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PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.13 n.2 Itatiba dez. 2008

 

RESENHA

 

Questões atuais sobre métodos projetivos

 

 

Tatiana Cristina Teixeira*

Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil

 

 

Villemor-Amaral, A. E. & Werlang, B. S. G. (2008). (Orgs.). Atualizações em Métodos Projetivos para Avaliação Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo. 423 p.

 

Propor-se a avançar no processo de reconhecimento acerca da credibilidade e utilidade das técnicas projetivas em variados contextos, é o objetivo do livro Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. Apresenta estudos atuais em busca de evidências de validade, fidedignidade e de desenvolvimento de critérios para análise das técnicas de percepção de estímulos não-estruturados (Rorschach e Zulliger), técnicas temáticas, técnicas gráficas e técnicas com estímulos diversos. Esta obra foi organizada pelas doutoras Anna Elisa de Villemor-Amaral e Blanca Susana Guevara Werlang, e dividida em quatro partes, com 25 capítulos no total, nos quais estão incorporadas as técnicas mais conhecidas atualmente, de acordo com o tipo de estímulo e tipo de tarefa solicitada. Os capítulos foram escritos por 33 profissionais reconhecidos pelo trabalho técnico e acadêmico na área da avaliação psicológica.

Inicialmente, Liza Fensterseifer e Blanca Susana Guevara Werlang abrem essa obra mostrando o Apontamento sobre o status científico das técnicas projetivas considerando a perspectiva histórica, teórico-metodológica das técnicas projetivas e as críticas a elas atribuídas. Também abordam a importância da investigação das propriedades psicométricas das técnicas projetivas para o atual contexto da avaliação psicológica.

A primeira parte é dedicada a técnicas de percepção de estímulos não estruturados - Rorschach e Zulliger - cujo primeiro capítulo, Atualização em pesquisas com o sistema compreensivo do Rorschach no Brasil, Regina Sônia Gattas Fernandes do Nascimento aborda que por meio de trabalhos e considerações existentes até o momento, o sistema compreensivo tem contribuído positivamente para a realização de pesquisas e tem se mostrado um sistema sensível às sutilezas da avaliação de personalidade. As tabelas normativas brasileiras devem ser sempre tomadas como referência ao analisar casos individuais, mas também devem ser tomados cuidados para que não sejam utilizadas de forma rigorosa. A flexibilidade no uso do Rorschach e não apenas no sistema compreensivo deve ser a chave para a compreensão dos indivíduos avaliados.

No segundo capítulo, A abordagem fenômeno-estrutural e o método de Rorschach, Deise Matos do Amparo e Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, descrevem os fundamentos do método fenômeno-estrutural. Este surge como um dos sistemas que têm contribuições importantes a dar para a compreensão dos dados qualitativos, as origens desse método, as pesquisas na França, os avanços desta abordagem no Brasil e os alcances e limites em relação ao método fenomenológico.

Em seguida, Latife Yazigi apresenta, no capítulo Rorschach e assimetria cerebral: experimentação com o Rorschach bissimétrico, o teste das faces quiméricas, Rorschach e lateralidade, o Rorschach bissimétrico. Há o relato de um estudo com um grupo de 1.100 pessoas no qual foi aplicado o teste das faces quiméricas e o questionário de dominância manual que serviu como seleção de 120 sujeitos destros e do sexo masculino que passaram pela avaliação do Rorschach bissimétrico, sendo possível confirmar a hipótese de que o processamento emocional, relacionado no Rorschach com a percepção dos sombreados e das nuances de claro-escuro, ocorre via hemisfério direito.

Em A utilização do Rorschach em crianças e adolescentes, contribuição de Norma Lottenberg Semer, é exposta a utilização do Rorschach em crianças e adolescentes como instrumento de conhecimento da personalidade. Tem por objetivo o diagnóstico e prognóstico, podendo também ser usado para estudar o desenvolvimento psicológico, por ser um instrumento que permite acesso às características internas desde uma idade precoce.

No capítulo seguinte O Rorschach e as técnicas projetivas no contexto forense, Sonia Liane Reichert Rovinski explora o uso do Rorschach (sistema compreensivo) em avaliações psicológicas na área forense. Apresenta estudos atuais sobre o Rorschach para diferentes demandas do contexto forense como casos de avaliação de guarda de filhos, avaliação de casos de dano psíquico e casos de avaliação na área penal.

