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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.8 no.1 Juiz de fora jun. 2015

 

ARTIGOS

 

Formação em psicologia: perfil e expectativas de concluintes do interior do estado de Rondônia

 

Training in psychology: profile and expectations of graduates in the state of Rondônia

 

 

Laís Fernanda Tenório Lins1; Leila Gracieli da Silva; Cleber Lizardo de Assis

Faculdades Integradas de Cacoal, Rondônia, Brasil

 

 


RESUMO

Objetiva-se investigar o perfil e as expectativas dos concluintes do curso de Psicologia de uma faculdade privada do norte do país. Foi realizada uma pesquisa quantitativa e exploratória, a partir população composta por 28 concluintes do curso de Psicologia do interior do Estado de Rondônia. Os resultados apontaram a média de idade de 27,15 anos, sendo 24 sujeitos (86%) do sexo feminino; 13 sujeitos (48%) tiveram como objetivo inicial da graduação "ajudar as pessoas"; 15 sujeitos (57%) classificaram o processo de formação como "bom"; em relação ao nível de satisfação com o preparo para a atuação 14 estudantes (50%) consideraram a formação regular; 21 estudantes (75%) afirmaram terem suprido suas expectativas durante a formação; destaca-se que, na percepção dos sujeitos há mais possibilidades de atuação profissional, mesmo que a clínica tenha sido apontada como uma possibilidade inicial; Conclui-se pela similaridade de perfil com outras pesquisas, além de apontamento de uma formação multifacetada nessa região do país.

Palavras-chave: Formação em Psicologia, Psicologia (Brasil), Atuação profissional.


ABSTRACT

The objective is to investigate the profile and expectations of graduating in Psychology from a private college in the north. A quantitative and exploratory research was conducted from a sample of 28 students graduating in Psychology in the state of Rondônia. The results showed a mean age of 27.15 years, 24 people (86%) female; 13 people (48%) had as the initial goal of graduation "to help people"; 15 people (57%) rated the training process as "good"; regarding the level of satisfaction with the preparation for performance in the future 14 students (50%) considered training regular; 21 students (75%) said they had procured their expectations during training. It is emphasized that, in the perception of the subjects there are more possibilities of professional performance, even though the clinical career has been identified as an initial possibility. It concludes that it is similar in profile with other research papers, besides pointing to a multifaceted training in this region of the country.

Keywords: Training in Psychology, Psychology (Brazil), Professional performance.


 

 

A Psicologia é uma ciência e profissão recente, cada vez mais rica em campos de atuação e teorias, em constante crescimento e aprimoramento no Brasil (Furtado, Bock & Teixeira, 2008; Port & Krug, s/d) e no Estado de Rondônia, possui, atualmente, nove cursos de Psicologia, sendo três na capital (um em universidade pública e dois em faculdades particulares) e seis no interior, sendo todos em faculdades privadas (Tada, Sápia & Lima, 2010).

Considerando que o curso de Psicologia nesta localidade do país é algo relativamente novo e que não existem muitos profissionais naturais da própria região, comparado a realidade das demais regiões do país, o presente estudo tem como objetivo investigar o perfil e as expectativas dos concluintes do curso de Psicologia de uma faculdade privada do interior de Rondônia, norte do país.

 

Notas sobre a Psicologia no Brasil

Cem anos se passaram, desde que Wundt definiu o roteiro específico desta nova ciência que, com métodos e objeto próprios, assumia foros de independência entre as ciências de experiência, de forma que "é com o vigor das incipientes experiências, enriquecidas pela multissecular tradição filosófica e progressiva indagação fisiológica, que a Psicologia penetra nos terrenos do ensino oficial." (Soares, 2010, p. 10)

