Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.27 no.82 São Paulo 2010
MONOGRAFIA
A psicopedagogia e o atendimento pedagógico hospitalar
Psychopedagogy and service educational hospital
Michelle Cristina Carioca de LimaI; Maria Cristina NatelII
IPsicóloga com Especialização em Psicopedagogia pela Universidade Cidade de São Paulo
IIPedagoga, Psicopedagoga, Especialista em P E I - Programa de Enriquecimento Instrumental (nível 1 e 2) e Especialista em LPAD - Evalucion Dinâmica Del Potencial de Aprendizaje (nível 1). Membro do Conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp da Diretoria da ABPp - Seção São Paulo e Docente em Cursos de Psicopedagogia
RESUMO
Este artigo se propõe a levantar as contribuições da Psicopedagogia para o Atendimento Pedagógico Hospitalar. Para tanto, foram realizados estudos sobre o processo de hospitalização infantil e a forma de aprendizagem neste contexto, as atribuições e legislações sobre Classe Hospitalar, assim como a Psicopedagogia Institucional como abordagem para atender tal demanda. Foi realizada uma entrevista com uma psicopedagoga que atua em uma Classe Hospitalar, no intuito de compreender a realidade deste tipo de atendimento. O estudo revela que a Psicopedagogia, por meio de uma visão institucional e sistêmica, pode contribuir significativamente com o atendimento pedagógico hospitalar, não somente em casos de possíveis dificuldades de aprendizagem, mas, principalmente, no planejamento das atividades e na formação dos educadores.
Unitermos: Atendimento pedagógico hospitalar. Psicopedagogia institucional. Hospitalização infantil.
SUMMARY
This article aims to raise the contributions from Psychopedagogy to Service Educational Hospital. Therefore, studies were performed on the process of child hospitalization and form of learning in this context, the functions and laws about class and the Hospital Institutional Psychoeducation as an approach to meet this demand. We carried out an interview with a professional which operates in a Class Hospital in order to understand the reality of this type of care. The study shows that Psychopedagogy through an institutional vision and systemic, can contribute significantly to the care teaching hospital, not only in cases of possible learning difficulties, but mainly in planning activities and training of educators.
Key words: Care teaching hospital. Institutional psychopedagogy. Child hospitalization.
INTRODUÇÃO
O acompanhamento pedagógico hospitalar já é uma realidade em muitos hospitais pelo Brasil. Pode-se entender que é uma das ferramentas da humanização hospitalar existentes, além de propiciar a continuidade ao direito de escolaridade das crianças, independente de sua situação.
A atuação de professores e demais profissionais da Educação deve levar em conta o contexto da hospitalização infantil, com todo o impacto no cotidiano, na convivência familiar e sentimentos de angústia e temor vivenciados pelas crianças a serem acompanhadas. Estes fatores podem estar presentes em possíveis dificuldades de aprendizagem já que, para ocorrer sucesso na aprendizagem, é necessário haver um equilíbrio entre os fatores biológico, cognitivo, social e emocional.
Frente a esta circunstância, como os profissionais da Educação poderão lidar com o ensino destes alunos e até mesmo, intervir quando houver alguma dificuldade de aprendizagem? Considerando que a Psicopedagogia surge para lidar com situações de não-aprendizagem, quais são as contribuições da Psicopedagogia para o atendimento pedagógico hospitalar? Estes questionamentos foram os motores para elaboração deste artigo.
Para responder estas dúvidas, foi realizado um levantamento teórico sobre a hospitalização infantil e o processo de aprendizagem dentro deste contexto, passando pela regulamentação das Classes Hospitalares e a contribuição do processo de humanização hospitalar. E para entender como ocorre o atendimento pedagógico hospitalar, também foi feito um estudo sobre as atribuições e principais características deste tipo de atendimento e, por fim, uma explanação sobre a Psicopedagogia Institucional como a abordagem mais adequada para aprimorar o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar.
Com o objetivo de levantar as contribuições do profissional da Psicopedagogia no acompanhamento pedagógico hospitalar, o presente artigo propõe uma reflexão sobre a atuação deste profissional em uma instituição - em especial, uma instituição hospitalar - e também colabora para delimitar as atribuições de cada profissional envolvido neste tipo de atendimento, visando sempre uma melhora do quadro da criança e do adolescente hospitalizado.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A hospitalização infantil e o processo de aprendizagem
Para que possamos compreender melhor o público alvo de uma Classe Hospitalar, farei uma breve explanação sobre a hospitalização infantil e a interação com a Aprendizagem, no intuito de entender como a Psicopedagogia pode contribuir para este tipo de acompanhamento pedagógico.
O processo de hospitalização pode ser um evento traumático para qualquer pessoa. Durante este momento, a pessoa perde sua singularidade e passa a responder aos procedimentos médicos que muitas vezes são dolorosos. Além disto, o indivíduo passa a ser identificado por números, ser reconhecido por sua doença e até mesmo a vestir-se igual a todos os internados. Tais procedimentos e regras são adotados para que os profissionais de saúde possam tratar das enfermidades de seus pacientes, visando disciplina e garantindo, assim, o tratamento correto e coerente com a cientificidade exigida1.
