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versão impressa ISSN 1415-1138
Psyche (Sao Paulo) v.12 n.22 São Paulo jun. 2008
ARTIGOS
A abertura da estrutura: limite da aplicação da lingüística saussuriana à psicanálise
The opening of structure: the limit of the application of saussurian linguistics to psychoanalysis
Léa Silveira Sales*
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
Serão analisados alguns aspectos da relação entre psicanálise lacaniana e lingüística saussuriana no esforço de entender como convergem, na sentença “o inconsciente está estruturado como uma linguagem”, tanto elementos de aproximação que estabelecem, para Lacan, uma equação de identificação entre leis da linguagem e leis do inconsciente quanto exigências de delimitação do ponto no qual a noção de estrutura, desenvolvida depois de Saussure, esbarra em obstáculos próprios à psicanálise, os quais terminam por exigir seu afastamento de algumas diretrizes expostas pelo Curso de lingüística geral.
Palavras-chave: Psicanálise lacaniana; Lingüística; Estrutura; Traço unário; Negação.
ABSTRACT
We will analyze some aspects of the relation between Saussurian linguistics and Lacanian psychoanalysis in an effort to understand the convergence, in the sentence “the unconscious is structured as a language”, elements of approach that establish, for Lacan, an equation and an identification between laws of language and laws of the unconscious as well as the necessity to limit the notion of structure, developed after Saussure, in so far as it meets peculiar obstacles, proper to psychoanalysis, that demand its removal from some guidelines displayed by the Course of general linguistics.
Keywords: Lacanian psychoanalysis; Linguistics; Structure; Unary trait; Negation.
O entusiasmo que Lacan expressa ao se referir à lingüística saussuriana, justificado por uma leitura lévi-straussiana do inconsciente capaz de transferi-lo para um terreno extra-psicológico, que ao mesmo tempo torna possível submetê-lo a uma nova forma estruturalista de perceber a questão da cientificidade, o conduz a incumbir as possibilidades teóricas abertas por seu trato do significante da missão de recobrir o sentido da psicanálise: “que existam no inconsciente cadeias significantes que subsistem como tais, que a partir dele estruturam, agem sobre o organismo, influenciam o que aparece externamente como sintoma, essa é a base da experiência analítica” (Lacan, 1957-58, p. 410). A olhos investidos de uma perspectiva externalista, e ciosos quanto a prescindir da substância, essa é de fato uma leitura habilitada a atribuir aos enunciados freudianos uma lógica aceitável1. Nessa aposta se pautam declarações como a seguinte:
Você me perguntava em que me distinguia de Freud: nisto, no fato de que eu conheço a lingüística. Ele não a conhecia e, portanto, não podia saber que o que fazia era lingüística. E a única diferença entre sua posição e a minha baseia-se no fato de que eu, abrindo um livro seu, em seguida posso dizer: isto é lingüística (Lacan, 1966, p. 9).
A duplicidade fendida do significante e do significado é, para Lacan, a única via explicativa do determinismo psicanalítico (cf. Lacan, 1955-56, p. 136), cuja base é a identificação da estrutura do inconsciente com a estrutura da linguagem, entendida sob determinados aspectos e recortes da apresentação saussuriana. O “inconsciente estruturado como uma linguagem” não significa que suas leis seriam análogas às da linguagem, mas que são exatamente as mesmas leis. É o que está implícito quando Lacan identifica uma coisa à outra: a lingüística “tem a mais estrita relação com a análise tout court. Elas até mesmo se confundem. Se olharmos de perto, elas não são essencialmente diferentes uma da outra” (Lacan, 1957-58, p. 12). As formações do inconsciente são efeitos de engendramento do sentido no plano das funções do significante:
essa estrutura do inconsciente, isso em que se reconhece um fenômeno como pertencente às formações do inconsciente, recobre, de modo exaustivo, aquilo que a análise lingüística nos permite assinalar como sendo os modos essenciais da formação do sentido, na medida em que ele é gerado pelas combinações do significante (Lacan, 1957-58, p. 49).
Assim, a correspondência entre causalidade inconsciente e causalidade significante2 assentada nos mecanismos da metáfora e da metonímia é uma manobra intrínseca à abordagem do sintoma como fenômeno de sentido.
