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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.24 no.75 São Paulo  2007

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Distúrbios de aprendizagem na visão do professor

 

Learning disturbances in the teacher vision

 

 

Fabrícia Bignotto de CarvalhoI; Patrícia Abreu Pinheiro CrenitteII; Sylvia Maria CiascaIII

ICurso de Especialização em Neuropsicologia aplicado à Neurologia Infantil, FCM/UNICAMP
IIFaculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Departamento de Fonoaudiologia. Membro do Laboratório de Distúrbios e Dificuldades de Aprendizagem e Transtornos da Atenção - DISAPRE e do Grupo de Pesquisa CNPq - Neurodesenvolvimento, Escolaridade e Aprendizagem, FCM/UNICAMP
IIIPsicóloga. Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP. Laboratório de Distúrbios e Dificuldades de Aprendizagem e Transtornos da Atenção - DISAPRE e do Grupo de Pesquisa CNPq - Neurodesenvolvimento, Escolaridade e Aprendizagem, FCM/UNICAMP

Correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A educação, atualmente, percorre grandes e variadas discussões, e, o fracasso escolar é uma realidade visível. Pesquisas confirmam o fracasso escolar como um desafio a ser vencido. O presente estudo propõe identificar o saber daquele que atua diretamente com o aluno, o professor, por considerá-lo um personagem importante no diagnóstico de alunos com distúrbios de aprendizagem, pois, muitas vezes, crianças com essa problemática recebem estigmas ou atitudes equivocadas referentes às suas ações na sala de aula.
OBJETIVO: Verificar o conhecimento do professor quanto aos distúrbios de aprendizagem.
MÉTODO: Para atender o objetivo, foi aplicado um questionário aos professores da rede pública de ensino. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente e postos em discussão.
RESULTADOS: Os resultados apontaram para o desconhecimento do professor quanto à diferença entre distúrbios de aprendizagem e dificuldade de aprendizagem.
CONCLUSÃO: Os achados deste estudo nos fazem pensar que o professor precisa rever seus métodos de ensino, seus conhecimentos práticos e teóricos e ir à busca do conhecimento.

Unitermos: Educação. Transtornos de aprendizagem. Aprendizagem.


SUMMARY

INTRODUCTION: The education, nowadays, goes trough great and varied discussions, and, school failure is a challenge to be faced. This study proposes to identify the knowledge of the one who works directly with the student, the teacher, for considering her/him an important character in the diagnoses of students with learning disturbances, because students with this problem receive many times stigmas or wrong attitudes referring to their actions in class.
OBJECTIVE: To verify the teacher's knowledge in relation to learning disturbances.
METHOD: To accomplish the objective, a questionnaire was applied to teachers of regular state school. The data obtained was analyzed statistically, discussed and concluded.
RESULTS: The results pointed to a lack of knowledge about the difference between learning disturbances and learning difficulties.
CONCLUSION: The findings of this study make us think that the teacher needs to verify his teaching methods, his practical and theoretical knowledge and look for more learning.

Key works: Education. Learning disorders. Learning.


 

 

INTRODUÇÃO

O processo de aprendizagem tem sido cada vez mais diagnosticado como problemático e caótico, e a responsabilidade tem recaído em quem ensina e quem aprende sob a ênfase de ensinar mal e aprender pouco1 e, é crescente o número de alunos com dificuldades escolares, muito deles se desinteressam aliados pela desmotivação do próprio sistema, desenvolvem uma baixa auto-estima, acabam evadindo, reprovando ou abandonando as atividades escolares. Existe uma queixa freqüente por parte de pais e educadores acerca das dificuldades de aprender2.

Considerando aprender pouco, uma dificuldade, e ensinar mal, uma variável, a problemática contorna a ênfase do desconhecimento do professor com relação aos problemas comportamentais e distúrbios de aprendizagem, que levam a uma atuação equivocada no processo educacional.

Entretanto, o diagnóstico de um distúrbio de aprendizagem não é tão simples de se fazer, é preciso livrar-se das possibilidades de que fatores psicopedagógicos e condição socioeconômica-familiar não estejam causando falhas no desenvolvimento escolar do aluno2 e, o professor tem um papel importante, já que, sabe-se que tais problemas aparecem em crianças com idade pré-escolar e escolar, sendo a sala de aula um local proveniente de identificar os distúrbios ou dificuldades de aprendizagem3.

