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Trivium - Estudos Interdisciplinares
versão On-line ISSN 2176-4891
Trivium vol.7 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2015
https://doi.org/10.18370/2176-4891.2015v1p30
ARTIGOS TEMÁTICOS
Contorção histérica no século XXI: elixires e remédios
Hysterical contortion in the XXI century: elixirs and remedies
Angélique ChristakiI; Tradução: Dra. Ana Maria RudgeII
IPsicanalista, Psicóloga clínica em CMPP-BAPU de Cachan, Professora na Universidade Paris 7, Pesquisadora associada ao CRPMS da Universidade Paris 7. angelique.christaki@wanadoo.fr
IIProfessora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Veiga de Almeida (UVA)
RESUMO
A história da histeria é a de um poderoso recalque que atravessa os séculos. Sabemos, desde Freud, que a plasticidade dos sintomas histéricos é historicamente determinada. Neste artigo, abordaremos os destinos desse recalque no laço social contemporâneo. O tratamento da histérica pelo discurso atual constitui o paradigma da desintegração do laço social enquanto este ultrapassa as ligações entre os indivíduos de uma dada sociedade.
Palavras-chave: histeria, recalque, sexualidade, laço social, sintoma.
ABSTRACT
The history of hysteria is that of a powerful repression that spans the centuries. We know from Freud that the plasticity of hysterical symptoms is historically determined. We will discuss the targets of this repression in the contemporary social bond. The treatment of hysteria by the current discourse is the paradigm of the disintegration of the social bond, while it overcomes the links between individuals of a given society.
Keywords: hysteria, repression, sexuality, social bond, symptom.
INTRODUÇÃO
É notável que entre as mentes mais rigorosas e mais brilhantes da história da humanidade, tais como Platão, Empédocles, Hipócrates, Galeno etc., tenha-se podido acreditar que o útero passeasse dentro dos corpos das mulheres, até o ponto de obturar seus orifícios. É também surpreendente terem considerado que os deslocamentos desse pequeno animal agressivo e caprichoso estivessem na origem de todos os tipos de sintomas que os médicos tentavam curar através da oferta de soluções de uma inventividade inesgotável.
Essa espantosa concepção da histeria, que persiste ao longo dos séculos, não só ignora a anatomia, mas salienta a poética do corpo, a qual, além disso, pode justificar-se pelo fato de que é a linguagem que atribui seus órgãos ao corpo (PIGEAUD, 1981). É claro que abrir um corpo, abrir um cadáver, era um interdito religioso poderoso no mundo antigo, mas como ignorar César e a cesariana que os romanos foram capazes de praticar com sucesso (1)?
A histérica acudiu ao médico antigo, o qual se envolveu, por sua vez, inventando remédios bárbaros e doces que procuravam enganar ou seduzir o animalzinho itinerante, para que ele retornasse a seu lugar. Fazia-se com que a pequena besta respirasse odores aromáticos ou fétidos, práticas curiosas que iam até a inalação de humores putrefatos que faziam lembrar o perfume de uma morte recalcada.
Tudo isso é bem conhecido, mas o que parecia ignorado pelo médico antigo era que esses tratamentos lhes foram inspirados pelas próprias histéricas: foram as histéricas que lhes sopraram o remédio.
A pergunta que surge é: o que esses homens de espírito preferiram ignorar?
A história de um recalque
Na Idade Média, a histérica passou a acudir à autoridade da época, e o homem de autoridade era o homem da Igreja, aquele que coloca a verdade do sofrimento nas mãos do TodoPoderoso. Como a histérica medieval encenou através de seu corpo a mensagem diabolicamente recalcada da autoridade cristã, ela se fez queimar como bruxa pelo homem da Igreja, que, também ele, não quis saber de nada.
