varia muitas vezes. No momento em que as sensações tocam a palavra, esta circula por toda a roda, criando conexões entre as experiências, das quais vemos surgir narrativas. E a partir do cheiro de um amaciante vieram dolorosas histórias sobre a ditadura civil-militar no Brasil. Narrativas que são difíceis de contar, ouvir e colher. É preciso voltar ao passado para ouvir o apelo que se faz no presente, no sentido de transformar o presente. Começamos em roda e cada um foi trazendo para o grupo suas histórias, das mais antigas às mais atuais, das mais afetivas às mais corriqueiras e cotidianas, das de antes e depois da cegueira. Muitas histórias entraram na roda, histórias compartilhadas, histórias que se cruzavam, histórias conhecidas por mais de um... A Oficina com cheiro de história teve seu espaço reafirmado também como um espaço de escuta de um corpo que fala de sofrimentos indizíveis e memórias dolorosas. Um corpo que clamou para ser ouvido. (Moraes et al., 2014, p. 62)
Percebemos aqui que, ao trabalharmos com as narrativas, podemos ampliar fronteiras e ativar espaços que nos surpreendem. Corpos foram despertados e entraram nessa roda, produzindo o inusitado. Narrar tornou-se um processo vivo, encarnado, encorpado pelo sofrimento e o pranto de difíceis histórias que nos deram a dimensão do acontecimento transbordado do fato histórico e acolhido como lembrança dolorosa e singular. Essa é uma das potências da narrativa: trazer à tona a força genuína do vivido para além do fato.
Perpassando outro campo de experiências, deparamo-nos com o envelhecimento como linha a costurar lembranças e sensações que se constituem em laços a atar afetos, confiança e solidariedade em um grupo multidisciplinar de atendimento a idosos. O sensível relato da pesquisadora Luciana Franco11 nos aproxima de nossos limites e possibilidades diante das perdas que o envelhecimento traz.
Quando eu era menina, minha mãe trabalhava em casa de família e era minha avó quem ficava com as crianças. Era só fazer hurum-hurm e todo mundo parava a bagunça. Alguém contou outra história e, logo em seguida, Antonia disse que aquelas coisas a faziam lembrar de quando era menina, sua mãe trabalhava em casa de família e era a avó quem tomava conta das crianças, bastava pigarrear mais forte que já paravam a bagunça. Achei tão curioso que algo pudesse evocar a mesma exata lembrança, e mais curioso ainda como as mesmas exatas palavras eram usadas para falar dela. O grupo pareceu não se espantar, escutou como se fosse a primeira vez, mesmo percebendo o contrário. Fiquei me perguntando se deveria intervir, como faria. E da próxima vez me adiantei à Antônia, contando-lhe o que ela já havia dito na aposta de que algo novo se seguisse: a infância, a mãe, a avó... e Antônia concordou, e imitou o pigarro que a avó fazia quando era hora de ir pra dentro. Não era por aí... De que outras brincadeiras a senhora lembra, dona Antônia? Pique-esconde, ela respondeu. Uma nova pergunta, uma nova resposta. Adorava brincar de pique-esconde quando era menina. Era só a avó pigarrear que a brincadeira acabava e era hora de ir pra dentro. Lembrei-me das histórias que são contadas na minha família todas as vezes que nos reunimos. Histórias da nossa infância, que já conhecemos de cor e salteado, mas que de novo se conta e de novo é gostoso de contar e ouvir. A história de Antônia foi contada de novo, dessa vez por mim, que disse de minha surpresa e meus embaraços diante das repetições, para a coordenadora do serviço. Ela sublinhou a importância dessas lembranças, os pilares para onde se volta quando o entorno parece esfarelar. Eram aquelas repetições que faziam aparecer a história, singular, de Antonia - e não das Marias, tantas pelo mundo. (Franco, 2016, p. 72)
Nesse processo de incluir e manter nossa personagem, Maria Antônia, que prefere ser chamada de Antônia, por já haver tantas Marias no mundo (Franco, 2016), vinculada ao grupo, a reiteração da história com sua avó passa a ser um importante marcador de sua presença e assim é compreendido por seu grupo. Dessa forma, pela narrativa exposta, a repetição deixa de ser apenas o aborrecimento de uma velha senhora e passa a conduzir - e produzir - outras narrativas, fazendo todos se expressarem, fortalecendo vínculos e afetando, inclusive, a condução da pesquisadora, que passa a fazerCOM Antônia uma intervenção que revigora todos no grupo, subvertendo delicadamente o envelhecer.
