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Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.25 no.77 São Paulo 2008
ARTIGO ESPECIAL
Historiando os 18 anos da psicopeddagogia em Goiás
Telling the 18 years of the Psychopedagogy in Goiás
Candy GiffordI; Janete CarrerII; Luciana Barros de AlmeidaIII
IPsicóloga, psicopeddagoga, sócio-fundadora da ABPp - Seção Goiás
IIPsicóloga, psicopeddagoga, Mestre em Educação, Coordenadora do Curso de Especialização em psicopeddagogia da Universidade Católica de Goiás
IIIPedagoga, psicopeddagoga, presidente da ABPp - Seção Goiás; conselheira nacional e regional da ABPp - Seção Goiás
RESUMO
O presente artigo apresenta o percurso histórico da psicopeddagogia em Goiás, mostrando a partir do testemunho de três profissionais como o desejo e a ousadia permearam as ações de um grupo de pioneiras, resultando no nascimento da Seção Goiás da ABPp e na abertura da primeira turma do Curso de Especialização em psicopeddagogia na Região Centro-Oeste. Mostra, também, a evolução da formação acadêmica oferecida pela Universidade Católica de Goiás e como a Associação Brasileira de psicopeddagogia tem conduzido o seu trabalho em direção à formação consistente do profissional da psicopeddagogia nestes 18 anos de existência.
Unitermos: psicopeddagogia. Conhecimento. Formação de recursos humanos. Prática profissional. História. Organizações de normalização profissional.
SUMMARY
The present article presents the historical passage of the Psychopedagogy in Goiás, showing from the certification of three professionals as the desire and the boldness they had permeate the actions of a group of pioneers, resulting in the birth of the Goiás Section of the ABPp and in the opening of the first group of the Course of Specialization in Psychopedagogy in the Region Center-West. It also shows the evolution of the academic formation offered by the University Catholic of Goiás and as the Brazilian Association of Psychopedagogy has lead its work in direction to the consistent formation of the professional of the Psychopedagogy in these 18 years of existence.
Key words: Psychopedagogy. Knowledge. Human resources formation. Professional practice. History. Professional review organizations.
INTRODUÇÃO
Estamos vivendo um momento histórico no qual a sociedade e a cultura estão sofrendo intensas mudanças, transformações de paradigmas e valores, que estão incidindo diretamente na existência das pessoas e das instituições.
Como educadores não podemos deixar de reconhecer a importância desse momento e, ao mesmo tempo, sinalizarmos a necessidade de não perdermos o contato com a nossa história e a nossa cultura.
Vivemos também na psicopeddagogia um movimento de mudança, debates, efervescência de idéias e questões que nos levam a refletir a respeito do processo de aprendizagem e da construção do conhecimento que estamos realizando.
Como a construção se inicia buscando o conhecimento prévio para que a articulação com o novo se processe, vamos revisitar a história da psicopeddagogia em Goiás, buscando explicitar como o desejo, a coragem, a iniciativa, a objetividade e o papel do grupo participaram e continuam presentes na trajetória da psicopeddagogia nesse estado da região Centro-Oeste.
Esse artigo, produto da construção conjunta de três profissionais da área de psicopeddagogia, tem como objetivos: mostrar a história da psicopeddagogia em Goiás, os desafios da formação acadêmica e o papel da Associação de psicopeddagogia nestes 18 anos de trabalho.
A HISTÓRIA
A nossa história começou em 1988, quando Gracia Fenelon visitou o Instituto Sedes, em São Paulo, e trouxe um folheto contendo informações a respeito do 1º Congresso Brasileiro de psicopeddagogia e algumas fichas de inscrição para nos filiarmos à ABPp, Associação Brasileira de psicopeddagogia.
Esse evento aconteceu em julho de 1988, no Colégio Rio Branco, em São Paulo, sendo que Sara Pain e Jorge Visca foram os condutores dos debates principais.
Em um universo de mil participantes vindos de vários estados do Brasil, se encontrava um grupo de profissionais de Goiás, formado por Suely de Paula Cunha, Janete Carrer, Emília Terezinha Borges, Aparecida Menezes de Oliveira e Candy Gifford, que ainda timidamente iniciava a aproximação com a psicopeddagogia.
Voltamos com a idéia de abrirmos uma seção da Associação de psicopeddagogia em Goiás. As possibilidades para que esse objetivo fosse atingido foram sendo trabalhadas e aguardávamos apenas a decisão do conselho diretor da Associação Brasileira de psicopeddagogia.
