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Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.37 no.114 São Paulo set./dez. 2020
https://doi.org/10.51207/2179-4057.20200030
ARTIGO DE REVISÃO
Intervenção com a fluência de leitura - scoping review
Reading fluency intervention - Scoping review
Maíra Anelli MartinsI; Renata Graziele M. AlbrechtII; Rebeka Fabri Bonfim MouraIII; Simone Aparecida CapelliniIV
IUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC/UNESP), Marília, SP, Brasil
IIUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC/UNESP), Marília, SP, Brasil
IIIUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC/UNESP), Marília, SP, Brasil
IVUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC/UNESP), Marília, SP, Brasil
RESUMO
A fluência de leitura envolve acurácia, velocidade de leitura e prosódia, sendo seu papel relevante na compreensão de leitura. Estudos com a fluência de leitura são escassos no Brasil, principalmente quando se refere a intervenção. A fim de auxiliar estudos brasileiros futuros, este scoping review tem como objetivo apresentar os artigos de revisão existentes sobre intervenção em fluência de leitura, buscando analisar as implicações dos resultados destas pesquisas para a prática interventiva em fluência de leitura. Os resultados demonstram nove estudos de revisão em que a leitura repetida é a estratégia mais utilizada e mais eficaz quando associada a outras estratégias. Além disso, grande parte dos estudos mostram o impacto positivo na compreensão de leitura. Conclui-se, portanto, que foi possível rastrear e analisar os estudos de intervenções eficazes em fluência de leitura, para que assim sirvam de referência para novas pesquisas brasileiras voltadas ao tema, auxiliando os profissionais.
Unitermos: Ensino de Recuperação. Leitura. Compreensão de Leitura. Dificuldade de Leitura.
ABSTRACT
Reading fluency involves accuracy, reading speed and prosody, with its relevant role in reading comprehension. Studies with reading fluency are scarce in Brazil, especially when referring to the intervention. In order to assist future Brazilian studies, this scoping review aims to present the existing review articles on intervention in reading fluency, seeking to analyze the implications of the results of these research for the interventional practice in reading fluency. The results show 9 review studies in which repeated reading is the most used and most effective strategy when associated with other strategies. In addition, most studies show a positive impact on reading comprehension. It is concluded, therefore, that it was possible to track and analyze the studies of effective interventions in reading fluency, so that they thus serve as a reference for new Brazilian research focused on the theme, assisting professionals.
Keywords: Remedial Teaching. Reading. Reading Comprehension. Reading Difficulties.
INTRODUÇÃO
A preocupação na comunidade acadêmica e da sociedade com os índices de analfabetismo e os resultados de provas aplicadas na população brasileira para investigar a educação dos brasileiros são temas comuns nas publicações acadêmicas e preocupações contínuas1,2. No Brasil, as manchetes de jornais3,4 mostram periodicamente o baixo desempenho nos resultados obtidos pelas crianças brasileiras em exames realizados pelo Ministério da Educação (MEC), como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica5, Prova Brasil e nos índices que integram o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações nacionais - o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)6. As avaliações também ocorrem por Programas Internacionais de Avaliação de Proficiência Educacional, como o PISA, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico7.
Diante dos inúmeros dados apontados nas pesquisas recentemente sobre o baixo desempenho dos brasileiros na educação, principalmente no que concerne à leitura e sua importância, as pesquisas voltam seus objetos de estudos para o complexo processo da leitura e todos os processos envolvidos para que haja compreensão, sendo esta uma atividade fundamental na vida das pessoas no mundo globalizado em que vivemos8,9.
A leitura contribui significativamente na formação do indivíduo, ampliando e diversificando visões e interpretações sobre o mundo. O domínio da linguagem é uma ferramenta indispensável que condiciona o processo de aprendizagem da leitura, sendo esta responsável por fundamentar interpretações e viabilizar a compreensão10.
