Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.24 no.74 São Paulo 2007
PONTO DE VISTA
ABPp: Gestão 1991-1992. Construindo a identidade brasileira da Psicopedagogia
Mônica Hoehne Mendes
Mestre em Educação pela Universidade São Marcos - São Paulo
É muito gratificante poder contar esse pedaço da história da ABPp, porque foi possível lembrar das ações tão importantes que ajudaram a enriquecer a identidade da psicopedagogia no Brasil. Vocês irão entender melhor ao lerem a descrição dos acontecimentos deste período!
O período desta gestão foi de fundamental importância para a história da Psicopedagogia no Brasil, história esta que teve como ponto de partida modelos oriundos de outros países e caminhava, gradativamente, para a construção de seu próprio modelo. Nesta gestão, nos propusemos a analisar, de maneira criteriosa, o crescimento e o desenvolvimento da atuação deste profissional. Este foi o fio condutor de nossos eventos.
No início desta gestão, uma de nossas iniciativas foi mudar o formato do periódico que era publicado pela ABPp, até então denominado "Boletim", em forma de uma pequena brochura. Este passou a se apresentar no tamanho de uma revista convencional e a denominar-se Psicopedagogia - Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, com uma programação gráfica mais leve. Naquele momento, sua publicação era semestral.
COMEÇANDO A PENSAR NO RECONHECIMENTO DA PROFISSÃO
Naquele momento, a questão do reconhecimento da profissão já inquietava um número expressivo de psicopedagogos, o que gerou um movimento de discussões e reflexões no grupo de pessoas que constituíam o Conselho Administrativo da ABPp, o que se estendeu nas gestões seguintes.
Ao lado disto, o outro aspecto que continuava ocupando nossa atenção era a formação do psicopedagogo, ou seja, a competência dos cursos que formam estes especialistas. Isto, como em gestões anteriores, nos levou a convidar os coordenadores dos referidos cursos a participar de nossas discussões sobre "As áreas de conhecimento" e "Campos de atuação" do psicopedagogo (trabalho iniciado com a colaboração de Sara Pain), o que lhes possibilitava (re)pensar a grade curricular dos cursos pelos quais eram responsáveis.
CÓDIGO DE ÉTICA
Conscientes do momento histórico que atravessávamos, elaboramos o Código de Ética, o que era essencial, já que não tínhamos (como até hoje não temos) nossa profissão reconhecida. Este passou a ser o documento norteador dos Princípios da Psicopedagogia, das Responsabilidades Gerais do Psicopedagogo, das Relações deste com outras Profissões, sobre a Importância do Sigilo, etc. Este documento foi publicado na Revista Psicopedagogia nº 38.
ESTATUTO
Outro documento que mereceu nossa atenção nesta gestão foi o Estatuto vigente desde 1986, quando passou por adaptações, pela passagem de Associação Estadual para Associação Brasileira. Depois disto, cinco seções e duas subseções (hoje denominados de núcleos) foram criadas, o que demandava maior atendimento às idéias, necessidades e dificuldades a serem sanadas por parte da Associação de visão nacional. Portanto, já requeria uma revisão. Esta reformulação foi empreendida pelos membros do Conselho Administrativo e por uma comissão que tinha por objetivo aprofundar as discussões levantadas em reuniões de conselho. Na seqüência, as reformulações foram votadas em Assembléia Geral, no II Congresso de Psicopedagogia.
Entre as atualizações feitas, reviu-se no Cap. III Art. 11º, sobre sócios (hoje associados ) da ABPp, em especial o então nomeado Sócio Titular. No artigo 12º foram esclarecidas as condições para que o associado contribuinte adquirisse o status se Assoiciado Titular, bem como ficou estabelecida a valorização interna pela ABPp sobre associado, mostrando a preocupação presente na Diretoria e Conselho Administrativo com a identidade, formação e reconhecimento profissional na Psicopedagogia.
Também foi significativa a reformulação feita no Capítulo V da Administração, Art. 29º, quando se introduziu a criação do Conselho Nato, que juntamente com os Conselho Nacional e Fiscal e Diretoria da ABPp, compõe os Órgãos Administrativos da ABPp. O Conselho Nato teve como principal disparador para sua criação e reconhecimento, a valorização como memória viva de dirigentes de anteriores Diretorias da ABPp, seus percalços e experiências para a construção desse novo empreendimento brasileiro, a Psicopedagogia e a ABPp.
OS PRIMEIROS ASSOCIADOS TITULARES
Nesta gestão, mais uma ação importante foi iniciada pela ABPp, conceder título de associado titular mediante a apresentação de curriculum vitae comprovado, mormente em relação a cursos e demais atividades diretamente relacionadas à área da Psicopedagogia, comprovação de terapia pessoal, de supervisão e a leitura de memorial. Esta iniciativa passava a conferir maior legitimidade aos profissionais psicopedagogos.
