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Boletim de Psicologia

 ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.66 no.145 São Paulo jul. 2016

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

 

Parentalidade e constituição da imagem corporal: implicações para a criança com deficiência física

 

Parental functions and constitution of body image: repercussions to children with phy-sical disabilities

 

 

Diego Rodrigues Silva*; Eliana Herzberg*,1

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - SP - Brasil

 

 


RESUMO

As funções parentais ultrapassam a satisfação das necessidades da criança, promovendo a constituição subjetiva, que a insere no laço social. Estas experiências da relação pais-criança formam uma imagem corporal que se articula ao aparato biológico, possibilitando ao sujeito ter um domínio particular de seu corpo. Uma criança com deficiência física pode provocar impactos na dinâmica familiar, sendo importante atentar ao que ocorre do ponto de vista deste processo de constituição. Assim, o artigo busca discutir a parentalidade e a construção da imagem corporal nos quadros de deficiência física. Verificou-se que, nestes casos, as funções materna e paterna podem ser comprometidas, sendo apresentadas particularidades desta relação, como a necessidade de reconhecer o exercício funcional nos movimentos próprios da criança. Desta forma, foi discutida a importância de abertura para a compreensão da relação pais-criança e os efeitos em seu desenvolvimento.

Palavras-chave: Deficiência física; relação pais-criança; imagem corporal; desenvolvimento na primeira infância.


ABSTRACT

The parental functions surpass child's needs, promoting subjective constitution that inserts him/her into the social bond. These experiences of the parent-child relationship shape body image that articulates with the biological apparatus, enabling the subject to have a particular control of the body. A physically disabled child may provoke impacts on the family dynamics, being important to consider what occurs from the point of view of this constitutive process. Therefore, this paper aims to discuss parenting and construction of body image in situations of physical disability. It was found that, in these cases, the maternal and paternal functions can be compromised being presented specifics of this relationship, such as the need to recognize the functional exercise in the child's own movements. The relevance of openness to understand parent-child relationship and the effects on their development are discussed.

Keywords: Physical disability; parent-child relations; body image; early childhood development.


 

 

Ao se considerar a relação pais-criança, um ponto passível de discussão é o efeito desta interação para o desenvolvimento da criança, tanto na aquisição de seus aspectos físicos quanto na constituição de sua estrutura psíquica. Nesta linha, Lacan (1969/2003) propõe que a função da família é a transmissão da cultura. Compreendendo as ações dos pais, enquanto funções, elas ultrapassam a atenção e a satisfação das necessidades, visto que, neste movimento, acabam por engendrar uma relação particular com a criança, criando suposições, tomando-a a partir de determinadas expectativas, de modo a constituir ali um sujeito organizado, segundo os moldes de sua cultura.

A partir destas suposições e expectativas, é tecido o pano de fundo da relação pais-criança. Esta é composta pelas questões de cada membro, que se entrecruzam em jogos de suposições de lugares, que atendem ao desejo de complementaridade com o outro. A criança, não isenta desta dinâmica, é alvo destes movimentos que carregam os conflitos do desejo parental. Entretanto, são estes mesmos desejos que permitem inserir o novo sujeito em um discurso não anônimo, assim, constitutivo do ponto de vista subjetivo (Pincus & Dare, 1987). Deste modo, o lugar da criança é construído antes mesmo de sua concepção, já se encontrando nas expectativas e suposições do casal.

Barros e Herzberg (2013) discorrem sobre os complexos processos advindos da gravidez. Ilustram, com uma pesquisa longitudinal, as mudanças que perpassam os aspectos biopsicossociais e que guardam a marca da história de vida de cada um. Concluem, assim, sobre a importância de se atentar à dinâmica das relações que se estabelecem em torno da família nuclear, o que permite ampliar as possibilidades de desenvolvimento da criança e reduzir os possíveis problemas futuros.

De acordo com autores como Ajuriaguerra (1983a), desta relação é montada uma imagem da criança a partir do olhar dos pais. Esta imagem, além de inserir o filho em uma trama familiar, supondo neste ser-por-vir um sujeito que atenderá às questões do casal, fornecerá as bases da organização do eu, do registro imaginário e da imagem corporal, que dá forma e sentido ao corpo (Levin, 1997).

