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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.37 no.114 São Paulo set./dez. 2020

https://doi.org/10.51207/2179-4057.20200033 

EDITORIAL

 

Um final de ano que não é um final de ano qualquer

 

 

Definitivamente, 2020 não é um final de ano qualquer. Os seres humanos que habitam o planeta Terra, em sua maioria, certamente querem que 2020 encerre e, com a entrada de um novo ano, haja novas expectativas, novas atitudes, novos comprometimentos individuais e coletivos.

Ao findar esse ano, deixaremos para trás experiências de um ano difícil, conturbado para a maior parte da população mundial, entretanto, precisamos refletir as aprendizagens que a experiência e o ineditismo da circunstância nos trouxeram e, por mais que seja um ano que queiramos deixar para trás, ele também inscreve em nós marcas de mudanças e transformações, portanto, aprendizagens, seja na esfera pessoal ou profissional.

O que aprendemos?

Como especialistas da aprendizagem temos que acreditar que algo importante todos aprendemos com esses tempos sombrios vividos. Para alguns de nós, ressignificou o conceito de tempo. Por isso, precisamos extrair aprendizagens que nos foram essenciais nesse tempo e que levaremos como novo modo de perceber o mundo que nos cerca e a partir disso novos hábitos de vida. Sobretudo, também temos que celebrar a vida, a nossa vida, a vida de quem amamos, a passagem do tempo.

Nesse ensejo de celebração registramos os 40 anos da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), comemorados em 2020. Fizemos ao modo possível e, com o devido reconhecimento, a celebração desta data comemorativa que foi também um momento de confraternização virtual entre tantas pessoas que escreveram e continuam escrevendo essa história.

A Revista Psicopedagogia respeitosamente agradece primeiramente aos nossos leitores, aos colaboradores, sejam os autores que publicaram conosco ao longo deste ano, sejam os membros do Corpo Editorial que atuaram como Pareceristas, igualmente agradecemos aos nossos prestadores que atuam incansavelmente no preparo técnico deste periódico, assim como agradecemos ao Conselho Executivo da Revista o trabalho dedicado e, da mesma forma, agradecemos à Presidente Marisa Irene Siqueira Castanho e a respectiva diretoria nacional executiva da ABPp, gestão 2020/2022, que sequencialmente mantém a Revista Psicopedagogia, viabilizando sua publicação e em decorrência compartilhando e produzindo conhecimento científico de forma aberta, acessível a todo e qualquer interessado neste assunto. Estamos visíveis em bases de dados virtuais importantes. Por tudo isso e muito mais, agradecemos a todos que de algum modo participaram e colaboraram conosco fazendo um 2020 possível.

Nessa edição temos, dentre artigos originais, 'Resolvendo o paradoxo da iconicidade: o caso dos sinais de Libras', de Fernando Cesar Capovilla e Antonielle Cantareli Martins. Os autores trazem a Libras - Linguagem Brasileira de Sinais como forma de comunicação e expressão, com sistema linguístico de natureza visual-motora e estrutura gramatical própria, que constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, e que se origina das comunidades de surdos do Brasil. Dentre as propriedades dos sinais, uma das mais relevantes é a sua iconicidade, ou seja, a sua clareza denotativa. Um sinal é icônico quando seu significado é considerado admissível e pode ser adivinhado. Um paradoxo frequentemente apontado na bibliografia da área é o de que, embora o significado da maior parte dos sinais não possa ser adivinhado a partir da forma desses sinais, uma vez que o observador seja informado acerca do significado desses sinais, a forma passa, então, a ser julgada por eles como bastante admissível para representar esse significado.

Após, temos o texto que trata de um assunto importante para a educação e o respeito com o outro, 'Bullying e habilidades sociais educativas: Avaliação dos professores e alunos', de Franciele da Silva Del Ponti, Patricia El Horr de Moraes e Zilda Aparecida Pereira Del Prette, um estudo que compara a autoavaliação dos professores com a dos estudantes envolvidos em bullying acerca das habilidades sociais educativas do professor. Os resultados mostram a importância de considerar as habilidades sociais educativas dos professores na perspectiva dos envolvidos em bullying e apontam para aspectos a considerar em intervenções de combate e prevenção ao problema.

O texto 'Intervenção construtivista: saber geométrico, jogo e os possíveis e o necessário', de Lilian Alves Pereira Peres e Geiva Carolina Calsa, tem por objetivo investigar os efeitos de uma intervenção pedagógica construtivista com jogos e construção de possíveis e do necessário em relação à aprendizagem de conteúdos escolares sobre noções espaciais. A pesquisa está apoiada no método clínico-crítico piagetiano sobre noções espaciais, o possível e o necessário e conceitos espaciais. Resultados apontaram que o uso do jogo Katamino contribuiu para a construção de possíveis nas estratégias dos estudantes, bem como para a melhoria de seu desempenho em todas as provas realizadas após as intervenções.

