ARTIGO

VIII Jornada de Distúrbios do Desenvolvimento: questões da deficiência no enfoque multidisciplinar

 

 

Elena Etsuko Shirahige; Elisabeth Becker; Glaucinéia Gomes de Lima; Rosa Maria Galvão Furtado; Tereza Marques de Oliveira

Universidade Presbiteriana Mackenzie¹

A perspectiva de congregar e estimular a formação de profissionais que trabalham na área de Distúrbios do Desenvolvimento, fez surgir há alguns anos atrás na Universidade Presbiteriana Mackenzie, iniciativas pioneiras entre as quais se incluem a Jornada Interna de Distúrbios do Desenvolvimento, integrando as atividades do Curso de Psicologia desde 1996 e o Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, recomendado pela CAPES desde 1998.

No que se refere à Jornada, esta sempre se destacou enquanto um evento dirigido basicamente aos graduandos de Psicologia, em que esta Faculdade, com a colaboração do mencionado Programa de Pós Graduação, organizava encontros periódicos, reunindo profissionais de diferentes áreas que compartilhavam entre si e com a comunidade acadêmica seus conhecimentos especializados. Desta forma, a direção da Faculdade de Psicologia, a coordenação do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, bem como a coordenação da área de Psicologia Institucional e todo o corpo docente envolvido, sempre se empenharam para que tais eventos acontecessem por vê–los como um precioso espaço para discussões e trocas de experiências entre os especialistas atuantes na área e integrantes da comunidade acadêmica.

As jornadas constituíram assim como um fórum permanente na Universidade Presbiteriana Mackenzie, trazendo não só uma relevante contribuição aos interesses de futuros profissionais de Psicologia, Pedagogia, aos pós-graduandos e pesquisadores de áreas afins, como também uma oportunidade para que especialistas e representantes de Instituições idôneas pudessem divulgar seus trabalhos, pesquisas e iniciativas.

O presente relato propõe-se a descrever a realização da VIII Jornada Interna de Distúrbios do Desenvolvimento, ocorrida recentemente, em 14 de Outubro de 2004. Foi sistematizado como uma jornada de trabalho de um dia inteiro, tendo sido constituídas 3 mesas em que profissionais apresentaram suas contribuições, seguidas de debate com o público assistente. Este foi composto, entre corpo discente e docente, funcionários e demais interessados, por, aproximadamente, 400 pessoas, sendo que a participação nos debates forneceu rico material para discussão e reflexões sobre a formação e o exercício profissional do psicólogo. As presenças das Professoras Doutoras Tânia Aldrighi, coordenadora do Departamento de Psicologia Institucional, Maria Eloísa Famá D'Antino, coordenadora do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento e Beatriz Regina Pereira Saeta, diretora da Faculdade de Psicologia, traduziram o interesse e apoio dessas instâncias institucionais.

Na abertura da Jornada, a diretora da Faculdade de Psicologia, após recepcionar convidados e demais participantes, deu início às atividades, relembrando o histórico dos eventos anteriores e enfatizando a importância da discussão de questões relacionadas à deficiência, que sempre se constituíram como objetivos presentes à Jornada.

A primeira mesa teve como tema e nomeação: Atendimento às Pessoas com Necessidades Especiais: Instituições em Ação. Participaram dela Dra. Maria da Conceição Monteiro, assistente social e assessora administrativa da AVAPE –Associação para Valorização e Promoção dos Excepcionais; Profa. Maria Antonieta M. A. Voivodic, psicóloga, pedagoga e diretora da Escola Encontro – Centro Integrado de Desenvolvimento Infantil; Profa. Daniela Carmelli, psicóloga coordenadora do Grupo Chaverin e Luiz Marcos Couto de Jesus, psicólogo que, na qualidade de membro da equipe de especialistas, representou a Instituição Educacional Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial.

