EDITORIAL

Prezado leitor, No terceiro número de 2014, Psicologia em Revista apresenta 11 artigos, 2 resenhas de livros e 1 resumo de dissertação. Neste conjunto de trabalhos, você encontrará significativa diversidade teórica e metodológica que reflete a produção de pesquisadores inseridos em vários contextos de investigação. O leitor poderá apreciar tanto artigos que apresentam discussões teóricas quanto aqueles que resultam de pesquisas realizadas com diferentes estratégias metodológicas.

"A astúcia invisível de mulheres trabalhadoras de escola", de autoria de Jackeline Oliveira Silva, Nedir Santana de Melo e Ana Cláudia Leal de Vasconcelos, da Universidade Federal do Amazonas, foi elaborado com base na análise de publicações, documentos e transcrições de entrevistas e relatos de grupos. Os trabalhos foram produzidos por meio de projetos de pesquisa e intervenção associados ao Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho (Lapsic), entre 2009 e 2011, em Manaus-AM, sobre as estratégias das mulheres auxiliares de serviços gerais e merendeiras de escolas públicas para a produção de sentido do trabalho que realizam e que tem sido marcado pela invisibilidade e pela desvalorização.

"A crítica à psicanálise: um capítulo censurado?", escrito por Flávio Fernandes Fontes, doutorando da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é o segundo artigo. Nele o autor ressalta que, na pós-graduação brasileira, a perspectiva teórico-metodológica da psicanálise tem alcançado posição de destaque. A revisão da literatura mostra um significativo volume de publicações, no entanto o autor pondera que poucos são os estudos que se ocupam da elaboração crítica sobre a psicanálise. O autor considera que o exercício da crítica interna, no entanto, é fundamental para o ensino e pesquisa no campo da psicanálise.

Midori Otake Yamada, Cibelle Nunes Moretti, Mariani da Costa Ribas do Prado e Maria Cecília Bevilacqua (in memoriam) são as autoras do artigo "A relação mãe-bebê com deficiência auditiva no processo de diagnóstico", no qual apresentam as conclusões da pesquisa realizada com mães de bebês diagnosticados com deficiência auditiva no Centro de Pesquisas Audiológicas do HRAC-USP. As autoras concluíram que o impacto negativo inicial gerado pela comunicação do diagnóstico pode ser superado por meio da intervenção da equipe de saúde, de modo que as mães possam elaborar a notícia, o que contribui para a adesão ao tratamento e a reabilitação dos bebês.

No artigo seguinte, "Atendimento à queixa escolar: experiência do projeto Seape no Centro de Psicologia Aplicada da UFJF", de autoria de Renata de Lourdes Miguel da Silva e Marisa Cosenza Rodrigues, são apresentados os resultados positivos do trabalho do Centro de Psicologia Aplicada da UFJF no campo do atendimento às crianças e aos adolescentes com queixas relacionadas ao processo de escolarização. O projeto desenvolvido como atividade de extensão tem incluído tanto os pais das crianças e dos adolescentes quanto os professores.

Bruno de Morais Cury e João Leite Ferreira Neto são os autores do artigo "Do Currículo Mínimo às Diretrizes Curriculares: os estágios na formação do psicólogo". O texto apresenta as análises sobre os processos de mudança na regulamentação dos estágios curriculares exigidos para a formação do psicólogo, realizadas por meio da pesquisa nos documentos publicados no período compreendido entre 1962 e 2004, de modo a compreender a transformação dos estágios curriculares em Psicologia, desde a vigência do Currículo Mínimo, por ocasião da regulamentação da profissão até a formalização das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia.

O artigo seguinte, "Do vídeo para o texto escrito: implicações para a análise da interação", de autoria de Nadja Maria Vieira da Silva (Universidade Federal de Alagoas), Carine Valéria Mendes dos Santos (Universidade de São Paulo) e Carine de Almeida Arruda Rhodes (Universidade Federal do Paraná), traz a discussão sobre a utilização da produção de imagens e sons como recurso metodológico de pesquisa no contexto de uma sala de aula de educação infantil e a transformação dessas informações em texto escrito.

O sétimo artigo, "O juízo de crianças sobre a possibilidade de amar um amigo, um inimigo e um desconhecido", de Ariadne Dettmann Alves, Heloisa Moulin de Alencar e Antonio Carlos Ortega (UFES), apresenta contribuições para os estudiosos interessados na área do desenvolvimento moral. A pesquisa relatada foi feita com 40 crianças com idades entre 6 e 9 anos, que frequentavam a escola e que participaram de entrevistas individuais nas quais foram indagadas sobre três situações: a possibilidade de amar um amigo, um inimigo e um desconhecido. As respostas sobre a possibilidade de amar um amigo e um desconhecido foram mais significativas do que a de amar um inimigo, no entanto os pesquisadores concluíram que as crianças mais velhas indicaram a possibilidade de amar um inimigo.