A formação em Psicologia, propriamente dita, foi instituída no Brasil pela portaria 272 de 1946, sendo que a regulamentação da profissão como conhecemos atualmente só foi organizada no ano de 1957, de forma que o reconhecimento profissional da Psicologia foi marcado pela busca do reconhecimento da atuação profissional (Pereira & Neto, 2003). Nessa linha historiográfica, Gomes (1996) nomeia esse período inicial de "disputa ontológica para definir o objeto de estudo da Psicologia". O referido autor destaca ainda que as áreas clínica, educacional e do trabalho se consolidaram, que os profissionais eram, em sua expressa maioria, mulheres, jovens (20-30 anos) e que tinham outra fonte de renda além da própria psicologia. Já Boarini (2007) destaca que o início da Psicologia enquanto ciência no Brasil foi demarcado pelo uso da psicometria, no entanto, gradativamente e a nível mundial, as áreas foram expandindo-se e hoje a Psicologia atua em qualquer lugar onde exista um ser humano se comportando, seja em indústrias, empresas, hospitais, escolas, penitenciárias, fóruns, delegacias, abrigos, comunidades, no esporte, no trânsito, em docência, pesquisas etc (Morais, Madeiro e Barbosa, 2002).

O Conselho Federal de Psicologia (1992) preconiza como campos de atuação as seguintes áreas: clínica, do trabalho, do trânsito, educacional, jurídica, do esporte, social e a docência, de forma que a Psicologia tem alcançado um espaço significativo nessas diversas áreas (Badargi et al, 2008). No entanto, Meira e Nunes (2005) explicam que a Psicologia Clínica é ainda a área de maior conhecimento da população, em relação ao trabalho do psicólogo, sendo seguida pela Psicologia do Trabalho e Organizacional. Ocorre que, concomitante com as novas áreas de atuação, surgem novas demandas, fazendo com que o profissional transite sempre entre o privado e o público, bem como entre o individual, o grupo familiar e a sociedade ao seu redor (Lima & Cerveny, 2012).

Na perspectiva de Gondim, Bastos e Peixoto (2010), é comum entre os profissionais de Psicologia, a atuação em mais de uma área, sendo que a área organizacional é a de maior dedicação exclusiva (61,2%), seguida da área clínica (50,8%), de forma que a clínica permanece como área de atuação significativa, embora o profissional psicólogo tenha buscado ampliar sua prática de trabalho, inserindo-se, também, em instituições públicas de saúde, mesclando práticas de psicologia comunitária e social. Em concordância com essa tendência, Meira e Nunes (2005) apontam, dentre as possíveis outras práticas profissionais em desenvolvimento no Brasil, a Psicologia Hospitalar, Psicologia do Consumo, entre outras, com um amplo campo de atuação e de produção científica.

Já no âmbito da formação de psicólogos, ocorrem diferentes realidades, isto porque existe uma liberdade na estruturação das matrizes curriculares que as diferentes Instituições de Ensino Superior possuem (Port & Krug, s/d). Já Lahm e Boeckel (2008) argumentam que a dinâmica, em relação à profissão e à formação, fomenta uma Psicologia cada vez mais rica em campos de atuação e teorias, demonstrando uma pluralidade que interfere, também, nos motivos da escolha profissional pela Psicologia. No entanto, esta escolha mostra-se ainda ligada a uma representação social do psicólogo, marcada fortemente pelo caráter clínico e terapêutico, em que o olhar do outro sobre a prática profissional do psicólogo refere-se ao entendimento de comportamentos e sentimentos, bem como o auxílio ao próximo.

Esses acréscimos nos campos de atuação para psicólogos têm despertado o interesse dos universitários pelo curso, contudo, a Psicologia parece, muitas vezes, estereotipada por uma série de aspectos construídos pelo senso comum, com a imagem difundida de um profissional solucionador de problemas e de dificuldades pessoais, assim como um padre, uma cartomante ou um amigo, de modo que todos estes fatores podem prejudicar a escolha pelo curso (Moraes, Madeiro & Barbosa, 2002).

