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Psic: revista da Vetor Editora
versão impressa ISSN 1676-7314
Psic v.6 n.2 São Paulo dez. 2005
ARTIGOS
Escala das atividades de hábitos de lazer: construção e validação em jovens
Scale of habitual leisure activities among youth: construction and validation
Escala de actividades de hábitos de ocio: construcción y validación en jóvenes
Nilton Soares Formiga1; Igor Ayroza2; Lunna Dias3
Centro Universitário Luterano de Palmas (TO)
RESUMO
O objetivo deste estudo foi a construção de um instrumento das atividades de hábitos de lazer em jovens brasileiros, bem como, conhecer sua validade de construto. Este instrumento é constituído por 24 itens, respondidos em escala de cinco pontos, tipo Likert. A amostra foi composta de 710 estudantes dos níveis fundamental e médio, de ambos os sexos e idade entre 11 e 22 anos. A aplicação do instrumento foi coletiva, nas salas de aula, garantindo o anonimato das respostas. Os resultados são discutidos à luz da literatura sobre as atividades de lazer entre os jovens. Foram encontrados a partir de uma análise fatorial (PAF) três fatores: Hábitos hedonistas, lúdicos e instrutivos. Apresentaram alfa de Cronbach, para o primeiro fator, satisfatório, porém para os dois outros, aceitáveis. Assim, recomenda-se uma revisão de alguns itens e nova aplicação e avaliação psicométrica.
Palavras-chave: Escala, Lazer, Adolescentes, Validação.
ABSTRACT
The objective of this study was to construct and determine validity of an instrument for the study of habitual leisure activities among Brazilian youth. The instrument is composed by 24 items, answered on a five point scale, similar to the Likert type. The sample comprised of 710 students of both sexes from the elementary and middle school aged from 11 to 22 years. The instrument was collectively applied in their classroom, in a non-identified protocol. The results are discussed in the light of literature about leisure activities among youth. Three factors were found by means of factorial analysis (PAF): hedonistic, playful and instructive habitual leisure activities. The Cronbach´s alpha to the first was satisfactory and the other two were acceptable. Thus, a revision of some items as well as a new application and psychometric testing are indicated.
Keywords: Scale, Leisure, Adolescent, Validation.
RESUMEN
El objetivo de este estudio ha sido la construcción de un instrumento de actividades de hábitos de ocio en jóvenes brasileros, así como conocer su validez de constructo. Este instrumento se constituye por 24 ítems con escala Likert de cinco puntos. La muestra ha sido compuesta por 710 estudiantes de enseñanza básica y media de ambos sexos, con edades entre 11 y 22 años. La aplicación del instrumento ha sido colectiva en las clases de los participantes, asegurando el anonimato de las respuestas. Los resultados han sido discutidos con base en la literatura sobre las actividades de ocio entre los jóvenes. A partir de un análisis factorial (PAF) han sido encontrados tres factores: Hábitos hedonistas, lúdicos e instructivos. Han presentado alfa de Cronbach satisfactorio para el primer factor y para los otros dos aceptables. Así, se ha recomendado una revisión de algunos ítems y una nueva aplicación y evaluación psicométrica.
Palabras clave: Escala, Ocio, Adolescente, Validez.
Introdução
Atualmente, a diversão tem sido ponto de grandes questionamentos em vários setores da sociedade: escola, família, clubes de recreação. Isto tem levado a repensar a forma de lazer que os adolescentes estão vivendo, desde a atividade mais comum, como é o caso do esporte ou outras mais avançadas, por exemplo, o vídeo game e demais diversões tecnológicas. Este último é capaz de produzir uma simples representação adaptativa da ação existosa ao invés da mudança de crenças, atitudes e valores (Munné & Codina, 1992), bem como, o seu efeito benéfico no que diz respeito aos fatores psicológicos e sociais para o jovem (Codina, 1989).
Os tipos e o tempo para os momentos da diversão têm-se mostrado como uma forma de ocupação por boa parte dos jovens, o que vem se caracterizando, recentemente, um grande problema, pois, na maioria das vezes, estas formas não satisfazem aos pais e até professores, contrariando a institucionalização do limite e formação de normas sociais. Por outro lado, os jovens também não se sentem, suficientemente, satisfeito com a diversão, isto é, não se sentem livres o bastante para buscar o prazer e sensação real do divertimento.