A leitura é a estratégia eficaz no processo de ensino/aprendizagem11, pois é a partir dela que o leitor tem contato com o significado do código. Por ser uma prática social, é possível afirmar que diferentes leitores terão diferentes compreensões e interpretações de um mesmo texto10, sendo de qualquer forma a compreensão o objetivo final da leitura12.
Estudos recentes demonstram que existe relação entre compreensão e fluência de leitura, podendo uma influenciar a outra13. Portanto, se o escolar conclui o final dos ciclos do Ensino Fundamental sem fluência de leitura, há um grande risco que sua compreensão esteja comprometida. Para que se tenha fluência de leitura, é necessário desenvolver três habilidades básicas, sendo elas: acurácia, velocidade e prosódia. Com o domínio dessas habilidades, o leitor conseguirá ler em voz alta de uma forma rápida, precisa e expressiva, tornando-se, então, um leitor14. Então, para ser fluente, o leitor precisa decodificar as palavras para ler com o mínimo de erros e também não ter atenção consciente ao processo de decodificação, o que fará com que sua leitura tenha uma velocidade e prosódia adequada, guiando-se por meio dos sinais de pontuação15,16.
Em uma pesquisa recente de revisão9 da literatura buscou-se publicações brasileiras que tratassem da avaliação da leitura, e os resultados mostraram que há poucos estudos tanto com escolares da Educação Infantil quanto adolescentes (Ensino Fundamental II e Médio) e adultos (universitários ou não). Há um reduzido número de instrumentos para avaliação e, por fim, carência de testes que mensurem os distintos componentes da leitura competente, como os processos de fluência de leitura, sendo esta lacuna recorrente em todas as faixas etárias.
Além do déficit de instrumentos de avaliação da leitura, observam-se na literatura científica poucas pesquisas voltadas ao tema da fluência. Algumas têm demonstrado correlações entre a fluência de leitura e a compreensão12,17, apesar do déficit observado em instrumentos para se realizar a avaliação da leitura e diferentes metodologias para mensurar a fluência ou a compreensão. Buscando artigos brasileiros voltados ao tema, poucos estudos foram encontrados.
Estudo16 com escolares do 1o ano do Ensino Fundamental I sugere que variações na fluência da leitura desempenham um papel importante na compreensão da leitura desde o início da aprendizagem da leitura, pois a fluência correlacionou-se significativamente com a habilidade de compreensão, sendo a decodificação (acurácia) e a fluência (acurácia e rapidez) avaliadas no final do 1º ano, e a compreensão da leitura avaliada um ano mais tarde, no final do 2o ano.
Já em uma avaliação do desempenho de leitura com escolares do 3o ao 7o ano, observou-se aumento da taxa de leitura com a evolução da escolaridade, assim como uma taxa de leitura sempre maior em texto constituído de palavras curtas (em relação ao de palavras longas) e em texto sintaticamente simples (em relação ao mais complexo)8.
Já em outra pesquisa18, o interesse foi descrever o desempenho dos escolares brasileiros, do 2o ano do Ensino Médio, e os resultados demonstraram que, apesar de os leitores apresentarem um nível satisfatório em precisão, seus desempenhos apontaram para uma baixa fluência em velocidade, comprovando a fragilidade da competência leitora dos participantes. Os autores concluem que esses jovens chegam a um nível escolar que requer um alto nível de compreensão e uma grande demanda de aprendizagem de conteúdos curriculares sem estarem completamente preparados para o "ler para aprender", a partir dos prejuízos encontrados na automaticidade de suas leituras18.
Por fim, as buscas por artigos recentes brasileiros retornaram apenas um estudo voltado para intervenção com a fluência de leitura. Tinha por objetivo comparar o desempenho na fluência de leitura pré e pós-estimulação por meio de um programa baseado em padrões de prosódia, demonstrando que os escolares alcançaram modificações positivas quanto às médias da taxa de leitura, ao número de palavras lidas de forma incorreta e à qualidade da prosódia realizada durante a atividade de leitura19.