Considerando todos estes aspectos, podemos compreender que uma hospitalização pode ser ainda mais traumática para uma criança porque a imagem que temos dela é de um ser que está no mundo, explorando-o e brincando com toda a energia possível. Quando hospitalizada, a criança depara-se com o impedimento de brincar e continuar a explorar este mundo porque deve cumprir regras e se submeter a procedimentos médicos.
A hospitalização vem como uma "bruxa malvada", que retira da criança o seu cotidiano de fantasias, brincadeiras e explorações e a coloca em um lugar sombrio, cheio de pessoas doentes e que pedem ajuda a pessoas vestidas de branco para aliviar a dor.
Alguns autores estudam os impactos no desenvolvimento infantil quando ocorre uma intervenção hospitalar. Segundo Mitre e Gomes2, a hospitalização para uma criança pode levar a traumas, porque a afasta do seu cotidiano e de seu ambiente familiar, sendo um momento de crise que, independente do tempo de duração, será singular em sua vida. Lerner3 retrata que a criança vivencia situações angustiantes e assustadoras, como o medo do abandono dos pais e familiares e o medo do desconhecido. A sensação de abandono se dá pela regras do hospital: muitas vezes os pais não podem estar o tempo todo com a criança porque podem aumentar o risco de infecções e atrapalhar os procedimentos hospitalares. E o medo do desconhecido "está presente (...), pois o hospital é um ambiente diferente, estranho e ameaçador, sendo que as fantasias e imagens que as crianças elaboram a respeito do hospital são fundamentalmente persecutórias".
Além destes pontos levantados, podem ocorrer, ainda, complicações no desenvolvimento físico e psíquico da criança hospitalizada, dependendo do tempo de internação ou se o quadro for crônico ou agudo, podendo levar a um atraso no crescimento e no desenvolvimento psicomotor e também gerar complicações psíquicas, como depressão e comportamentos regressivos3.
Levando-se em conta tais aspectos apontados sobre a hospitalização infantil, podemos iniciar uma reflexão sobre o processo de aprendizagem das crianças que estão enfermas e sob cuidado constante. Conforme Paín4, a aprendizagem possibilita a transmissão da cultura a todos e também disponibiliza a sua transformação por intermédio da Educação. O ato de aprender está presente em nossas vidas desde o momento do nascimento e nos acompanha até o momento da morte. Aprendendo, estamos nos adaptando e adequando o mundo externo às nossas próprias demandas.
Porto5 salienta que a aprendizagem possui uma função integradora, estando diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais.
Esta integração descrita por Porto5 envolve dois aspectos: o mundo interno e o mundo externo do indivíduo. Ambos se relacionam dialeticamente, um alimentando o outro simultaneamente. Paín4 considera tais fatores como inerentes à aprendizagem: o aspecto social (como fator externo), o orgânico, a condição cognitiva e a dinâmica do comportamento, sendo os últimos retratados como fatores internos. Desta forma, a autora ressalta a aprendizagem como um processo dinâmico e que possibilita um processamento da realidade e, concomitantemente, uma alteração no comportamento do sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade a qual está inserido.
Se levarmos em conta a perspectiva de que com a aprendizagem o sujeito poderá atuar em seu contexto e, por fim, transformá-lo, podemos entender que disponibilizar um momento para o aprender à uma criança hospitalizada significará uma retomada à sua condição de agente de sua realidade. Durante uma atividade, a criança conseguirá explorar o seu meio e intervir, permitindo assim que seja no mundo, diferentemente quando está submetida a procedimentos médicos - neste instante ela age e não simplesmente, reage.
Para Ceccim6, manter a aprendizagem por meio das classes hospitalares possibilita uma alteração na vivência de hospitalização da criança, porque resgata os aspectos de saúde mantidos, mesmo em face da doença, enquanto respeita e valoriza os processos afetivos e cognitivos de construção de uma inteligência de si, (...) do mundo, (...) do estar no mundo e inventar seu problemas e soluções.
Assim sendo, podemos compreender que o processo de aprendizagem torna-se um fator terapêutico para criança hospitalizada, já que "ser e se sentir real dizem respeito essencialmente à saúde (...)"7. Porém, este processo somente poderá acontecer adequadamente se o ambiente lhe propiciar condições favoráveis para sua ação e espontaneidade.
Conforme Winnicott8, uma criança somente pode voltar-se para o aprender quando se sente cuidada e com suas necessidades atendidas. Somente estabelecida a integração, é que o indivíduo poderá explorar e compreender o mundo exterior, apropriando-se dele e por fim, modificando-o. E esta integração somente será possível com o estabelecimento de um ambiente suficientemente bom, no qual irá lhe favorecer e intermediar suas experiências e angústias.
Com isto, a proposta de um atendimento pedagógico hospitalar propõe o estabelecimento de um espaço adequado para este aprender. As chamadas classes hospitalares configuram este lugar adaptado para que a criança hospitalizada possa explorá-lo e agir da melhor maneira possível, conforme suas demandas internas.
Esta adequação do ambiente hospitalar contribui para uma melhora significativa da experiência de uma internação. É com este enfoque que o próximo tópico será relatado, para que possamos compreender o contexto ao quais as recentes classes hospitalares estão inseridas.
A humanização hospitalar e a legalização das classes hospitalares
O acompanhamento pedagógico hospitalar já é realidade em muitos hospitais brasileiros. Porém, este tipo de intervenção é recente e, no intuito de entendermos como ocorreu esta conquista, será necessário voltarmos no tempo.
