Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Barbaroi
versão impressa ISSN 0104-6578
Barbaroi no.32 Santa Cruz do Sul jun. 2010
Retratos do envolvimento paterno na atualidade
Portraits of the father's involvement nowadays
Greyce Rocha BeltrameI; Cristiane BottoliII
ICentro Universitário Franciscano - UNIFRA - Brasil
IICentro Universitário Franciscano - UNIFRA - Brasil
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo compreender como ocorre o envolvimento paterno na criação dos filhos, através da visão de quatro casais. A coleta dos dados se deu por meio de entrevista semiestruturada, realizada individualmente, a partir de fotos tiradas pelos próprios pais, que registraram o dia a dia da família. Os resultados deste estudo mostram que ser pai, na atualidade, na visão da mulher e do homem, afasta-se dos modelos tradicionais. O pouco tempo de lazer é uma das dificuldades encontradas pelo pai, que se mostra mais afetuoso com as crianças à medida que se permite ressignificar a sua relação com os filhos, encontrando-se em um momento de transição, exercendo antigos e novos papéis. Considerase que o pai busca através de seus próprios parâmetros, pautados em questões transgeracionais, construir uma relação baseada no desejo de realizar trocas afetivas com seus filhos, juntamente com o que a sociedade lhe exige.
Palavras-chave: Paternidade, relações familiares, atividades de lazer, psicologia, relação pais-filho.
ABSTRACT
The present research aims to understand how the father involvement occurs regarding the raising of their children, under the view of four couples. The data collect occurred through a semi-structured and individual interview, from the pictures taken by the parents themselves, who recorded the everyday life of their families. The results of this study show that being a father, nowadays, according to men and women, is different from the traditional model. The little time for leisure is one of the difficulties faced by the father, who is more affable with children and allows himself to re-signify their relation with them, being in a moment of transition, experiencing old and new roles. It is considered that the father tries, through his own parameters, guided by trans-generational questionings, to build a relation based on the desire to have affective exchanges with their children, following the demands of the society.
Keywords: paternity, family relations, leisure activities, psychology, parent-child relations.
Introdução
Nas últimas décadas, o papel do pai vem sofrendo transformações. Antes, ele era visto apenas como provedor financeiro da família. Atualmente, devido à introdução da mulher no mercado de trabalho, aos avanços tecnológicos na área de inseminação artificial, ao uso de métodos contraceptivos, o homem foi colocado em uma posição de escolha, de ser pai ou não. Consequentemente, essa posição o levou a assumir novos papéis no âmbito familiar.
As novas configurações familiares vêm mostrando, de acordo com Wagner (2002), a desintegração da família tradicional e a reorganização dos papéis sociais, tanto por parte do homem quanto da mulher. Isso vem atingindo, diretamente, os papéis de mãe e de pai dentro do contexto familiar. Assim, mesmo no interior de uma família nuclear, constituída de pai, mãe e filho(s), são observadas modificações no exercício da parentalidade, ou seja, do ser pai e do ser mãe, e são essas mudanças que, atualmente, estão sendo pesquisadas.
Novos casais, tais como: homossexuais, recasados, sem filhos, com filhos, promovem novas formas de construir a parentalidade. Daí, o exercício do ser pai e do ser mãe requer olhar sob uma nova ótica para a família contemporânea. A comunidade científica nacional vem mostrando interesse por pesquisar a paternidade contemporânea (SOUZA; BENETTI, 2009), principalmente a partir da década de 90, quando a desigualdade entre os gêneros ficou mais evidente perante a sociedade (UNBEHAUN, 2001).
Pesquisas identificam como os homens estão enfrentando a nova demanda de pai, que é mais envolvido afetivamente com seus filhos (DIEHL, 2002; GOMES; RESENDE, 2004). Se antigamente o exercício da paternidade requeria menor inserção na família nuclear, hoje a parentalidade e a conjugalidade são exercícios separados, inclusive juridicamente, pois pode ser exigido do pai o envolvimento na vida dos filhos, mesmo quando houver separação (GRZYBOWSKI, 2007).
A mulher e a sociedade, como um todo, exigem novas demandas do pai atual. Diante disso, a participação paterna provoca alguns questionamentos: ela representa, de fato, um comportamento que diz de um envolvimento efetivo, de interesse pessoal do pai da atualidade? E como isso se dá? Assim, já que muitas das pesquisas enfocam a importância da mulher e da mãe, tanto no modelo nuclear de família, como nas novas configurações familiares, o desenvolvimento desta pesquisa justifica-se pelo interesse em conhecer como o homem está se colocando diante de tantas modificações no âmbito familiar.