O que, para o autor, valida a sobreposição das disciplinas é a noção de uma causalidade própria ao funcionamento do discurso, causalidade que ele chama de “lógica”, em sentido menos comum de mecanismo do logos como discurso: no registro do inconsciente, “reconhecemos que são as leis e os efeitos próprios da linguagem que constituem sua causalidade; causalidade que mais se deve dizer lógica do que psíquica, se dermos à lógica a acepção dos efeitos do logos, e não apenas do princípio de contradição” (Lacan, 1958a, p. 174). Aí vemos que o vínculo não é de semelhança: as leis do inconsciente são as leis da linguagem e não leis como as da linguagem. O que importa, seja em lingüística, seja em psicanálise, é o isolamento do campo da articulação significante cujo modo de funcionamento é o mesmo, qualquer que seja o campo fenomênico recortado capaz de responder pela racionalidade geradora das formações do inconsciente: “a descoberta de Freud se homologa ao tomar, antes de mais nada, por certo (...) que o real é racional [ou seja, que o inconsciente é a lógica do significante], e depois, ao constatar que o racional é real [quer dizer, o efetivo é o simbólico, e não o objeto ou a realidade]” (Lacan, 1958b, p. 637). A estrutura, e não a psicologia, oferece esteio seguro, porque concreto, para uma racionalidade livre de obscuridades metafísicas: “se nossos referenciais são sempre estáveis e seguros, é porque eles são estruturais, porque estão ligados às vias de construções significantes” (Lacan, 1957-58, p. 199).
No entanto, o entusiasmo não forjou uma assimilação ingênua ou nãoproblematizada. Ao contrário, a lingüística teve seus elementos invariavelmente repensados, retrabalhados de acordo com o rumo dos problemas encontrados e com o modelo necessário.
De modo que entre psicanálise e lingüística, a vizinhança não possui caráter de analogia. Se no que diz respeito às leis, dá-se um passo atrás da analogia, afirmando-se uma relação de identificação, no que se refere ao material abordado, dá-se um passo além dela, tornando-se absolutamente necessário trabalhar a natural distância entre características da língua e características do inconsciente. Fosse o viés da analogia presente nesse nível, o destino do projeto seria um fracasso prematuro, pois a estratégia da analogia exige a perscrutação dos pontos de semelhança, e estes se revelam raros. Acreditando que a relação seria desse tipo, Merquior (1991) baseia sua suposta desconstrução da estratégia estruturalista de Lacan3. Contudo, o psicanalista demonstra estar a par das observações de Benveniste (retomadas no argumento de Merquior4): que, ao contrário do inconsciente, a língua é aprendida; que o signo saussuriano é arbitrário, enquanto o que propriamente interessa no símbolo freudiano é exatamente sua motivação; que o inconsciente seria universal, ao passo que o sistema lingüístico, expresso em diversas línguas específicas. Lacan não desconhecia o risco e pautava seu discurso em parâmetro diverso: “o inconsciente está estruturado como uma linguagem. E não se trata de uma analogia, mas que quero dizer que sua estrutura é exatamente a mesma da linguagem” (Lacan, 1966, p. 9).
Então, como articular deslocamento, afastamento quanto à consideração das características do fenômeno, e identidade da estrutura? A estrutura do inconsciente é a mesma da linguagem, isso significa sobretudo que os traços inscritos na cadeia se articulam entre si segundo duas classes de operações, e apenas elas: sintagmáticas e paradigmáticas. A estrutura do significante está em ele ser articulado, isto é, suas unidades “estão submetidas à dupla condição de se reduzirem a elementos diferenciais últimos e de os comporem conforme as leis de uma ordem fechada” (Lacan, 1957, p. 501). Em última análise, ser “estruturado como uma linguagem” traduz, portanto, um sistema que age pela articulação da diferença em metáforas e metonímias. Porém, o inconsciente é estruturado como uma linguagem e não como uma língua: a enunciação, o discurso concreto, requer a consideração da sintaxe na constituição do sintagma. Ou seja, exige a língua em circulação e aplicação; exige a linguagem. Em outras palavras ainda, a metonímia põe em questão a dimensão da fala, alheia à língua no esquema de Saussure. Por isso, podemos afirmar que é com o desenvolvimento do grafo do desejo, que insere a fala na estrutura (no Seminário 5), que começa a se manifestar a verdadeira originalidade de Lacan no trato com o material estruturalista.