Em julho de 1990, durante o 2º Congresso Brasileiro de psicopeddagogia, conseguimos marcar uma reunião com Beatriz Scoz, presidente da ABPp. Nessa oportunidade, o grupo composto por Maristela Nunes Pinheiro, Marluce Crossara, Gracia Fenelon, Marilene de Azevedo Ribeiro, Suely de Paula Cunha, Emília Terezinha e Candy Gifford discutiu, argumentou e conseguiu a autorização para a abertura da Seção-Goiás.
Voltamos para Goiânia e nos empenhamos em construir um grupo de trabalho que se caracterizou pela força e coragem. Cada uma de nós trazia em sua prática profissional, quer no consultório quer em instituições educativas, uma bagagem composta pela história singular onde a força de trabalho e a paixão pelo que fazíamos eram elementos principais.
Com muito desejo de construir, paixão pela causa, coragem nas ações e poucos recursos financeiros, saímos para a luta. Falamos da psicopeddagogia para empresários, políticos, educadores, médicos e profissionais afins. Plantamos uma semente ainda em terreno árido, mas acreditávamos no que estávamos fazendo.
No dia 20 de agosto de 1990, esse grupo composto pelas nove primeiras sócias de Goiás, inscritas na ABPp, se reuniu em uma clínica-escola (NIR) para lançar uma chapa que dirigiria a Associação e marcou a posse desta diretoria para o dia 12 de setembro de 1990.
Vale lembrar que essa chapa era composta por nove profissionais - mães suficientemente boas, dispostas a cuidar desse filho recém-nascido.
Nessa caminhada, tivemos a parceria de Janete Carrer, professora do Departamento de Educação da Universidade Católica de Goiás, que na mesma data da posse coordenou a aula inaugural do primeiro curso de Especialização em psicopeddagogia do Centro-Oeste.
Se para fazer um bebê precisa-se de um pai e uma mãe, para o nascimento da psicopeddagogia em Goiás foi fundamental a parceria da Associação com a Universidade.
O convite para a posse da 1ª diretoria da ABPp - Seção Goiás trazia uma frase sugerida por Marilene Azevedo Ribeiro - "Todas as pessoas podem aprender". Essa frase se tornou nosso lema, simbolizando que tudo é possível quando existe o desejo, a organização, a disciplina e a confiança no que queremos realizar.
Em 1990, só existia no Brasil as Seções da ABPp em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná, assim fomos a 4ª Seção aberta no país.
Se chegamos tímidas em São Paulo, em 1988, tentando explicar onde ficava Goiás, como era o nosso trabalho e as possibilidades de crescimento que percebíamos aqui, hoje, graças aos resultados do nosso trabalho, representamos a nível nacional uma voz forte e respeitada em defesa da psicopeddagogia.
Com a impetuosidade dos jovens, organizamos o 1º curso destinado aos psicopeddagogos de Goiás. Ele foi ministrado pela Dra. Amélia Vasconcelos (Psiquiatra e Presidente da ABENEPI) e contou com cem participantes.
A partir daí não paramos mais. E hoje a Seção - Goiás é uma realidade concreta, vivendo nesse momento os benefícios da maturidade.
As nove profissionais que corajosamente se empenharam em trazer a Seção da ABPp para Goiás foram mães suficientemente boas para que esse filho pudesse caminhar com autonomia até hoje.
OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO ACADÊMICA
Ao focalizar os desafios da formação acadêmica do profissional da psicopeddagogia em Goiás é necessário retomar as discussões a respeito da construção do referencial teórico e do alcance social desta área do conhecimento, bem como historiar a trajetória do curso de Especialização em psicopeddagogia, oferecido pela Universidade Católica de Goiás a partir de 1990.
A psicopeddagogia, de acordo com Silva1, é uma área do conhecimento que se propõe a estudar o ser cognoscente, ou seja, o homem enquanto ser em processo de construção do conhecimento, e seu aprender. Esse ser é pluridimensional, isto é, se constitui das dimensões racional, afetiva/desiderativa e relacional, e das relações entre essas dimensões que ocorrem em um corpo biológico que está inserido em um contexto socioeconômico e cultural.
Assim, a psicopeddagogia possui como objeto de estudo um ser que nasce incompleto, e que, segundo Barbosa2, para sobreviver necessita relacionar-se com sua cultura, desejar, viver, conviver, aprender e conhecer, apropriar-se das ferramentas sociais e dos conhecimentos já produzidos ao longo da história nas diferentes culturas.
Dada a complexidade do seu objeto de estudo, a psicopeddagogia busca convergir e integrar as contribuições de várias ciências, como a Neurociência, a Psicologia Social, do Desenvolvimento e da Aprendizagem, a Pedagogia, a Sociologia, a Psicolingüística, além de algumas teorias, como Psicanálise e Psicodrama.