De fato, ocupar-se com alguma coisa pressupõe que o indivíduo venha a ter satisfação com o que se estar fazendo. Ademais, cada pessoa poderá apresentar uma forma de passar seu tempo quando não se faz nada, principalmente, ao ter cumprido seus afazeres e compromissos do dia a dia, podendo assim, tornar-se um hábito o qual poderá ser uma meta a seguir, devendo atender as necessidades básicas: repouso, diversão e enriquecimento sócio-intelecutal (Leite, 1995; Werneck, 2000).
Dessa forma, a prática de tal hábito poderá orientar o indivíduo a certas atividades de lazer diferenciadas, as quais podem ir da leitura, passeio com amigos, visitas familiares, ao abuso de bebidas, etc. Para que isto se torne eficiente em relação à socialização e inibição de conflitos tanto com seus grupos de identificação (pais, familiares, professores e amigos, etc.) quanto consigo mesmo, é necessário que estas atividades possam promover um reconhecimento no que diz respeito à aceitação e prática social na escolha para diversão (Argyle, 1991) ideal.
Vale destacar que um hábito corresponde geralmente aquilo que o sujeito aprendeu durante o seu desenvolvimento, passando a repeti-lo e levando ao costume, como o gosto pela leitura, as práticas religiosas, participação em festas, etc; porém, isto deve levá-lo a busca de equilíbrio entre o que faz e pensa, bem como, antes de tudo se deve apresentar como atitudes favoráveis, mais frente ao ser do que ao ter (Marcellino, 2000). É claro que esses hábitos não devem ser compreendidos em termos de determinismo comportamentais, pois não somente o contexto (Myers, 1999), mas a própria relação que esses sujeitos tem com seus grupos e a orientação cultural que os mesmos oferecem a esses jovens são capazes de influenciar seus comportamentos, permeando uma perspectiva psiscossocial.
Diante disso, observou-se na literatura vigente (Requixá, 1974; Werneck, 2000; Andrade, 2001), a escassez de instrumentos de caracterização dos hábitos ou tipos de lazer entre os jovens. Assim, teoricamente muito se conhece a respeito deste tema no Brasil, embora numa busca recente com as seguintes combinações de palavras-chave: lazer, hábitos e diversão ou adolescentes, hábitos e diversão (ver Index Psi, 2003; Scielo, 2003), para aferir a existência de instrumentos sobre tal fenômeno, não foram encontrados trabalhos neste aspecto. Com isso, o objetivo deste trabalho é construir um instrumento capaz de mensurar os hábitos de lazer em jovens.
Os hábitos de lazer, sua função e característica
Seja um jovem ou adulto, todo indivíduo se ocupa ao longo do seu dia em diversas atividades, podendo ir do trabalho às aulas escolares, diversão ou visitas etc., todas elas consideradas de extrema importância tanto no que diz respeito a sua função pessoal quanto social, passando a caracterizar um cotidiano de grande movimento e 'burburinho' na medida em que se deseja realizar cada uma delas sem organização. Independente da idade, essas atividades, bem como a utilização do tempo livre, têm preocupado a todos de um modo geral, fazendo com que passem a buscar uma forma de descanso, ou capaz de promover condições saudáveis na entrega ao seu próprio lazer (Dumazedier, 1999; Andrade, 2001).
Segundo Pais (1998), o cotidiano das pessoas pode proporcionar atividades capazes de construir hábitos, seja para o indivíduo sozinho ou um grupo; formando costumes de prazer ou aborrecimento, de informação e envolvimento social. A mídia tem destacado tipos de lazer que fomentam a violência ou comportamentos orientando ao rompimento de normas sociais, pois grande parte desses garotos passa o dia frente à televisão, computadores, etc. e quase nenhum tempo com os livros e em encontros constantes e consistentes com a família (Munné & Codina, 1992; Espinosa, 2000) ou alguma atividade satisfatória que os oriente a manutenção das normas sociais. As condições apresentadas a partir dos meios de comunicação e diversão fortalecem a incapacidade de formar nos jovens uma mente questionadora e às vezes bem direcionada. Visando a inserção social e cultural dos jovens, vê-se então uma necessidade em analisar, tanto os tipos quanto à freqüência desses hábitos de lazer nestes jovens.