Contudo, o índice dessa originalidade é igualmente índice da impossibilidade do estruturalismo como tal na psicanálise. Pois é aí que se desvenda um aspecto importante do limite de sua aplicação. Por um elemento de identidade de estrutura a metonímia , a psicanálise atinge um ponto de distanciamento porque, para ela, o eixo metonímico se traduz pelo eixo da fala, no qual o viés do determinismo sofre uma desestabilização. Se a lingüística, sobretudo com Jakobson, pode pensar a diacronia na metonímia permanecendo circunscrita às diretrizes estruturalistas, a psicanálise não pode deixar de ver a permanência de premissas fenomenológicas, que trazem à fala a questão da natureza da subjetividade. É de dentro do próprio campo de homogeneidade entre lingüística e psicanálise que nasce o ponto de seu afastamento, na medida em que ele requer um trabalho mais apurado da questão do tempo como traço de manifestação do sujeito, descobrindo insistentemente que a estrutura inconsciente não pode ser pensada como a “ordem fechada” que Lacan mencionava na Instância da letra. Isso, por sinal, já vinha sendo questionado a propósito de Saussure e exigira revisões de seus esquemas, particularmente, do esquema das duas massas amorfas cujo objetivo, em Saussure, era ilustrar o isomorfismo e a simultaneidade do recorte dos dois planos, significante e significado. É claro que esse isomorfismo não interessa a Lacan, uma vez que lhe é essencial discutir o deslizamento do significado sob o significante indispensável à perspectiva da determinação. Arrivé (1986, p. 99-105) mostra que para isso Lacan precisou substituir o “de uma só vez” empregado por Saussure por um “ao mesmo tempo”, apenas aparentemente sinônimo, no seguinte comentário: “o Sr. Saussure pensa que o que permite o recorte do significante é certa correlação entre significante e significado. Evidentemente, para que os dois possam ser recortados ao mesmo tempo [en même temps], é necessária uma pausa” (Lacan, 1955-56, p. 135). Substituição imperativa para a introdução da idéia de pausa suposta ao deslizamento. Mas o encaminhamento do discurso de Lacan permite perceber que a outra face do valor da insistência no deslizamento dos planos é o fato de que a consideração da dimensão da fala, que confere abertura à estrutura, é imprescindível à psicanálise:
Esse esquema é discutível. Vê-se bem, com efeito, que, no sentido diacrônico, com o tempo, produzem-se deslizamentos e que, a todo instante, o sistema em evolução das significações humanas se desloca e modifica o conteúdo dos significantes que assumem empregos diferentes (...). Sob os mesmos significantes há, no curso das eras, esses deslizamentos de significação que provam que não se pode estabelecer correspondência biunívoca entre os dois sistemas (Lacan, 1955-56, p. 135).
Recorrência da indeterminação determinada do sujeito, insistência da necessidade de trabalhar uma espécie de contingência causada que vai se direcionar para a reelaboração do pensamento da estrutura.
Nesse ponto, é preciso reconhecer, a bem da análise, que Lacan investe valor na linguagem em dois níveis diversos, porém pontualmente convergentes:
1) O fato da fala como habilidade do ser humano, ou seja, a existência efetiva de linguagem;
2) A suposição de que os significantes se inscrevem como traços na constituição de cadeias que são o inconsciente.
Há, de fato, um ponto de intersecção: a insistência da cadeia no discurso: “o inconsciente, a partir de Freud, é uma cadeia de significantes que, em algum lugar (em uma outra cena, ele escreve) se repete e insiste, para interferir nos cortes que lhe oferece o discurso efetivo e a cogitação que ele informa” (Lacan, 1960, p. 799). Responde pela convergência o emprego da expressão “ordem simbólica”. Lacan aplica as noções de lingüística ao inconsciente como conjunto de significantes que envia mensagens ao Outro, e dessa forma, implica a função discursiva. Mas obviamente não é tudo do nível fenomenológico da fala e do discurso que se inscreve no nível lógico do significante. Apenas o que dele se cristaliza por meio dos posicionamentos transferenciais, ou seja, por intermédio do modo da relação dos sujeitos ao Outro nos pontos de significantização da demanda e do desejo, pontos definidores da estrutura do Édipo. Por isso, é bem verdade que o emprego lacaniano do significante habita muito mais o segundo nível do que o primeiro. É nele que faz sentido a frase “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”.