Ao realizarmos um breve retrospecto do histórico do ambiente hospitalar, notaremos que este ambiente, antes caracterizado por uma função de assistência e exclusão, sofreu transformações e se constituiu em uma instituição médica com uma função terapêutica, chegando hoje a compor um ambiente institucional que se preocupa com as relações humanas de atendimento e não somente com o tratamento e a cura da doença1.
Visando uma cura efetiva, os hospitais enxergaram novas demandas de atuação de outros profissionais além dos médicos, já que apenas a cura física não estava sendo eficaz no tratamento terapêutico e que havia a necessidade de um olhar mais individualizado e singular para cada paciente.
Esse olhar implica em um processo de humanização no ambiente hospitalar, sendo o termo "humanização" mais antigo do que parece. A ideia desse conceito vem da época hipocrática, na qual imperava o discurso de que o médico deveria ser o conhecedor da alma humana e da cultura em que estava inserida; a cura era um processo que envolvia o indivíduo doente em sua totalidade, isto é, que o compreendia de maneira biopsicossocial9.
De acordo Manzano e Lima1, atualmente na área da saúde, o tema é bastante difundido, principalmente após o lançamento do Projeto Piloto de Humanização Hospitalar, em 2000, pelo Ministério da Saúde. Tal projeto de humanização das relações hospitalares teve como objetivo criar uma nova cultura de relações entre os trabalhadores de saúde e os usuários, na busca da valorização da vida humana. Por isso, podemos pensar que no campo da saúde os relacionamentos não devem ficar somente no campo do conhecimento e da linguagem técnica.
Após este projeto inicial, o Ministério da Saúde lançou em 2002 uma Política Nacional de Humanização (PNH) que tem como foco a atenção e gestão no Sistema Único de Saúde (SUS). A campanha de humanização dos ambientes hospitalares ganha então o nome de "HumanizaSUS"10. Esta política tem como objetivo a integralidade, a universalidade, o aumento da equidade (igualdade na assistência à saúde) e a incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes presentes no campo da Saúde.
Os gestores desta política compreendem a humanização como a valorização dos usuários, profissionais e gestores de saúde que participam deste contexto, visando ao desenvolvimento da autonomia entre os indivíduos, estabelecendo responsabilidades mútuas e criação de vínculos solidários, contando com a participação coletiva nas ações tomadas e não atribuindo responsabilidade ou especificações às diferentes funções e profissões embora influencie todas elas.
A operacionalização deste programa previsto pelo Ministério da Saúde ocorre com uma troca e construção de saberes provindos de um trabalho de equipe multiprofissional, com a construção de redes solidárias e que interagem com o SUS de forma participativa e protagonista de muitas ações, com a valorização do subjetivo e do social nas práticas de atenção à saúde e também na gestão do SUS, fortalecendo assim a autonomia e o protagonismo dos sujeitos envolvidos.
Humanizar é, portanto, o ato de tornar humano. E deve ser entendido em saúde como uma valorização do respeito à vida e das condições humanas, considerando os aspectos individuais e particulares de cada pessoa, como a história de vida deste indivíduo, os seus medos, suas angústias, suas crenças e sonhos, os seus anseios e demais singularidades.
Partindo destes princípios, podemos considerar que a proposta de acompanhamento pedagógico hospitalar pode contribuir consideravelmente para a manutenção deste projeto de humanização. E acompanhando todo este movimento para regulamentação de uma política nacional de humanização, as classes hospitalares também surgem como mais uma ferramenta a ser implementada pelos hospitais.
Segundo Fonseca11, em 1995, há um reconhecimento pela legislação brasileira acerca do direito da continuidade de escolarização às crianças e adolescentes hospitalizados e no ano anterior, no documento do MEC, há a denominação de classes hospitalares, sendo aquelas que "objetivam atender pedagógico-educacionalmente às necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que (...) se encontram impossibilitados de partilhar as experiências sócio-intelectivas de sua família, de sua escola e de seu grupo social".
Em 2001, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial e no artigo 13 há uma referência sobre a escola no ambiente hospitalar, com caráter obrigatório a partir de 200211. Conforme o movimento nacional, cada estado viu-se obrigado a estabelecer legislação específica para atender esta nova determinação. Segundo Noffs e Rachman12, em 2000, o então deputado Milton Flávio elaborou a lei nº 10.685 que dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados para tratamento de saúde. Diante a esta nova realidade, o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria da Educação Especial, elaborou em 2002 um documento denominado "Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações".
Assim, concomitantemente à divulgação da PNH (Política Nacional de Humanização), as classes hospitalares também obtiveram o respaldo legal para sua implementação e estruturação no ambiente hospitalar e, com isso, a autorização necessária para possibilitar a continuidade do aprendizado e auxiliar na melhoria do quadro das crianças e adolescentes internados.
Contudo, tais legislações não esclarecem de forma detalhada e prática a maneira como cada instituição hospitalar deve implementar este tipo de acompanhamento pedagógico. Até por falta de estudos mais apurados, os hospitais recorrem à Diretoria de Ensino das regiões correspondentes para buscar não somente os profissionais capacitados para realizar as atividades curriculares, mas, também, para seguir o currículo estipulado para as demais escolas de aula regular.