O último capítulo desta primeira parte, O teste de Zulliger no sistema compreensivo, escrito por Anna Elisa de Villemor-Amaral e Renata da Rocha Campos Franco, apresentam estudos sobre o Zulliger no sistema compreensivo. Esse se apresenta como uma técnica útil em diversos contextos e que ainda está acumulando evidências de validade que permitam seu uso nos processos de avaliação para diversas finalidades.

A segunda parte do livro é composta pelo conjunto de técnicas temáticas e iniciada por Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva e Maria Elisabeth Montagna, que, no primeiro capítulo, O teste de apercepção temática, apresenta uma organização do Teste de Apercepção Temática (TAT), sua fundamentação teórica, as estratégias de interpretação e pesquisas realizadas no Brasil. Dentre tais estratégias há destaque para o esquema necessidade-pressão de Murray, o sistema psicodinâmico de Leopold Bellak, a análise da estruturação dinâmica e o sistema de esquemas de Teglasi.

No segundo capítulo, O teste de apercepção temática infantil com figuras de animais (CAT-A), Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo e Maria de Fátima Xavier abordam aspectos referentes à fundamentação teórica, as principais características do CAT-A, como o sentido das pranchas, e a forma de aplicação e instruções. Conta com uma revisão de alguns estudos, tanto nacionais como internacionais, que apontam a relevância e a atualidade dessa técnica.

O teste das fábulas foi o terceiro capítulo escrito por Maria Lucia Tiellet Nunes, que apresenta o histórico, a versão pictórica, a descrição, as indicações, a forma de aplicação e o manejo dos dados. Pesquisas demonstram que o teste das fábulas, ao longo dos anos, se mostra ser um instrumento ao qual as crianças respondem bem, e também é utilizado por adolescentes e adultos e tem sido útil para responder diversas questões de pesquisa, são descritas.

O quarto capítulo, Teste de apercepção familiar - FAT, escrito por Blanca Susana Guevara Werlang, Liza Fenterseifer e Gabriela Quadros de Lima, relata um breve histórico do FAT, sua descrição e administração, indicações e propriedades psicométricas. As autoras demonstram que um dos principais desafios que o FAT representa é o de trabalhar com uma técnica projetiva que não se fundamenta na teoria psicodinâmica, mas sim na sistêmica.

Nessa segunda parte está o último capítulo, O teste dos contos de fadas, escrito por Blanca Susana Guevara Werlang e Mônica Medeiros Kother Macedo. Os contos de fada, no desenrolar de suas histórias, convidam a criança a exercitar suas capacidades imaginativas. Nesse capítulo as autoras apresentam um breve histórico sobre o teste, a sua descrição e administração, indicações, sistema de categorização de respostas e interpretação do teste e o processo de adaptação para a realidade brasileira.

A terceira parte aborda as técnicas sobre expressão da personalidade por meio de desenhos, que representam as técnicas gráficas. O primeiro capítulo dessa parte, intitulado Técnicas projetivas gráficas e o desenho infantil, escrito por Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva, aborda a utilidade dos desenhos na prática clínica, sendo esta amplamente reconhecida. Destaca também a formação do profissional para utilizar essa técnica e a relação da criança com o desenho.

Desenho da figura humana é o capítulo seguinte, escrito por Denise Ruschel Bandeira e Adriane Xavier Arteche. As autoras trazem um histórico sobre o tema e os sistemas de análise e interpretação, tendo o DFH como medida do desenvolvimento cognitivo, como medida projetiva e de psicopatologia.

Adriana Martins Saur e Sônia Regina Pasian, no capítulo O desenho da figura humana na investigação da imagem corporal: alcances e limites, abordam os aspectos iniciais do desenho como recurso de avaliação psicológica. Por meio do relato de estudos, apresentam o desenho da figura humana e a imagem corporal, demonstrando o DFH em diferentes tamanhos. Tendo em vista a variedade de resultados teóricos e empíricos identificados na literatura científica, levantam-se questões sobre a falta de investigação da imagem corporal como um construto psicológico.

O quarto capítulo, A técnica da casa-árvore pessoa (HTP) de John Buck, escrito por Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva, explora as origens e fundamentos teóricos, os princípios de interpretação, os aspectos simbólicos da tríade casa-árvore-pessoa, os aspectos simbólicos do uso do espaço e o uso das defesas nas técnicas gráficas. Dentro das pesquisas com o HTP, são apresentados estudos associados à obesidade, estudo de validade com avaliação da auto-estima, estudos de identificação de abuso sexual, avaliação de intervenção e um estudo emblemático.