Por outro lado, sem a consideração da enunciação não teríamos a passagem da linguagem pela radicalização da alteridade, passagem cuja responsabilidade é imprimir consistência e sentido à cadeia. “O inconsciente é o discurso do Outro” é frase que conjumina os dois níveis ao supor que aquilo que sobra da emissão da fala retorna ao sujeito constituindo a cadeia significante que é o inconsciente. Isso significa que a afirmação de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem não esgota a relação entre ambos5. Embora o inconsciente não seja estruturado pela linguagem, só existe por causa dela: pelo fato de falar é que o sujeito se encontra dividido, e o segundo nível sozinho não é suficiente para dar conta da hipótese. Não se pode pensar como o significante seria causa do sujeito se abstraída a estrutura do grafo do desejo. A garantia desse efeito não pode se resumir à existência de um sistema lingüístico qualquer. Cumpre pensar a articulação entre o ato da fala instaurador de um lugar destinatário e a inscrição de significantes em cadeias atuantes inacessíveis ao sujeito. Há que se observar ainda a importância central desse ato no dispositivo da prática psicanalítica.
De todo modo, é importante ter em vista a distinção, caso contrário não seríamos capazes de diferenciar a função de uma palavra, cujo papel não se exime de permanecer restrito ao campo imaginário, da função do traço unário; esta, estritamente simbólica. É também pela vinculação ao traço unário que se torna possível pensar o significante como elemento comum aos dois níveis, autorizando o fato de que um enunciado sobre a linguagem ou sobre a ordem simbólica possa pertencer a ambos indistintamente, implicando o cruzamento, nos enunciados lacanianos, de diversos níveis de argumentação. Geralmente superpõem-se os seguintes níveis: de análise do ser, de análise da linguagem, de análise do inconsciente. O que define uma função significante é que algo “represente” a anulação de alguma coisa para então constituir cadeia. No resultado, ele não permanece como símbolo da coisa, mas como símbolo de uma ausência. É isso que caracteriza a ordem simbólica, a linguagem sendo apenas um de seus modos de expressão, embora privilegiado por responder pelo exercício da fala, cuja função mencionamos acima.
Como se pode perceber, os dois níveis dialogam de diversas formas, e devido a sua existência, a relação da psicanálise lacaniana com a lingüística vai progressivamente exigindo aberturas e reformulações. O esforço de aplicar um modelo mais fiel ao destino da antropologia estrutural a problemas psicanalíticos vai cedendo espaço para a abordagem da enunciação, da interferência do tempo e da contingência. A articulação da binaridade oposicional e da permutação combinatória presente particularmente na análise do Homem dos Ratos como caso de repetição deslocada do mito familiar, na estruturação dos destinos da carta no conto de Poe, nos comentários do Fort-da e na consideração da fobia do pequeno Hans como múltiplas trocas da disposição dos significantes presentes em seu quadro edípico, é algo que parece encontrar uma resistência própria ao fenômeno: os significantes que fazem parte da cadeia inconsciente formam um sistema, mas este não pode ser considerado um sistema fechado tal como uma língua6. “Fechado” em dois sentidos:
1) Não pode compor uma estratificação isolada sem vias de comunicação com um outro nível, que no caso, é o do sujeito. Fazer ciência em lingüística equivale, nesse contexto, a analisar elementos e organização de um sistema. Já em psicanálise, tal ensejo não pode prescindir da busca pelo viés da causa ou da determinação.
2) Não pode ser um conjunto finito. Ora, enquanto na língua todos os elementos já se encontram dados quando se a toma por objeto, o movimento do desejo está sujeito ao evento ainda que seu surgimento esteja condicionado a uma estrutura anterior: notadamente o desejo dos pais. Não se trata, portanto, de uma contingência simples, mas de uma contingência limitada, e principalmente, posterior à determinação estrutural. De todo modo, trata-se de uma contingência absolutamente estranha à lingüística estrutural. Por mais que a apreensão de um acontecimento esteja condicionada pela estrutura de desejo presente nos discursos objetivos, ele ainda preserva algo de um caráter próprio e autônomo. Ele permanece como contingência mesmo atravessando a estrutura.
Do ponto de vista epistemológico, a relação entre linguagem e inconsciente precisa ser discriminada em três níveis relativos a relações de condicionamento, redução e fundamentação.
1) Relação de condicionamento
A linguagem é condição da manifestação empírica do inconsciente, e não o contrário7, na medida em que é nas falhas do discurso concreto dirigido ao Outro que aparecem os resultados das formações do inconsciente. Mesmo no caso do ato falho, este só ganha sentido quando inserido em um discurso que o situe na rede associativa do sujeito, ainda que se trate de um pensamento que não receba expressão direta. Supor o contrário que o inconsciente seria condição da linguagem seria um posicionamento teórico incompatível com as escolhas prévias, pois exigiria um retorno a uma abordagem do inconsciente como conceito abstrato, e ao psicologismo como sua implicação. É o que explica Bairrão no seguinte trecho:
O pior equívoco, o mais irracionalizante, seria confundir a linguagem como condição de qualquer possibilidade de experiênica (...) com a afirmação positivante de um saber cognitivo psicologizante, predicativizante e erroneamente fundamentada na experiência (...) , que consistiria na afirmação do inconsciente como suporte da linguagem.