Já a literatura internacional traz muitos estudos de revisão sistemática de intervenção em fluência de leitura. Uma, realizada em 201720, examinou 19 estudos e concluiu que a intervenção com a leitura repetida associada a multicomponentes produziu ganhos na fluência e compreensão da leitura. Eles referem que fornecer um modelo de leitura fluente e feedback de desempenho, usando texto de nível mais fácil e com critério de desempenho, além do treino em grupo, contribuiu para melhores resultados.
Em uma outra revisão recente21 os dados também demostraram a eficácia da leitura repetida como base para intervenção em fluência de leitura. As intervenções mais eficazes foram as individuais e com treino de precisão de palavras. Algumas lacunas são apontadas nos estudos: a eficácia de intervenções além da leitura repetida; efeitos das intervenções na prosódia, já que a maioria das remediações está voltada para velocidade e acurácia.
Diante da escassez de estudos brasileiros, principalmente aqueles voltados à intervenção na fluência de leitura, esta pesquisa justificou-se com o objetivo de rastreamento e apresentação do estado da arte de estudos de intervenções eficazes em fluência de leitura, que possam futuramente servir de referência para novas pesquisas brasileiras voltadas ao tema e auxiliar os profissionais brasileiros com a intervenção direcionada à fluência de leitura, norteando sua prática clínica e/ou educacional. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é apresentar os artigos de revisão sobre intervenção em fluência de leitura, buscando analisar as implicações dos resultados destas pesquisas para a prática interventiva em fluência de leitura. A fim de atingir o objetivo, optou-se por uma scoping review.
MÉTODO
A fim de realizar uma síntese de pesquisas e mapear a literatura existente em intervenção em fluência de leitura, bem como identificar lacunas nesta área e fazer recomendações para estudos futuros, esta pesquisa adotou uma metodologia denominada scoping review, utilizada em estudos de revisão da literatura22. Este tipo de estudo permite a análise sobre a eficácia das intervenções em saúde, além disso, a eficácia, a adequação, a significância e a viabilidade das práticas terapêuticas são consideradas.
Sendo assim, um estudo de scoping review abrange cinco estágios ou fases para implementação: identificar a questão de pesquisa; identificar estudos relevantes; seleção de estudos; traçar/organizar os dados; compilar, resumir e relatar os resultados; e exercício de consulta (estágio opcional).
As perguntas de pesquisa que permearam este estudo foram: 1- Quais são os estudos relevantes de revisão sistemática em intervenção de fluência de leitura? 2- Quais intervenções eficazes eles propõem?
Critérios de inclusão e exclusão dos estudos
Com o propósito de selecionar os estudos para este scoping, o critério de inclusão foi abarcar somente artigos de revisões de literatura, pois levou-se em consideração o trabalho já realizado destas revisões (uma vez que a quantidade de estudos em intervenção em fluência de leitura é muito extensa) e uma análise sobre revisões pode ser mais abrangente a um número maior de estudos e também possibilitar um olhar mais analítico e amplo para os resultados já descritos nestas revisões. Foram excluídos todos os outros tipos de estudo e resumos.
Identificando estudos relevantes
Foram utilizadas as seguintes bases de dados: SciELO, Oasisbr, BVS-Biblioteca Virtual em Saúde, Periódicos CAPES e ScienceDirect para realizar a pesquisa, disponíveis em serviços on-line.
A pesquisa nas bases de dados iniciou-se com a busca dos seguintes descritores em língua inglesa, combinando dois ou três termos: literature revision, reading fluency, oral reading fluency, fluency, fluency intervention, accuracy, prosody, automaticity, reading rate.
Os artigos coletados foram publicados no período de 2002 a 2020 e o período analisado nas revisões variou entre 1974 a 2019.