Em Desenhos e aspectos transculturais, Sonia Grubits e Ivan Darrault-Harris falam sobre a psicossemiótica e etossemiótica, e discutem sobre o desenvolvimento, significado e signo no desenho infantil. Apresentam, por meio de estudos com populações infantis tanto a aplicação da psicossemiótica quanto a proposta de um modelo de avaliação.

Em seguida, Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo apresenta, no capítulo O procedimento de desenhos-estórias(D-E) e seus derivados: fundamentação teórica, aplicações em clínica e pesquisas, uma introdução e fundamentação sobre o tema. Há relato de estudos e pesquisas com o D-E, a técnica de aplicação, formas de avaliação e são apresentados alguns dados sobre o procedimento de desenhos de famílias com estórias e procedimento de desenhos com tema.

No capítulo O teste de Bender como instrumento de avaliação da personalidade, Eda Marconi Custódio discute sobre a avaliação da personalidade pelo teste de Bender. É abordada sua história, os aspectos do referencial teórico introduzidos pela autora e, também, a partir de outros estudos sobre a técnica, tendo como hipótese que o teste de Bender avalia aspectos expressivos da personalidade, mais do que projetivos. É tido como um teste gráfico auto-expressivo.

O capítulo Avaliação da maturidade percepto-motora: contribuições do Bender Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG), escrito por Ana Paula Porto Noronha, Fermino Fernandes Sisto, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, visa apresentar o teste de Bender sob a perspectiva da avaliação da maturidade percepto-motora e de sua relação com a inteligência. Há um breve histórico sobre a técnica e alguns sistemas de correção. São discutidas pesquisas realizadas no exterior e no Brasil e também o sistema de pontuação gradual como outra possibilidade de avaliação das figuras escolhidas por Bender.

Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva tem como objetivo, no capítulo O teste de completamento de desenhos de Wartegg (WZT), apontar as origens do instrumento e as bases teóricas que fundamentam as interpretações, e levantar alguns pontos que convidam à reflexão. São comentadas também algumas contribuições de Kinget para a caracterização do WZT como técnica projetiva e algumas considerações quanto ao uso adequado do WZT.

No último capítulo dessa terceira parte, intitulado Pesquisas com o teste de Wartegg no Brasil, Irai Cristina Boccato Alvez traz um levantamento das pesquisas realizadas com o teste de completamento de desenhos de Wartegg no Brasil, de modo a apresentar uma sistematização da literatura. Os estudos são apresentados em ordem cronológica e divididos em quatro aspectos principais: temas diversos, estudos normativos, de precisão e de validade.

A quarta e última parte desse livro é constituída por técnicas com estímulos diversos e em seu primeiro capítulo, BBT - teste de fotos de profissões: teoria, possibilidades de uso e adaptação brasileira, escrito por Mariana Araújo Noce, Érika Tiemi Kato Okino, Renata de Fátima Assoni e Sonia Regina Pasian, as autoras apresentam uma fundamentação teórica a partir da construção do BBT. Em seguida, trazem a elaboração e histórico do BBT, aplicação e interpretação, pesquisas com o BBT e, por fim, um estudo de caso para ilustrar o processo de avaliação e interpretação do BBT.

No segundo capítulo, O questionário desiderativo: possibilidades teóricas e empíricas na atualidade, Nicole Medeiros Guimarães, Sônia Regina Pasian e Sônia Regina Loureiro abordam pautadas nos aspectos conceituais, a técnica do questionário desiderativo. Apresentam, no decorrer do capítulo trabalhos científicos, aspectos relativos à aplicação, codificação e interpretação do questionário, e uma pesquisa objetivando parâmetros de fidedignidade e normativos para o questionário desiderativo obtidos com adolescentes.

Novas contribuições para o teste das pirâmides coloridas de Pfister é o último capítulo dessa obra, escrito por Anna Elisa de Villemor-Amaral e Renata da Rocha Campos Franco. As autoras apresentam a origem do teste das pirâmides coloridas de Pfister, o material e o modo de aplicação, a interpretação dos dados e, por fim, estudos de validade e normatização do teste.

Esse livro apresenta um panorama abrangente e atual das técnicas projetivas, demonstrando sua riqueza como fonte de informação a respeito da personalidade e as possibilidades de uso desses instrumentos. Assim, oferece, a estudantes e profissionais, recursos na sua tarefa de investigação e intervenção na área da psicologia e proporciona aos pesquisadores, estímulo e inspiração para novas pesquisas na área.

 

 

Sobre a autora:

* Tatiana Cristina Teixeira é psicóloga, mestranda em Psicologia pela Universidade São Francisco e bolsista CAPES.
E-mail: tatictex@hotmail.com