Ainda na seção de artigos originais temos as autoras Aline Gasparini Zacharias-Carolino e Andréia Osti trazendo o texto 'Desempenho na escrita de estudantes pertencentes aos anos finais do Ensino Fundamental 1', de natureza quanti-qualitativa e de caráter diagnóstico, que objetivou identificar os erros com maior incidência na escrita de alunos do Ensino Fundamental I, considerados pela equipe escolar como crianças que apresentam dificuldades em sua escrita, realizando por meio disso uma caracterização dos erros evidenciados, tal como sua frequência de ocorrência. Os resultados indicam que os estudantes participantes apresentaram dificuldades na escrita relativas não só ao sistema ortográfico, como também ao sistema de escrita alfabética.

Abrindo a seção de artigos de revisão temos 'Violência nas escolas públicas brasileiras: uma revisão sistemática da literatura', de Ellery Henrique Barros da Silva e Fauston Negreiros, cujo objetivo é realizar uma revisão sistemática da literatura sobre a violência nas escolas públicas brasileiras. A seleção das bases escolhidas se deu em função de que elas reúnem estudos acerca do objeto pesquisado, além de disporem de respaldo científico, reconhecimento e confiabilidade nas informações disponibilizadas. Os resultados demonstraram que a violência é algo presente em todos os segmentos sociais, surgindo de forma física e verbal, ocasionando interferência nas relações interpessoais.

O texto de Franciele Stolf Bertoldi e Fabíola Stoff Brzozowski, 'O papel da Psicopedagogia na inclusão e na aprendizagem da pessoa autista', menciona a pessoa autista como aquela que reconhece o autismo como parte inerente de sua identidade individual, sendo geralmente diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma deficiência que se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social. Existem várias linhas de tratamento, desde o uso de medicamentos até o trabalho de equipe multiprofissional. Neste último caso, o psicopedagogo pode integrar a equipe, ocupando o espaço de mediador entre a escola, o educando e a equipe terapêutica.

Compõe também essa seção o texto 'Teoria histórico-cultural - Contribuições à prática psicopedagógica' de Janaína Farias de Melo, Galeara Matos de França Silva, Zulmira Áurea da Cruz Bomfim, Isabelle Cerqueira Sousa e Lindolfo Ramalho Farias Júnior. Os autores têm como objetivo principal compreender como a teoria histórico-cultural pode contribuir para as práticas e intervenções no campo da Psicopedagogia. Partem do pressuposto de que toda prática deve ser orientada por um viés teórico e metodológico, visando coerência. Discutem brevemente como os conceitos fundamentais da teoria podem ser aplicados nas práticas da Psicopedagogia e como a teoria histórico-cultural vê o papel do psicopedagogo e de suas intervenções. Para além disso, a aplicação prática de seus conceitos pode nortear a prática do psicopedagogo, seja em métodos de análise do sujeito aprendente, ou de intervenção.

No texto 'Intervenção com a fluência de leitura - Scoping review', as autoras Maíra Anelli Martins, Renata Graziele M. Albrecht, Rebeka Fabri Bonfim Moura e Simone Aparecida Capellini apontam que estudos com a fluência de leitura são escassos no Brasil, principalmente quando se refere a intervenção. A fim de auxiliar estudos brasileiros futuros, este scoping review tem como objetivo apresentar os artigos de revisão existentes sobre intervenção em fluência de leitura, buscando analisar as implicações dos resultados destas pesquisas para a prática interventiva em fluência de leitura. Os resultados demonstram nove estudos de revisão em que a leitura repetida é a estratégia mais utilizada e mais eficaz quando associada a outras estratégias.

Fechando esta seção de artigos de revisão, apresentamos o texto 'Mediação em grupo de crianças com dificuldades de aprendizagem - Revisão de literatura', das autoras Debora Luz Squilante, Rebeca Soares Principe Vizioli e Carina Cella Panaia Mantovani, cujo texto tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica, explorando artigos nas bases de dados SciELO e Pepsic e na Revista Psicopedagogia, analisando informações referentes à mediação grupal realizada por profissionais e dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos estudantes na fase escolar. Os resultados apontaram que a mediação em grupo com crianças, independentemente do contexto no qual estão inseridas, contribui para a superação das dificuldades de aprendizagem.

Encerrando essa edição, temos um relato de pesquisa trazido por Gislene Silva Dutra, com o tema 'A escrita mediada como atividade de estimulação na apropriação do sistema alfabético'. Esse texto tem como objetivo discutir as possibilidades do uso da escrita mediada como um instrumento de intervenção psicopedagógica para a estimulação das hipóteses de escrita das crianças não alfabetizadas acerca do sistema alfabético. Foi possível concluir que o psicopedagogo precisa considerar os conhecimentos que as crianças já possuem em cada nível de escrita como ponto de partida para a intervenção psicopedagógica e que a escrita mediada é uma atividade que contribui para o avanço das hipóteses de escrita das crianças.

Finalizamos o expediente deste ano da Revista Psicopedagogia sabendo que na realidade não iremos, na exata virada de ano, superar as condições que a pandemia de Coronavírus nos impõe, ao contrário disso, devemos ter a consciência necessária de que a transmissão comunitária da COVID-19 cessará gradualmente a depender inclusive de como agimos perante o momento em que vivemos, pois o vírus segue cumprindo sua função. E, nós como estamos cumprindo a nossa função?

Pensemos para agir enquanto há tempo!

Nossa mensagem neste final de ano é: que venham dias melhores em 2021!

Protejam-se!

 

Luciana Barros de Almeida

Editora da Revista Psicopedagogia 2020/2022

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