Vale destacar que tais hábitos quando bem orientados são capazes de formar o jovem frente a suas metas individuais e sociais, favorecendo comportamentos que caracterizam os fatores educacionais, bem como seu interesse pessoal ou até sua relação social e afetiva. Atualmente, no que diz respeito às atividades de lazer, observa-se que os jovens se mostram muito extensos quanto ao tempo investido nessas atividades, buscam sensações individuais, mesmo estando em grupo. A importância dada a certos tipos de lazer, os quais visam mais uma dimensão individualista e centrada em si do que na busca de vida social, têm preocupado psicólogos, sociólogos e outros, principalmente quando essas atividades passam a se tornar algo comum, mesmo não consentidas por pais ou professores, e ainda mais, quando se desprende mais tempo nisto do que em qualquer outra atividade. Por exemplo, passa-se mais tempo jogando bola, vídeo game, do que lendo ou em convivência com a família. Tais hábitos entre os jovens são capazes de causar alguma forma de conflito ou de 'dano' psicológico ou social para as pessoas que os circundam e até para eles mesmos (Formiga, Gouveia, Lüdke, Teixeira & Santos, 2002).
Caracterizar um jovem como desinteressado intelectualmente ou desqualificado em relação aos tipos de diversão é um grave problema que merece ser estudado, pois não somente se trata das normas e valores que o orientam (Formiga, Queiroga, Socorro, Gouveia & Milfont, 2001), mas também dos fatores de personalidade (Formiga, Teixeira, Fachini, Curado & Lüdke, 2003). Isso permite refletir quanto às atitudes desses garotos perante as pessoas mais velhas, objetos do patrimônio nacional, por exemplo, quando tratado com grande desrespeito e descaso. Essas condutas, na maioria das vezes são justificadas em termo da liberdade de expressão, diversão e lazer e até da evolução do pensamento e aberturas as novas experiências (Formiga, Gouveia, Lüdke, Teixeira & Santos, 2002), o que faz com que eles passem a elaborar explicações do tipo: "as pessoas mais velhas não tem o mesmo interesse ou disposição que nós temos; o tempo dos adultos já passou; ou até, as brincadeiras dos adultos não são muito animadas ou interessantes, etc."
Para Espinosa (2000), o hábito de lazer, especificamente do tipo vídeo game e programas de televisão, têm levado os jovens a se privarem de situações reais na sua própria vida, não os colocando em conflito com seus valores. Para este autor, tais jogos apresentam apenas um objetivo, o de eliminar o inimigo, fazendo com que os conflitos comuns da idade pré-adolescente ou adolescente não venha a emergir, pois, tal fato se faz necessário para efeito de comparação entre suas escolhas, bem como, o que estas podem trazer para o indivíduo. Desta maneira, não sendo percebida pelos mesmos a necessidade de mudança tanto no desenvolvimento individual quanto em sua habilidade social, torna o jovem desprovido da vivência de novas fases em sua vida, levando-o a institucionalizarem um lazer característico da sua própria fase, apontando apenas para o rompimento das normas sociais.
Ter um lazer ou horas para se divertir não é errado e muito menos impróprio, a questão está na sua qualidade, pois certos hábitos podem ser de diversão e formação sócio-cultural; estudar, ler, fazer exercícios pode se relacionar com o êxito escolar e uma qualidade de vida, bem como, a maturidade do próprio jovem. O problema está na direção que essas atividades de diversão tem tomado, pois se deve considerar a idade deles, sua capacidade e adequação da escolha do lazer (Fonta, 1997), como também, analisar novos tipos de comportamentos que surgem constantemente como nova forma de lazer, podendo compreender as necessidades dos indivíduos e programas que orientem e avaliem tais comportamentos, o que já tem sido feito nos EUA (Codina, 1999).