Por se preocupar em estudar o sujeito que pensa, deseja e se relaciona, a psicopeddagogia tem como campo de atuação o clínico-terapêutico, o institucional, o hospitalar, o teórico e o de pesquisa. Os trabalhos realizados nos campos clínico e institucional estão mais estruturados, divulgados e discutidos, enquanto que os estudos desenvolvidos nos outros campos estão ainda em fase de estruturação e discussão.
Atualmente, a psicopeddagogia tem direcionado suas discussões para questões como a construção do seu referencial teórico, as abordagens na pesquisa, a regulamentação da profissão, a formação do profissional psicopeddagogo, os efeitos nocivos da rotulação e patologização das dificuldades de aprendizagem e a ênfase no papel do aspecto biológico na produção dos problemas de aprendizagem. Também tem se preocupado com o seu papel social, ou seja, como pode contribuir para que o estudante da classe trabalhadora possa por meio de uma aprendizagem significativa se conscientizar e ser capaz de desencadear mudanças nessa sociedade capitalista e excludente e com a contribuição que pode oferecer para que a era da informática não destrua a autoria e a historicidade do ser humano.
Nesse momento histórico, os estudantes para responder às exigências impostas pela sociedade globalizada e tecnológica necessitam desenvolver uma aprendizagem ativa, assentada na descoberta e na resolução de problemas, aprender a pensar, criticar, escolher, decidir, estudar, construir o conhecimento e intervir na realidade.
Essas exigências têm desencadeado na sociedade, de acordo com Tavares3, o desejo de que o Ensino Superior (Graduação e Pós-Graduação) concorra de modo mais efetivo para o desenvolvimento de uma cultura científica, equipe os estudantes com conhecimentos e competências pessoais e de participação social e estabeleça relações mais significativas com o mundo do trabalho.
Após essas considerações a respeito da psicopeddagogia e das novas exigências em relação ao processo de aprendizagem na atualidade, podemos agora apresentar a trajetória de mudanças que o curso de Especialização em psicopeddagogia da Universidade Católica de Goiás vem vivenciando.
A idéia de trazermos para a Universidade Católica de Goiás a discussão a respeito da aprendizagem humana, a partir do referencial que estava sendo construído pela psicopeddagogia, surgiu quando participávamos de alguns Encontros e Seminários promovidos pela Associação Brasileira de psicopeddagogia em São Paulo, nos anos de 1988 e 1990. Percebemos a riqueza dos debates e dos relatos de experiências que apresentavam as contribuições desta nova área de estudo para a Educação. Desta forma, fomos colhendo dados a respeito do funcionamento dos poucos cursos de especialização ligados a instituições universitárias que existiam no país, na época eram quatro cursos, e buscando também o diálogo e a parceria com um grupo de profissionais, liderado por Candy Guiford, que estava organizando a abertura da Seção - Goiás da Associação Brasileira de psicopeddagogia.
Com esses dados em mãos e com a ajuda de algumas professoras do Departamento de Educação, entre elas gostaria de citar Ms Maria Rita Santana, que nos ajudou na reflexão, discussão e elaboração do projeto, Ms Lenita Maria J. Schultz, na época diretora do Departamento e Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, que era vice-reitora de graduação da Universidade Católica de Goiás, tivemos a ousadia de propor o primeiro curso de Especialização em psicopeddagogia da Região Centro-Oeste.
A comunidade goiana e goianiense recebeu com muito entusiasmo a proposta do curso e foram formadas duas turmas.
Assim, a parceria entre a Universidade Católica de Goiás e a Associação Brasileira de psicopeddagogia se concretizou com a abertura da Seção Goiás na mesma data da aula inaugural do curso de especialização. Essa parceria vem se confirmando durante todos esses anos.
O curso de Especialização em psicopeddagogia iniciou a sua primeira turma em setembro de 1990, propondo refletir sobre o processo ensino-aprendizagem e suas dificuldades e contribuir para a qualificação dos profissionais que atuavam na Educação. A carga horária era de 360 horas e a duração do curso, nesta época era de 2 anos, sendo um ano e meio de estudo teórico e seis meses para a realização da monografia, cujo tema deveria estar relacionado à problemática discutida no curso.