Quando se parte da última tese confessa-se a ingenuidade, incompatível com o percurso descrito, de imaginar conhecer o inconsciente, até o ponto de saber como condiciona a linguagem! (2003, p. 126).
Ora, não havia sido justamente esse o motivo mais importante para o ingresso na racionalidade estruturalista: ter acesso a uma forma concreta de pensar o inconsciente, atingi-lo por meio do discurso concreto como um dado?
2) Relação de fundamentação
A linguagem não é apenas condição de possibilidade da manifestação empírica do inconsciente, ela é condição de possibilidade também de sua existência. A linguagem funda o inconsciente no sentido de que a divisão subjetiva assim nomeada é decorrência do direcionamento de um discurso, em essência equívoco, a um lugar transferencial. Bairrão, nesse ponto, defende o contrário: “ainda que panoramicamente se constate na palavra as possibilidades de dicção do inconsciente, este não se reduz a quaisquer efeitos daquela: a linguagem não o fundamenta, sendo apenas condição epistêmica de sua empiricidade” (2003, p. 128). Para o ele, afirmar essa fundamentação corresponde a desconhecer a dimensão epistemológica da reflexão lacaniana por confundir acesso à linguagem com acesso ao inconsciente capaz de fornecer as bases de um conhecimento objetivo a seu respeito. O autor supõe aí uma intimidade entre relação de fundamentação e relação de redução. Mas é de um outro ângulo que se torna necessário divisar, um passo adiante, a relação de fundamentação: o Outro não é exigido por outra coisa senão pela função da fala. Em outros termos: não houvesse fala, não haveria o retorno do discurso do Outro que é o inconsciente. Assim é que o “tecido de exemplos” de conexões e substituições que Lacan encontra na Interpretação dos sonhos, na Psicopatologia da vida cotidiana e no livro sobre os chistes é desdobrado como fórmulas do significante apenas na medida em que sua função é uma função de transferência (cf. Lacan, 1957, p. 522). Um significante representa algo para outro significante, mas não deixa de remeter à alteridade. Sua relação com o plano do significado exige a mediação de todo o conjunto dos significantes que é o Outro, e que paulatinamente vai exibindo a exigência de ser pensado como conjunto aberto.
O sujeito é dividido, ou seja, encontra-se submetido às vicissitudes de um funcionamento que ele mesmo desconhece por causa das implicações inacessíveis de sua própria enunciação, e é esse também o sentido de que ele seja efeito do significante. Temos aí um caso em que as condições de possibilidade do fenômeno funcionam também como sua causa. Pensar dessa forma não exclui a interpretação de que Lacan tenha atingido a concepção dessas relações em virtude de impasses epistemológicos. Ao contrário, entender a efetividade do Outro na divisão do sujeito é algo que concorre para o estabelecimento de bases não abstracionistas para a psicanálise, referendando, portanto, a manutenção do caminho de suas preferências teóricas.
3) Relação de redução
Mas as relações de condicionamento e de fundamentação não significam que o inconsciente se reduza à linguagem, pelo contrário. Ele funciona como uma linguagem. Responde, juntamente com ela, a leis que são as mesmas. Há uma convergência da estrutura de seus respectivos funcionamentos, mas não de seus elementos. Para que isso fique claro, basta constatar que os significantes que interessam a Lacan não são necessariamente os do conjunto limitado dos componentes de uma língua, embora possam eventualmente vir a coincidir com eles. Dado o deslizamento, o “tesouro do significante” não pode coincidir com um tipo de código tendente à correspondência unívoca entre signos e significações, como o é o código lingüístico (cf. Lacan, 1960, p. 806). Por outro lado, a restrição da teoria psicanalítica a problemas lingüísticos é impossível simplesmente porque o campo da experiência impede essa alternativa, esvaziando-a de sentido.