No próximo artigo, "Entre a cruz e a espada: a reintegração de egressos do sistema prisional a partir da política pública do governo de Minas Gerais", Lidiane de Almeida Barbalho e Vanessa Andrade de Barros (UFMG) tratam do resultado de uma pesquisa realizada com trabalhadores e gestores da política pública, que visa ao atendimento de egressos do sistema prisional. As autoras basearam-se nos conceitos de “prescrito” e de “real”, desenvolvidos no campo da Ergologia e concluíram que, embora a política pública prescreva o resgate da cidadania desses egressos, no campo real, o que se observa é o esforço pela adaptação destes à sociedade e não o exercício de sua cidadania.

"Efeitos da aprendizagem da relação entre palavra ditada e figura sobre a nomeação de figuras: relações entre o ouvir e o falar" é nono artigo. De autoria de Carolina Antonelli dos Santos, Anderson Jonas das Neves, Mariana Girotto Carvalho da Silva e Ana Claudia Moreira Almeida Verdu (UNESP-Bauru/ SP), apresenta os resultados de pesquisa no campo da linguagem, enfatizando as relações entre ouvir e falar. O estudo teve como objetivo discutir que a aprendizagem de novas palavras não se limita ao reconhecimento auditivo, mas também é derivada da nomeação de figuras, pela associação de som e imagem.

"Tornar-se adolescente com HIV/AIDS: possibilidades e limitações" é o décimo artigo. O texto é de autoria de Vanessa Limana Berni (UFSM) e de Adriane Roso (PUC-RS). Foram realizados três estudos de caso com adolescentes que foram diagnosticados, ao nascerem, como HIV positivo e que, no momento de realização da pesquisa, sabiam de sua condição. Foram utilizadas as estratégias metodológicas de entrevistas semiestruturadas e do teste projetivo desenho da figura humana (DFH). Os resultados apontaram que, embora esses sujeitos vivenciassem essa fase da vida de modo semelhante aos adolescentes sem HIV, essa condição silenciada fora do contexto familiar significou uma dificuldade no processo de construção de identidade e na convivência social dos jovens. Os autores enfatizam a necessidade de espaços para a discussão sobre as representações sociais da AIDS envolvendo adolescentes e familiares, colegas e amigos, como alternativa de quebra do silêncio.

Allanderson de Oliveira Batista e Roberta Carvalho Romagnoli, ambos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas, são os autores do décimo primeiro artigo intitulado "Os processos de subjetivação e seus efeitos no atendimento focado no desenvolvimento profissional". Os autores utilizaram o método da cartografia para tentar rastrear os processos de subjetivação que ocorrem nas relações que se estabelecem entre o consultor das empresas de Engenharia do segmento de construção pesada e o seu cliente.

Ainda compõem este número da revista duas resenhas de livros. A primeira, elaborada por Cláudio Eduardo Resende Alves, é sobre o livro "Quebrando o silêncio: Disque 100". A obra apresenta os resultados da pesquisa "Monitoramento e análise da implantação e funcionamento do serviço helpline/Disque 100 na atenção a crianças, adolescentes e autores de violência sexual: 2009 a 2011", realizada em parceria interinstitucional entre a PUC Goiás, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República e a PUC Minas.

Vanina Costa Dias resenhou o livro de autoria de boyd danah (sic). "It's complicated: the social lives of networkeds teens". A obra trata dos resultados de pesquisa realizada com adolescentes norte-americanos de etnias e níveis socioeconômicos diversos, explorando, por meio de entrevista, os diferentes aspectos do seu envolvimento com as mídias sociais e outras tecnologias em rede.

Finalmente, é apresentado o resumo da dissertação de mestrado de Lauren Beltrão Gomes, "Engajamento paterno e agressividade em crianças de 4 a 6 anos", defendida, em 2011, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, em coautoria com Maria Aparecida Crepaldi. A pesquisa desenvolvida para a elaboração da dissertação de mestrado objetivou investigar a relação entre engajamento paterno e agressividade em crianças de 4 a 6 anos de idade. A investigação de viés quantitativo foi realizada com 50 pais, membros de famílias biparental e que residiam com os filhos, e com 26 educadoras de escolas infantis. Concluiu-se que quanto maior a proximidade de pais e filhos, e quando mais esses pais significam fonte de suporte emocional, os filhos tendem a apresentar menores problemas de agressividade.

Desejamos a você uma boa leitura!

A Comissão Editorial.