Finalizando a exposição, apresentamos outra pesquisa feita por integrantes de nosso grupo, que se desdobra acerca do cuidado na formação universitária, sendo conduzida por Eleonôra Prestrelo, com participação de Erika Araujo e Leticia Marques.12 A pesquisa é realizada com grupos de estudantes de Psicologia de uma universidade pública no Rio de Janeiro que experimentam angústia e sofrimento nessa transição para o curso superior e nos apresenta uma prática de cuidado constituída pela ação de compartilhar histórias:
A participação nesses grupos demonstra também a oportunidade de desenvolvimento de uma reflexão crítica sobre as experiências vividas, a responsabilização de seus atos, um engajamento maior para o cuidar de si, uma ampliação das possibilidades para superar as adversidades e um novo olhar para a realidade. Como nos disse Jasmim, ao término de uma oficina: "Naquele momento que estava "quadrada", eu vim ao GAPsi e isso fez com que identificasse a mim mesma [...] e mais, "Ouvir as experiências de outras pessoas, ouvir visões dos outros me ajudou." Estar próximo e ouvir histórias de pessoas que solucionaram questões similares que, por vezes, são encaradas pelos alunos como profundamente angustiantes e até mesmo sem saída, permitem ao aluno novas perspectivas para seus impasses, ampliando não só seu repertório de ações, mas principalmente, voltar a acreditar em suas possibilidades de superar angústias e criar suas próprias soluções, desenvolvendo redes sociais de apoio. Em última instância, estar em grupo, ouvir histórias de outros abre a possibilidade de se fazer novos laços, novos vínculos. Se o ingresso na universidade é, muitas vezes, experimentado como um rompimento com laços anteriores, o investimento do GAPsi é uma aposta na tessitura de novas conexões, no fortalecimento daqueles vínculos que existem e que, de uma forma ou de outra, produzem efeitos de pertencimento, seja ao curso de Psicologia, seja à Universidade. (Prestrelo et al., 2016, p. 97)
Vimos, pelo descrito, que o cuidado como prática se fez nessa distribuição de narrativas que foram fundamentais como um modo de apoio para esses estudantes. O compartilhar como disparador de cuidado tem na narrativa um aliado que sustenta a saúde e a permanência desses estudantes que enfrentam novos desafios. Vale ressaltar que a universidade pública em questão é pioneira nas ações afirmativas no Brasil, acolhendo diversos estudantes de baixa renda oriundos de diferentes comunidades e cidades do país. Assim, as narrativas vão trançando laços efetivos que os sustentam e também nos sustentam como pesquisadoras vinculadas a universidades, que escolhemos um caminho não linear de atuação.
Considerações finais
Eis o nosso patchwork, inacabado com certeza, mas enunciador de uma política de escrita que nos afirma como mulheres pesquisadoras desenvolvendo o PesquisarCOM como método de pesquisa. Nesse modo artesanal de conduzirmos nossas pesquisas, a narrativa é um recurso que potencializa nossas ideias e realizações. Resgatando questionamentos que abriram esse artigo: se não há realidade dada de antemão, que realidades são performadas com nossas práticas de pesquisa? Para que e para quem produzimos conhecimento? Reafirmamos que temos uma responsabilidade acerca do que produzimos em nossas pesquisas. Essa consciência pode ampliar os modos de disseminar o conhecimento para além de um saber hegemônico e dominante, abrindo espaço para outras versões, descentralizando o saber científico. Vivemos num país cheio de contrastes e desigualdades, um país de dimensões continentais, com uma grande diversidade étnica e cultural. Como bem nos alerta Adichie (2012), há perigos em uma única história que podem apagar importantes marcas na construção da ciência como uma prática política. As narrativas fazem proliferar versões nos transpondo da única história para as muitas histórias únicas (Conti, 2015), tomando aqui o sentido do termo único em sua duplicidade. De um lado, o perigo das únicas histórias, no sentido do tamanho único das roupas, da unidade de medida padrão, que, em última instância, não cabe bem em ninguém, porque não há uma medida que reine sozinha e que caiba em todos os corpos; de outro lado, a potência e a força das histórias únicas, situadas, singulares.