 

A escolha pelo curso de Psicologia: motivos, expectativas e preferências profissionais frente ao término do curso

A escolha de uma profissão envolve fatores sociais, econômicos, afetivos e pessoais, sendo que, para Port e Krug (s/d), a opção pelo curso de Psicologia muitas vezes caracteriza-se pela vontade de auxiliar o próximo, o que pode estar diretamente atrelado à atividade prática deste profissional que pode gerar uma grande realização profissional e, consequentemente, pessoal. Já para Moraes, Madeiro e Barbosa (2002) os motivos que originam a escolha dos estudantes pelo curso de Psicologia estão ligados à procura de melhores condições ou de um novo sentido a sua vida, e muitas vezes tal escolha vem atrelada ao uso de serviços psicológicos. Gondim, Magalhães e Bastos (2010) apontaram em sua recente pesquisa que, na escolha pelo curso de Psicologia, estão envolvidos mais fatores internos, intrínsecos, do que fatores externos, extrínsecos. Outros motivos pontuados foram a busca por um desenvolvimento pessoal, habilidades interpessoais, desejo e admiração pela Psicologia e a vontade em entender/compreender o ser humano e assim ajudá-lo (Bueno, Lemos & Tomé, 2004). Um estudo realizado com acadêmicos do curso de Psicologia mostrou que há uma idealização no que diz respeito ao papel do psicólogo, de forma que os alunos pesquisados descreveram o psicólogo como "alguém que ajuda as pessoas", que possui um perfil específico para o exercício e onde a remuneração tem um valor mínimo (Badargi et al., 2008). Em concordância com o acima, Sanches (1999) conclui em seu trabalho que alunos ingressantes no curso de Psicologia têm, entre outras expectativas, a de entender as pessoas e a realização pessoal.

Os referidos autores destacam os múltiplos fatores envolvidos nessa escolha, principalmente em se tratando de uma área de estudo que se propõe a compreender a complexidade do comportamento humano, a despeito de se identificar também uma visão estereotipada, fruto do senso comum, algo superficial à Psicologia como ciência e profissão. Entretanto, a principal diferença apontada em um estudo com estudantes de psicologia, de anos diferentes, foi a de condutas mais amadurecidas, dadas tanto pelo mundo objetivo quanto pelo subjetivo, o que indica que as percepções e as expectativas vão se modificando durante a graduação (Sanches, 1999).

Conhece-se pouco acerca dos egressos dos cursos de graduação nas mais diversas áreas de formação e em particular sobre egressos no curso de Psicologia, seja em termos de atividades profissionais, seja em termos de cursos ou especializações desenvolvidas após a graduação. Contudo, um estudo realizado por Cruces (2006) apontou para o fato de que os concluintes do curso de psicologia demonstraram, ao mesmo tempo, desejo e insegurança frente ao novo ramo de trabalho e às atividades profissionais da área, dando visibilidade ao desamparo e corroborando a importância da formação como propiciadora da ampliação do mercado e responsável por preparar de maneira adequada.

Nessa linha, Mazer e Silva (2010) ressaltam que os anos de estudos na faculdade não são suficientes para que haja uma boa formação e defendem uma contínua busca de aprendizado e descobertas, o que também auxiliará no desenvolvimento da identidade profissional do formando. Já numa pesquisa conduzida por Igue, Bariani e Milanesi (2008), com a participação de 203 universitários, sendo 103 do primeiro ano do curso de psicologia e 100 no ano final, com o objetivo de averiguar cinco dimensões referentes a áreas de adaptação acadêmica, sendo uma delas a dimensão "carreira", investigou a satisfação com o curso e a percepção de competências adquiridas através deste, e encontrou uma diferença extremamente significativa na comparação entre os alunos do 1º e do 5º ano, posto que, os acadêmicos que estavam finalizando o curso, principalmente aqueles que demonstraram expectativas "muito altas" no início da graduação, indicaram um grau positivo de satisfação com as vivências referentes a este aspecto, o que pode ser reflexo de toda a experiência que alcançaram ao longo dos cinco anos.