Isto posto, a questão da deficiência física e sua especificidade de uma alteração aparente no corpo pode dificultar a imagem dos pais sobre a criança. Quanto a esta questão Bernardino (2007) afirma, "o surgimento de uma incapacidade, um defeito físico ou uma lesão, vai se confrontar com esse lugar preexistente à criança e disso resultará uma combinatória" (p. 56). Para a autora, este conflito pode incidir sobre o corpo real da criança e sobre o lugar que os pais atribuem ao filho, em sua função e em sua imagem. Questiona-se, se as idiossincrasias, que se apresentam nos casos de deficiência física e seus desdobramentos, podem incidir sobre o processo de constituição subjetiva e da imagem corporal. Trata-se de uma questão pouco explorada na literatura e, portanto, que carece de discussões. Para tanto, o presente artigo teve por objetivo circunscrever a problemática, discutindo a parentalidade e a construção da imagem corporal nos quadros de deficiência física.

Assistindo à construção de uma imagem corporal

No nascimento se concretiza o lugar da criança. Dado um aparato biológico, os movimentos espontâneos do bebê atuam como forma de comunicação com seu cuidador. Ajuriaguerra (1983b) situa aqui um processo duplo de assimilação e acomodação entre o corpo da mãe e do filho. Neste sistema de trocas, os movimentos, antes espontâneos, se tornam intencionais. O corpo começa a ser significado, contornado e inserido em uma lógica relacional, a partir de suas concepções familiares - a própria cultura, norteadora dos comportamentos.

Dolto (1984/2015), nesta mesma proposta, afirma que, por meio da relação sujeito-a-sujeito, acompanhada de uma fala que reconheça no bebê um ser desejante e inter-relacional (nomeações e suposições), este é transformado a partir das atribuições de significado. O corpo puro biológico pode ganhar diferentes sentidos e funções, ampliando suas capacidades até então reflexas e automáticas.

A concepção de Lacan (1949/1998) sobre o estádio do espelho parece servir a esta discussão. Segundo o autor o modo como, aos seis meses, um bebê passa a sofrer o efeito de uma imagem virtual. Ainda, sem uma coordenação motora e uma postura ereta, pode interagir frente a um espelho e se relacionar com esse duplo virtual. Como efeito, o autor aponta a identificação, uma "transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem" (p. 97). Há assim, uma antecipação ao processo de maturação a partir da imagem, fazendo com que a fantasia do corpo despedaçado (ou seja, composto de várias partes distintas) passe para a totalidade de um corpo próprio, ortopédico, para então se tornar a "armadura enfim assumida de uma identidade alienante" (p. 100). É Considerada uma alienação, pois neste processo de identificação, surge um Eu, mas que se vincula à forma/imagem de seu corpo. Assim, esta identificação modifica a relação do infans com seu corpo biológico, fazendo com que a turbulência dos movimentos autômatos passe a ganhar o contorno social, instaurando-se um controle sobre estes. Entretanto, o autor aponta que assim há uma nova forma de automatismo dos movimentos, não mais biológico, mas psíquico, com os fantasmas da imagem do corpo, que constituem o sujeito advindo do processo de identificação.

Destas três propostas, considera-se a concordância a respeito de um processo de transformação do corpo orgânico por uma imagem. Talvez deva ser enfatizado, que não se trata de uma imagem neutra, mas carregada de sentidos, cujos efeitos se farão presentes na apropriação do corpo pelo sujeito por meio da identificação com esta imagem. Esta pode ainda ser uma leitura acerca da concepção de Dolto (1984/2015), de que o desejo do sujeito toma o corpo, podendo, por meio dos objetos do meio externo cultural, encontrar formas de buscar satisfação.

A partir deste ponto, pode-se avançar para a definição de imagem corporal, tal como é concebida neste trabalho dentro do processo de constituição subjetiva. Dolto (1984/2015) a define como o registro das experiências emocionais inter-humanas, que criam uma "memória" em que se registram as formas e ritmos específicos, que orientam os movimentos, tanto psíquicos quanto físicos do pequeno sujeito. Explica que nela se fazem presentes o isso, o eu e o supereu, sendo assim, uma forma de se organizar frente ao Outro, com maiúscula para abarcar sua compreensão de posição do sujeito, que se repete e se atualiza nas relações.