Levando-se em conta tais aspectos, este artigo tem como objetivo geral compreender como, na atualidade, se dá o envolvimento paterno na criação do filho. Os objetivos específicos são: identificar o envolvimento do pai em atividades diárias e de lazer do filho; analisar se há acordo entre o discurso paterno e o materno, em relação ao envolvimento do pai no dia a dia do filho; investigar as dificuldades encontradas pelos homens para o exercício da paternidade; conhecer os sentimentos dos homens referentes à paternidade e conhecer a visão que eles têm do ser pai e do seu próprio pai.
Que lugar o Pai ocupa na Família? Mas, de que Família se está falando?
Para entender a paternidade e as atividades que o pai exerce atualmente, é importante analisar seu papel em diferentes organizações familiares, pois o exercício da paternidade deve ser compreendido dentro de uma perspectiva histórica e cultural (DESSEN; LEWIS, 1998). As autoras Hennigen e Guareschi (2002) destacam que a paternidade deve ser vista como uma experiência humana e, como tal, inserida no contexto sociocultural de uma determinada época.
Diversos autores, como Ramires (1997) e Osório (2002), realizaram uma revisão de literatura sobre a constituição do patriarcado. Segundo eles, a inauguração da supremacia masculina se deu quando o homem invejou as capacidades femininas e começou a dominá-las. O patriarcado consolidou a formação da família monogâmica, na qual esposa tinha de ser virgem para se casar e dar ao homem a paternidade incontestada (RAMIRES, 1997; DIEHL, 2002). O casamento, segundo Osório (2002), ficava diretamente relacionado a interesses de propriedade, bens materiais e isso deu à relação conjugal e familiar um indicativo de exercício de poder.
A família moderna surgiu pela diminuição da vida pública e pelo progresso da vida privada. O século XVIII foi marcado por um espaço maior da família em detrimento da sociedade. A criança era um elemento indispensável no quotidiano da família nuclear burguesa (ARIÈS, 1981).
Fleck e Wagner (2003) trazem que o modelo brasileiro de classe média do século XIX e início do século XX caracterizou-se pela divisão de papéis: ao homem cabia a responsabilidade de prover financeiramente a família, e à mulher de cuidar do lar. Porém, essa estrutura familiar foi se modificando.
Fein (1978) apud Ramires (1997) e Dessen e Lewis (1998), dentro do contexto histórico e cultural, apresenta o papel do pai atual mediante três perspectivas distintas. Para o autor, o pai tradicional era caracterizado como alguém frio e distante, voltado para o mundo do trabalho, a autoridade do lar. O pai moderno é aquele preocupado com o desenvolvimento dos filhos, seja na construção de uma identidade de gênero, da moral, do desempenho escolar, entre outros. E o pai emergente é aquele que participa dos cuidados dos filhos, dividindo as tarefas igualmente, favorecendo o desenvolvimento da criança.
Dentro dessa última perspectiva, não há um modelo pronto para a construção dos papéis parentais, ou seja, da parentalidade. Houzel (2004) traz que o termo parentalidade, dentro das mudanças citadas acima, surge no sentido de que é preciso "tornar-se pais", ou seja, não basta ser genitor, tanto o pai quanto a mãe devem internalizar, tanto em nível consciente quanto inconsciente, seu funcionamento mental.
Para Petrini (2003), na sociedade contemporânea, apesar de a família ter passado por grandes mudanças ficando mais vulnerável à dissociação, ela, ainda assim, é um valor que a sociedade cultiva. De acordo com Roudinesco (2003) e Petrini (2003), as mudanças familiares, nos últimos tempos, transformaram o modo de compreender o amor e a sexualidade, a criação, a maternidade e a paternidade de tal forma que parecia que a família poderia desaparecer. No entanto, a família tende a se reorganizar, a ponto de permanecer sendo a estrutura básica social. As autoras Hennigen e Guareschi (2002) trazem que:
Neste contexto, para se almejar uma compreensão mais abrangente das posições de pai em nosso tempo, é fundamental buscar os significados que estão circulando, suas contradições, rupturas com antigas significações, relações com discursos de diferentes ordens, enfim, colocar a paternidade como uma questão cultural (p.63).
Maternidade e Paternidade: reconfigurando papéis
O exercício da paternidade sofre transformações na sociedade ocidental, que vão desde o modelo patriarcal até modelos mais variados de exercício paterno. Dessa forma, à medida que as transformações ocorrem na sociedade, o pai modifica seu papel (SOUZA; BENETTI, 2009).
No padrão tradicional de ordem burguesa, o casamento é de natureza indissolúvel, monogâmico e para fins de procriação. Nesse sentido, há uma clara divisão dos papéis de gênero que serve para sustentar, através do corpo social, as divisões rígidas nos papéis parentais, ou seja, na ordem familiar (ROUDINESCO, 2003; NEGREIRO; FÉRES-CARNEIRO, 2004).