E com esta falta de orientação, algumas adaptações do currículo destinado aos alunos de grade regular à realidade de um ambiente hospitalar podem tornar-se prejudiciais a este tipo de intervenção. Conforme Noffs e Rachman12, "faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospitalar, considerando as diferentes demandas dos diversos alunos-pacientes".
Frente a esta situação, encontramos uma oportunidade para a Psicopedagogia intervir e auxiliar os professores e demais profissionais destinados a este tipo de acompanhamento pedagógico. Por isto, a seguir, tratarei sobre a rotina e demais características importantes de uma Classe Hospitalar e entender como a Psicopedagogia pode contribuir para a melhoria desta intervenção em franca expansão.
A Classe Hospitalar e suas principais atribuições
Conforme observamos no tópico anterior, a organização do acompanhamento pedagógico hospitalar não obedece a uma regra única. Cada instituição sente-se livre para organizar este tipo de intervenção, porque ainda não há uma diretriz clara e precisa sobre o assunto por parte dos órgãos responsáveis, até mesmo porque esta atuação encontra-se em um intercâmbio entre o campo da Educação e da Saúde.
Porém, ao realizarmos uma pesquisa apurada sobre a atuação dos profissionais em Classe Hospitalar, encontramos algumas orientações em comum que devem ser consideradas. Entre elas, Noffs e Rachman12, durante um trabalho de assessoria psicopedagógica a professoras que trabalhavam em um hospital geral público da cidade de São Paulo, apontam as principais diferenças encontradas entre as classes regulares e as classes hospitalares. Dentre estas características, destaco tais peculariedades de uma Classe Hospitalar:
Alunos em séries diferentes;
Número de alunos varia de acordo com a demanda do setor;
Não há constância e frequência precisa dos alunos;
A temática planejada deve ser iniciada e finalizada no mesmo período;
Local em que ocorrem as atividades é de acordo com a possibilidade da instituição (brinquedoteca, por exemplo) ou, conforme possibilidade do aluno, as atividades são realizadas no próprio leito da criança.
Barros13 revela que, devido à sua característica multiseriada, a Classe Hospitalar possui uma estrutura dinâmica e caracteriza-se por ser um grupo aberto. Mas, mesmo assim, cabe ao profissional elaborar um programa com temas centrais que nortearão a prática pedagógica. Funghetto et al.14 salientam que o desenvolvimento destes temas acontecerá conforme as fases de desenvolvimento de cada criança a ser atendida e que a presença de crianças com idades mistas possibilita uma nova prática pedagógica porque "às vezes as crianças mais velhas davam aulas às crianças menores e desenvolviam atividades de acordo com sua idade e interesse14.
Cabe ao educador elaborar e repensar estratégias que estimulem a criança hospitalizada a continuar com as atividades porque às vezes este aluno pode se sentir indisposto devido ao quadro de sua enfermidade. Além deste aspecto, outros eventos podem interromper (temporariamente ou não) o acompanhamento pedagógico, como, por exemplo, a administração de uma medicação. Segundo Fonseca11, tais circunstâncias poderiam ser consideradas como uma interferência, mas devem ser compreendidas como uma dinâmica do cotidiano da Classe Hospitalar. O profissional deve aproveitar cada momento vivenciado como "ganchos para dinamizar ou re-estruturar a atividade, (...) abrindo uma nova janela para o interesse do aluno e seu desempenho frente às atividades em desenvolvimento".
Ao pensar em um planejamento de atividades, o educador deve estar ciente que sua programação terá começo, meio e fim no mesmo dia11. Isto porque a rotatividade destas crianças é uma variável não controlada; às vezes, uma criança poderá participar da Classe Hospitalar somente em um dia porque o seu quadro clínico agravou ou então porque recebeu alta. Sendo assim, antes de iniciar o acompanhamento, o profissional deverá ler o prontuário de cada criança internada para ter conhecimento da situação real e ter tempo hábil para fazer qualquer tipo de adequação em seu planejamento.
Outra adaptação que o profissional da Educação deverá realizar se refere ao ambiente em que ocorrerão as atividades. Dependerá dos recursos disponíveis da Instituição: em alguns casos, o hospital dispõe um leito desativado ou um espaço inutilizado para que uma estrutura com mesas e cadeiras possa ser montada; em outros, a brinquedoteca é o local disponibilizado. Mas, conforme a realidade, poderá acontecer o acompanhamento na enfermaria, no próprio leito, em um refeitório ou outro local em que haja uma mesa e uma cadeira11.
Partindo desta rápida descrição da rotina de uma Classe Hospitalar, podemos refletir que o educador envolvido neste tipo de intervenção deverá possuir uma boa habilidade de adaptação, sensibilidade e disposição para contribuir com seu trabalho para uma melhora - muitas vezes, sutil - do quadro clínico de uma criança hospitalizada15. A relação com outros profissionais da área da saúde também faz parte do cotidiano deste educador e com eles, é necessário manter um bom relacionamento e cultivar uma boa comunicação para que o trabalho como um todo seja eficaz.
O comprometimento também é fundamental durante a atuação deste educador. Segundo Fonseca11, "é imprescindível ao professor tentar manter os horários e a frequência de atendimento aos seus alunos, uma vez que a criança hospitalizada já vive muitas incertezas do ponto de vista médico (...)". Considerando tudo isto, o professor não pode ser mais uma incerteza na vida da criança.