Os resumos obtidos no banco de dados foram comparados entre si para verificação de superposição de artigos. Posteriormente, os resumos foram então analisados para selecionar os trabalhos que atendessem aos critérios de inclusão, ou seja, somente foram considerados os trabalhos de revisão de intervenção com fluência de leitura, sem restrição de faixa etária.
Nesta fase de coleta de dados, foram selecionados 11 resumos, os quais foram numerados sequencialmente, e uma nova etapa de busca dos artigos completos permitiu chegar à definição final dos textos que efetivamente foram analisados neste estudo, em um total de 9 artigos.
Os artigos completos encontrados foram numerados de acordo com os resumos e excluídos aqueles que não disponibilizaram os artigos científicos na íntegra. Assim, este estudo foi composto por 9 artigos científicos de revisão da literatura.
Extração dos dados de cada estudo
O Quadro 1 apresenta a extração dos seguintes dados de cada estudo: título, ano de publicação e objetivo geral.
RESULTADOS
Os dados coletados foram analisados por meio de registro em ficha, que continha os seguintes itens: a) título e ano da publicação, b) autores, c) período da revisão, d) população e anos escolares, e) número de estudos analisados na revisão, f) questões de pesquisa e g) implicações para a prática. As informações coletadas nas fichas de registro foram codificadas numericamente e distribuídas em planilhas de Excel. Os resultados foram analisados e estão descritos no Quadro 2. Foram analisados 9 estudos internacionais, sendo os 9 realizados nos EUA.
DISCUSSÃO
Foi possível observar que as revisões realizadas investigaram as estratégias que mais beneficiam os escolares no desenvolvimento da fluência, e por consenso encontraram que a estratégia da leitura repetida é a base de todas as intervenções que visam fluência.
Os dados apontados na presente análise sobre revisões realizadas com objetivos de avaliar a eficácia de intervenções desenvolvidas para trabalhar com a fluência de leitura demonstram e confirmam que, ao longo dos anos, pelo menos desde a década de 1970, a leitura repetida e outras estratégias principais (como feedback corretivo, modelação de leitura e meta de leitura) têm sido intervenções comprovadamente eficientes em construir e desenvolver a habilidade de fluência de leitura e, por consequência, melhorar a compreensão leitora, tanto para aqueles que lutam para melhorar a leitura quanto para aqueles que apresentam maiores dificuldades, como, por exemplo, os indivíduos com transtornos de aprendizagem.
Como demonstrado, as intervenções de leituras repetidas deveriam ser utilizadas em combinações ou como parte de um programa de leitura23-26. Uma das revisões demonstra que, apesar de não haver critério estabelecido para o número de releituras que deve ser realizado para cada trecho de um texto, a maior parte das pesquisas da área estabelece o critério de no mínimo de 3 a 4 repetições do trecho para uma intervenção eficiente23.
A maioria dos estudos trazem mais informações a respeito das consequências das intervenções na velocidade e acurácia de leitura quando comparadas ao impacto dos treinos na prosódia, pela dificuldade da avaliação neste componente, já que a prosódia é um conceito mais subjetivo21. Ainda assim, este estudo identificou alguns artigos que demonstraram que treinos de leitura repetida e contínua e treinos híbridos melhoram a prosódia, quando comparado com escolares que somente ficam na situação de escuta.
Uma das revisões buscou analisar questões específicas com o uso da estratégia da leitura repetida para alcançar uma meta de leitura com critérios fixos. Os estudos analisados levaram em consideração estudantes da pré-escola até o Ensino Médio, com intervenções que priorizaram textos ao invés de lista de palavras. Nesta revisão foram analisados 31 artigos publicados em 15 revistas27. De acordo com as análises, os principais achados reforçam que a leitura repetida tem demostrado ser uma das estratégias mais eficazes para favorecer a fluência de leitura, com práticas guiadas, sistemáticas e explícitas.