Nesta época, a maioria dos professores pertencia aos quadros de instituições universitárias de São Paulo e Rio de Janeiro. E, durante muito tempo, pudemos contar com a participação de profissionais como Aglael Borges, Neide Noffs, Selma Cenamo e Sandra Thomé, que contribuíram significativamente para a formação profissional dos estudantes de psicopeddagogia. Atualmente, ainda contamos com a participação de Laura Mont Serrat Barbosa que, ao longo de vários anos, tem discutido a aprendizagem e suas dificuldades a partir das contribuições da Epistemologia Convergente.
Percebemos que as discussões encaminhadas pelo curso poderiam ser mais produtivas se houvesse a possibilidade de relacioná-las com a realidade escolar desta capital. Assim, na terceira turma em 1994, com a aprovação de professores e alunos, houve uma alteração na estrutura curricular do curso, com a inclusão do Estágio Supervisionado com 60 horas e a apresentação de um relatório monográfico, elaborado a partir da experiência vivida no campo de estágio.
Foi possível perceber que a cada turma havia uma mudança significativa na qualidade das produções científicas elaboradas pelos alunos, independente da área de estágio. Também cresceu o interesse das instituições em se transformarem em campo de Estágio.
Esse Estágio Supervisionado em psicopeddagogia era desenvolvido em escolas públicas e particulares, creches e em um centro comunitário.
A partir de 1998 (sétima turma), a carga horária do Estágio Supervisionado foi alterada para 90 horas, com o objetivo de ampliar as possibilidades de diagnóstico e intervenção na realidade escolar.
Além dos campos já citados, neste período surgiram duas novas possibilidades de estágio, o Núcleo de Estudos e Coordenação de Ações para a Saúde do Adolescente - no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás - NECASA e o Serviço de Apoio Pedagógico Específico, salas de APE, da Secretaria Municipal de Educação.
A estrutura curricular do Curso de Especialização em psicopeddagogia foi novamente alterada em 2000. A preocupação nesse momento era adequar o curso às exigências legais do projeto de regularização da profissão de psicopeddagogo, que estabelecia a carga horária mínima de 600 horas e a exigência de Estágio Supervisionado. Como o Estágio já fazia parte da estrutura curricular, foram incluídas algumas disciplinas com o objetivo de ampliar os temas estudados, enfocando a inclusão, o trabalho em grupo e as múltiplas possibilidades de intervenção psicopeddagógica. A carga horária desde esse período é de 640 horas.
A partir de 2004, o relatório monográfico que concluía o estágio supervisionado foi substituído por um artigo científico, que é elaborado individualmente, apresentando um estudo de caso desenvolvido no atendimento clínico-terapêutico ou a intervenção psicopeddagógica que foi desenvolvida na instituição.
Em consonância com a preocupação da Universidade Católica de Goiás em acompanhar o movimento que vem se instaurando em decorrência do dinamismo do mundo social e produtivo, o curso de Especialização em psicopeddagogia tem trabalhado com a concepção de ensino como prática social que permite o conhecimento crítico da realidade e a possibilidade de intervenção nesta realidade.
Para possibilitar que o aluno conheça e seja capaz de refletir e buscar formas de intervir concretamente na problemática da aprendizagem formal, estamos procurando diversificar os campos de estágios, incluindo além de creches, abrigos para crianças e adolescentes vítimas de agressão e abuso sexual, instituições que abrigam crianças em situação de abandono, o Centro Municipal de Apoio à Inclusão, uma instituição onde é realizado atendimento aos alunos das escolas municipais que apresentam dificuldades de aprendizagem temporárias ou permanentes e também algumas escolas municipais e estaduais onde o trabalho institucional é realizado.
Buscando estimular a mediação dos estagiários no fortalecimento das relações entre a comunidade e a Universidade Católica de Goiás, os artigos científicos elaborados pelos alunos, no final do curso de especialização, são apresentados em um seminário aberto, onde os alunos que estão iniciando a especialização, os profissionais do campo de estágio e o público em geral acompanham as discussões suscitadas pelos trabalhos desenvolvidos, tanto na área clínica como na institucional.
Nestes dezoito anos de existência, o Curso de Especialização já formou 760 especialistas em psicopeddagogia. Esses profissionais estão inseridos em instituições escolares ou não, públicas ou particulares, na capital, no interior e em outros estados, contribuindo para a melhoria das condições de educação da nossa população.
Enquanto coordenadora deste curso, durante todo esse período, tenho aprendido muito, convivendo com as pressões e os desafios de lidar com o que se conhece e com o que se ignora, transitando entre o conhecido e o desconhecido, ampliando as minhas possibilidades de pensar, sentir e agir de forma mais consciente e crítica.
