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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.11 no.3 Belém set./dez. 2019

https://doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol11.n03editorial 

Editorial

DOI: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol11.n03editorial

 

 

Narrativas da vivência contemporânes com interdisciplinar

 

 

Maria de Nazareth Rodrigues Malcher de Oliveira Silva

 

A narrativa é uma forma criativa que as pessoas, autores de textos científicos e os cidadãos que transitam no mundo da vida se vale para difundir sua biografia e sua obra mundana e assim, se mostrar no mundo. Refletindo sobre esta afirmativa compreendemos que contextos contemporâneos do nosso cotidiano nos distanciam desta prática, por exemplo, o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC's), que, de uma forma dinâmica, volátil, entranha, como um ato voluntário, nos afetando de diversas maneiras, produzindo saúde ou sofrimento humano.

Os acontecimentos que produzimos na vivência do cotidiano são significados e significantes, transformados por cada um, de diversas maneiras, como uma expressão, uma necessidade de constituir-se processualmente no mundo da vida como SER de subjetividade e de produção social.

Quando nos referimos aos acontecimentos do mundo da vida pensamos nas atividades de vida diária, no mundo do trabalho e das relações, no papel social, e na evolução tecnológica. Presenciamos todos os dias estes aspectos, ladeado pelas vulnerabilidades associadas ao processo intersubjetivo e de sociedade como por exemplo, o avanço tecnológico contemporâneo e todas suas conexões possíveis que ocorrem neste processo.

Vivemos em um tempo no qual o acesso ao mundo tecnológico ou mundo virtual tem sentido ambivalente, pois ao mesmo tempo que informa conteúdos, reencontra pessoas e auto identifica imagem de outros, é também uma ferramenta de distanciamento e de produção de narrativas isoladas. Neste processo, as narrativas do cotidiano viram lacunas, uma ausência do sujeito em si mesmo e do outro como produto de intersubjetividade e interação social, e que vai produzindo sofrimento humano.

Por outro lado, o paradigma de cuidado em saúde mental compreende o sujeito ante a doença, suas dimensões de vida e processo de interrelação social. Assim, no modelo psicossocial, o profissional deveria se distanciar do processo patológico ou da elucidação de signos psicopatológicos, e compreender o sujeito que está a sua frente e os contextos da contemporaneidade, como por exemplo o acesso tecnológico e desafios e benefícios para a sociedade.

Outro aspecto, refere-se diretamente na relação de cuidado, na qual o profissional deve se disponibilizar, se sensibilizar neste encontro por meio da vazão das narrativas, possibilitando neste espaço a valorização do ato de narrar, de sentir-se escutado e priorizando a compreensão de como o outro se afeta às coisas do mundo da vida, engendrando a recolocação do sujeito a um novo cenário, de empoderamento de seu espaço de fala e de inserção social, que remete a práxis terapêuticas de base às demandas reais.

Neste cenário que se encontra os estudos apresentados no número 11, terceira edição da Revista Eletrônica do Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas (Revista NUFEN), nos quais, em diversos cenários as narrativas mostram-se como cerne das reflexões.

Neste número, apresentamos textos de autores das áreas das ciências da vida, humanas e exatas, empíricos e teóricos, discutindo sobre a necessidade de ampliarmos nosso foco na dignidade humana, no cuidado e abordagem interdisciplinar, com narrativas sobre a vivência, intersubjetividade e contextos de vulnerabilidade social que cristaliza os sujeitos, muitas vezes resultante do crescimento tecnológico de uma sociedade hegemônica. Portanto, encontramos estudos empíricos sobre narrativas de pessoas que vivenciam situações ou de errâncias, ou de ouvir vozes, ou lésbicas com experiências religiosas; em espaço psicoterapêutico virtual, ou em vivências de práticas integrativas, ou em uso de plantas medicinais, ou em uso de diário virtual.

Além destes, também estudos teóricos sobre os modos de cuidado psicossocial, o respeito e dignidade humana, e os fundamentos da fenomenologia como uma ligação intencional e intersubjetiva entre homem e o mundo da vida.

Finalizamos esta edição com a resenha de Wolff (2019) intitulada Três utopias contemporâneas, discutindo sobre a concepção de utopia no processo de sociedade, e refletindo sobre que a condição humana deveria ser experimentada integralmente com erradicação de todo o mal enfrentado nas situações de vida.

Portanto, todos os estudos apresentaram como essência a vivência e consequentemente as narrativas sobre as experiências, algumas vezes em culturas especificas, nos espaços de cuidado, outras no uso de aplicativos e terapêuticas, com objetivos diversos como vinculo terapêutico, autocuidado e bem-estar geral, e que traduziram como uma atitude fenomenológica priori e tenaz do cuidado. As narrativas, portanto, revelaram nesta edição, uma profundidade na especificidade de cada vivência e em contextos diversos, que exprimem relevância cientifica de grande riqueza para o leitor.

Será que finalmente percebemos que as narrativas sobre a história de vida são processos naturais e relevantes ao empoderamento do modo de viver de cada um? E em caso afirmativo, deve ser inserida no cuidado pelo foco interdisciplinar para compreensão da complexidade do sujeito no mundo da vida?

Aguardemos na leitura a afetação, reflexão e o encaminhamento de narrativas sob a percepção do leitor que desfruta da biografia dos sujeitos e suas interrelações ao mundo da vida contemporânea.

Desejamos uma boa leitura a tod@s!

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