Os estudos analisados apresentam em sua maior parte implicações dos resultados das pesquisas para as práticas desenvolvidas dentro das salas de aula. Sugere-se que os professores devam considerar o uso de intervenções de leitura repetidas como parte de suas práticas de instrução no contexto de sala de aula devido a uma série de razões, como pelo fato da leitura repetida ser uma estratégia simples e direta que pode ser facilmente usada e/ou adaptada, com um tempo mínimo dentro do curso de um dia de aula; os escolares podem ler um texto silenciosamente ou em voz alta para um colega de sala, para um leitor mais proficiente ou, ainda, para um adulto (como professores de reforço, estagiários, voluntários, funcionários, etc.); os professores podem usar a estratégia em uma ampla gama de configurações de instrução, incluindo individualmente em um centro de aprendizado com leituras gravadas, audiolivros, ou em grupos de leitura individuais, parceiros/grupos de parceiros, grupos pequenos e em salas de aula inclusivas. Por fim, a revisão demonstra que as intervenções de leitura repetidas requerem um treinamento mínimo de escolares e professores, podendo ser facilmente adaptadas e modificadas aos materiais curriculares23.
Em relação ao nivelamento dos textos a serem utilizados, os resultados das pesquisas ainda se demonstram controversos, pois para alguns utilizar textos no nível de habilidade de leitura do escolar implicou resultados positivos, enquanto para outros estudos utilizar textos com nível de dificuldade acima do nível de habilidade de leitura demonstrou-se mais efetivo.
Em outra revisão28 (com estudos desde 1977 até 2001) foram observados os resultados das pesquisas com medidas de não transposição e medidas de transferência. Medidas de não transposição referem-se a medidas das habilidades dos escolares para ler ou compreender fluentemente um trecho depois de lê-lo várias vezes. Já medidas de transferência referem-se a medidas de habilidades dos escolares para ler ou compreender fluentemente novos trechos depois de releituras de outros materiais. Os resultados analisados indicam que, nas duas condições acima descritas, a leitura repetida é uma estratégia eficaz para melhorar a fluência e a compreensão da leitura28.
Intervenções de leitura repetidas (LR) deveriam ser conduzidas por professores, auxiliares, tutores bem treinados ou entre os colegas de classe, pois seria em média três vezes mais eficaz trabalhar a técnica com um leitor proficiente, visto que ele pode fornecer, sempre que necessário, o modelo correto da leitura das palavras. Na estratégia da LR sem um modelo, os escolares leem por si só um trecho do texto um número especificado de vezes, sem que o trecho seja modelado antes da leitura por um adulto, por uma gravação de um leitor proficiente ou, ainda, por escolares da mesma idade28.
Ainda nessa revisão, foram destacados os componentes essenciais de instruções em programas com leitura repetida, sendo eles critérios de desempenho e meta, como um número fixo de releituras (três a quatro vezes seria o número ideal de releituras), na qual 36 sessões seria a duração média do tempo das intervenções, que deveriam ser realizadas com outras estratégias, como dicas verbais anteriormente ao início da leitura do escolar, feedback corretivo durante a leitura dos textos e metas estabelecidas para serem alcançadas, além de orientações para uma leitura rápida e com compreensão.
A palavra feedback pode aparecer em diferentes contextos de estratégias, como feedback do desempenho geral, do desempenho de habilidades e comportamentos específicos com auxílio de marcadores visuais ou somente verbais. Pode, também, ser descrita como feedback corretivo, que significa auxiliar o escolar no momento em que ocorre o erro na leitura, oferecendo-lhe a resposta correta imediatamente25.
De acordo com as revisões20,25, sugere-se que o feedback corretivo seja trabalhado em conjunto com a leitura repetida e seguindo o protocolo de três repetições. Durante a cronometragem de textos narrativos e/ou expositivos, os erros devem ser marcados. Os escolares podem receber a instrução anteriormente ao início da sessão e, caso apresentem dificuldade ao ler alguma palavra, receberão assistência. O feedback geralmente é oferecido somente nas primeiras e segundas leituras da técnica da LR e ocorre quando o escolar pronuncia uma palavra incorretamente, quando hesita por mais de três segundos e, quando omite, substitui e insere palavras.
