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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.12 n.2 Campinas dez. 2008

 

RESENHA

 

Cenários de ensino-aprendizagem

 

Scenarios of teaching-learning

 

 

Geraldina Porto Witter

Universidade Castelo Branco

 

 

Granville, M. A. (Org.). (2008). Sala de aula: ensino e aprendizagem. Campinas: Papirus, 335p.

 

A sala de aula é o cenário por excelência para o longo e complexo processo de ensino-aprendizagem que ocorre nos anos de vida acadêmica. Nestas circunstâncias é bem vindo um livro que pode contribuir para se compreender o tema e trazer possíveis sugestões. O livro em tela foi organizado pela experiente docente pesquisadora Dra. Maria Antônia Granville, da UNESP, com a colaboração de vários outros autores.

A obra compreende uma Apresentação, redigida pela organizadora, bem como com 19 capítulos que enfocam aspectos diversos do tema. No primeiro, Frassetto adota o enfoque psicanalítico em um ensaio de metapsicologia da aprendizagem, considerada impossível ou irrelevante para as coisas realmente importantes, tendo ainda por substrato as neuroses, a subjetividade entre outros aspectos comuns na visão psicanalítica do ser. No final destes demais capítulos há um quadro com questões sobre a matéria, um convite para pensar sobre o tratado no corpo do capítulo.

O segundo capítulo é de Nigro e Busato que tratam da terminologia da aprendizagem no que diz respeito ao letramento e à literatura, em que narram o próprio envolvimento no Projeto Teia do Saber - "Ler para Aprender", na Região Noroeste Paulista. Apresentam os conceitos e informes sobre a programação realizada. Não há dados específicos generalizáveis, mas argumentam que os professores que fizeram o curso aprenderam a possibilidade de via literatura levar a uma situação reflexiva e trabalhar qualquer matéria.

Jeffrey, no capítulo 3, discute um sério problema educacional, a progressão continuada cujas limitações e possibilidades têm tido ampla discussão não apenas no meio acadêmico como na mídia. Apóia-se na opinião de alguns professores que entrevistou. Conclui pela necessidade de "recuperação de individualismo e do isolamento dos docentes... de modo que favoreça ao menos, o entendimento da concepção pedagógica e administrativa do regime de progressão continuada" (p. 69).

No capítulo seguinte, Bechara analisa aspectos verbais e não verbais de cartazes de propaganda tendo a semiótica por referencial. Destaca a necessidade da pessoa ter aptidão para ler qualquer linguagem (verbal ou não verbal) e os pressupostos culturais e educacionais subjacentes.

Segue-se uma análise de conteúdo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de História e de Geografia, da responsabilidade de Villela que destaca a América Latina. Enfatiza a importância de recuperar para crianças e jovens uma descrição e explicação da atual situação da região.

É muito rica a literatura internacional sobre o fazer questões em sala de aula, tanto por parte do professor como do aluno. Ortale e Martins enfocam as questões feitas pelo professor (capítulo 6), apresentam exemplos de interação durante aula de línguas estrangeiras e uma das muitas maneiras de danificar as perguntas.

Outra questão educacional que está carecendo de maior cuidado no Brasil é aprendizagem para trabalhar em grupo. Gomes enfoca principalmente as dificuldades de avaliar os alunos quando trabalham em grupo. Apresenta sugestões que podem ser úteis, mas há no texto uma grande carência de informações de dados de procedimentos, estratégias, instrumentos de avaliação e evidências disponíveis na bibliografia científica pertinente.

Desde os anos oitenta do século passado vem crescendo a preocupação e mesmo a pesquisa científica do uso de jornais e de revistas em sala de aula no Brasil, embora no exterior este uso já fosse farto no começo do mesmo século. Silva e Lima tratam, em um texto teórico, do potencial educativo de tais materiais, destacando na interface comunicação e educação o uso de notícias. Refere-se à Escola de Frankfurt, mas não às novas propostas e há poucos dados relatados em pesquisas nacionais e estrangeiras.

Por sua vez, Arruda, no capítulo 9, apresenta o que denominou a nova teoria de comunicação tendo por base a Escola de Palo Alto que repensa a matéria, que requer a efetiva participação de sujeito no processo de aprendizagem. Mas destaca também que muitas outras teorias estão em ebulição.