Por esse motivo, ter conhecimento sobre dificuldades e distúrbios de aprendizagem pode ajudar o professor, já que estudos demonstram que o professor é o intermediário para a procura dos pais aos serviços de saúde, com queixas de distúrbios ou dificuldades de aprendizagem. Entretanto, sabe-se que muitas dessas crianças não apresentaram causas orgânicas que justifiquem um distúrbio de aprendizagem, dos quais muitas vezes eram rotuladas, e que, em sua maioria, os problemas devem-se quase que exclusivamente à dificuldade de caráter pedagógica, caracterizada como inadequação ao método e ao sistema de ensino3.

Desse modo, faz-se necessária a descrição de conceitos sobre a diferenciação entre distúrbios de aprendizagem e dificuldades de aprendizagem, para uma análise do propósito principal deste estudo, a investigação do conhecimento do professor quanto aos distúrbios e às dificuldades de aprendizagem.

Diagnóstico Diferencial: Distúrbios de Aprendizagem e Dificuldade de Aprendizagem

Descrever a diferença entre distúrbios de aprendizagem e dificuldades de aprendizagem nos mostra um dos equívocos que leva a uma concepção errônea da dificuldade de aprender, e isso se deve pela interpretação, às vezes, incorreta do termo, pois, muitas vezes, o termo distúrbio de aprendizagem aparece na literatura como sinônimo de outros: dificuldade escolar, problema de aprendizagem, dificuldade na aprendizagem e, até mesmo, pela tradução errada do termo inglês "learning disabilities4".

As tentativas de definir distúrbios de aprendizagem são inúmeras, mostram igualdades e disparidades, por conta do descobrimento de novas áreas (Pedagogia, Neurologia, Psicologia e Assistência), visando a uma reformulação de conceitos, e até com objetivo de se obter uma linguagem que se proponha a uma coesão diagnóstica, tratamento e remediação4.

No dicionário5, verifica-se sobre distúrbio: como uma perturbação orgânica ou social, dificuldade: caráter de difícil, aquilo que o é, obstáculo, óbice, situação crítica, e, aprender: tomar conhecimento de tomar de algo, retê-lo na memória graças a estudo, observação, experiência, etc.

Não discutiremos aqui a questão da aprendizagem, mas não podemos deixar de citá-la, pois está envolvida neste processo, é uma palavra cotidiana, que muitos pronunciam com diversas variações e significados, onde, inúmeras definições são colocadas por diversos autores, onde cada segmento se refere às questões épicas, do momento da história do homem no seu processo de aprendizagem, todas de grande importância, pois nos permitem julgar, conhecer e compreender.

Para Ciasca6, aprendizagem "é uma atividade individual que se desenvolve dentro de um sistema único e contínuo, operando sobre todos os dados recebidos e tornando-os revestidos de significado. Este ato não é limitado à intenção ou ao esforço para reter itens ou habilidades deliberadamente repetidas de momento a momento, mas se amplia na qualidade do aprendido, no grau de abstração e com o transcorrer da idade".

Sendo assim, a aprendizagem pode ser entendida como um processo de aquisição individual, evolutiva e constante, que reúne características tanto orgânicas como do ambiente.

Para haver um processo de aprendizagem são necessários elementos comunicadores: a mensagem, o receptor e o meio ambiente, interagindo um com o outro, onde, na falha de um deles gera-se um problema. E, para se aprender, é necessária uma série de pré-requisitos, que irão desenvolver condições, capacidades, habilidades para tal processo, incluem-se áreas de: motricidade (rolar, sentar, engatinhar, andar, auto-identificação, esquema corporal, abstração, etc), integração sensório-motora (equilíbrio, ritmo, destreza, agilidade, lateralidade, discriminação tátil, etc), habilidades perceptivo-motoras (percepções sensitivas, integração visomotora, acuidade visual, memória, coordenação motora fina, etc), desenvolvimento da linguagem (fluência, articulação, vocabulário, etc), habilidades conceituais (classificação, seriação, conceito numérico, compreensão, etc) e habilidades sociais (aceitação social, maturidade, criatividade, julgamento de valor, etc)7.