Em uma das revisões20 realizada recentemente, estudos analisados variavam dentro do período de 2001 e 2014 sobre intervenções de fluência da leitura em escolares desde a Pré-escola até o 5o ano do Ensino Fundamental, com diagnóstico de transtornos de aprendizagem e com um total de 19 estudos analisados. Essa revisão é uma extensão e continuação de outra síntese29, que analisou os mesmos tipos de estudos, com os mesmos critérios, no período de 1975 a 2000. Os dados da revisão realizada em 2017 corroboraram com a revisão de 2002, e, em síntese, mais uma vez a estratégia da leitura repetida está associada a efeitos positivos na taxa, na acurácia de leitura e na compreensão leitora, sendo que os ganhos em fluência de leitura se generalizam para novos textos. Além disto, foi observado que ao ter um modelo de leitura fluente melhora-se a efetividade da técnica da leitura repetida.
Assim como constatado nas revisões que consideraram a amostra de transtornos de aprendizagem, achados de outra revisão26 também recente consideraram os efeitos das intervenções com leituras repetidas em escolares com dificuldades na leitura, apontando, mais uma vez, os efeitos positivos da leitura repetida e de suas combinações.
Resultados de uma revisão25 que rastreou estudos realizados tanto com escolares com transtorno de aprendizagem quanto com escolares com desenvolvimento típico chegaram à conclusão de que o uso da estratégia da leitura repetida pode configurar-se de diversas formas e, ainda assim, tem demonstrado aumentar as habilidades em fluência de leitura e beneficiar a promoção da compreensão de leitura. Concluiu-se, também, que o uso de critérios para estabelecimento de metas de alto desempenho em leitura demonstrou-se superior ao longo do tempo quando comparado ao estabelecimento de metas mais baixas.
CONCLUSÃO
Esta scoping review objetivou identificar os artigos de revisão em intervenção em fluência de leitura, bem como suas implicações na prática. Todos os estudos encontrados foram realizados na língua inglesa e apontam a leitura repetida como base para a intervenção.
Partindo dos dados encontrados, é possível verificar a importância da fluência de leitura e que esforços deveriam ser aplicados para colocar em prática o desenvolvimento dessa habilidade com a população brasileira, a partir de intervenções baseadas em evidências científicas.
Por isso, são necessárias as intervenções, uma vez que ainda há brasileiros que se encontram com baixo desenvolvimento na fluência de leitura, podendo esta dificuldade percorrer toda a vida deles. Sabe-se que há relação entre fluência de leitura e compreensão, sendo esta indispensável no mundo globalizado. Portanto, ao obter a habilidade de fluência de leitura, o escolar apresentará condições para uma compreensão adequada.
É possível verificar também a defasagem de artigos nacionais relacionados à intervenção na fluência, sendo encontrado apenas um artigo, causando déficits no ensino da fluência para os escolares brasileiros. Por fim, esta pesquisa de revisão da literatura rastreou estudos de intervenções eficazes em fluência de leitura, para que assim sirvam de referência para novas pesquisas brasileiras voltadas ao tema, auxiliando os profissionais e escolares brasileiros.
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Endereço para correspondência:
Maíra Anelli Martins
Rua Hygino Muzzi Filho, 737 B - Sala 102 - Bairro Mirante
Marília, SP, Brasil - CEP 17525-900
E-mail: mairaanelli@gmail.com
Artigo recebido: 25/6/2020
Aprovado: 29/10/2020
Trabalho realizado na Trabalho realizado na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Filosofia e Ciências - FFC/UNESP - Departamento de Fonoaudiologia. Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia, Marília, SP, Brasil.
Conflito de interesses: As autoras declaram não haver.