Nessa demarcação da identidade masculina e feminina, cabe ao homem, figura destinada ao espaço público, o papel de provedor financeiro e protetor da família, sendo a figura de autoridade do lar. Já a mulher tem a função de preservar a sexualidade e exercer a maternidade, dedicando-se ao lar e aos filhos, voltando-se à esfera privada (COLLING, 2004; NEGREIRO; FÉRES-CARNEIRO, 2004).
Ao longo da história, o homem e a mulher sofrem uma diferenciação de papéis frente à sociedade. A entrada da mulher no mercado de trabalho possibilita a criação de novos arranjos familiares e, consequentemente, a reestruturação dos papéis parentais. (DIEHL, 2002; COLLING, 2004; GOMES; RESENDE, 2004). Nas décadas de 60 e 70, transformações importantes ocorrem no mundo, e o universo exclusivamente masculino é tomado, principalmente, pela entrada da mulher no mercado de trabalho (TEYKAL; ROCHACOUTINHO, 2007).
As novas relações de gênero implicam redefinições nas identidades individuais, conjugais e parentais, o que significa dizer que gênero, casamento, maternidade e paternidade, na atualidade, são questões cada vez mais complexas, à medida que não há mais padrões tradicionalmente instituídos e a experiência torna-se particularizada e múltipla (BRASILEIRO; JABLONSKI; FERES-CARNEIRO, 2002).
Há uma nova postura do homem, tanto com relação à mulher, como em relação a seus papéis, até então caracterizados como racional, individualista, provedor da família. Jablonski (1999) destaca que, na pós-modernidade, a relação de poder e de papéis se iguala entre homens e mulheres, e, inevitavelmente, essa questão se impõe aos homens: manter-se em um padrão de masculinidade já estabelecido, ou mudar e construir um novo lugar? Tal questão impera, principalmente, dentro dos lares, pois, se a mulher sai de casa para trabalhar, quem cuidará dos filhos?
Assim, refletir sobre o caráter histórico do sujeito é muito importante para que seja possível compreender, dentro de uma sociedade, as estruturas envolvidas. Pensar em lugares femininos e masculinos da cultura atual não está necessariamente ligado ao papel de mulher e homem. Na família contemporânea há uma maior possibilidade de mobilização de papéis (KEHL, 2001).
O pai da atualidade: ressignificando uma história
Para compreender a dinâmica de uma família é indispensável conhecer suas gerações anteriores, porque, em todas elas, há a transmissão de valores, crenças, mitos. Todo indivíduo tem uma história preexistente e, inevitavelmente, parte de sua identidade estará ligada a sua família (FALCKE; WAGNER, 2005). Ramires (1997) traz que realizar o exercício da paternidade requer que o homem resgate as vivências com seu pai.
Na pesquisa de Sutter e Bucher-Maluschke (2008), o envolvimento paterno encontra raízes em experiências anteriores, pois os participantes de sua pesquisa trazem a paternidade como algo desejado que é construído muito antes da vinda do filho. Em um dos resultados do estudo de Balancho (2004), o pai atual caracteriza o pai do passado, em 83,3% dos casos, como um pai que impõe a autoridade, mesmo ausente na vida do filho. Complementar a essas características aparecem outras duas, a distância emocional e a ação disciplinadora.
Lewis e Dessen (1999) acreditam na importância de compreender e estudar a forma como o casal conversa sobre a realização de tarefas dentro de casa e as formas como eles negociam os cuidados com as crianças, ou seja, com a interação marital. O envolvimento do pai na vida da criança está relacionado ao seu lugar dentro do sistema familiar e com a cultura na qual a família está inserida.
Jablonski (1998) refere que, devido às rápidas mudanças sociais e de mentalidade, como o casamento tardio, o aumento no número de divórcios, a urbanização, fazem que a sociedade atual tenha um pai que esteja mais presente na vida dos filhos; no entanto, o envolvimento efetivo, na prática, pouco se realiza. O autor não deixa de constatar que essas mudanças ainda são bastante incipientes.
Não há como negar que nas últimas décadas vêm ocorrendo mudanças nos papéis desempenhados pelos pais (BALANCHO, 2004). No estudo de Silva e Piccinini (2007) os pais demonstram estar satisfeitos com a paternidade, e acreditam ter desempenhando bem esse papel. No entanto, percebem conflito entre a paternidade ideal e a real. Nesse tocante, apresentam críticas quanto à sua participação no cotidiano da criança, que pode estar ocorrendo pela transição cultural sobre o próprio papel da paternidade, que não está pronto como antigamente.