É impossível, portanto, que a frase “O significante é o que todos os outros não são” persevere em consistência no campo psicanalítico porque essa sentença implica de imediato a existência de um sistema fechado dentro do qual os elementos se definam apenas reciprocamente. Mas, cabe insistir: somente na medida em que “todos” continue a remeter, tal como na origem saussuriana da idéia, a um conjunto fechado. Embora Lacan continue a reiterá-la, não sabemos se sem perceber a conseqüência ou já ressignificando a ocorrência do “todos”: “o que distingue o significante é tão-somente o fato de ser o que todos os outros não são; o que, no significante, implica essa função da unidade, é justamente ser apenas diferença. É enquanto pura diferença que a unidade, na sua função significante, se estrutura, se constitui” (Lacan, 1961-62, p. 46). Em todo caso, aí vemos que o motivo da reatualização do lema é a importância da afirmação da diferença como única unidade do significante. Torna-se impossível permanecer restrito à sincronia, como mostra, aliás, a necessidade de articulação do grafo do desejo. O tempo da enunciação e a retroação do significante têm que ser administrados pela estrutura desse funcionamento. “O significante é o que todos os outros não são”, a rigor, é uma idéia que tem que ser substituída pelo traço unário na função de marcar a diferença. O traço substitui a coisa conduzindo-a a uma existência simbólica, que a partir daí forma sistema com os outros traços. Mas trata-se de um sistema aberto e não fechado como uma língua. Podemos mesmo imaginar o desenvolvimento do traço unário como a necessidade de preservar a dimensão da diferença no nível do significante diante do descabimento, para a psicanálise, de um sistema fechado. Ele permanece definido por referência à série (apenas essa articulação pode definir seu lugar), mas a impossibilidade do fechamento do sistema solicita uma positivação mais decisiva da diferença, ou seja, requer sua apresentação como pura função de negação.
Naturalmente, essa idéia não estava ausente da disposição anterior. Observando que, quanto ao inconsciente, os elementos diferenciais mínimos componentes da estrutura não podem ser discriminados em função de pares de oposições fonéticas, vemos em que nível nos situamos: se ainda assim quer se pensar que um significante é apenas sua diferença a todos os outros, a única binaridade possível passa a ser presença/ausência, caminho capaz de coagular elementos oriundos tanto de Saussure8 e Jakobson, quanto de Kojève. A presença de um significante qualquer remete imediatamente à ausência de todos os outros. Não apenas porque ele próprio é índice de todo um conjunto de elementos afins até então considerado completo, mas também porque a linha metonímica que o constitui em significação já supõe laços necessários com o restante do universo estrutural:
O significante pode estender-se a muitos elementos do domínio do signo. Mas o significante é um signo que não remete a um objeto, mesmo sob a forma de rastro [trace], embora o rastro anuncie o seu caráter essencial. Ele é também o signo/sinal [signe] de uma ausência. Mas, na medida em que faz parte da linguagem, o significante é um signo que remete a outro signo, que é como tal estruturado para significar a ausência de um outro signo, em outros termos, para se opor a ele em um par (Lacan, 1955-56, p. 188).
É muito importante entender que quando o significante, afirmando-se como diferença, se opõe à ausência de outro(s) significante(s), ele não está com isso se opondo a unidades identitárias positivadas, ainda que virtuais. Por isso, insistimos na contribuição de Saussure:
uma diferença supõe em geral termos positivos entre os quais ela se estabelece; mas na língua há apenas diferenças sem termos positivos. Quer se considere o significado, quer o significante, a língua não comporta nem idéias nem sons preexistentes ao sistema lingüístico, mas somente diferenças conceituais e diferenças fônicas resultantes desse sistema (Saussure, 1916, p. 139).
O significante é diferença entre diferenças, que só se definem como tais por definirem entre si o campo estrutural de suas relações. Esse é o valor da idéia de estrutura. Não fosse esse o caso, o descarte do modelo identitário implicado no trato lingüístico da diferença9 seria tão-somente aparente, não resistindo a uma análise de segundo plano, uma vez que teríamos apenas diferenças relativas ao conceito que preservaria uma função de referência positiva. Continuaríamos, portanto, inseridos em um pensamento da identidade, apesar da presença da diferença na superfície.