Existe, então, a possibilidade das dificuldades aparecerem naquele aluno que não estava capacitado no desenvolvimento de questões iniciais, pré-requisitos para o começo da alfabetização, ou melhor, da aprendizagem mais complexa do que aquela situada na pré-escola, onde a preocupação se dá mais no processo da socialização, do lúdico, do início das regras sociais, etc.

Entretanto, quando se trata de um distúrbio de aprendizagem, da dificuldade ou da incapacidade de aprender por algum motivo que seja orgânico, isso também constitui um problema dentro do processo de ensino-aprendizagem, pois há um prejuízo, uma barreira, um obstáculo nesse processo7.

Distúrbio de aprendizagem é como uma "perturbação no ato de aprender, isto é, uma modificação dos padrões de aquisição, assimilação e transformação, sejam por vias internas ou externas do indivíduo"4, acrescentando, distúrbios de aprendizagem como "sendo uma disfunção do Sistema Nervoso Central relacionada a uma 'falha' no processo de aquisição ou do desenvolvimento, tendo, portanto, caráter funcional", sendo assim, "um distúrbio não caracteriza uma ausência, mas sim uma perturbação dentro de um processo; assim, qualquer distúrbio implica em uma perturbação na 'aquisição, utilização e armazenamento de informações, ou na habili-dade para soluções de problemas'. Portanto, os distúrbios de aprendizagem seriam uma perturbação no ato de aprender, isto é, uma modificação dos padrões de aquisição, assimilação e transformação, sejam por vias internas ou externas ao indivíduo"3.

Diferentemente de dificuldade escolar "que está relacionada especificamente a um problema de ordem e origem pedagógica"6, um distúrbio de aprendizagem envolve situações orgânicas que impedem o indivíduo de aprender, e, dificuldade escolar, pode estar relacionada a fatores internos que se somam aos fatores ambientais como, por exemplo, fatores emocionais, familiares, sociais, motivacionais, relação professor-aluno, programas escolares inadequados e outros6.

Quanto aos distúrbios de aprendizagem, podem ser verbais e não verbais. Os distúrbios verbais estão relacionados com as dificuldades nas habilidades em ler e escrever, que são as dislexias, que podem ser classificadas em três subtipos: a dislexia disfonética (indivíduos que lêem as palavras conhecidas, mas com dificuldades das palavras novas, há trocas nas letras), a dislexia deseidética (apresentam leitura lenta, com dificuldade em palavras irregulares), e a dislexia mista, que abrange os dois tipos8.

Os distúrbios não verbais estão relacionados aos problemas visoespacial e incapacidade para compreender o significado do contexto social. Apresentam dificuldades na percepção tátil e visual, habilidades de coordenação motora, destreza, dificuldades em lidar com situações novas, acarretando em dificuldades acadêmicas e sociais. Apresenta boa memória auditiva e boa estrutura de linguagem9, sendo que as crianças acometidas apresentam inteligência normal, sem déficits sensoriais, ausência de problemas físicos e emocionais significativos8,10-12.

Quanto ao comportamento, há alguns autores que os apontam e que podem ser problemas como, por exemplo, no caso da dislexia, onde a criança pode apresentar um prejuízo tanto nas relações com a aprendizagem, como uma limitação na capacidade de comunicar desejos, necessidades, afetos, e fazer planos12.

E, quanto aos distúrbios não verbais, são crianças consideradas pelos professores, como problemáticas, mal educadas e imaturas, e os familiares as consideram crianças com vocabulário de adulto (vocabulário precoce e rico), mas com outras dificuldades (sociais)9. De qualquer forma, tanto os distúrbios quanto as dificuldades geram problemas escolares, na escola, com professores, com a aprendizagem, ou melhor, com a capacidade de aprender, por esse motivo, identificar o conhecimento do professor possibilita distinguir as diferenças, permitem traçar o processo de intervenção diferente dos rótulos, estigmas e até exclusão, proporcionando novas relações entre o aprender, o aluno e a escola.

 

MÉTODO

Sujeito

Os sujeitos do estudo foram professores da rede pública do ensino fundamental, totalizando um número de 55, de ambos os sexos, com predomínio maior do gênero feminino, entretanto não sendo este um critério de diferenciação para a pesquisa. Os professores incluídos neste estudo foram aqueles que possuíam, no mínimo, cinco anos de experiência prática envolvidos no processo pedagógico, que encontraram, em sua prática comum, crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem. Sendo critério de exclusão o tempo de trabalho inferior a cinco anos.