Neste ano que iniciamos a décima oitava turma do curso, continuamos com o desafio de buscar uma formação profissional que, alicerçada no estudo teórico, na compreensão da realidade objetiva e na intervenção competente nesta realidade, possa possibilitar o encontro denominado por Souza Neto4 como um vínculo de proximidade entre a esperança subjetiva, que habita o nosso desejo de aprender, interagir e transformar o cotidiano, e as oportunidades objetivas, que se concretizam quando articulamos a capacidade de pensar, analisar e construir um caminho com novas oportunidades para nos mesmos e para os outros.
A MAIORIDADE DA ABPP EM GOIÁS - A ATUAÇÃO DA psicopedDAGOGIA
A Associação Brasileira de psicopeddagogia - Seção Goiás tem como compromisso a cada gestão propiciar a formação constante de seus associados, promover eventos científico-culturais com temas relevantes e elucidativos que contribuam diretamente com a psicopeddagogia nos diversos espaços de atuação, divulgando a psicopeddagogia como área interdisciplinar, e fortalecendo a identidade do profissional psicopeddagogo.
É um princípio e exigência da ABPp ter na liderança da diretoria psicopeddagogas comprometidas, com força, coragem, envolvimento, atuação, conhecimento e contribuição ativa na psicopeddagogia.
Vivenciar o caminhar da ABPp no seu dia-a-dia é uma tarefa que impõe desafios e aprendizagem constante, é lidar lado-a-lado com a diversidade, fazer o exercício de escutar, analisar e ter capacidade de agir.
Nestes 18 anos de tradição e trajetória, a Seção Goiás tem realizado o Encontro Regional de psicopeddagogia, este evento conta com um público que varia entre 500 a 800 pessoas aproximadamente. Temas importantes e significativos são tratados e atualizados ano-a-ano, profissionais importantes e competentes têm contribuído com suas idéias de forma significativa e, principalmente, o público tem comparecido dando possibilidades e força para organizar e viabilizar a realização de outros encontros que propiciem o pensar e o fazer na psicopeddagogia. Já foram discutidos os seguintes temas: 1991 - Escola: aprender é para todos; 1992 - A Escola e a psicopeddagogia; 1993 - Escola - contribuições do construtivismo; 1994 - Escola: uma visão interdisciplinar; 1995 - Escola: brincar, pensar e aprender; 1996 - Escola: cotidiano e convivência; 1997 - Escola: para repensar as aprendizagens; 1998 - Escola: resignações de papéis; 1999 - Escola: espaço de construção do professor; 2000 - Reencantar a educação; 2001 - Escola: (por) uma educação com alma; 2002 - Escola: desafio à prática reflexiva; 2003 - Escola: da singularidade à diversidade; 2004 - Escola: novos tempos, muitos desafios; 2005 - Escola: espaço de transformação; 2006 - Escola: na sociedade da informação; 2007 - Escola: avaliação em foco; 2008 - (in) disciplina e afeto entre limites e desafios.
Pensando no saber específico do psicopeddagogo e tratando precisamente deste assunto, a ABPp - Seção Goiás realiza também eventos com foco na área da psicopeddagogia, preferencialmente, para psicopeddagogos. Já tivemos em Goiás a presença de psicopeddagogos reconhecidos, entre eles: Jorge Visca (1997); Ana Maria Muniz (1999); Alicia Fernández (2000 e 2005); Janete Carrer (GO); Sueli de Paula (GO); Maristela Nunes Pinheiro (GO); Nívea de Carvalho Fabrício (SP); Nádia Bossa (SP); Laura Mont Serrat (PR) e Izabel Parolin (PR). Os temas discutidos foram: Diagnóstico psicopeddagógico; Postura ética e formação permanente; Alterações no desempenho escolar - inibição cognitiva no contexto familiar e escolar; Os idiomas do aprendente; A autoria de pensamento nutrindo alegrias de pensar, desejar e fazer; A psicopeddagogia no âmbito institucional; A psicopeddagogia num espaço relacional.
Sabendo que a ABPp é uma instituição sem fins lucrativos de caráter científico-cultural, pressupõe-se que é a realização de eventos que, basicamente, subsidia e mantém nossa associação honrando e assumindo as responsabilidades que nos são designadas. Por isso, nossa tarefa maior é pensar e realizar eventos que em primeiro lugar atendam às exigências quanto à formação de nossos associados, e também contribuam para a viabilidade da Associação em nosso estado.