Parece, então, que a história da histeria é a de um poderoso recalque que, da Mesopotâmia à Viena da época de Freud, atravessou os séculos. Mesmo quando Freud tentou questionar o que dizem as contorções histéricas durante o espetáculo orquestrado pelo Professor Charcot, na Salpêtrière, este último também não quis ouvir nada (CHARCOT, 1998). Quando Freud tentou sussurrar-lhe uma palavra, o professor apegou-se à organicidade que Freud rejeitará, para inventar, com a histérica, a psicanálise.
Desde Freud, sabemos que a plasticidade dos sintomas histéricos é historicamente determinada, ou seja, a histérica assume, em cada época, o traje do seu tempo para entrar no palco.
A distinção entre as histéricas pré-freudianas e as histéricas freudianas, no entanto, liga-se ao fato de que Freud tomara distância, tanto do lugar do velho mestre antigo quanto do lugar do homem da Igreja, para apresentar um diagnóstico duplo. Trata-se, por um lado, da etiologia sexual de histeria (FREUD, 1991/1898) e, por outro lado, do diagnóstico de estrutura referente ao mal-estar sexual na cultura (FREUD, 1991/1920), isto é, da descoberta freudiana que coloca sexualidade no coração do mal-estar de homens e mulheres, e isto independentemente das ocorrências específicas e dos contextos sociais. Aqui, Freud identificou o fato de que algo no nível da sexualidade não é simples, não segue as leis naturais.
Se o primeiro diagnóstico, o que se relaciona com a etiologia sexual da neurose histérica, declina-se caso a caso em cada análise, desdobrando-se através da πρτον ψεδος (2) (a primeira mentira) histérica, que inclui a verdade do escândalo da sexualidade; o segundo, desde Freud, constitui um saber valioso para todos e diz respeito a uma verdade igualmente insuportável, relativa à castração como uma condição para a vida, a fala e a ligação sexual. A histérica, com suas encenações e com seu sintoma, aponta especificamente para essa mensagem sexual recalcada, que se desdobra como uma verdade inseparável dos efeitos da linguagem e da fala, gradativamente, à medida que a psicanálise é inventada. Como o inconsciente é a condição da linguagem, a hipótese freudiana do inconsciente é consubstancial daquilo que "esconde a verdade e que se chama castração" (LACAN, 1991, p. 70), e do que ninguém quer saber nada, nem os antigos, nem os modernos, nem nossos contemporâneos, porque, afinal de contas, certamente, há coisas mais divertidas para saber.
Nessa perspectiva, não é a vontade de saber - da qual os homens de espírito não são desprovidos - o que leva ao conhecimento, mas sim o discurso da histérica. É este último, suportado pelo sintoma, do qual a essência é inerentemente sexual, que se abre para uma promessa de castração.
A histérica expõe uma mensagem indexada ao sexo e à morte, que é a origem de um ponto de parada, um ponto de resistência sólido, do qual nem o mestre antigo, nem o homem religioso queriam saber. Quanto ao homo ceconomicus - atravessado pela obsessão de recuperação da produtividade e da aversão especial pela baixa dos valores no mercado de ações - tampouco ele parece naturalmente predisposto a ouvir.
Além disso, o capitalismo, com o discurso que dele decorre (SAURET, 2009), intervém precisamente como um poderoso desmentido dessa mensagem que promete castração para todos. A histérica de hoje em dia revela-se como consumidora prudente. Ela trocou sua vassoura de bruxa por outros acessórios de escolha que vestem a diaba contemporânea. Tornou-se até mesmo uma ativista pelos direitos dos consumidores. Enquanto isso, o tecnocrata, o especialista - e todas as figuras contemporâneas representantes do desejo mais forte do lado da ignorância -seguem, com uma religiosidade de antanho, os altos e baixos do mercado, e não param de encontrar elixires contrários à consumidora prudente, que se torna cada vez mais insatisfeita e exigente, e até desesperada.