Deste modo, considerando que a imagem corporal advém desde as fantasias parentais e compõe a dinâmica das relações do filho com seus pais (ou cuidadores), atenta-se para o modo pelo qual a deficiência física é significada para estes, e então, como dão sentido ao corpo da criança. A discussão parece ganhar complexidade frente à multiplicidade de possibilidades que se abrem frente aos arranjos relacionais, o que tira a ênfase do efeito do corpo orgânico para a constituição da imagem corporal e a coloca sobre a significação deste corpo para tal.

O sujeito, o corpo e a deficiência física

Para compreender a parentalidade e a constituição da imagem corporal nesta população é preciso circunscrever quais as especificidades que a tornam objeto desta discussão. Primeiramente, a deficiência é compreendida como uma "anormalidade, defeito, perda ou outro desvio importante relativamente a um padrão das estruturas do corpo" (OMS, 2003, p. 13). Este ponto se refere ao componente biológico estrito, do qual a deficiência se encontra como desviante de uma norma. Nesta perspectiva, as funções do corpo são compreendidas em sua expressão funcional, considerando as diferentes tarefas em suas possibilidades de participação, limitações e restrições, dadas as condições que cada deficiência encerra. A proposta é compreender como o prejuízo orgânico pode ou não afetar uma função, o que também irá depender dos fatores contextuais. Considera-se assim, o ambiente em que a pessoa se encontra inserida, ambiente aqui abarcando o físico, social e atitudinal. Estes podem influenciar, de maneira positiva ou negativa, no desempenho, na capacidade, nas funções e na própria estrutura do corpo. Desta forma, compreende-se que o prejuízo em uma função pode ou não se configurar como uma dificuldade, dependendo do ambiente. Seja pelas barreiras concretas que podem estar presentes, seja pelas concepções culturais, uma função pode ter um melhor ou pior desempenho. Contudo, tais fatores estão ainda atrelados aos fatores pessoais, os quais podem configurar uma incapacidade em qualquer nível.

Especificamente a deficiência física pode se apresentar como completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano. Sistematizando, em sua forma, pode se configurar como paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia e hemiparesia. As etiologias mais recorrentes que levam à deficiência física são: a paralisia cerebral, que traz limitações psicomotoras por conta de uma lesão no sistema nervoso central, cuja característica mais marcante é a espasticidade nos músculos; a lesão medular, geralmente ocorrida devido à acidentes que levam a lesões do sistema nervoso que, dependendo de sua altura, podem comprometer diferentes partes do corpo. E a má formação congênita, que acarreta uma anomalia física desde a gestação (Macedo, 2008). No entanto, vale ressaltar, que a discussão visa abranger a deficiência física de forma geral. Ainda que se encontrem especificidades dentre os casos, busca-se circunscrever o que há de regularidade no grupo, a saber, a questão da alteração da forma/função do corpo e seus efeitos nas relações.

Depois de definido o objeto, serão discutidos trabalhos sobre a relação pais-criança. Poucos são os que abordam constituição subjetiva e imagem corporal, sendo necessário recorrer a artigos que abordem o tema por outras vias. Barbosa, Balieiro e Pettengill (2012) indicam que a ocorrência de um filho com deficiência física pode produzir uma crise na família, abalando sua identidade, estrutura e funcionamento. Tem-se uma quebra de papéis e expectativas, inserindo novos conflitos, levando à instabilidade emocional e a alterações no relacionamento familiar. "Por vezes, o momento do diagnóstico da deficiência deixa os pais confusos e sem orientação adequada, o que pode interferir na vinculação com o filho deficiente" (p. 195). Isto demanda um reajuste que requer tempo.

O mesmo foi verificado por Silva, Brito, Sousa e França (2010) em um trabalho realizado com cuidadores de crianças com Paralisia Cerebral. Os autores verificaram os sentimentos dos pais causados pelo diagnóstico, destacando o luto, choque, negação, aceitação e adaptação. Assim, reações ambivalentes de tristeza, alegria, conflitos e gratificações estiveram presentes no cuidado com a criança.

Amiralian (2003) ressalta que este possível estado dos pais pode prejudicar o exercício das funções parentais como o olhar e o cuidado particular:

Há a dificuldade de aproximação do bebê deficiente, o medo de segurá-lo, de machucá-lo, a ausência das brincadeiras, das trocas de olhares e de palavras acariciantes. O banho deixa de ser prazeroso, para ser um momento da confirmação da perda do bebê imaginado; não há as brincadeiras com seus pés e mãos, impedindo-os de sentir e experimentar as diferentes partes de seu corpo e muitas vezes de entender seus limites (p. 106).