Todos esses profissionais preocuparam-se em caracterizar o tipo de serviço oferecido pela Instituição que representavam. As discussões mobilizadas deixaram claro que a formação de Organizações Não-Governamentais, bem como a criação de escolas especializadas e outros espaços destinados à oferta de intervenções com pessoas com deficiência e suas famílias, atende necessidades fundamentais da comunidade não só no que se refere à educação e profissionalização dessa clientela como também, em relação à proposta de constituição de uma sociedade inclusiva.

A mesa seguinte, denominada Atendimento às Pessoas com Necessidades Especiais: Profissionais em Ação, foi composta pelo psicólogo Waldir Carlos Santana dos Santos, Doutor em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano, pela Profa. Simone Soares Fontes, pedagoga especializada em deficientes de áudio-comunicação, pela Profa. Andréa Jurdi, terapeuta ocupacional e mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Humana e pela fisioterapeuta especialista em deficiência visual, Sonia Mitico Gondo.

Tais profissionais, especialistas com formações e atuações em áreas diversas (atendimento a deficientes mentais, físicos, sensoriais visuais e auditivos) apresentaram ao público as especificidades de sua formação e das necessidades de sua clientela. Destacaram-se para a formação do psicólogo a importância de sólidos conhecimentos teóricos e preparação pessoal para que esse profissional consiga lidar com as dificuldades da sociedade, em geral, com relação à diversidade. Caracterizou-se a necessidade de se conseguir profissionais da área de psicologia devidamente capacitados a compreender como a falta ou prejuízo dos analisadores sensoriais pode alterar as aquisições inerentes ao desenvolvimento individual. Evidenciou-se a importância de se respeitar a forma de expressão da pessoa com deficiência, tendo-se sempre o objetivo que esta desenvolva um auto-conceito positivo. Em síntese, foi salientada a localização singular do profissional dentro da equipe multidisciplinar, ressaltando-se a importância de cada qual contribuir como um elo de ligação, oferecendo conhecimentos específicos que possibilitem à equipe a seleção e o planejamento das atividades mais adequadas para cada intervenção e para cada cliente.A multidisciplinaridade foi, portanto, caracterizada como inerente ao trabalho com as pessoas com deficiências, sem que se negassem as dificuldades existentes no que se refere à constituição e coordenação das equipes.

A última mesa, com o tema Psicanálise e Transtornos do Desenvolvimento foi composta por Daniel Kauffmann, psicólogo especialista em transtornos do desenvolvimento, Cristina Rodrigues Rosa, psicóloga especialista em psicoses da infância e Maria Francisca Lier-De Vitto, graduada em Letras, Doutora em Lingüística. As exposições dos participantes apontaram para a possibilidade de trabalho de inspiração psicanalítica com sujeitos portadores de distúrbios globais de desenvolvimento, a partir dos ensinamentos de Freud, que pode se deixar afetar pelas pacientes histéricas e escutar algum sentido nos seus enunciados. Nessa perspectiva, a psicanálise na intersecção com outras disciplinas, pode se interrogar pelos sujeitos e os seus transtornos e provocar a pesquisa, o questionamento e o debate com outros campos do saber.

Dessa forma, é possível dizer, à guisa de conclusão, que a VIII Jornada Interna de Distúrbios do Desenvolvimento sinalizou que a identidade profissional do psicólogo no âmbito das intervenções para com as pessoas com deficiências, implica em duas dimensões fundamentais:

• formação teórica sólida, crítica e ética, evitando as armadilhas da atitude assistencialista;

• experiência prática amplificada, reflexiva e coerente com a percepção das reais necessidades do cliente, dimensionando e respeitando as diferenças existentes.

O enriquecimento mútuo promovido pelo debate de profissionais em formação com especialistas atuantes junto à clientela com distúrbios de desenvolvimento remete, finalizando, à perspectiva de continuidade e ampliação desse fórum de discussão da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

¹ Relato escrito pelas professoras da Faculdade de Psicologia e Membros da Comissão Organizadora da VIII Jornada Interna de Distúrbios do Desenvolvimento.