O outro lado da essência negativizante do significante é que seu procedimento é de modo a nada significar: “nosso ponto de partida, o ponto ao qual sempre retornamos, pois estaremos sempre no ponto de partida, é que todo verdadeiro significante é, como tal, um significante que não significa nada” (Lacan, 1955-56, p. 210). Lacan afirma em seguida que quanto mais o significante nada significa, mais indestrutível ele é declaração que traduz a vontade presente no ideal de ciência, pois sustentar um significado relativamente fixo para o significante corresponderia a prendê-lo demasiadamente a fatores empíricos, e como tais, contingentes. Portanto, não apropriados para contribuir com o estabelecimento do nível explicativo que precisa ser solidário de uma racionalidade necessária. Assim, quanto mais o significante nada significa, mais ele pode entrar em relações formais permanentes invulneráveis ao caráter acidental da experiência vivida. De todo modo, é importante acentuar: tal resultado é intrínseco ao significante, faz parte dele por uma questão de definição e não por causa de aspectos empíricos. Vejamos como Bairrão explica essa observação essencial:
No nível do significante se está estritamente distante do engodo que consiste em pensar o traço como remetendo à coisa. Mais: não basta supor que o traço não remete à coisa apenas por alguma dificuldade de estabelecer uma referência, pois do ponto de vista simbólico isso poderia ser contingente. Sob pena de nostalgicamente se preservar a coisa na forma da sua inacessibilidade, a diferença pura não deve ser tomada como um negativo do idêntico, mas como positivamente consubstancial ao traço (2003, p. 234).
Ou seja, a melhor forma de ponderar a relação entre simbólico e coisa não é reiterar a atitude kantiana de preservar esta última sob o modo do inacessível, dirimindo o problema do mesmo modo que se tratasse de uma questão de graus de competência da linguagem. Em vez disso, é preciso sustentar a impossibilidade da questão da referência como algo que vigora definindo o próprio significante como diferença:
Sob pena de, não enfrentando a radicalidade do que na estrutura garante o empírico, se incorrer numa insustentável caricatura do signo, caracterizável como uma espécie de crítica de ilusões necessárias, o pensador enfrenta o desafio de estabelecer a irreferencialidade numa diferenciabilidade que se afirme em primeiro plano (p. 234).
O que interessa ressaltar aqui é que esse vértice negativo do significante, por motivos internos à sua inserção em teoria psicanalítica, precisa ser ainda mais radicalizado: tem que deixar de ser uma presença por oposição à ausência de todos os outros elementos congêneres que comporiam um conjunto completado, para passar a ser uma oposição mais extrema da tensão da presença do ser (como diferença) em relação ao nada. Desponta a necessidade de pensar a diferença como uma certa “positivação” da negação, desde que bem ressaltadas as aspas. Porque não se faz todo o movimento para retornar ao que mais se queria conjurar. “Há pois que garantir”, conclui igualmente Bairrão a partir de um outro percurso, “que a diferença não se pense como distinção por sobre um fundo (ausente) de similaridades, e o único meio é sustentar a diferença como radicalmente intrínseca ao significante” (2003, p. 235). É esse entendimento a principal linha de força que anima a insistência de Lacan na argumentação da diferença entre “A” e “A”. Ela é definida pelo fator posicional de cada significante exclusivamente no eixo sintagmático, que exige o tempo:
Quando se chame “A” de “A”, o primeiro é diferente do segundo. Em prol da originariedade da diferença, o significante que representa a si mesmo é outro significante, anulando-se qualquer (pretensa) identidade reflexiva. Mas como garanti-lo, se formalmente são idênticos?
Pela simples razão de os significantes, que são feixes de diferenças formais mútuas, em psicanálise não se poderem conceber relevando-se a posição em que se inscrevem (Bairrão, 2003, p. 235).
É interessante perceber que uma tal originariedade da diferença não foi um ponto de partida como escolha teórica, mas sim algo que se atingiu por um desdobramento necessário, mediante o qual surge o imperativo de abertura da estrutura rumo à recepção de significantes novos, trazendo o tempo para desempenhar o papel de fator diferenciador, então afastado do jogo de oposições completamente firmado na sincronia. É mesmo importante encontrar outro fator diacrítico que não o fonema, porque este, tomado por si mesmo, não faz muito sentido em psicanálise. Assim é que Lacan começa a reiterar, principalmente a partir do Seminário 6, a idéia de que a estrutura fundamental do significante é ele poder ser apagado10. Repare-se, então: a ênfase não se aplica mais tanto ao fato de que ele possa ser substituído por outro fosse esse o caso, a idéia do sistema fechado é que seria reforçada , senão na negação emancipada no significante como tal:
O significante específico é algo que se apresenta como podendo ser ele mesmo apagado, e que justamente subsiste nesta própria operação de apagamento. Quero dizer que o significante apagado já se apresenta como tal, com suas propriedades características do não-dito [non-dit]. Na medida em que o anulo com a barra, eu o perpetuo indefinidamente como significante; inauguro sua dimensão como tal (Lacan, 1958-59, p. 91).
