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Trivium - Estudos Interdisciplinares

versão On-line ISSN 2176-4891

Trivium vol.13 no.spe Rio de Janeiro mar. 2021

https://doi.org/10.18379/2176-4891.2021vNSPEAp.1 

EDITORIAL

 

A psicanálise e os paradoxos da política da diferença

 

 

Betty Bernardo Fuks; Marco Antonio Coutinho Jorge; Sonia Alberti

 

 

A Trivium: estudos interdisciplinares, em colaboração com o Programa de Pós-graduação em Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, oferece ao leitor, neste número especial, uma série de artigos que atestam a importância teórica e clínica dos trabalhos apresentados no XIII Simpósio do Programa de Pós-graduação em Psicanálise (IP/UERJ), realizado em comemoração dos vinte anos de sua criação, nos dias 5, 6 e 7 de novembro de 2018.

O artigo que empresta o título ao editorial e que foi igualmente o tema do XIII Simpósio, escrito por Sonia Alberti, Marco Antonio Coutinho Jorge e Heloisa Caldas, se dedica a uma reflexão profunda acerca da política da psicanálise quanto à diferença absoluta do Um, traço primordial de um sujeito desejante, aquém e além do que conhecemos como sintoma social. A ilustração da obra Operários, de Tarsila do Amaral (1933), escolhida para divulgar no cartaz do Simpósio os principais eixos em torno dos quais se desdobrariam a proposta temática, representa no texto a organização em blocos dos artigos que compõem a presente edição.

Abrindo o primeiro bloco - Os discursos e as Causas - o artigo "A psicanálise à prova da diferença/diferenças" reitera a ideia dos organizadores do Simpósio, de que se o psicanalista pode promover e sustentar o discurso que o faz militante da diferença absoluta, é porque, assim como o olhar dos sujeitos pintados por Tarsila, o psicanalista também ocupa o lugar de objeto a ao fazê-lo. Na mesma linha, "A Psicanálise no horizonte de nossa época", procura enfatizar a posição do discurso psicanalítico em relação à diferença absoluta do Um. Em seguida, "O estatuto do significante-mestre - a segregação: causa e efeito do discurso" apresenta uma pesquisa rigorosa sobre as vicissitudes do significante-mestre no ensino de Lacan. O ensaio "Quem Quer Saber da Falta? A Psicanálise em Tempos Sombrios" defende a tese de que, na contramão do discurso dominante do século XX, que identificava os sujeitos como peças domináveis da mesma engrenagem, a psicanálise surge acolhendo o estrangeiro, o inassimilável ao todo.

O primeiro artigo do segundo bloco - A Psicanálise na História - "Psicanálise e o Político" condensa na frase "Há que se ser a cor da pulsão" a formulação de que o psicanalista não pode abrir mão de escutar a inesgotável melodia pulsional; fundamento da lógica para-consistente que valida o que se obtém na diferença absoluta. Em seguida, apresentamos dois ensaios que podem ser associados à tela Operários, em consonância com a adesão da artista às ideias marxistas: "Retomada da psicanálise no discurso político na contemporaneidade" tem a intenção de pensar as possibilidades da referência à categoria de sujeito do inconsciente no campo da filosofia política de esquerda na contemporaneidade. "Psicologia das massas, mais ainda: ódio e segregação" indica que algumas das teses de Freud no ensaio de 1921, antecipam o que pode ser apreendido na tela de Tarsila do Amaral: a massa compacta de pessoas, trabalhadores de uma fábrica cuja chaminé apita atrás delas, como significante-mestre ao qual todos estão inteiramente submetidos. Já "Psicanálise e Feminismo" relembra-nos que a subversão histórica introduzida pela clínica psicanalítica no mundo, ao oferecer uma escuta à mulher oprimida, é uma das vias mais pertinentes à apreensão das questões colocadas pelas identidades sexuais na atualidade.

No último bloco - Política e Clínica -, o artigo "Transexualidades: de las identificaciones a la identidad sexual" parte da premissa de que a política da clínica exige do analista o reconhecimento do gozo sexual como o que escapa do controle dos ideais culturais. Em outro artigo, "A infantilização da adolescência", o leitor se depara com mais uma das subversões da psicanálise: reconhecer a importância da função do sujeito adolescente no campo social. "Anotações sobre a diferença absoluta e a diferença relativa" é um ensaio que alerta para o fato de que, numa análise, "a diferença absoluta que se trata de alcançar é o terreno daquilo que é incomparável e que excede as diferenças relativas". Por fim, "Psicanálise e Democracia: da demanda política do Outro ao desejo do sujeito", pari passu com os olhares dos operários retratados por Tarsila, que nos questionam sobre o que visamos numa sociedade cujo discurso dominante nos torna escravos do capital, traz uma reflexão contundente sobre a possibilidade da construção de um espaço democrático no qual, sendo possível reconhecer as desigualdades do sistema, se alcance produzir uma política em que o governo "escape das 'paixões do Um'".

A Resenha da obra Entre acordes dissonantes: a clínica psicanalítica no ambulatório de saúde mental destaca o valor dado pela autora, Leda Lessa, à conceituação de sujeito do inconsciente na perspectiva da Reforma Psiquiatra, que privilegia a ideia de cidadania e de cuidado. O ensaio sobre a exposição Frestas mostra que a artista Elizabeth Jobim, ao reatualizar sua obra mesclando materiais e espessuras diversas, renova sua arte. Uma bela lição para os psicanalistas: criar, reatualizar-se e, assim, manter viva a transmissão do legado de Freud e de Lacan.

Por fim, informamos que todos os artigos deste número foram avaliados por uma comissão de pareceristas ad hoc.

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