Para Blauwkamp e Shinew (1996), uma das soluções está na formação sócioeducacional desenvolvida numa prática entre os jovens, levando tanto a satisfação no lazer quanto na vida diária. Shinew e Valerius (1996) enfatizam a diferença entre o grau de importância que os jovens dão à família e amigos e sua participação na diversão em cada grupo com eles, podendo mudar significativamente o estilo de vida diante do tipo e modo de lazer que ambos venha assumir.
Segundo Requixá (1974), o lazer, para ser identificado como tal, deve apresentar a função de descanso, divertimento e desenvolvimento da personalidade, podendo seguir algumas características consideradas básicas tais como, espontaneidade e liberatória com o caráter das atividades realizadas em sociedade e sujeita à relação interpessoal e de ser capaz de liberar os indivíduos das obrigações primárias junto a família, escola, etc., e principalmente não ter fim lucrativo; hedonista, com o objetivo de promover a satisfação pessoal e sua recompensa psicológica ou física; por fim, a de caráter pessoal que deve responder as necessidades básicas do indivíduo diante de suas obrigações sociais libertando da fadiga, tédio, a automatização etc.
Ao lado disso, o tempo de lazer pode ter outros significados, por exemplo, ociosidade, tempo livre por exemplo, os quais podem se apresentar como um fenômeno ambivalente e multiforme, considerado tanto como fonte de recreação quando é compreendido a partir do seu contexto sócio-histórico. Porém algo parece ser comum entre os pesquisadores quando se trata de abordar o lazer e sua relação humanizadora, pois deve estar presente a satisfação de trabalho e experimento, o que é essencial em tais atividades (Munné & Codina, 1989; Werneck, 2000).
Satisfazer as necessidades é de extrema importância e deve-se considerá-la como critério essencial para cada pessoa. Dessa forma, quando se fala de lazer, deve-se compreender em termo do tempo livre, referindo-se às atividades que cada pessoa dispõem do seu tempo, aplicando ao descanso e diversão, independente do espaço ambiental que esteja sendo aproveitado. O lazer pode ser privado (a própria casa) ou público (parques, quadras de esporte, entre outras), contanto que suas atenções sejam direcionadas para formação afetiva, intelectual e social das pessoas que fazem parte de seu cotidiano e sua relação social, podendo ir além das diferenças existente entre homens e mulheres e a determinação de seus espaços físicos (Dumazedier, 1999; Murillo, 1996).
No que diz respeito às condições da sociedade atual, não apenas relacionado à industrialização e urbanização, mas também na produção e direção do tempo livre, observa-se que o lazer não depende do fator sócio-econômico ou do avanço tecnológico, mas da conscientização das pessoas em assumirem atitudes e hábitos de diversão de caráter positivo e progressivo, independente de qual seja essa atividade; o importante é que leve o indivíduo a resgatar tanto sua individualidade, no sentido de buscas pessoais e satisfações que não prejudique os outros, quanto sua relação grupal, direcionado à cooperação e participação social, ao invés da ênfase a liberdade individual, a experiência emocional egoísta (Perreira, 1987; Inglehart, 1991; 1994; Fitzgerald, Joseph, Hayes & Oregan, 1995).
De fato, dedicar-se ao lazer após as atividades diárias apenas subjetivamente, deve ser caracterizado como fenômeno de liberdade, não mas também objetivamente, encontrando um modelo da sociedade e suas respectivas mudanças. Assim, todo jovem quer ter seu lazer ou "matar o tempo", tornando possível produzir identidades grupais capazes de construir a realidade em que vivem, passando a valorizar esses momentos e caracterizá-los como uma das grandes dimensões de sua vida, principalmente por desfrutar de autonomias distintas da sua família e escola (Pais, 1996).
Método
Participantes
Compuseram a amostra deste estudo 710 participantes, entre o nível médio e fundamental de escolas pública e privada de João Pessoa, de ambos os gêneros, dos quais 48,9% eram homens e 51,1% mulheres, com idade variando de 11 a 22 anos (M = 15,20; DP = 1,53), sendo a maioria solteira e da classe social média (57%). A amostra é não probabilística, podendo ser definida como intencional, pois a pessoa que, consultada se dispôs e a colaborar respondendo o questionário que era apresentado.