O educador da Classe Hospitalar também deve ter uma ótima observação, que, conforme Fonseca11, é um instrumento muito importante. Observando todas as variáveis que compõem o acompanhamento e aliando a um registro sobre o desempenho das crianças, este profissional poderá compreender possíveis demandas de um atendimento mais específico a algum paciente ou, então, renovar e planejar outras atividades que atendam as demandas destas crianças.
Todo este quadro apresentado me remete a uma indagação: como a Psicopedagogia pode auxiliar este educador a realizar suas atribuições da melhor forma possível e, ainda, ajudar no diagnóstico e na intervenção de prováveis dificuldades de aprendizagem de uma criança hospitalizada? O Psicopedagogo pode ser o profissional que atenderá às demandas de reflexão e compreensão por parte do professor a respeito deste aluno tão particular? Para tentar responder tais questões, irei recorrer a uma breve explanação sobre a Psicopedagogia Institucional, considerando-a como o olhar mais adequado para este tipo de acompanhamento pedagógico.
A Psicopedagogia institucional e o atendimento pedagógico hospitalar
Até o momento, realizei uma rápida descrição dos componentes envolvidos em um Acompanhamento Pedagógico Hospitalar, iniciando pelo público atendido, a aprendizagem neste espaço, levantando dados sobre a contextualização desta abordagem, assim como a legislação envolvida e as características deste tipo de atuação.
Diante deste cenário, encontro na Psicopedagogia um olhar específico para abordar questões não somente dos alunos (as crianças hospitalizadas) e suas possíveis dificuldades, mas também, de forma mais ampla, todo o ambiente envolvido neste aprender.
Conforme Porto5, a Psicopedagogia ainda é uma ciência nova e que está em plena construção. Ela surge para atender uma demanda específica: "(...) para auxiliar a intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem5". Considerando o caráter preventivo, o psicopedagogo realiza uma investigação institucional, avaliando os processos didáticos e metodológicos aplicados, além de analisar toda a dinâmica existente dos profissionais desta instituição, para assim encontrar os possíveis problemas e propiciar a intervenção adequada para uma reestruturação deste ambiente5.
Esta análise, ainda segundo a autora, é realizada por meio de uma abordagem sistêmica e crítica. Com isto, a Psicopedagogia Institucional renova a forma de atuar dentro das instituições escolares ou em qualquer outra instituição onde possa ocorrer a aprendizagem - como no caso de um hospital. Levando em conta a relação existente entre a instituição e o aprender, o psicopedagogo pode contribuir para uma adequação das interações existentes entre aquele que ensina e aprende. Porto5 reforça que "a reflexão sobre o individual e o coletivo traz a possibilidade da tomada de consciência e da inovação por meio da criação de novos espaços de reflexão com a aprendizagem".
Apesar de seu surgimento estar relacionado com as dificuldades de aprendizagem, a Psicopedagogia tem como objeto de estudo todo o processo de aprendizagem. Gasparian16 ressalta que, dentre as características da aprendizagem, o psicopedagogo também deve estar atento às relações de todos os elementos que compõem um ambiente em que ocorra o aprender. E pensando em uma Classe Hospitalar, é possível entender que o olhar do profissional deverá abranger a instituição hospitalar e todas suas características.
Retomando o capítulo anterior sobre as atribuições de uma Classe Hospitalar e relembrando as responsabilidades dos educadores, podemos entender que oferecer um espaço de escuta e reflexão a estes profissionais poderá garantir a autonomia necessária para que possam desempenhar da melhor forma este tipo de acompanhamento pedagógico. Noffs e Rachman12 reforçam que, propiciando este lugar, o educador poderá também estimular a autonomia do aluno, percebendo que a possibilidade de tomar decisão é um aspecto saudável. Além disto, outro ponto destacado pelas autoras é a necessidade de formar os educadores contratados para trabalhar em um ambiente hospitalar, adequando as propostas didáticas à rotina da internação. Como tais profissionais, em sua maioria, não possuem formação específica em Pedagogia Hospitalar, podem ocorrer muitas confusões quando o professor resolve, por exemplo, aplicar um currículo de uma classe regular sem realizar as adaptações necessárias para a aplicação em uma Classe Hospitalar.
Uma formação adequada deste educador possibilitará uma melhora na maneira como irá realizar este acompanhamento. Noffs e Rachman12 identificaram esta demanda de apoio e afirmam que tal necessidade possibilita a atuação do psicopedagogo, já que pode contribuir para a formação específica e também para uma formação pessoal.
No primeiro tipo de formação, o psicopedagogo auxilia o educador a refletir sobre o seu papel em uma Classe Hospitalar e saber que a sua atuação é diferente de um professor de uma classe regular e também, de um professor particular. Quanto à formação pessoal, Noffs e Rachman12 consideram como o apoio a ser feito com maior ênfase porque irá oferecer recursos a estes profissionais para que possam lidar com as crianças hospitalizadas e descobrir o aspecto saudável das mesmas. Ao identificar a potencialidade de uma criança internada, o educador poderá utilizá-la como ponto de partida para seu trabalho e contribuir para sua melhora.
Ainda sobre a necessidade de um apoio aos professores, Fighera15 salienta que "(...) compete ao sistema educacional e serviços de saúde oferecerem assessoramento permanente ao professor, bem como inseri-lo na equipe de saúde que coordena o projeto terapêutico individual."