Observe-se ainda o valor do tempo incluído na operação de perpetuação pela qual a negação diferenciadora do significante é radicalizada como negação da negação; anulando a si mesmo, ele é uma “barra barrada” [“une barre en tant que barrée”], um “não do nome” (Lacan, 1958-59, p. 92).
Então, a bem da clareza, o que estamos tentando defender aqui é que é possível discernir dois momentos do tratamento da negação: um primeiro momento no qual ela é negação no significante exclusivamente em função do sistema; e um segundo, no qual ela sofre uma radicalização na apresentação paradoxal do traço como elemento capaz de fornecer uma manifestação sua, sem que seja necessário retornar a mecanismos identitários. Obviamente, essa segunda configuração do problema não pode corresponder a transformar o traço em termo positivo, mas apesar disso, precisa oferecer uma expressão de algum modo concreta às vezes física e sempre temporal da operação simbólica como separação e abertura do real.
Assim, dentro da obra de Lacan, o traço é o único meio para a preservação da radicalidade filosófica da manobra de Saussure o questionamento do “é” como unidade ao mesmo tempo em que se pode descartar a simultaneidade dos elementos em conjunto fechado, que para o lingüista era absolutamente indissociável do primeiro aspecto. Transpor a função diacrítica das características articulatórias dos fonemas para a sucessão temporal equivale a valorizar a posição do elemento na série, com o que ela passa a poder ser aberta, preservando-se, no mesmo golpe, a diferença em seu valor próprio. Ele indica, dessa forma, certa autonomização do significante em relação à estrutura (desde que definida por diretrizes saussurianas) porque seu vínculo com ela se restringe às características temporais de dois movimentos: o movimento que o constitui (que risca o traço) e aquele que o posiciona relativamente a outros traços não-finitos.
Enfim, o resultado gradativo da elaboração do significante pela psicanálise é que sua discussão vai se descolando, adquirindo autonomia, do campo de sentido, de preocupações e de objeto que constitui a lingüística, ao mesmo tempo em que a negação é isolada como, digamos assim, um ato de risco, sem deixar, no entanto, de pertencer a um sistema que a partir de então é um sistema não-totalizado.
Referências Bibliográficas
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Endereço para correspondência
Léa Silveira Sales
Rua José de Alencar, 357 - Vila Costa do Sol
13566-000 - São Carlos/SP - Brasil
Tel.:+55 16 3306-8492
E-mail: lea_silveira@uol.com.br
Recebido em: 23.02.2007
Aprovado em: 09.10.2007
*Doutoranda em Filosofia (UFSCar); Bolsista CAPES.
1 Abordamos os elementos envolvidos nessa motivação epistemológica de base em outro artigo, intitulado Falar no fio da fala: a diferença e a ciência na aplicação da lingüística saussuriana à psicanálise, do qual o presente texto apresenta, portanto, uma espécie de continuação.
2 No momento, é o único tipo de causa aceito: “a cadeia dos significantes tem um valor explicativo fundamental e a própria noção de causalidade não é outra coisa” (Lacan, 1955-56, p. 202).
3 Argumento semelhante é desenvolvido por Anderson (1983, p. 49-56), em que não toma exatamente Lacan por alvo, mas o movimento estruturalista em geral. Para apoiar sua discussão, cita uma declaração de Saussure: “estamos profundamente convencidos (...) de que todo aquele que pisa no terreno da linguagem está, pode-se dizer, privado de todas as analogias celestes e terrenas” (p. 49), a qual, aliás, pode ser interpretada em sentido bem diferenciado: quem se aventura no estudo lingüístico encontra-se impossibilitado de estabelecer analogias em função da necessidade de providenciar uma nova forma de pensar, sem paralelo com as anteriores. Lacan, aliás, manifestava um desprezo generalizado pela analogia (ver Lacan, 1953, p. 262-3).
4 Ver p. 178.
5 Para um ponto de vista oposto, ver Bairrão, 2003, p. 117-130.
6 Para um ponto de vista contrário, ver Milner, 2002, p. 141-168.
7 O debate entre Lacan e Laplanche no colóquio de Bonneval (Ey, 1960) manifesta a necessidade, para o primeiro, de sustentar a direção dessa relação, afirmando nesse ponto uma escolha estruturalista.
8 Para uma observação sobre a constância do tema do negativo em Saussure, ver Milner, 2002, p. 36.
9 Ver Milner, 2002.
10Ver, por exemplo, o Seminário 6, lição 5 (Lacan, 1958-59).