Outros cursos de relevância já foram realizados no decurso desta história, assim podemos lembrar: A escola à luz da psicopeddagogia (1999) 180h/aula; Conceitos psicanalíticos aplicados à psicopeddagogia (2000) 180h/aula; A análise do desenho infantil à luz da psicopeddagogia (2001) 12h/aula; Diagnóstico psicopeddagógico (2002) 40h/aula; Diagnóstico psicopeddagógico (2005) 20h/aula; Educação infantil (2003) 30h/aula; Jogos e desenvolvimento da criança - uma análise psicopeddagógica (2003) 40h/aula; Psicomotricidade aplicada à aprendizagem (2004) 20h/aula; Como trabalhar com grupos em psicopeddagogia (2004) 40h/aula; Inclusão: uma reflexão possível (2005) 12h/aula; Estudos da clínica psicopeddagógica - intervenção (2006) 60h/aula; Neurodesenvolvimento e aprendizagem (2007) 40h/aula; Aquisição e distúrbios de leitura e escrita (2007) 40h/aula.
A Associação Brasileira de psicopeddagogia - Seção Goiás realiza importantes ações e cada gestão gera em si uma expectativa e um ideal que sempre vem representado numa idéia discutida e traçada pela diretoria. Desde o início, cada presidente junto com sua diretoria elege um lema em torno do qual se pensa as ações durante o período da gestão. Assim, lemas foram criados, idéias pensadas, ações realizadas.
As reflexões que permearam cada gestão foram as seguintes: Candy Gifford (1991-1992); Sueli de Paula (1993-1994); Marilene de Azevedo Ribeiro (1995-1996) "Todos podem aprender"; Emília Teresinha Borges (1997-1998); Maristela Nunes Pinheiro (1999-2001) "Abrir sem alargar / Proteger sem abafar"; Maria Lucy Veiga Lobo Barbosa (2002-2004) "Fortalecer na unidade / Crescer na diversidade"; Janaína Carla R. dos Santos (2005-2007) "Reconhecer-se pensante: criar - construir - transformar"; Luciana Barros de Almeida (2008-2010) "A vida na psicopeddagogia e a psicopeddagogia na vida".
Cada uma que preside e lidera o grupo propõe, escuta, escolhe e se dedica a fazer o melhor possível. Nessa caminhada encontramos parceiros e amigos que nos ajudam, mas há muito trabalho e obstáculos, nada que nos faça onipotente nem impotente, mas desafios se impõem e nos fazem experimentar a coragem, o desejo, a capacidade que abriga em nós e nos fortalece ao olhar para o lado e ver que não estamos sozinhas, que há um grupo em prol de uma causa maior: APRENDER.
Outros destaques valiosos que podemos citar no exercício da psicopeddagogia na ABPp em Goiás são os projetos sociais coordenados por duas sócio-fundadoras. O primeiro deles surge em 1992 em parceria entre a Faculdade de Educação, NECASA (Núcleo de Estudos e Coordenação de Ações para a Saúde do Adolescente) e HC (Hospital de Clínicas - Universidade Federal de Goiás), sob a coordenação da Professora Ms Grácia Fenelon, psicopeddagoga. Neste projeto, são atendidos em um dos ambulatórios do HC adolescentes entre 10 e 20 anos e suas famílias com queixa de problemas de aprendizagem. Este Projeto é denominado DIA (Diagnóstico Interdisciplinar de Aprendizagem), cujo objetivo principal é compreender a dificuldade escolar a partir do sistema familiar. Destaca-se, ainda, que é um trabalho de caráter interdisciplinar e o atendimento é realizado em equipe composta basicamente de psicopeddagogas, psicólogas, pedagogas, médico-pediatra; a referência teórica para a compreensão é a psicanálise. Este projeto atende a cerca de 20 famílias por ano e está ativo há 16 anos consecutivos.
Houve em Goiás um outro projeto de grande destaque, denominado "Reencontrar a Aprendizagem", que foi elaborado, articulado pela ABPp - Seção Goiás e desenvolvido no período de 2000 a 2003, sob a direção da psicopeddagoga Maristela Nunes Pinheiro. Sua realização trouxe visibilidade à psicopeddagogia, inclusive em cenário internacional, pois foi selecionado e apresentado em Genebra (Suíça), em 2000, no Congresso Mundial pela Paz. Foi um projeto de atendimento psicopeddagógico aplicado e desenvolvido em uma escola conveniada com a rede municipal de Goiânia, cuja clientela era predominantemente da classe trabalhadora. Os atendimentos eram realizados em âmbito clínico (atendimento a dificuldades escolares específicas), em âmbito institucional (atendimento à equipe escolar) e em âmbito familiar (atendimento aos pais dos alunos que estavam em atendimento clínico). Esse empreendimento recebeu apoio de empresas goianas e a adesão voluntária de mais de cinqüenta associados da ABPp-GO, cujo objetivo era atuar e colaborar com a psicopeddagogia. A sua realização contribuiu para socializar a atuação da psicopeddagogia e expressou a vontade de um grupo que se propôs a transformar palavra em ação.