Porto5 reforça que o psicopedagogo, quando em intervenção institucional, utiliza técnicas e atividades como reuniões e discussões, para conseguir a ressignificação do educador em relação ao aprender. Para a autora, esta ação é coletiva e torna-se a peça-chave para o seu sucesso.
Além do aspecto de apoio aos professores, o psicopedagogo também poderá compreender como se dá a aprendizagem das crianças da instituição analisada e, assim, contribuir com mais dados aos educadores, para que possam realizar um planejamento de trabalho mais condizente com a demanda existente.
A leitura psicopedagógica possibilita a identificação do significado da aprendizagem para cada aluno, bem como da sua modalidade de aprendizagem, da etapa operatória do pensamento, das suas dificuldades e possibilidades. A organização de um modelo sadio de ensino-aprendizagem no espaço escolar implica a ressignificação do conhecimento e o respeito ao processo cognitivo e às pulsões epistemofílicas do aluno5.
Com a explanação teórica feita até o momento, iniciamos uma visualização dos elementos existentes na Psicopedagogia que auxiliam o atendimento pedagógico das crianças e adolescentes hospitalizados. As possibilidades de intervenção com um enfoque institucional revelam-se necessárias para o bom andamento do trabalho. Porém, para que possamos fechar esta pesquisa, é preciso olhar para o cotidiano deste tipo de atendimento.
Sendo assim, na sequência veremos os dados coletados em uma entrevista realizada com uma psicopedagoga que atua em uma Classe Hospitalar e seguiremos neste caminho com o objetivo de entender como a Psicopedagogia pode contribuir com o Atendimento Pedagógico Hospitalar.
MÉTODO DA PESQUISA
Para levantar os dados de análise desta pesquisa, foi utilizada a abordagem qualitativa porque esta permite uma melhor compreensão do fenômeno estudado já que, conforme Chizzotti17, existe uma interdependência entre o objeto de estudo e a subjetividade do sujeito analisado que é inseparável. A partir desta abordagem, foi escolhida a técnica de estudo de caso que permite coletar e registrar dados a partir de um caso particular e como instrumento de coleta de dados, foi utilizada a entrevista não diretiva.
Todos os cuidados éticos foram tomados nesta pesquisa e, para garantir o sigilo do profissional entrevistado, foi elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido com linguagem clara e objetiva, solicitando a possibilidade de gravação da entrevista para posterior transcrição, explicando o intuito do trabalho, garantindo o sigilo dos dados coletados e o anonimato do psicopedagogo participante.
Ao definir o critério de escolha do profissional participante, foi decidido que seria um psicopedagogo e que a faixa etária e sexo não seriam relevantes na escolha, porém, o fator determinante seria a experiência profissional junto à área hospitalar e ao atendimento pedagógico hospitalar. E, conforme este critério, a psicopedagoga escolhida é uma profissional que atua na área desde 2005 e que receberá neste artigo o nome fictício de Helena. Ela trabalha em um hospital particular especializado no tratamento oncológico e localizado na cidade de São Paulo.
A entrevista ocorreu no hospital, onde Helena trabalha, em um local destinado ao atendimento pedagógico das crianças internadas e que está localizado no andar da Pediatria. Durante a entrevista, uma pedagoga estava terminando um trabalho e, por um momento, a entrevista foi interrompida para que Helena pudesse atender a um telefonema. A entrevista durou 40 minutos.
RESULTADOS E ANÁLISE
Os resultados obtidos serão analisados com base na fundamentação teórica apresentada anteriormente e com o intuito de compreender como a Psicopedagogia contribui para o atendimento pedagógico hospitalar.
Para tanto, a entrevista foi transcrita. As falas de Helena foram separadas em categorias para uma análise adequada e que respondesse os questionamentos levantados durante a explanação teórica. As categorias encontradas foram: 1) A importância da Psicopedagogia para o Atendimento Pedagógico Hospitalar; 2) Atuação do psicopedagogo na Classe Hospitalar; 3) Formação dos professores da Classe Hospitalar; 4) Relacionamento com a equipe médica; 5) Legislação da Classe Hospitalar. Vale ressaltar que esta categorização foi feita para fins didáticos e para facilitar a leitura dos dados coletados. Abaixo seguem as análises das categorias acima descritas e as falas da profissional estão destacadas em itálico.
A importância da Psicopedagogia para o atendimento pedagógico hospitalar
Nesta categoria é possível entender como a Psicopedagogia contribui para o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar. Na visão da entrevistada, a contribuição da Psicopedagogia está na maneira diferenciada em avaliar as necessidades dos pacientes: "(...) para poder intervir, para avaliar, para identificar onde está a dificuldade do aluno, se é com relação à família, se é com relação ao tratamento, se é com relação ao retorno à escola (...).".
Esta citação nos remete à possibilidade que a Psicopedagogia Institucional oferece aos profissionais da Educação: um olhar amplo sobre o processo de ensino-aprendizagem, considerando todos os aspectos envolvidos e que estão interligados fortemente. Ao avaliar uma dificuldade de aprendizagem, o psicopedagogo que atua em uma Classe Hospitalar utilizará uma abordagem sistêmica e levará em consideração o vínculo estabelecido do aluno com a instituição, o impacto do tratamento no seu desempenho assim como a própria relação familiar e também, após o período de internação, o seu retorno ao ambiente escolar.