Material

A elaboração do questionário (Anexo 1) foi realizada a partir da revisão bibliográfica, objetivando atingir a proposta do trabalho: verificar o conhecimento do professor. Para isto, o questionário elaborado conteve três perguntas, sendo duas delas com respostas de múltipla escolha e uma pergunta aberta.

Metodologia

Inicialmente, o trabalho foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade de Campinas, com protocolo número 0310.0.146.000-6, onde, após aprovação do mesmo, deu-se início à pesquisa de campo. Consta, também, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde 1996, o qual foi assinado pelos sujeitos de pesquisa, ficando uma cópia com o pesquisador e uma com o sujeito.

O questionário foi submetido a um teste piloto, onde 10 professores que atendiam aos critérios de inclusão responderam às questões, voluntariamente, sendo que, estes 10 questionários não foram inclusos no resultado da amostra. A partir da análise obtida dessas respostas, o questionário sofreu algumas alterações cabíveis, correspondendo ao interesse do estudo.

As pesquisadoras solicitaram permissão às escolas da rede pública de ensino, onde, após aprovação, deixaram o questionário aos professores, que quiseram participar voluntariamente da pesquisa. Os objetivos do estudo foram explicados e esclarecidos aos professores. Cada questão é apresentada primeiramente de forma estatística, a fim de visualizar os dados obtidos, e, em seguida, tem-se o resultado descritivo.

Análise dos Dados

Após a obtenção dos resultados, estes foram submetidos ao tratamento estatístico e foram agrupados, analisados e discutidos.

Queremos referenciar que foram consideradas todas as alternativas, até mesmo as respostas com mais de uma alternativa assinalada, a fim de obter a totalidade da amostra.

Os métodos estatísticos utilizados foram freqüência absoluta e freqüência relativa, para então descrever graficamente, no diagrama circular.

Definimos como freqüência absoluta de uma variável o número de vezes que este valor foi observado, e, freqüência relativa de uma variável, como o quociente de sua freqüência absoluta pelo número total de elementos observados.

 

RESULTADOS

Foram realizadas três perguntas referentes ao tema: diferença entre distúrbio e dificuldade de aprendizagem que será demonstrada abaixo:

Questão 1 - Alunos que Apresentam Distúrbio de Aprendizagem

Foi perguntado aos professores o que eles compreendiam por um aluno que apresentava distúrbio de aprendizagem: 4% responderam a alternativa A, ou seja, aquele aluno que recebia exercícios e instruções adequadas, mas não rendia nas tarefas a serem executadas; 16% responderam alternativa B, aquele aluno com atraso no desenvolvimento global, decorrente de atraso cognitivo e deficiência mental; 47% responderam alternativa C, consideravam o aluno com distúrbio de aprendizagem aquele que apresentava incapacidade em aprender por algum problema neurológico; 18% assinalaram a alternativa D, aquele com problema social inapropriado por conta de fatores emocionais e sociais; 4% assinalaram alternativa E, que considerava aquele aluno que não se adequava à metodologia utilizada pelo professor; 7% assinalaram duas alternativas D+E; 2% assinalaram C+D; outros 2% assinalaram B+C (Figura 1).

 

 

Questão 2 - Professor que Diferencia Distúrbio de Aprendizagem de Dificuldade Escolar