A física aristotélica em sala de aula é o tema do capítulo 11 em que Serzedello tece considerações sobre sua vivência discutindo teoricamente o ensino da matéria. No capítulo seguinte, Granville cuida das práticas de leitura no âmbito da escola, fazendo um relato de vivências e análises de como isto vem correndo. Apresenta exemplos de atividades desenvolvidas em classe pelos docentes e a base fornecida pelo livro didático na estruturação das aulas.

Pagotto, no capítulo 13 chama o leitor para o ensino superior discutindo a qualificação do docente e sua atuação. Apresenta dificuldades decorrentes à diversidade de alunos, à universidade como mecanismo social de seleção, às necessidades do próprio professor, inclusive de saber ensinar levando ao máximo seu empenho em atender bem ao aprendizado a ser realizado pelo aluno.

No capítulo assinado por Arnoni é tratada a metodologia da mediação dialética para ser usada em sala de aula, na ação educativa, como ponte entre o ensino e a aprendizagem.

Silva retoma o ensino-aprendizagem da leitura, no capítulo seguinte, do prisma sociointeracionista lembrando que, a despeito das variações teórico-conceituais e metodológicas, há consenso de que "o domínio da leitura pelo indivíduo é fenômeno que ultrapassa consideravelmente a mera alfabetização" (p. 247), o que não é nenhuma novidade já que a última está na grande maioria das propostas, desde o século XIX, é apenas uma fase inicial. Descreve a partir do enfoque adotado a prática docente. É um texto teórico em que apresenta exemplos extraídos de observações da autora em sala de aula e de trabalhos realizados por alunos.

Não há dados, evidências replicáveis ou generalizáveis, talvez pela opção de redação convencional de capítulo.

A prática de ensino é essencial na formação docente. Ela é tratada, na disciplina que leva este título, destinada a futuros professores de língua estrangeira (licenciatura em letras) por Kaneoya (capítulo 16). Critica o modelo que denomina tecnicista e aponta as contradições entre os referenciais teóricos e a prática. Relata uma vivência que conduziu na área de ensino de espanhol, usando várias estratégias. Outro exemplo é oferecido tendo por base a língua inglesa. São procedimentos comumente usados em livros didáticos, descritos e pesquisados na literatura científica internacional, todavia carente de dados confiáveis na realidade brasileira quanto a sua eficiência/eficácia no que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem e capacitação docente.

Scandiuzzi, no capítulo 17, ocupa-se com a formação de professores de Matemática dentro do contexto de inclusão social. Descreve como trabalha esta situação buscando superar a concepção linear de ensino, recursos ou meios que usa, a influencia indiana, o calculo popular. É o relato de um caminho que precisa ser pesquisado em seus múltiplos aspectos.

Em seguida, Kahil trata do ensino de Geografia, o lugar do todo mundo, como denomina o capítulo 18. Com a expansão geográfica decorrente das grandes excursões e colonizações, o mundo passou por grandes mudanças que levaram a concepções diversas inclusive do espaço geográfico e a novos temas a serem enfocados nas aulas. O autor finaliza o capítulo com questões enunciativas de dúvidas.

O último capítulo é dedicado à aprendizagem do literário por meio da canção e foi elaborado por Buchala e Oliveira. Apresentam como exemplo a letras de músicas de Caetano Veloso usadas para análise.

Os textos apóiam-se em bibliografia predominantemente teórica, livros nacionais e raras obras (mais as traduzidas e clássicas) estrangeiras. Mesmo os poucos textos de periódicos são mais trabalhos ditos de reflexão e vivenciais, não havendo busca sistemática de textos com evidências científicas e a apresentação de dados. São raras as exceções.

Considerando como seu público-alvo, professores formados e em formação, tenham considerado inviável trabalhar o universo de sala de aula mostrando prismas diversos. Parece nítida a importância de apresentar idéias, conceitos, um arrolar de opiniões, o pensamento vem estruturado, pronto. Não há dados para uma leitura crítica e independente.

É um livro útil para se pensar algumas proposições educacionais existentes no Brasil e que carecem muito pesquisas que realmente as validem. Mas o seu uso em sala de aula requer muita complementação e uma maior abertura da parte de professores e formandos.