Outro ponto trazido por Helena é a necessidade de se ter um apoio psicopedagógico nas reuniões realizadas com os professores do local: "nem que fosse para dar assessoria, mas tem que ter, porque é um olhar complementar e a gente precisa disso. É uma diversidade muito grande, são muitas dificuldades (...) da doença, da situação crítica, por tudo que a criança passa que a família passa as dificuldades dos professores também".
Isto reflete a necessidade de se oferecer um espaço de escuta e reflexão a estes profissionais, conforme divulgado por Noffs e Rachman12. Ao discutir o cotidiano de suas atividades, os profissionais da Classe Hospitalar podem refletir suas ações, o seu papel neste tipo de acompanhamento e também, conseguirão desenvolver autonomia na abordagem escolhida que irá atender as necessidades do paciente da melhor forma possível.
Atuação do Psicopedagogo na Classe Hospitalar
Com este tópico podemos compreender, baseando-se na rotina desta instituição, como o Psicopedagogo atua em uma Classe Hospitalar. Helena revela que "(...) quando a criança é atendida pedagogicamente (...) fazendo uma atividade lúdica, escolar ou pedagógica e a gente percebe que nos diferentes espaços essa criança apresenta uma dificuldade ou não consegue fazer uma atividade ou até de brincar (...) ou tem uma alteração muito grande daquela atividade que a gente está pedindo a gente então elege a criança para fazer uma discussão de caso (...) e a gente fala 'ah, vamos encaminhar para fazer uma avaliação psicopedagógica'(...)".
Nesta citação é possível perceber que a Psicopedagogia ganha espaço nas instituições quando uma dificuldade de aprendizagem fica evidente. Antes, durante o planejamento das atividades ela não está presente porque, conforme visto anteriormente, é uma ciência recente e que está em processo de construção e reconhecimento entre os demais profissionais. Sendo assim, a Psicopedagogia é geralmente acionada quando a dificuldade fica explícita e se torna necessária uma avaliação para entender o quadro encontrado.
Esta expectativa de se realizar uma avaliação psicopedagógica somente quando um sintoma é retratado também está presente entre os profissionais da equipe médica: "(...) às vezes até a equipe médica, de uns dois anos pra cá, vem ocorrendo de encaminharem um ou outro paciente que apresenta uma dificuldade específica duradoura de aprendizagem (...).".
Com este dado podemos compreender que a Psicopedagogia está vinculada exclusivamente ao tratamento de uma dificuldade já existente, principalmente entre a equipe médica.
Formação dos professores da Classe Hospitalar
A formação dos professores que atuam em uma Classe Hospitalar também foi discutida durante a entrevista com Helena. Nesta categoria podemos entender quais são as especializações necessárias para este tipo de atuação. Para Helena, "não dá para trabalhar sem ter Pedagogia e sem ter especializações na área, por exemplo, Psicopedagogia, Educação Especial ou especializações de deficiências outras. Ela complementa ainda dizendo que "formação nunca é demais, (...) porque as pessoas mudam muito rápidas e o professor está sempre querendo fazer alguma coisa diferente (...).".
Portanto, a formação constante destes profissionais se torna um ponto obrigatório para uma atuação adequada. Conforme vimos, o comprometimento do educador é o norte que fará com que busque maiores informações e fundamentações teóricas para que sua prática se renove a cada dia e a cada aluno atendido.
Outro ponto levantado por Helena é que o Hospital possui uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e oferece cursos de aperfeiçoamento na área de Atendimento Pedagógico Hospitalar. E, por conta destes cursos, os professores da própria Classe Hospitalar da instituição participam do planejamento e da elaboração de materiais: "outra coisa que proporcionou uma troca de saberes muito grande para gente foi quando a gente começou a fazer estes cursos de formação, porque isso de preparar aula junto, (...) a gente troca muito.".
Ou seja, durante esta preparação de cursos, os próprios professores repensam suas práticas e realizam uma reflexão bastante produtiva de suas atribuições neste tipo de atendimento.
Relacionamento com a equipe médica
Além do aspecto de formação dos professores, os cursos também proporcionaram um melhor entendimento por parte da equipe médica do hospital sobre o trabalho realizado na Classe Hospitalar. Helena revela que "até dois anos atrás a gente está contextualizado na Pediatria, mas não tinha contato direto com os médicos. Depois dos cursos a gente começou a receber um ou outro encaminhamento dos médicos (...).".
Isto denota que o trabalho realizado em uma Classe Hospitalar, até pouco tempo, não era valorizado pela equipe médica porque o foco da atuação destes profissionais como exposto na fundamentação teórica, é tratar com a maior cientificidade possível o quadro enfermo dos pacientes, principalmente nos casos de câncer. Com as mudanças propostas pelo processo de humanização hospitalar, este tipo de olhar está sendo alterado e ações que visam um tratamento mais amplo estão ganhando espaço dentro da instituição.
Legislação da Classe Hospitalar
Por fim, esta última categoria nos possibilita compreender que a regularização do atendimento pedagógico hospitalar ainda necessita de adequações. Helena salienta que a legislação existente "é muito frágil, ela não coloca quem deve dar este atendimento, em que hospitais, ela não coloca se é fundamental I e II, ela não diz nada".