Foram analisadas as respostas descritivas dos professores e foi constatado que 22% dos professores diferenciavam distúrbio de aprendizagem de dificuldade escolar, e 78% não o faziam (Figura 2). Para esta análise, foram consideradas respostas conforme descrição da literatura, onde distúrbio de aprendizagem é definido como uma disfunção do Sistema Nervoso Central, que acarreta numa perturbação do ato de aprender (aquisição, assimilação e transformação), afetando a aprendizagem acadêmica, mais especificamente a leitura, a escrita, aritmética, ortografia e linguagem, e, dificuldade de aprendizagem, relacionada a questões pedagógicas, ao método, ao ensino, a adequação escolar, dificuldades socioeconômicas4,6. Sendo assim, foram consideradas corretas respostas como: "Distúrbios de aprendizagem são decorrentes problemas neurológicos e dificuldade de aprendizagem, problema pedagógico, emocional, familiar", "Distúrbio de aprendizagem são desordens manifestadas na aquisição da compreensão da fala, leitura, escrita, raciocínio matemático e entendida como orgânica dificuldade de aprendizagem pode ocorrer por situações sociais, emocionais, metodológicas, culturais", e incorretas respostas como: "Distúrbio de aprendizagem está relacionada ao ambiente social e emocional, dificuldade de aprendizagem está relacionada ao método de ensino, aprendizagem mediante a postura do professor", "Distúrbio de aprendizagem é mais duradouro e requer maior atenção e dificuldade de aprendizagem, requer mais atenção, porém é mais passageiro", "Distúrbio de aprendizagem trata-se de um portador de rebaixamento intelectual leve, com falhas no comportamento adaptativo e déficit em relação ao conteúdo estabelecido pela escola, já, na dificuldade de aprendizagem, a criança deve ter tratamento individual para maior segurança em relação à aquisição do processo de conhecimento".

 

 

Questão 3 - Causa do Distúrbio de Aprendizagem

Foi perguntado aos professores qual a causa do distúrbio de aprendizagem: 2% responderam alternativa A, considerando de ordem pedagógica; 40% dos professores responderam alternativa B, e consideram a causa do distúrbio de aprendizagem de ordem orgânica, outros 27% responderam alternativa C, sendo a causa emocional. Entretanto, 7% consideraram todas as alternativas, 20% consideraram alternativas B+C, e 4% não responderam à questão.

Quanto à justificativa da questão, 64% não justificaram corretamente, 20% a fizeram corretamente e 16% não responderam à justificativa (Figura 3). Esta questão também constatava o conhecimento do professor referente aos distúrbios de aprendizagem. Responderam corretamente 40% dos pesquisados, mas de forma parcial, pois ao requerer a justificativa da resposta 64% não a fizeram corretamente, ou seja, mesmo quando a escolha da alternativa estava correta (alternativa C, de ordem orgânica), houve justificativas incorretas (Figura 4) como: "o emocional está presente", "algumas crianças nascem com distúrbios, outras adquirem através da violência familiar ou escolar", "nem sempre é da mesma ordem", "tem pessoas que não são habilitadas para tal ação, portanto nós devemos respeitar sua limitação".

 

 

 

 

Analisando cada questionário individualmente, considerando as três questões conjuntamente, foi possível outra análise (Figura 5). A partir dos dados apresentados, pudemos constatar que 11% dos professores pesquisados acertaram todas as três perguntas que se referem ao mesmo assunto (conhecimento sobre distúrbio de aprendizagem e dificuldade de aprendizagem), 18% acertaram duas perguntas, 36% acertaram uma pergunta, e, outros 35% erraram todas as perguntas.

 

 

DISCUSSÃO

Ao considerarmos a questão 1, que aborda o conhecimento do professor com relação aos distúrbios de aprendizagem, podemos afirmar que 47% dos pesquisados responderam corretamente, que consta que alunos com distúrbios de aprendizagem são aqueles que apresentam incapacidade de aprender por algum motivo neurológico (déficit de atenção, memória, percepção, problemas de linguagem oral, escrita, leitura, raciocínio matemático e comportamento social inapropriado), assim sendo, podemos dizer que quase metade dos professores conhece o assunto.

Entretanto, há outras duas questões envolvidas, que deveriam ter a mesma resposta, a de número 2 e 3, já que também enfocam o conhecimento do professor com relação ao distúrbio de aprendizagem. Quanto à questão 2, foi solicitado ao professor a mesma resposta, só que de forma descritiva, e já temos outro resultado, 78% não a fizeram adequadamente. E quanto à questão 3, onde os professores assinalaram as causas dos distúrbios de aprendizagem, às vezes corretos, mas que não coincidiam com as justificativas.

Podemos fazer a mesma leitura, porém com dados estatísticos diferentes, ao analisarmos as três questões em conjunto do mesmo professor, ou seja, ao considerarmos que o professor que tem conhecimento do assunto é aquele que respondeu corretamente às três questões, para isso, foi visto cada questionário, examinando-se as três questões ao mesmo tempo, considerando os que acertaram todas, professores que apresentam conhecimento do assunto, um total de 11%, professores que acertaram uma (36%) ou duas perguntas (18%), professores que apresentam conhecimento parcial, totalizando 54% e, professores que erraram todas as questões, professores que desconhecem o assunto, um total de 35%.