Instrumento
Os participantes responderam um questionário constando de duas partes:
Escala de Hábitos de Lazer (EHL). Nessa versão, pediu-se a 30 sujeitos que listassem comportamentos que, geralmente, eles apresentavam quando estavam descansando ou no final de semana e feriados ou quando não tinha nada a fazer ou já cumpriram as atividades da escolar, casa etc. A partir desses itens procedeu-se sua validação semântica, bem como, a elaboração do instrumento final em português, o qual foi composto por 24 itens que avaliam as atividades de lazer assumido por cada sujeito a respeito de sua ocupação quando não estava fazendo nada (por exemplo, ler livros, ler revistas, ir a igreja, navegar na internet, comprar roupas, etc.).
Para respondê-lo a pessoa deve ler cada item e indicar com que freqüência ocupa seu tempo quando está sem fazer nada, depois de todas suas obrigações cumpridas, utilizando para tanto uma escala de seis pontos, tipo Likert, com os seguintes extremos: 0 = Nunca e 5 = Sempre. Assegurou-se que tanto os itens como as instruções que os antecediam eram compreensíveis.
Uma folha separada foi anexada ao instrumento prévio, onde eram solicitadas informações de caráter sócio-demográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil e classe social).
Procedimento
Procurou-se definir um mesmo procedimento-padrão que consistia em aplicar a escala de atividades de hábitos de lazer coletivamente em sala de aula. Dessa forma, colaboradores com experiência ficaram responsáveis pela coleta dos dados, os quais se apresentavam em sala de aula como interessado em conhecer as opiniões e os comportamentos das pessoas sobre seus hábitos de lazer no dia a dia. Com isso, era solicitando a colaboração voluntária dos estudantes no sentido de responderem um questionário breve. Foi-lhes dito que não haviam respostas certas ou erradas, e que respondessem individualmente, a todos era assegurado o anonimato das suas respostas, que seriam tratadas em seu conjunto. Apesar do questionário ser auto-aplicável, contendo as instruções necessárias para que pudesse ser respondido, os colaboradores na aplicação estiveram presentes durante toda a aplicação para retirar eventuais dúvidas ou realizar esclarecimentos que se fizessem indispensáveis. Um tempo médio de 25 minutos foram suficientes para concluir essa atividade.
Utilizou-se o pacote estatístico SPSSWIN, em sua versão 8.0, para tabular os dados e realizar as análises estatísticas descritivas e teste t de Student. Efetuaram-se também, cálculos referentes à análise fatorial com o método PAF (Fatoração dos eixos principais), neste caso, adotou-se uma rotação varimax, como também alfa de Cronbach.
Resultados
Valendo-se das coletas dos dados, procedeu-se a realização de uma análise fatorial com o método PAF (Fatoralização dos eixos principais) para a Escala dos Hábitos de Lazer. O uso desta técnica se mostrou possível (KMO = 0,83; teste de esfericidade de Bartlett, ² = 3529,84, p < 0,001) (Bisquerra, 1989). A solução fatorial permitiu identificar três componentes com eigenvalue superior a 1,00, explicando em seu conjunto 27,9% da variância total e um alfa de Cronbach geral da escala de 0,82. Os principais resultados dessa análise são apresentados na Tabela 1.
Uma saturação de ± 0,30 foi assumida como satisfatória para interpretar os componentes. O primeiro deles, com eigenvalue de 4,31, reuniu 11 itens, pode ser descrito como Hedonismo (por exemplo, Ir a shows, teatro, etc; Ir ao cinema; Navegar na internet, etc.) sua consistência interna ( de Cronbach) foi de 0,80, sendo que este fator diz respeito aos hábitos de consumo que enfatizam o prazer individual e imediato como único bem possível do indivíduo. O segundo fator apresentando um eigenvalue de 1,08, estando formado por 06 itens, ficando de fora apenas o item, (jogar baralho, dominó, dados) por não atingir a saturação estimada, representa o fator Lúdico (por exemplo, Praticar esportes; Assistir programas de televisão; Jogar vídeo games, jogos de ação ou aventura etc.) com alfa de Cronbach de 0,65, diz respeito a utilização de jogos, brinquedos, passeio e divertimentos em geral, apresentando um caráter instrumental do lazer. Finalmente, com eigenvalue de 1,31, reunindo 06 itens, com uma consistência interna de 0,63, podendo ser descrito como Instrutivo (por exemplo, ler livros; ler revistas; visitar familiares etc.), enfatiza a experiência de aperfeiçoamento e crescimento desenvolvido pelos sujeitos tornando-os capaz de certas escolhas de lazer diferenciadas e exclusivas para eles, como também, pode assumir uma atividade quanto a transmissão, habilitação e ensino de conhecimentos.