Disso resulta que, apesar do diagnóstico freudiano do mal-estar sexual de estrutura, o mestre contemporâneo continua a querer ignorar essa descoberta. Ele continua a querer ignorar que o mal estar não tem nada de acidental, porque ele é solidário à realidade sexual do inconsciente, aquela insuportável realidade inconsciente que afeta a vida sexual de homens e mulheres.
Uma pergunta se coloca: quais são as modalidades atuais pelas quais se realiza essa persistente ignorância no mundo contemporâneo, e quais são os efeitos que ela gera?
A histérica freudiana
Para fornecer elementos de reflexão sobre as questões precedentes, e antes de considerar a histeria além do campo da psicanálise e do âmbito da psicopatologia freudiana, recordemos alguns elementos básicos da descoberta de Freud inerentes à histérica e a seu interlocutor: o analista.
Um dos sintomas lendários da histeria é a conversão, que pode ser definida como uma injúria somática sem lesão orgânica. Eis um mistério que mergulha o médico em profunda perplexidade.
Embora a conversão seja geralmente atribuída à histérica; para Freud, ela não é um evento exclusivo ou patognomônico da histeria (FREUD, 1956/1893). Em compensação, ele diz que toma como histérica, sem hesitação, qualquer pessoa para quem uma ocasião de excitação sexual provoque, sobretudo e exclusivamente, nojo (FREUD, 1989/1905, p. 18).
Se o nojo pelos assuntos do sexo constitui muitas vezes a posição de entrada em análise para a histérica, no entanto, é a inveja e, especialmente, "inveja do pênis" (FREUD, 1995/1937) que constitui para Freud o limite da experiência analítica no tratamento de uma mulher. Eis certamente a hipótese testamentária de Freud em matéria de feminino.
Ora, trata-se antes de constatar que o afeto do nojo é a outra face da inveja e, mais especificamente, da inveja do pênis, que constitui, poderíamos dizer, o limite de resposta freudiana à pergunta que a histérica coloca através de seu sintoma: Das will das Weib?
"O que quer uma mulher?" - Essa questão liga-se a outra: "o que é uma mulher?" Freud ouve a questão na fala de seus pacientes, mas desloca sua resposta, e afirma que pertence à natureza da psicanálise não querer descrever o que é uma mulher (...), mas sim examinar como ela assim se torna (FREUD, 1984/1933).
Mais do que buscar uma descrição ou a invenção de um significante que apontaria para a essência da mulher, Freud está interessado em acidentes que possam ocorrer no curso do tornarse uma mulher, ou seja, os obstáculos no caminho singular de alguém que termina por alojar-se, como mulher, no laço sexuado.
O que é uma mulher e como ela se torna tal são algo que se desvela no discurso das histéricas como dor de ser, como sofrimento, como falta, como nostalgia, e como saber negativo, um saber em ressonância com a trama reivindicadora de uma fala vis-à-vis a um suposto ter que se poderia qualificar de fálico.
Ora, a nostalgia de tal suposto ter é o solo fértil de todas as reivindicações. A esse respeito, a reivindicação dita fálica foi a opção das feministas, incluindo especialmente a afirmação da igualdade entre os sexos. Mesmo que os progressos em direção a dita igualdade sejam valiosos e inegáveis em matéria de direitos no campo social, político, profissional etc.; mesmo que, sem dúvida, tenham contribuído tanto para a vida das mulheres, Freud, dirigindo-se às feministas, em 1923 (FREUD, 1969, p. 121), diz-lhes que essa igualdade não tem alcance em relação ao inconsciente, pelo simples fato de que a realidade sexual do inconsciente reconhece apenas um sexo: o falo.
O caminho para a feminilidade na histérica pode dar-se, portanto, através da reivindicação desse pouco a mais que falta às mulheres. É por isso que ganhá-lo a qualquer preço pode ser um objetivo na busca histérica pela feminilidade, mesmo que não se trate do verdadeiro caminho para a feminilidade. Foi isto que Freud chamou de complexo de masculinidade em relação à histeria.