Os referidos autores destacam, ainda, a supervalorização do modelo clínico e do perfil do psicólogo como profissional liberal, deixando relegadas as outras formas de inserção profissional que ascenderam nos últimos tempos, como por exemplo, a atuação em unidades de saúde, o que corrobora que a primeira inserção profissional mais pretendida tem sido na clínica, já que 35,8% dos recém-formados optam por iniciar a carreira em consultório particular. Esse dado permite inferir que apesar dos acadêmicos terem adquirido conhecimentos sobre diversas áreas de atuação, ainda há a prevalência da idealização da clínica (o que talvez ocorra em função da ênfase dada a este segmento no decorrer do curso), entretanto, os cursos de psicologia deveriam oferecer uma formação mais plural e que contemple conhecimentos sobre áreas que estão em ascensão na psicologia, para que os recém-formados e aqueles que estão prestes a concluir a graduação tenham uma visão mais abrangente acerca dos contextos diferenciados que merecem intervenção psicológica (Bardagi et al, 2008).

No tocante ao perfil do profissional de Psicologia, o Conselho Federal de Psicologia (1999) argumenta que este profissional deve ter "uma postura científica frente ao conhecimento da psicologia, com capacidade de identificar as demandas sociais e responder a elas, mantendo um permanente compromisso com a transformação da sociedade" (p. 21). Para Morais, Madeiro e Barbosa (2002), ainda sobre o perfil do profissional psicólogo, defendem que este deverá desfrutar de um amplo conhecimento científico, bem como estar apoiado em técnicas e instrumentos reconhecidos pelo Conselho, o que possibilitará realizar diagnósticos e intervenções segundo um modelo de interpretação e/ou observação, além de difundir as conquistas e os benefícios resultantes da formação.

Diante das possibilidades de atuação do profissional psicólogo aqui explicitados, do crescente interesse dos alunos por este curso e da postura requerida pelo Conselho que rege esta classe de profissionais, levanta-se a necessidade de estudos que avaliem os perfis, as expectativas e interesses dos concluintes do curso de Psicologia, especialmente na região Norte, com o intuito de favorecer uma melhor formação e discussão profissional à luz dos desafios contemporâneos colocados à Psicologia.

 

Método

Para o presente trabalho, adotou-se o desenho metodológico da pesquisa quantitativa e exploratória, tomando por base a investigação supracitada realizada por Bardagi et al (2008), com a diferença que o instrumento adotado nessa pesquisa teve um formato estruturado.

População

Participaram do estudo 28 (N=28) acadêmicos concluintes do curso de Psicologia de uma faculdade privada no interior do Estado de Rondônia, de ambos os sexos e com idade entre 22 e 40 anos. A população se constituiu nesse contingente limitado de sujeito, posto que compõe a totalidade de discentes formandos naquele ano de análise (2011), nas Faculdades Integradas de Cacoal, escolhida para o estudo.

Instrumento

Foi utilizado como instrumento de coleta, um questionário estruturado, elaborado pelos pesquisadores, composto de 10 questões fechadas e relacionadas ao processo de formação do psicólogo, com o intuito de verificar as seguintes categorias (formuladas de modo a priori): 1) Perfil do aluno em conclusão do curso de Psicologia; 2) Áreas, temas e interesse de atuação e 3) Avaliação sobre a própria formação (instrumento em anexo).

Procedimentos e Instrumentos

A aplicação do questionário empregado na coleta de dados aconteceu de forma coletiva, na sala de aula do 10º período de Psicologia no bloco "G" da faculdade privada supracitada, do interior do Estado de Rondônia, da seguinte forma: após os participantes consentirem em participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, foi-lhes entregue o questionário. Durante o preenchimento do questionário os pesquisadores ficaram à disposição para tratar eventuais dúvidas a respeito do preenchimento do instrumento. Neste período foram preenchidos os 28 questionários.

A análise dos dados ocorreu por frequência matemática simples, não-correlacional e a tabulação dos dados e foi realizada pelo programa Excel 2007 for Windows, com a produção de gráficos.

 

Resultados e Discussão

A média de idade dos acadêmicos foi de 27,15 anos, dado que indica uma possível diminuição no tocante à média de idade encontrada na pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (2000) que indicou que a idade dos profissionais de psicologia era, em sua maioria, inclusa na faixa dos 26-36 anos; 24 sujeitos (86%) do sexo feminino, o que corrobora a pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (2000); Quanto ao estado civil, a maioria dos acadêmicos declarou ser solteiro e apenas 07 sujeitos (25%) são casados e 01 sujeito (4%) da população está separado.