Considerando o gênero tratado como uma variável dummy, assumindo os seguintes valores: 0 = Masculino, 1 = Feminino, procurou-se conhecer a magnitude da diferença dessas variáveis em relação aos fatores dos hábitos de lazer, efetuando, para o gênero um teste t para amostras independentes. Os resultados são resumidos na Tabela 2.
Observando as médias na tabela acima é possível visualizar as diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito aos hábitos de lazer. Especificamente, as mulheres apresentaram uma média superior (M =3,10, DP = 0,80) a dos homens (M = 2,88, DP = 0,90) em relação ao Hedonista [t(679,20) = -3,37, p < 0,01]; Essa situação se inverteu no caso do Lúdico, com os homens pontuando mais alto (M = 2,21, DP = 0,90) do que as mulheres (M = 1,54, DP = 0,83) [t(678) = 10,06, p < 0,01]. Já em Instrutivo observa-se uma maior pontuação para as mulheres (M = 2,72, DP = 0,86) que nos homens (M = 2,28, DP = 0,85) [t(698) = -6,85, p < 0,01].
A fim de estudar a influência da idade sobre as dimensões dos hábitos de lazer, a partir de um teste t os resultados foram os seguintes: para o fator hedonismo não houve diferença entre as idades; já para o fator instrutivo, os jovens entre 11 e 15 anos apresentaram uma média superior (M =2,63, DP = 0,97) do que os estão entre 16 e 21 anos (M =2,47, DP = 0,85) [t(698) = 3,41; p < 0,05], quanto ao fator lúdico os mais jovens, entre 11 e 15 anos apresentaram uma média superior (M =2,63, DP = 0,97) a dos mais velhos (M =1,83 DP = 0,92), com idade entre 16 e 21 anos [t(678) = 2,18; p < 0,05] (ver Tabela 3).
Discussão dos resultados
Com isso, esta pesquisa pretendeu contribuir com a construção de um instrumento para o contexto brasileiro que avaliasse as atividades de que os jovens se ocupam quando em tempo livre, bem como comprovar sua validade de conteúdo. É possível notar no cotidiano o alto índice de investida, tanto da família quanto dos órgãos responsáveis - escola, instituições de lazer etc. - pelo controle social e atividades de lazer e diversão, no sentido de inibir algumas atividades que venha a caracterizar uma desocupação desnecessária e que não traga uma formação social e cultural para os jovens. Tais formas de lazer têm assumido contornos quase inimagináveis (por exemplo, o assassinato de uma jovem na residência universitária em Ouro Preto - MG devido uma brincadeira com os jogos RPG, o assassinato de adolescentes inspirados nos jogos de vídeo game Mortal Combate, etc.). Os protestos contra estes comportamentos, realizados, por toda a sociedade têm provocado um efeito de atividades inibidoras para as escolas e famílias para repensarem novas formas que seus filhos e/ou alunos possam adotar numa melhor ocupação do tempo livre.
Percebe-se assim a necessidade de conhecer algo mais sobre a problemática, enfocando diferentes níveis de compreensão, neste trabalho buscou-se a construção de um instrumento capaz de mensurar esse fenômeno. Concretamente, foi demonstrada a existência de uma estrutura fatorial simples, bastante condizente com a observada em estudos teóricos (Dumazedier, 1999; Murillo, 1996).