Entre os trabalhos que discutem essa temática, encontra-se ainda o de Battikha, Faria e Kopelman (2007). Em sua pesquisa com 11 mães de bebês com doenças graves (mielomelingocele, síndromes genéticas, encefalopatia, malformações, dentre outros) os autores encontraram que o diagnóstico pode ser tomado pelos pais como um destino inexorável, aumentando a possibilidade de riscos psíquicos no vínculo mãe-bebê. Explicam que pela equivalência do filho com a deficiência, é dificultada a atribuição de outros sentidos ao bebê e ao seu corpo.

Também Chacon (2011), em sua pesquisa com 10 pais de crianças com deficiência física, discute como o insulto ao narcisismo pode ser intenso de modo a desencadear nos pais alguns mecanismos, como a negação. A perda da autoimagem, dado que não há uma correspondência entre mãe e bebê do ponto de vista de uma gestalt imaginariamente perfeita, desorganiza, levando aos mecanismos citados.

Verifica-se por estas pesquisas, que os momentos iniciais do bebê com os outros de seu entorno podem ser conturbados, demandando um tempo de reorganização. Podem estar presentes mecanismos de defesa e conflitos, que acabam por permear as relações, nem sempre de forma constitutiva para a criança. Contudo, é importante ressaltar que a dinâmica interacional está presente desde o princípio, sendo necessário atentar para este período, de modo a não comprometer a constituição de um sujeito de fato e sua articulação ao corpo orgânico, por meio de uma imagem corporal que permita sua expressão e desenvolvimento.

 

DISCUSSÃO

Frente ao que foi exposto, cabem algumas observações para estabelecer um problema passível de pesquisa. O diagnóstico mostra ser algo precoce nestes casos, um interveniente importante, que parece incidir sobre as relações e alcançar a imagem corporal. Ele pode inviabilizar outros sentidos, podendo fazer da criança "um deficiente" e seu corpo "uma disfunção". Dolto (1984/2015) destacou a importância do corpo ser inserido na lógica humana, com seus signos e significados culturais, que assumem o valor de troca, deste modo, a marca do diagnóstico poderá criar obstáculos.

As reações dos pais frente à deficiência parecem centrais nesta discussão. Na leitura dos textos se evidenciam duas vias de incidência. A primeira, mais atrelada à deficiência física em si, dos fenômenos que se encontram presentes no cotidiano, quando alguém se depara com a diferença. Fédida (1984) bem descreve as práticas de exclusão e/ou de benevolência, que atendem as necessidades internas daquele que se angustia frente à pessoa com deficiência. Em outra via, parece se encontrar o modo singular pelo qual cada sujeito e cada casal, enquanto unidade, assume a deficiência, o que dará o tom da relação. Se a considerarem como um sofrimento, por exemplo, podem poupar a criança de maiores esforços, assumindo todos os seus movimentos. Da somatória das reações frente à deficiência e ao sentido dado a ela se pautam as funções parentais, que por sua vez podem ter desdobramentos no desenvolvimento da criança.

Por exemplo, se a mãe vê a criança com capacidades muito aquém das reais, com limitações quase totais, estas experiências da criança com o próprio corpo e o mundo provavelmente serão evitadas ao máximo, dificultando que a criança forme uma imagem de si mesma mais próxima do real (Munhoz, 2011, p. 59-60).

Sendo assim, pode-se conjecturar alguns quadros possíveis. Se, por exemplo, devido aos arranjos houver uma dificuldade de separação do corpo da mãe; se a função paterna não opera como deveria e, se os cuidadores não reconhecem ou não percebem alguma possibilidade de desenvolvimento na criança, não colocando um código de comunicação, as funções, tanto físicas quanto psíquicas podem ser prejudicadas. Com isto, nestes casos particulares, algumas especificidades devem ser consideradas. Ainda que não se possa prever o efeito da criança sobre os pais e que, de uma forma ou outra, sempre haverá uma quebra em relação às expectativas destes em relação ao filho (Lerner & Kupfer, 2008), os indicativos levantados apontam para um cuidado.