Os dados apontaram que o objetivo inicial de 13 participantes (48%) em relação à graduação em psicologia era de "ajudar as pessoas", 10 (38%) dos acadêmicos responderam que a escolha foi por outros motivos, como por exemplo: conhecimento pessoal, falta de opção, conhecer melhor os seres humanos (categoria de resposta "outros") e apenas 3 sujeitos (10%) destacaram obter retorno financeiro (Figura 1).

 

 

De acordo com Moraes, Madeiro e Barbosa (2002) o desejo de ajudar as pessoas ocorreu em acadêmicos das áreas de assistência social, terapia ocupacional e aspirantes a psicologia. Este dado também apareceu na amostra pesquisada neste estudo, sendo que 48% da amostra investigada afirmou ter como objetivo, ao iniciar o curso, "ajudar as pessoas". Os achados de Badargi et al (2008) ressaltam que este fato pode ser atribuído a visão estereotipada da população comum de que o psicólogo é um profissional que "dá conselhos para as pessoas", ou até mesmo que auxilia no processo de resolução de um problema pessoal.

Foi oferecido aos respondentes a possibilidade de apontar as futuras áreas de atuação, podendo escolher e fornecer até três respostas: quanto ao interesse dos acadêmicos por áreas de atuação, os dados sugerem uma preferência de 16 escolhas pela clínica, seguido de 10 intenções pela área de psicologia hospitalar, 08 respostas demonstraram interesse pela docência em Psicologia (Figura 2). Quanto à preferência pela área de atuação os dados apontaram que houve predomínio na preferência pela área clínica com 16 escolhas. O mesmo resultado foi observado nos estudos do Conselho Federal de Psicologia (2000), de Magalhães, Straliotto, Keller e Gomes (2001) e de Badargi et al (2008) que, justificam que estes dados se aplicam ao fato de que a atuação clínica é ainda um estereótipo idealizado pelos sujeitos que ingressam no curso de psicologia2.

 

 

Sobre o assunto, Bardagi et al, (2008) explicam que ainda existe uma supervalorização do modelo clínico e do perfil do psicólogo como profissional liberal, sendo que a primeira inserção profissional se dá na clínica, já que 35,8% dos recém-formados pesquisados optaram por iniciar a carreira em consultório particular. Esse dado permite inferir que apesar dos acadêmicos terem adquirido conhecimentos sobre diversas áreas de atuação, ainda há a prevalência da idealização da clínica, que talvez se dê em função da ênfase dada a este segmento no decorrer da graduação e deixe relegadas as outras formas de inserção profissional que ascenderam nos últimos tempos, como por exemplo, a atuação em unidades de saúde. Os dados das pesquisas acima são dissonantes dos encontrados neste estudo, pois a população aqui investigada apresentou divisões no quesito "área de atuação" e ainda que a atuação clínica tenha sido apontada com escores significativos como uma primeira possibilidade de atuação, 10 escolhas foram para a área hospitalar, 08 para lecionar, 07 escolhas para o campo organizacional e, empatadas, as áreas educacional e jurídica receberam 06 votos respectivamente. Tal mudança, segundo Morais et al (2002), atribui-se a uma ampliação nas possibilidades de atuação e inserção em psicologia que se expandem gradativamente ao longo dos anos, fazendo do seu lugar de trabalho qualquer local em que haja um ser humano se comportando.

Em relação ao interesse para a continuidade dos estudos, 28 formandos sinalizaram interesse por especializações (100% dos sujeitos), sendo que 21 acadêmicos (75%) não tem a intenção de cursar outra faculdade e apenas 03 participantes (14%) já possuem outra graduação (Figura 03).

 

 

Em relação ao suprimento das expectativas sobre o curso, 21 participantes (75%) afirmaram que suas expectativas foram supridas (Figura 04), afirmando estar satisfeitos quanto às expectativas sobre o curso. Outro dado relevante é que 100% da população pesquisada pretende especializar-se em psicologia e seus respectivos campos. Na pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia (2000)3, os participantes que pretendiam se especializar corresponderam a 46% da amostra. Este fato pode ser relacionado com o acréscimo na competitividade por mercado de trabalho e que exige cada vez mais preparo dos profissionais (Bueno, Lemos & Tomé, 2004).