Surge então outra pergunta: o que reivindica a histérica no mundo contemporâneo?
Uma contestação de existência
A histérica no mundo contemporâneo reivindica sempre a mesma coisa, esse pequeno capital a mais. No mundo de hoje, porém, a demanda por ele, que se manifesta principalmente como uma reivindicação ao gozo e aos bens, não se efetua nem em relação à figura do patriarca, nem à do homem de Igreja. Ela se faz para o mestre contemporâneo, que é personificado na figura do tecnocrata, do perito, do cientista, do nanotecnólogo etc., que promete o gozo igualitário, sem limites e democraticamente distribuído entre todos.
Tal promessa confronta a histérica à restauração mercantil de sua insatisfação fundamental. O produto de consumo torna-se assim a resposta do mundo contemporâneo, destinado a tamponar a insatisfação do ser humano que constitui o núcleo do discurso histérico, uma insatisfação que existe, simplesmente, porque o ser humano tem acesso à fala e que, por esse fato, não tem nada de circunstancial.
Assim, supostamente satisfeita através da multiplicidade de produtos destinados ao seu bem-estar, a histérica torna-se morosa, deprimida, tímida, agorafóbica, ansiosa; assim conturbada, ela nem sequer é mais reconhecido como histérica. A histeria transformou-se e figura atualmente como TAG (transtorno de ansiedade generalizada) entre as classificações contemporâneas do DSM III, IV e V, enquanto a psiquiatria moderna, enredada talvez, ela também, nas redes do discurso capitalista, faz da histeria e da neurose nomeações contestadas, ao impor a decomposição espectral das mesmas em transtornos.
No mundo contemporâneo, a histérica não se faz mais queimar como na Idade Média. Ele(a) se fez recortar, no entanto, em transtornos prescritivos e cotados na bolsa de Wall Street (LANE, 2009, p. 171). A figura do psiquiatra, especialista contemporâneo em colaboração com os cientistas que fabricam moléculas químicas, o tecnocrata que segue o curso e o declínio da bolsa de valores, e o acionista do qual a operação depende, conseguiram fatiar a histeria, como entidade clínica, em uma multidão de transtornos comercializáveis, que visam à capitalização dos impasses do sexo por ela denunciados.
O destino comercial da histeria, que se alia com a injunção ao bem-estar social e sexual, é indexado, porém, ao desmentido ativo do diagnóstico freudiano de estrutura relativo ao mal-estar sexual na cultura. Decorre disso que a resposta dos mestres contemporâneos constitui sempre um desmentido que se expressa na promessa de um gozo ilimitado, tendo a imortalidade como perspectiva: promessa que é precisamente a brandida pelas novas correntes transumanistas (3).
Quanto mais a histérica encena com seu corpo e com seu discurso os impasses do sexo, mais o mestre capitalista a fatia em transtornos, inventando elixires miraculosos e especialmente rentáveis, e tirando assim algum ganho desses impasses, a saber, os limites do corpo e do ser hum ano como ser sexual e de fala.
Se o homem da religião queimou a histérica como bruxa, o mestre contemporâneo fez dela uma nominação desaparecida. Apagada das classificações semiológicas da psiquiatria internacional, a histeria transforma-se em denominação controlada, que se declina em transtornos de todo tipo, verdadeiro produto contemporâneo, cuja peculiaridade é a de ser muito lucrativo. Mudança de paradigma, pode-se dizer!
Se o homem da Igreja não quis saber de nada, o mestre contemporâneo vai além: ele chega a tirar proveito de sua própria ignorância, capitalizando-a; ele chega a subtrair dela o pequeno mais, verdadeiro equivalente da reivindicação dita fálica da histérica. É astucioso, diabolicamente astucioso!