ATIVIDADES CULTURAIS
A ABPp, no cumprimento de suas funções, promoveu o desenvolvimento, aprimoramento técnico e científico de seus associados e a divulgação da Psicopedagogia por meio da realização de Seminários, Conferências, Reuniões Culturais, Encontros e um Congresso. Vejamos os temas que foram abordados em nossos eventos:
Reuniões Culturais:
O que é diagnóstico psicopedagógico?
A intervenção psicopedagógica
De Narciso a Édipo (um percurso da aprendizagem, na visão psicanalítica)
Da clínica à sala de aula
O símbolo e o brinquedo
Conferências:
As quatro dimensões simbólicas no aprendizado com Carlos Amadeu Byington
Psicanálise e Psicopedagogia com Amélia Thereza de Moura Vasconcelos
Seminários:
Conversando sobre Vygotsky e Wallon
Como interagem corpo e aprendizagem
A TV, o vídeo e suas aplicações na psicopedagogia
Aprendizagem na rede particular de ensino
A participação da família na construção do conhecimento
REPRESENTAÇÃO DA ABPp
Além disto, a ABPp se fez presente em vários eventos psicopedagógicos de diversas localidades: Taubaté, Ubatuba, Curitiba, Goiânia, São José do Rio Preto, Fortaleza. Além disso, participou de eventos promovidos por outras Entidades, como o XI Congresso Brasileiro de Neurologia e Psiquiatria Infantil e IX Congresso Latino-Americano de Neurologia Infantil, II Congresso Latino-Americano de Neuropsicologia e I Congresso Brasileiro de Neuropsicologia, VI Encontro Paranaense de Psicologia. Estivemos presentes, também, em diferentes Universidades: Universidade Paulista -UNIP, Universidade de Guarulhos e OSEC.
CONGRESSO
Esta gestão tentou ressaltar a produção psicopedagógica brasileira, ao iniciar a organização deste evento, concordamos que estava na hora "de trabalhar com a prata da casa" (sic), isto é, neste congresso, não teríamos nenhum convidado estrangeiro, nem mesmo dos países vizinhos da América Latina. Devo dizer, que alguns nomes marcantes dos países vizinhos ficaram um tanto decepcionados com esta nossa decisão.
Este foi o II Congresso Brasileiro de Psicopedagogia e V Encontro de Psicopedagogos, denominado "A Práxis Psicopedagógica Brasileira", realizado no Teatro Elis Regina (Anhembi). Recebemos um grande número de trabalhos enviados por pessoas que desejavam apresentá-los no Congresso. Estes trabalhos foram lidos e selecionados pelos membros do Conselho da ABPp e, desta forma, conseguimos organizar um evento que contemplava as características científicas que um Congresso requer.
Um número significativo dos trabalhos apresentados neste evento foi publicado em um livro, que levou o mesmo nome do Congresso, outros foram publicados em nossa revista.
DIRETORIA
A diretoria desta gestão era composta por:
Mônica Hoehne Mendes
Maria Célia Malta Campos
Sônia Maria Colli de Souza
Claudete Sargo
Cybelle Weinberg
Suely Grimaldi
Ademar de Souza
Rosana Bachiega
Nívea Fabricio
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gostaria de encerrar este relato com o poema de Fernando Pessoa, o qual encerrou a fala de apresentação da abertura do II Congresso:
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio
Não é bastante para não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com a filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
O diferencial desta gestão foi o trabalho realizado por uma equipe de diretoria extremamente coesa, sintonizada com a divulgação da Psicopedagogia e procurando elevar a seriedade do fazer psicopedagógico.
Acreditamos que não necessitamos mais "pensar" numa Psicopedagogia no Brasil num estado de "vir a ser". Em 1991, a Psicopedagogia já estava se institucionalizando, segundo a visão de Berger e Luchmann, hoje, eu tenho certeza de que ela está legitimada!
A partir de dezembro de 1992, a ABPp estava pronta para receber a próxima diretoria, presidida por Maria Célia Malta Campos, que abriu outras frentes!
Correspondência:
Mônica Hoehne Mendes
Rua Carlos Sampaio, 304 - Cj. 51 - sala 03 - Paraíso
São Paulo - SP - 01333-020
Tel.: (11) 3287-8406
E-mail: monicam51@hotmail.com
Trabalho realizado na ABPp - São Paulo, São Paulo, SP
Artigo recebido: 12/05/2007
Aprovado: 16/06/2007