 

 

O estudo mostrou que o nível de satisfação com a formação recebida pelos sujeitos é considerado "bom" por 57% dos acadêmicos (N=16); já em relação ao nível de satisfação com o preparo para a atuação profissional, existe uma pequena discrepância entre o "bom" e o "regular" como aponta a Figura 5. Os níveis de satisfação com a formação recebida e preparo para atuação profissional foram considerados bons, corroborando os dados relatados anteriormente frente ao preenchimento de suas expectativas. Portanto, os indivíduos se consideram aptos e seguro sem relação à demanda de trabalho que obtiverem após o término do curso.

 

 

Conclusão

O presente trabalho pretendeu identificar o perfil e analisar as expectativas dos concluintes do curso de Psicologia de uma faculdade privada do interior de Rondônia, quanto à sua formação e possível atuação profissional, à luz de outras pesquisas nacionais de psicologia. Os resultados obtidos apontam que: a motivação inicial pelo ingresso no referido curso foi descrita como "ajudar as pessoas", quanto ao gênero, é constituído predominantemente pelo público feminino e quanto à formação acadêmica, por sujeitos que não possuem outra graduação, se harmonizando com outros dados de pesquisas realizadas em outros Estados do país. Quanto ao nível de satisfação pela formação recebida, identifica-se um bom nível de satisfação, embora haja certa insegurança quanto ao preparo para a atuação profissional e, nesse sentido, há uma ampla expectativa de prosseguir a formação posterior.

O destaque nos resultados desta pesquisa concentra-se na percepção da existência de mais áreas apontadas como possibilidades de atuação profissional pelos concluintes, mesmo que a atuação clínica ainda tenha sido apontada como uma maior possibilidade inicial de prática profissional; assim, os sujeitos pesquisados também cotaram a área hospitalar, a docência, o campo organizacional, a área educacional e a jurídica como possíveis espaços de ingresso no mercado de trabalho para psicólogos. Este dado parece revelar uma mudança significativa de que esses egressos estão saindo da faculdade dispostos a trilhar caminhos "menos" conhecidos e, assim, contribuir ainda mais para o crescimento da ciência psicológica em seus vários campos, o que aponta, por outro lado, a necessidade de se investigar mais a respeito da formação destes futuros psicólogos nessa Região do país, verificando, especialmente a relação entre população e quantidade de profissionais para verificar se há uma grande demanda desse profissional.

Finalmente, destacamos que urge por parte da docência, de uma prática de um ensino multifacetado em Psicologia, abordando as áreas tradicionais e as emergentes, bem como a confecção de estudos com delineamentos experimentais destinados a investigarem os apontamentos aqui propostos, contribuindo para a formação de psicólogos hábeis e competentes no exercício de sua profissão nessa região do país.

 

 

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Recebido em: 16/08/2014
Aceito em: 23/02/2015

 

 

1 Contato: kebelassis@yahoo.com.br
2 A pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (2000) foi realizada a partir de uma amostra de 1.200 sujeitos, sendo que a maioria (54% = 507 sujeitos), apontou a "clínica em consultório" como principal área de atuação. Na pesquisa de Bardagi et al (2008), com 143 egressos formados entre 1997 e 2004, a maioria (41,7%) teve a atividade clínica como primeira inserção; já na pesquisa de Magalhães et al (2001), com 146 estudantes iniciantes de psicologia, com uma grande preferência pelo futuro exercício profissional em clínica e consultório particular (75%); No entanto, já em 2012, o Conselho Federal de Psicologia, apontou que apenas 3% dos sujeitos profissionais entrevistados de um contingente nacional (985 respondentes), apontam a clínica como área de atuação profissional, embora 34% apontem o consultório particular como local de exercício profissional (Conselho Federal de Psicologia, 2012).
3 Estudo supracitado.

 

 


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