Faz parte do plano diretor da atual gestão implantar na Seção Goiás uma proposta de atendimento psicopeddagógico. Para isso, estamos cultivando a idéia de criar um novo projeto, discutindo as possibilidades, buscando parcerias e convidando as pessoas a se envolverem.
A ABPp é um espaço que se situa entre a normatização da psicopeddagogia e o fazer psicopeddagógico das pessoas que ali estão, um modo particular-individual de lidar com o conhecimento sistematizado.
Segundo Fernández5, há em nós uma "fábrica" de pensamentos que não está nem dentro, nem fora, o pensar localiza-se "entre", porque está na intersubjetividade instalada no fazer por seu próprio desejo o que é alheio, mas nutrido por uma necessidade íntima de nos entender e ser entendidos. O pensar é alimento do desejo, por isso o saber do saber é o que nos diferencia do outro e simultaneamente faz com que esse outro nos aceite como seu semelhante.
A Associação Brasileira de psicopeddagogia articula e interatua nas diversas operações que acontecem "entre" o ensinar e o aprender, propiciando um campo de produção das diferenças, sabendo que cada um de nós tem um modo específico de fazer-se entender para entender o outro, só assim é possível mostrar o que e como vamos fazendo.
Para Fernández5, "a aprendizagem é a apropriação, é a reconstrução do conhecimento do outro, a partir do saber pessoal. As diferentes fraturas e patologias na aprendizagem, tanto individual como socialmente, correspondem a uma não-coincidência entre o conhecimento e o saber".
O objetivo da intervenção psicopeddagógica é criar espaços objetivos e subjetivos de autorias de pensamento, onde seja possível aprender e ensinar de modo satisfatório para ambas as partes.
A psicopeddagogia no desejo de conhecer e de saber vai se fazendo sustentável para além das carências, sejam elas econômicas, orgânicas ou educativas, apesar das injustiças, dos déficits ou das lesões biológicas. Assim, é possível afirmar que aprender é para todos!
A atuação psicopeddagógica potencializa as capacidades que o sujeito possui, não foca nas dificuldades, isso requer preliminarmente maximizar o que o sujeito sabe, minimizando a princípio o não-saber, aos poucos, de acordo com as possibilidades e o ritmo do sujeito vai-se acessando e potencializando o que lhe for possível. Não queremos com isso negar que os fatores socioeconômicos, educacional, emocional, intelectual, orgânico e corporal não exerçam influência sobre o sujeito, reconhecemos que influenciam, apenas não deixamos que falem pelo sujeito, para nós a pessoa do sujeito é soberana, portanto a terapêutica, prevenção e tratamento desses aspectos nos faz recorrer às diferentes áreas interdisciplinares que fazem fronteiras com a psicopeddagogia, sendo elas: psicanálise, psicologia, pedagogia, pediatria, sociologia, neurologia, fonoaudiologia, etc.
Com essa idéia pretendemos comprovar que é necessário trabalhar e estudar estes determinantes que podem estar instalados no sujeito, mas mais importante que isso é restaurar a capacidade de acreditar, pensar e aprender que estejam paralisadas nas diversas situações educativas, sociais, econômicas e/ou orgânicas menos favorecidas. Pois a originalidade é a diferença e a autonomia de pensar e aprender nossa própria história que nos torna humanos. É com a autorização da inteligência aprisionada que se promove o encontro com o prazer de aprender perdido em algum lugar. Por isso, acreditamos que nossa principal tarefa diante destes que nos procuram seja de na relação conseguirmos de "algum jeito" que ele outorgue a nós o direito de lhe ensinar e aprender numa ação compartilhada.
Por isso, a ABPp - Seção GO acolhe com alegria os primeiros sinais de sua idade adulta, mesmo sabendo que há em nós, assim como há nos adolescentes, uma ambivalência em relação ao crescimento, vamos crescendo.
A Associação Brasileira de psicopeddagogia - Seção GO assume a responsabilidade por sua própria vida e pelo modo como se conduz diante de sua realidade e perspectivas, sendo assim autônoma, ora estabelecendo, ora incorporando novos desafios encarregando-se das necessidades atribuídas a si mesma.