Portanto, em nossa prática, somos caçadoras solitárias, nos moldes descritos por Stengers (1989) para caracterizar a ciência no feminino. Mas, como apontamos neste artigo, atuamos em uma rede que nos faz também solidárias e, nas poéticas palavras do compositor brasileiro Milton Nascimento, "o solidário não quer solidão".13 Que esta escrita, então, alcance outras terras e amplie nossa rede de PesquisarCOM, confirmando-nos que não precisamos continuar sozinhas.
Referências
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Recebido em: 8/11/2019
Aceito em: 8/7/2020
1 Este texto foi originalmente publicado em inglês na Revista Genealogy. Special Issue Feminist Genealogies: Specific Political Intersections, 2019.
2 Importante ressaltar que esses dois modelos de conhecimento nem sempre são separados. São perspectivas de conhecimento que se pautam na separação e na hierarquização entre sujeito e objeto. Perspectivas modernas (Latour, 1994) que marcam o conhecimento científico.
3 No original: To "de-passion" knowledge does not give us a more objective world, it just gives us a world "without us"; and therefore, without "them" - lines are traced so fast. And as long as this world appears as a world "we don't care for", it also becomes an impoverished world, a world of minds without bodies, of bodies without minds, bodies without hearts, expectations, interests, a world of enthusiastic automata observing strange and mute creatures; in other words, a poorly articulated (and poorly articulating) world. (Despret, 2004, p. 131)
4 Fizemos um recorte entre autores e autoras que trabalham na direção do PesquisarCOM. Há, certamente, um grupo bem mais amplo de pesquisadores/as envolvidos nesse modo de fazer a pesquisa em Psicologia. A escolha que ora fizemos pautou-se no mapeamento de campos diversos, marcados por vetores de exclusão e opressão.
5 No original: "Creating knowledge is a relational practice with important consequences in the shaping of possible worlds."
6 No original: But what happens IF materialities are local arrangements? Local and decentered? What can we tell of these if it turns out to be difficult to gather them together? What happens IF there isn't a single Field to unravel? What happens IF there are no interrelated strategies? The answer, or so we want to suggest, leads us to the logic - the multiple logic - of the patchwork, in which we move from one place to another, looking for local connections, without the expectation of pattern "as a whole".
7 No original: Method? What we're dealing with here is not, of course, Just method. It is not just a set of techniques. It is not just a philosophy of method, a methodology. It is not even imply about the kinds of realities that we want to recognize or the kinds of worlds we might hope to make. It is also, and most fundamentally, about a way of being. It is about what kinds of social science we want to practice.
8 Essa é narrativa faz parte da pesquisa de doutorado de Diana de Almeida, orientada por Ronald Arendt e Laura Quadros, acerca da maternidade e mulheres usuárias de crack e outras drogas, em situação de risco e vulnerabilidade. Extraímos esse trecho do artigo publicado "A pedra que pariu: narrativas e práticas de aproximação de gestantes em situação de rua e usuárias de crack na cidade do Rio de Janeiro" (Almeida & Quadros, 2016).
9 Para uma discussão conceitual sobre interstícios, veja Arendt, Moraes e Tsallis (2015).
10 Pesquisa realizada por Marcia Moraes, Camila Araújo Alves, Josselem Conti de Souza Oliveira, Larissa Ribeiro Mignon, Lia Paiva Paula, Tayana Valente Moutinho, Thainá Rosa Oliveira da Cunha e Thiago José Bezerra Cavalcanti no campo da deficiência visual, publicada no artigo "Copo, memória e testemunho: cheiros que deixam marcas" do livro O tempo e a escuta da vida: configurações gestálticas e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Quartet, 2014, pp. 51-73.
11 Esse relato é fruto do trabalho com idosos realizado pela pesquisadora Luciana Franco, membro do nosso grupo de pesquisa (Franco, 2016).
12 A pesquisa em questão refere-se ao Grupo de Apoio Psicológico (GAPsi), criado pela pesquisadora Eleonôra Prestrelo como prática de cuidado dirigida aos estudantes de Psicologia de uma universidade pública do Rio de Janeiro. O relato é extraído do artigo "'Ouvir é como a chuva'" - o apoio psicológico como parte da formação em Psicologia" (Prestrelo et al., 2016).
13 Trecho da composição de Milton Nascimento "Bola de meia, bola de gude". Recuperado de https://www.letras.com.br/milton-nascimento/bola-de-meia-bola-de-gude.