Nessa leitura, podemos concluir que há três grupos de professores, aqueles que apresentam conhecimento, aqueles que apresentam conhecimento parcial, e os que desconhecem o assunto.

Embora os dados estatísticos nos mostrem que os professores pesquisados não apresentavam conhecimento frente ao tema, queremos recorrer a algumas discussões, não na tentativa de justificar essa defasagem, mas de relacionar os problemas com situações reais como, por exemplo, a questão da educação e a formação dos professores.

Os problemas educacionais não estão apenas sobre a vertente do aluno que não aprende, mas também com relação à formação do professor, que, muitas vezes, se tornaram professores, por segunda opção, pois, no papel de alunos, entram nas universidades com "a expectativa de serem biólogos, geógrafos, matemáticos, lingüistas, historiadores ou literatos, dificilmente professores de biologia, de geografia, de línguas ou de literatura"13.

Há, ainda, a problemática da própria formação quanto a investimentos públicos, que acabam sendo para áreas mais nobres e os professores acabam sendo pessoas originárias de camadas médias e médias baixa, onde têm que arcar financeiramente com sua formação profissional13.

Além disso, há questões que envolvem o contexto escolar, a escola, o ambiente, o reconhecimento profissional. Escolas sem estruturas, sem condições físicas de atender aos alunos, professores com excesso de carga horária, baixos salários, desmotivados para enfrentarem salas de aula superlotadas e alunos com problemas ou dificuldades14,15.

É difícil pensar que o professor das escolas públicas, com toda a problemática envolvida, ainda tenha motivação para realizar cursos de pós-graduação, aprimoramento, aperfeiçoamento, entre outros, arcando com todos os custos, sem terem retribuições, principalmente o reconhecimento.

Mas, também, não podemos nos esquecer que é no contexto escolar e, na maioria das vezes, é o professor quem percebe as dificuldades do aluno2,6,16 e um investimento profissional é importante, principalmente para o aluno.

 

CONCLUSÃO

Os resultados apontam que há um desconhecimento do professor quanto ao assunto distúrbio e dificuldade de aprendizagem e, as responsabilidades do fracasso escolar recaem sobre os agentes do processo: professor e aluno, por um lado às práticas pouco adequadas e, por outro, o esforço insuficiente para alcançar o sucesso: aprender e passar de ano. Por esse motivo, é importante, ao professor, a busca do conhecimento e repensar suas práticas pedagógicas.

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência:
Fabrícia Bignotto de Carvalho
Rua das Caneleiras, 38, apto 501
Jd. Glória Americana - SP
13468-240 - Tel.: (019) 3405-2732
E-mail: famaca@uol.com.br

Artigo recebido: 15/06/2007
Aprovado: 21/08/2007

 

 

Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP.

 

 

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

Identificação

Idade (anos):__________________________________

Ano de formação: _________/_________/_________

Nível de formação: __________________________________________________________

Sexo: _____________________________________________________________________

Tempo que leciona: _________________________________________________________

Série que leciona: __________________________________________________________

1-Alunos que apresentam distúrbios de aprendizagem são alunos que:

a) Recebem exercícios e atividades apropriados para sua idade e capacidade e não rendem nas tarefas a serem executadas.

b) Apresentam atraso no seu desenvolvimento global, causando um atraso no desenvolvimento cognitivo, por conta de apresentarem uma deficiência mental.

c) Apresentam incapacidade de aprender por algum problema neurológico (déficit de atenção, memória,

percepção, problemas na linguagem oral, escrita, leitura, raciocínio matemático e comportamento social inapropriado).

d) Apresentam comportamento social inapropriado, por conta de fatores emocionais e/ou familiares, que causam problema de aprendizagem.

e) Não se adequam à metodologia de ensino utilizada pelo professor e, por esse motivo, apresentam dificuldades no processo de aprendizagem.

2 - Como você diferencia distúrbio de aprendizagem de dificuldade de aprendizagem?

3 - Para você o distúrbio de aprendizagem é sempre de ordem:

a) Pedagógica

b) Orgânica

c) Emocional

Justifique:________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

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