Nossa imagem reflete a visão interior da condição exterior. Por isso, às vezes, somos impelidos a renovar, inovar, transformar, transitando entre o sim e o não, sabendo que essas oscilações entre extremos opostos são consideradas normais ou anormais em determinadas épocas. Sabemos para, além disso, que as mudanças ocorrem no tempo preciso e é parte de nossa tarefa enfrentar os conflitos que geralmente nos levam a um novo tipo de ordem, e aprender-se a equilibrar entre frustrações e gratificações.
Todos sabemos que a ABPp - Seção GO já tem uma história e agora nos é dado saber que cada etapa vivida adquire uma nova qualidade, melhor clareza, um princípio organizador que nos movimenta e mobiliza para querer progredir, estreitando a distância entre os sonhos e as possibilidades, nos dando consciência do lugar que ocupamos, dos valores agregados e dos compromissos assumidos diante do mundo em que vivemos.
Atualmente, uma das questões que o Conselho Nacional tem se debruçado, inclusive nós da ABPp-Seção GO, tem sido sobre a expansão e a autonomia da nova LDB 9394/96, onde começam a surgir inúmeras instituições de ensino, o que requer da ABPp um zelo, preocupação e cuidados especiais no que diz respeito à formação em psicopeddagogia. Há uma proliferação de cursos de pós-graduação em psicopeddagogia, o que de certa forma, quando não estão interligados à ABPp, único órgão representativo desta área do conhecimento, acabam por comprometer sua eficácia na qualidade do ensino, o que além de privar a formação adequada compromete a postura e o envolvimento destes especialistas.
O Conselho Nacional da ABPp já desenvolveu durante suas assembléias um documento intitulado "Diretrizes básicas da formação de psicopeddagogos", além de "Eixos temáticos para cursos de formação em psicopeddagogia", ambos documentos norteiam a formação adequada discutida por aqueles que fazem a psicopeddagogia pelo Brasil afora.
Foi por isso que, desde a sua fundação, a ABPp - Seção Goiás tem e mantém uma parceria com a Universidade Católica de Goiás como referência em Goiás na formação em psicopeddagogia, sendo este um curso que compartilha as recomendações/orientações da ABPp, possuindo compromisso, autonomia e competência. Reconhecemos que estas condições estão asseguradas na pessoa/profissional da Professora-psicopeddagoga Janete Carrer, coordenadora do curso desde sua fundação até os dias atuais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É assim que se escreve uma história, a história é capaz de unir-nos, dá a possibilidade de conhecer o passado para compreender o presente e atuar no futuro.
Agora em 2008 podemos dizer que já se vão 18 anos de trajetória entre possibilidades e dificuldades; alegrias e tristezas; chegadas e partidas; ganhos e perdas; lutas e conquistas - caminhos opostos que se atraem e também nos diferenciam, nos dignificam e enobrecem.
Quando numa retrospectiva relembramos tantos que se ajuntaram à ABPp e deram sua contribuição, cada um leva em si a convicção de que é dando que se recebe. A ABPp-GO reconhece que teve o privilégio de se aproximar de exímios ensinantes, mas o maior bem que a ABPp tem são seus aprendentes, que podemos conjugar eu, tu, ele, nós, vós, eles... todos aprendendo e ensinando em reciprocidade.
Podemos relembrar uma poetiza goiana Cora Coralina, que teve muita sabedoria quando disse: "Feliz aquele que transmite o que sabe e aprende o que ensina".
REFERÊNCIAS
1. Silva MCA. psicopeddagogia: em busca de uma fundamentação teórica. Rio de Janeiro:Nova Fronteira;1998.
2. Barbosa LMS. Epistemologia da psicopeddagogia: reconhecendo o seu valor social e seu campo de ação. Comemorando os 15 anos da ABPp - Paraná Sul, 2006. Rev psicopeddagogia. 2007;24(73):90-100.
3. Tavares J. Construção do conhecimento e aprendizagem. In: Almeida L, Tavares J, eds. Conhecer, aprender e avaliar. Porto: Ed. Porto;1998. p.11-30. [ Links ]
4. Souza Neto JC. A influência da aprendizagem no transfazer do sujeito. In: Pinto SAM, coord. psicopeddagogia: contribuições para a educação pós-moderna. Petrópolis:Vozes; São Paulo: ABPp; 2004.
5. Fernández A. Os idiomas do aprendente. Porto Alegre:Artmed;2001. [ Links ]
Correspondência:
Luciana Barros de Almeida
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CEP 74150-240 - Tel: (62) 3242-1919
E-mail: lucianabalmeida@uol.com.br
Artigo recebido: 15/02/2008
Aprovado: 17/05/2008
Trabalho realizado na ABPp - Seção Goiás, Goiânia, GO.