Ao mesmo tempo, e para voltar a esse conhecimento repulsivo incluído no sintoma histérico que se desdobra como promessa de humanização, ele engaja o futuro em um longo trabalho de luto. Ora, no mundo de hoje, em que a relação com o tempo, isto é, a relação com o outro, é aquela da instantaneidade, do imediatismo, da velocidade, da virtualidade, esse tempo necessário para tecer a vida psíquica está seriamente comprometido (CHRISTAKI, 2014).
O tratamento da histérica pelos discursos contemporâneos constitui o paradigma da desintegração dos laços sociais, não como laços entre indivíduos num dado campo social, mas na medida em que são laços do sujeito com sua própria vida psíquica. A desintegração do laço é uma das derivas contemporâneas que comprometem e enfraquecem a vida psíquica, dissolvendo a possibilidade de elaboração dos impasses do sexo através do caminho que passa através da subjetivação da perda, um caminho que, cada vez mais, se desfaz.
Surge a pergunta: como a histérica consegue manter aberto seu questionamento, em um mundo no qual o sujeito se fez despossuir do tempo necessário para tecer a conexão elementar com aquilo que o humaniza? Como se empenha o devir para a feminilidade, devir comprometido com o luto pela essência do masculino, este pequeno capital a mais, num mundo capitalista?
Enfim, como o(a) histérico(a), assim privado(a) do tempo de sua neurose, consegue manter o seu questionamento vivo, aberto?
Sobre essa questão, será que as novas reivindicações transumanistas não exibem a marca da negação da condição trágica da existência que constitui o núcleo do humano? Essas reivindicações não tomam precisamente o caminho pelo qual os mestres contemporâneos tentam roubar do sujeito o tempo de sua questão, ou dito de outra forma, o tempo de sua neurose? Deixo a questão em aberto.
Notas:
(1) Apenas na Renascença é que o corpo humano se fez, pela primeira vez, objeto de estudos anatômicos. Nessa época, ele foi oficialmente aberto e estudado por A. Vésale, De humani corporis fabrica libri septem (1543). Remetemos o leitor para a obra traduzida do latim por Voms et Velut, (2014).
(2) Em grego, no texto Projeto de uma Psicologia Científica (FREUD, 1991/1895-1896).
(3) O termo "transhumanismo" remonta aos anos 1950, mas sua popularidade data dos anos 1990. Os transumanistas sustentam que "o cidadão é um ser autônomo, que não pertence a ninguém mais senão a si mesmo, e que decide sozinho as modificações que deseja trazer a seu cérebro, a seu DNA ou a seu corpo no fio dos avanços da ciência. Eles consideram que a doença e o envelhecimento não são uma fatalidade". Em "Google et les transhumanistes", publicado no Le Monde sciences et techno, de 18 de abril de 2013.
Referências bibliográficas:
CHARCOT, J. M. (1998) Hystérie, textes choisis. Paris: L'Harmattan. [ Links ]
CHRISTAKI, A. (2014) Destinos do vínculo e dos afetos no mal estar contemporâneo. O modelo da depressão. Traduzido por Rodolfo Luis Leite Batista. Tempo psicanalítico, vol. 46, no.1, Rio de Janeiro, p. 55-63. [ Links ]
FREUD, S. (1956/1893) Études sur l'hystérie. Paris: PUF. [ Links ]
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LACAN, J. (1991) Le Séminaire, Livre XVII, L'Envers de la psychanalyse. Paris: Seuil. [ Links ]
LANE, C. (2009) Comment la psychiatrie et l'industrie pharmaceutique ont médicalisé nos émotions. Paris: Flammarion. [ Links ]
PIGEAUD, J. (1981) La Maladie de l'âme, étude sur la relation de l'âme et du corps dans la tradition médio-philosophique antique. Paris: Les Belles Lettres. [ Links ]
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VOMS, J. & VELUT, S. (2014). La Fabrique de Vésale et autres textes. Paris: BiuSanté [ Links ].
Recebido em : 28/07/2014
Aprovado em : 03/04/2015