Destas especificidades cabe indicar as diferenças não apenas da aparência, mas das funções. Podem haver formas pouco convencionais de falar, apontar, brincar, se deslocar. Deste modo, as funções parentais precisam ainda lidar com este desconhecido, que também gera reações de hesitação, repulsa, medo, como visto em Amiralian (2003). A questão da especularidade pais-criança pode ser prejudicada, dada a dificuldade em reconhecer ali um sujeito inserido no laço social. Por sua vez, a imagem corporal pode acabar encontrando formas desarticuladas, sem valor de troca e com dificuldades de desenvolvimento das potencialidades.

Por fim, para situar o lado da criança, Mannoni (1964/1999) afirma que a atitude da mãe em relação à deficiência física do filho produz na criança determinados tipos de resposta. Deste modo, o estudo aprofundado desta relação, permite compreender as escolhas privilegiadas pela criança com sua forma singular de significar e de utilizar o seu corpo frente ao real do biológico. A autora ressalta a importância de se considerar o orgânico, mas também de se buscar compreender como o sujeito e sua família dão sentido e vivenciam a deficiência da criança.

Assim uma criança paraplégica tem necessidade de brincar verbalmente com a mãe, falando sobre atividades como correr, saltar .... Que seus desejos sejam assim falados a alguém, que aceita com ele este jogo projetivo, permite ao sujeito integrar na linguagem tais desejos, apesar da realidade, da enfermidade de seu corpo (Dolto, 1984/2015, p. 12).

Ressalta-se a não correlação entre um corpo prejudicado e uma imagem corporal prejudicada. A forma como as experiências com o outro irá se dar, poderá constituir uma imagem saudável, que permitirá uma ação do sujeito no meio, fazendo valer seu lugar e seus desejos (Dolto, 1984/2015).

Isto posto, destaca-se a importância de se voltar o olhar para esta população e aprofundar a discussão. Questiona-se como se dá está dinâmica pais-criança e até que ponto o relacional (o intersubjetivo) afeta o orgânico nestes casos. A partir deste ponto, pode-se conjecturar quais os efeitos que podem contribuir ou não para o desenvolvimento. Bem como, se estas compreensões possibilitariam uma intervenção, ainda neste importante tempo da infância, mudando o curso de quadros, que poderiam ter maiores agravamentos. Deixam-se tais questionamentos para as pesquisas futuras.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo partiu da dinâmica familiar, que tece o lugar subjetivo a ser ocupado pelo futuro bebê. Viu-se que, desde então, constrói-se uma imagem composta pelas expectativas e fantasias do casal. No entanto, estas serão confrontadas com a criança real, estabelecendo-se um jogo de lugares, que promovem a constituição de um sujeito desejante e inserido na cultura.

Frente ao quadro, discutiu-se a deficiência física e sua particularidade de uma alteração orgânica pode ser vista, causando um efeito no outro. Frente às pesquisas, foram levantadas algumas dificuldades advindas do corpo da criança, que atravessam as funções parentais e que podem prejudicar a construção da imagem corporal. Deste modo, apontou-se a importância de uma vivência que reconheça na criança as atividades motoras (brincar, correr, saltar), ainda que frente à dificuldade de reconhecê-los dadas as especificidades dos movimentos, propiciando que se articulem seus desejos ao seu corpo. Ainda, que se atente não apenas para a deficiência do ponto de vista funcional, mas do significado atribuído pelo pequeno sujeito e sua família e os usos de tal significação.

Caracterizando este objeto de investigação, ressalta-se a importância do cuidado nos primeiros anos, em função dos processos constitutivos que operam neste período. Levanta-se assim, o questionamento acerca de possibilidades de atuação neste campo, visando abrir perspectivas que caminhem do corpo físico para a imagem corporal e da deficiência para o sujeito, que a vivencia a partir de suas questões e das que circulam no entorno da relação pais-criança.

 

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Recebido em 20/12/15
Revisto em 02/02/17
Aceito em 04/02/17

 

 

* Endereço para correspondência: Rua Coronel Ferreira Leal, 108, casa 9, Vila Gomes, São Paulo, SP. CEP: 05589-090. Telefone: (11) 3476-5010. E- mail: silva.diego@usp.br ; eherzber@usp.br
1 O artigo é parte da dissertação de mestrado em andamento do primeiro autor com sua orientadora. Apoio: CAPES. Agradecimento a Daniel Pequeno pela revisão do inglês

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