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Journal of Human Growth and Development

 ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.21 no.1 São Paulo  2011

 

EDITORIAL

 

Condições relacionadas à obesidade secundária na interface do crescimento e desenvolvimento

 

Obesity-related conditions in secondary interface of growth and development

 

 

Luiz Carlos de Abreu

Faculdade de Medicina do ABC. Coordenador da disciplina de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Mestrado e Doutorado) e Coordenador da disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica no curso de graduação em Medicina

Correspondência para

 

 

A obesidade é uma síndrome multifatorial que consiste em alterações fisiológicas, bioquímicas, metabólicas, anatômicas, além de alterações psicológicas e sociais, sendo caracterizada pelo aumento de adiposidade e de peso corporal1,2. Há também fatores ambientais que a influenciam, como a associação do consumo excessivo de energia combinado com um gasto energético reduzido e limitação da prática regular de atividade física1.

Outro agravo é o sobrepeso, pois este vem sendo uma importante questão enfrentada nos Sistemas de Vigilância Alimentar e Nutricional. O aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade em idades cada vez mais precoces requer atenção às comorbidades diretamente relacionadas a ele, tais como hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes, hiperlipidemias e acidentes vasculares cerebrais3,4.

Faz-se necessário o combate imediato à "endemia", visto que as repercussões futuras serão desastrosas ao serviço de saúde pública nacional e com evidências de comprometimento às gerações futuras, pois na população adulta, a obesidade aumenta o risco de doença e morte1. A escolha do ambiente escolar para a promoção de hábitos saudáveis de vida também deve ser encorajada, por ser um local de intenso convívio social e propício para atividades educativas2.

Essas intervenções devem ser iniciadas o mais precocemente possível, já que na adolescência ocorrem mudanças importantes na personalidade do indivíduo e por isso é considerada uma fase favorável para a consolidação de hábitos que poderão trazer implicações diretas para a saúde na vida adulta, que por si só caracterizam um agravo social, além de relevante temática em Saúde Pública5.

No período da adolescência, além das transformações fisiológicas, o indivíduo sofre importantes mudanças psicossociais, o que contribui para a vulnerabilidade característica desse grupo populacional. Os adolescentes podem ser considerados um grupo de risco nutricional, devido à inadequação de sua dieta decorrente do aumento das necessidades energéticas e de nutrientes para atender à demanda do crescimento2.

Desta maneira, a obesidade infantil já pode ser considerada um problema de saúde pública que atinge precocemente crianças, tornando-se sério agravo para a saúde atual e futura dos indivíduos1. Prevenir a obesidade infantil significa diminuir de forma racional e menos onerosa a incidência de doenças crônico-degenerativas na vida adulta.

Há prevalência de excesso de peso em crianças de escolas particulares, independentemente da idade e do sexo1. Estudos de Neutzling et al.6 encontraram prevalência de obesidade de 10,6% entre as meninas e 4,8% entre os meninos. Já Terres et al.7 relatam a prevalência de 20,9% para sobrepeso e 5,0% para obesidade.

O estado nutricional do adolescente deve ser política de Estado e acompanhado por equipe multidisciplinar, haja vista que a presença de obesidade nesta faixa etária tem sido associada ao aparecimento precoce de hipertensão arterial, dislipidemias, aumento da ocorrência de diabetes tipo 2, distúrbios na esfera emocional, além de comprometer a postura e causar alterações no aparelho locomotor9,10. Os efeitos da obesidade em idade precoce poderão ser notados ainda em longo prazo, em adultos, por manifestações de doenças coronarianas naqueles indivíduos que foram obesos durante a infância e a adolescência11.

A obesidade com etiologia multifatorial guarda relação com as características presentes na gestação e no início da vida, como o peso pré-gestacional materno, o fumo durante a gestação e o estado nutricional na infância, associadas às mudanças no padrão de alimentação e de atividade física.

Já nos fatores ambientais associados ao sobrepeso e à obesidade em adolescentes, a alimentação constitui-se fator determinante direto do aumento de ambos. Entre os adolescentes, a alimentação inadequada, caracterizada pelo consumo excessivo de açúcares simples e gorduras, associada à ingestão insuficiente de frutas e hortaliças, contribui diretamente para o ganho de peso nesse grupo populacional12. Ainda, a obesidade é relacionada a não aceitação, baixa autoestima e percepção social do ser obeso, o que remete o indivíduo obeso a uma pessoa doente13.

Entretanto, a abordagem da obesidade, sobrepeso e desnutrição em populações especiais é quiescente em nosso meio. No artigo de Souza et al. (pág.11 a 20)14, há destaque para a classificação do grau de comprometimento motor e do índice de massa corpórea em crianças com paralisia cerebral. As crianças com paralisia cerebral possuem desordens de movimento e postura e estas condições podem contribuir para o comprometimento do estado nutricional. Foram realizadas medidas antropométricas e calculado o índice de massa corpórea. É importante considerar a obesidade como fator de risco a esta população já comprometida, e que fatores ambientais podem se sobrepor àqueles genéticos e piorar a evolução clínica dessas crianças.

A epidemia da obesidade observada em jovens sem deficiência, pode, também, ser uma preocupação para os jovens com deficiência intelectual e deficiência de desenvolvimento (IDD)15. Um terço dos estudantes do ensino fundamental americano entre nove e 12 anos apresentam obesidade15. A Deficiência Intelectual é um termo para descrever limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo que se originam antes de 18 anos de idade16.

Crianças autistas possuem de duas a três vezes mais chances de serem obesas do que os adolescentes na população em geral. Os agravos à saúde secundários às morbidades de base (tais como paralisia cerebral, autismo etc) foram mais frequentes em adolescentes obesos, em comparação a adolescentes saudáveis e com peso adequado. Também houve maior incidência de variação da pressão arterial (hipertensão), dislipidemia, hiperglicemia, depressão e alterações da autoestima17.

Desta maneira, percebe-se que a obesidade é tanto um problema de saúde em jovens com deficiência como naqueles sem deficiência e, em certos grupos de deficiência, constitui problema de saúde significativamente maior18. É necessária e premente a instalação de programas de atividade física voltados para aumentar a aptidão e os níveis de habilidade dos indivíduos com deficiência. A participação da família é fundamental para a obtenção do sucesso. A integração das condições ambientais são determinantes no sucesso das medidas implementadas. Cuidar dos jovens com e sem deficiência é contribuir para a melhoria do cenário de saúde pública atual e futuro, no tocante à redução do sobrepeso e obesidade.

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência para:
abreu.luizcarlos@gmail.com.

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