Os fatores das atividades dos hábitos de lazer, Hedonismo, Lúdico e Instrutivo são visíveis na análise analise fatorial (PAF). Apenas o índice de consistência interna da dimensão um mostrou um alfa adequado, os outros dois fatores merecem ser reavaliados em relação aos itens que os compõem, inclusive não descartando a possibilidade de elaborar novos itens que venham a expressar mais adequadamente seu conteúdo subjacente, bem como, seus critérios de saturação fatorial.
Finalmente, quanto às diferenças dos hábitos de lazer entre gêneros e idade, os resultados encontrados aqui permeiam os destacados teoricamente por Andrade (2001). Para esse autor, em relação à idade, o lazer para os mais jovens, as crianças e os pré-adolescentes deve ser organizado conformede sua mentalidade. Os resultados aqui mostraram que os sujeitos entre 11 e 15 anos apresentaram médias superiores para as dimensões dos hábitos de lazer, que permeiam atividades que visam um desenvolvimento físico, social e psíquico, principalmente quanto à formação de habilidades sociais e formação sócioeducacional. Esperava-se, porém, que os jovens maiores de 15 anos tivessem maior pontuação do que os mais jovens no fator hedonista, o que não aconteceu. Isso merece uma maior revisão a respeito.
Quanto ao gênero, as mulheres apresentaram maiores pontuações no fator hedonista e instrutivo. Destaca-se por um lado, neste ultimo fator o status quo da mulher perante a sociedade e que parece ser não condição de imposição e influência parental, mas de percepção dos sujeitos frente às atividades de lazer propiciado a elas permeando uma sutil discriminação, imbuindo traços expressivos em seus comportamentos (Formiga & Camino, 2001), bem como as atribuições apontadas ao gênero feminino em relação a serem mais estudiosas e estarem na maior parte do tempo em casa (Formiga, 2002; Garcia, 1997). Por outro lado, o fator hedonismo revela algo novo na dinâmica do lazer para as mulheres, sendo que esse resultado não se apresenta muito claro no presente estudo, merecendo uma melhor avaliação quanto as teorias e pesquisas atuais a respeito do fenômeno-variável.
Apesar de ter apresentado dados quanto à validação do instrumento das Atividades dos Hábitos de Lazer, especificamente sobre sua validade de conteúdo, observou-se que o mesmo compreende uma estrutura que expressa um conjunto de atividades realizado pelos jovens com uma freqüência constante em seu cotidiano. Porém, se reconhecem limites: há uma necessidade de replicar o instrumento inserindo outros itens capazes de avaliar com mais segurança os fatores encontrados neste estudo, bem como a emergência de outras dimensões ainda não hipotetisadas, por exemplo, no estudo de Tinsley & Eldredge (1995) tem sido proposto uma taxonomia baseada nas necessidades gratificantes, enfatizando as necessidades psicológicas, merecendo assim, pensar em futuras pesquisas abordar teorias semelhantes.
Uma outra proposta para trabalhos posteriores, seria a realização de estudos comparativos entre culturas e de utilização de pacotes de estatística mais avançada, por exemplo, de análise fatorial confirmatória, análise de correspondência múltipla, entre outros. Por fim, considerando, a perspectiva psicossocial das atividades de lazer (ócio ou tempo livre) defendido por Munné & Codina (1989), pretende-se dispensar uma maior atenção aos valores humanos (Codina, 1999), sua relação e predição para atividades de lazer, apontando assim, para uma perspectiva além da mensuração atitudinal. Tal fato se deve, por serem os valores, a sua natureza mais duradoura e universal (Rokeach, 1973) e por conseguir modificar e intervir diretamente nas próprias atitudes e nos comportamentos sociais, pois é importante conhecer, por exemplo, que valores fomentam cada uma das atividades de lazer aqui tratadas.
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Endereço de correspondência:
Av. Guarabira, 133 - Bairro de Manaíra
58038-140 João Pessoa-PB
E-mail: nsformiga@yahoo.com
Recebido: agosto/2005
Reformulado: novembro/2005
Aprovado: dezembro/2005
Sobre os autores:
1 Nilton Soares Formiga é mestre em psicologia social e docente na Ceulp - Ulbra em Palmas.
2 Igor Ayroza é discente de psicologia no Ceulp-Ulbra
3 Lunna Dias é discente de psicologia no Ceulp-Ulbra