Esta falta de orientação mais específica possibilita falha no decorrer do atendimento pedagógico hospitalar. E, como vimos anteriormente, a mais comum é a de utilizar o currículo estipulado para escolas de aula regular em uma Classe Hospitalar, sem fazer as devidas adaptações já que este tipo de classe é caracterizado por ser multiseriada. Sendo assim, um olhar especializado se faz necessário para coordenar este tipo de atendimento em uma instituição hospitalar.
CONCLUSÃO
Valendo-se de tudo o que foi exposto até o momento e contando com a entrevista realizada, é possível atingir o objetivo do presente artigo, compreendendo como a Psicopedagogia pode contribuir para o Atendimento Pedagógico Hospitalar.
A entrevistada reforça a concepção de que um olhar institucional para este tipo de acompanhamento se faz necessário porque todos os elementos fazem parte do processo de aprendizagem - a enfermidade da criança, a instituição hospitalar e seu cotidiano, as relações familiares - enfim, o contexto no qual este aluno está inserido pede um olhar mais amplo e atento às suas necessidades e às suas potencialidades. E, para tanto, a Psicopedagogia Institucional revela-se a abordagem mais apropriada para este tipo de intervenção.
Outro ponto a concluir seria sobre o espaço que este tipo de atendimento tem hoje nos hospitais. Como vimos, por intermédio do processo de humanização hospitalar, intervenções como a Classe Hospitalar ganham força dentro da instituição, com o reconhecimento dos demais profissionais de saúde.
A atuação da Psicopedagogia em um ambiente hospitalar adquire forma e durante este processo de estruturação, ainda existe um pressuposto de que esta ciência trabalhe somente com as dificuldades de aprendizagem. É preciso demonstrar aos demais profissionais - e reforçar entre os próprios psicopedagogos - que a Psicopedagogia deve estar presente em todos os momentos em que ocorra a aprendizagem, desde o planejamento de uma atividade, passando pela formação e discussão de casos com os educadores e por fim, intervindo em possíveis dificuldades de aprendizagem.
Considerando este ponto de vista e adotando uma visão institucional, o psicopedagogo poderá contribuir com o seu conhecimento de todo processo de aprendizagem para a atuação em uma Classe Hospitalar e, assim, aprimorar este tipo de atendimento pedagógico tão essencial para as crianças e os adolescentes hospitalizados.
REFERÊNCIAS
1. Manzano DK, Lima MCC. A relação do psicólogo com a criança hospitalizada sob um olha winnicottiano [Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Graduação em Psicologia]. São Paulo:Universidade São Marcos;2005. [ Links ]
2. Mitre RMA, Gomes R. A promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde. Ciência Saúde Coletiva. [on line]. 2004;9(1):147-54 [ Links ]
3. Lerner EMN. A psicologia no hospital: o impacto da hospitalização nas crianças, nos adolescentes e no psicólogo hospitalar [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:Universidade São Marcos;2002. [ Links ]
4. Paín S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre:Artmed;1985. [ Links ]
5. Porto O. Psicopedagogia institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. São Paulo:Wak Editora;2007. [ Links ]
6. Ceccim RB. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Pátio. 1999;Ano III Nº 10. [ Links ]
7. Winnicott DW. Tudo começa em casa. 3ª ed. São Paulo:Martins Fontes;1999. 282p. [ Links ]
8. Winnicott DW. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo:Martins Fontes;2001. 247p. [ Links ]
9. Souza MLR. O hospital: um espaço terapêutico? Percurso. 1992;9(2):22-8. [ Links ]
10. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização da atenção e gestão no Sistema Único de Saúde - HumanizaSUS. Disponível em www.saude.gov.br. Acesso em 6/5/2005. [ Links ]
11. Fonseca ES. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo:Memnon;2003. [ Links ]
12. Noffs NA, Rachman VCB. Psicopedagogia e saúde: reflexões sobre a atuação psicopedagógica no contexto hospitalar. Revista Psicopedagogia, 2007. [ Links ]
13. Barros ASS. Contribuições da educação profissional em saúde à formação para o trabalho em Classe Hospitalar. Caderno CEDES. 2007;27. Disponível no site http://www.scielo.br. Acesso em 12/5/2008. [ Links ]
14. Funghetto SS, Freitas SN, Oliveira VF. Classe hospitalar: uma vivência através do lúdico. Pátio. 1999;Ano III Nº 10. [ Links ]
15. Fighera TM. Pedagogia hospitalar: o paciente frente a uma nova abordagem de ensino. Disponível no site http://www.psicopedagogia.com.br. Acesso em 15/5/2008. [ Links ]
16. Gasparian MCC. Psicopedagogia institucional sistêmica. São Paulo:Abril Cultural;1997. [ Links ]
17. Chizzotti A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 5ª ed. São Paulo:Cortez;2001. [ Links ]
Correspondência:
Michelle Cristina Carioca de Lima
Rua Alexandre Levi, 202 Apto. 34 A
Cambuci - São Paulo, SP - CEP 01520-000
E-mail: psicologia_michelle@yahoo.com.br
Artigo recebido: 1/10/2009
Aceito: 12/12/2009
Trabalho realizado na Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, SP. Artigo apresentado ao módulo Pesquisa em Psicopedagogia, do curso de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional, sob orientação da professora Maria Cristina Natel.