Assim, a reflexão sobre o próprio pai e os modelos preexistentes de pai permitem ao pai contemporâneo realizar a construção da paternidade de maneira mais afetiva e íntima com seu filho e com sua família, o que não quer dizer ocupar o lugar da mãe, mas sim reencontrar como homem adulto a sua feminilidade através da sua teia familiar (GOMES; RESENDE, 2004).
Método
Para responder aos objetivos da pesquisa, utilizou-se a metodologia de cunho qualitativo. Este tipo de pesquisa investiga significados, motivos, crenças, valores, ou seja, o indivíduo é entendido como parte da realidade social (MINAYO, 2008). Trata-se de uma pesquisa de cunho exploratório, que busca se aproximar dos fenômenos e fatos para desenvolver, esclarecer e modificar as ideias estudadas e construir hipóteses (GIL, 2006).
A escolha dos participantes deste estudo se deu por critério de conveniência (GIL, 2006), a partir de indicações de pessoas que identificaram casais que atendem aos seguintes requisitos: residir em Santa Maria-RS; ter mais de 5 anos de união estável; ambos estarem inseridos no mercado de trabalho; de classe socioeconômica média e ter pelo menos um filho entre dois e sete anos.
Participaram deste estudo quatro casais, com união estável há pelo menos 10 anos. A identificação dos participantes será feita da seguinte forma: o Casal 1 com três filhos, onde M1 é a mãe de 41 anos, com ensino superior, e P1 é o pai de 45 anos, com ensino superior incompleto; o Casal 2, também tem três filhos, sendo M2 a mãe de 37 anos, que tem ensino superior, e P2 o pai de 44 anos, com ensino médio; o Casal 3, com dois filhos, onde M3 é a mãe, de 37 anos, e P3 é o pai de 38 anos, e os dois têm ensino superior; e o Casal 4, com dois filhos, sendo M4 a mãe, de 33 anos, e P4 o pai de 42 anos, ambos com ensino superior. Já a identificação das crianças será pela primeira letra de seus nomes.
O primeiro contato com os pais foi realizado por telefone, a fim de explicar os objetivos da pesquisa e garantir os direitos de sigilo e de opção em participar do estudo. Posteriormente, foi entregue aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e uma câmera fotográfica digital. A única instrução dada a eles era fotografar dez momentos do dia a dia da família num período de até quinze dias.
Loizos (2002) destaca que o uso de imagens possibilita um registro restrito, mas importante para análise de ações e acontecimentos reais. Nesta pesquisa, assim como no estudo de Maurente e Tittoni (2007), a fotografia tem sua legitimidade cientifica à medida que integra a possibilidade de produção de conhecimento à subjetividade dos participantes. Após os quinze dias, o casal entregou a câmera ao pesquisador, que revelou as fotos para serem utilizadas junto à entrevista semiestruturada. Como três dos quatro casais tiraram mais que dez fotos, foi solicitado que escolhessem as 10 de sua preferência, para a análise das mesmas durante a entrevista.
As entrevistas individuais ocorreram conforme a disponibilidade dos sujeitos. Duas delas foram realizadas com o pai primeiro e duas com a mãe. Todas foram gravadas em MP3, sem tempo estimado, para melhor fidedignidade das informações e fluência da comunicação.
Após a transcrição do material gravado, esse foi destruído e as fotos foram entregues aos participantes, a pedido dos mesmos. O conteúdo das entrevistas foi submetido à análise de conteúdo, que é um conjunto de técnicas que investiga, através da descrição objetiva, sistemática e qualitativa, o conteúdo comunicado (BARDIN, 1977).
A análise das entrevistas permitiu a construção de cinco categorias: "O ser pai na atualidade", na visão do casal; "Há tempo para exercer a paternidade?", que apresenta as dificuldades de manejar as exigências do trabalho no cuidado com as crianças; "Faço igual ou diferente do meu pai?", que aborda a questão da transgeracionalidade; "Necessidade e Desejo: Por que ser Pai é uma boa experiência", que se refere à própria experiência do ser pai; e "O Lazer com meus filhos, revelados através das Fotos", que traz o que apareceu em destaque nas fotos reveladas.
Discussão de Resultados
"O ser pai na atualidade"
Com o intuito de ampliar a compreensão sobre a paternidade, este estudo buscou enfocar a interação pai-criança, através da visão tanto do próprio pai, quanto da mãe, e, nesse sentido, pesquisar a tríade familiar. Frizzo et al. (2005) falam da importância de ampliar os estudos da díade mãe-criança ou pai-criança, para compreender alguns significados que são compartilhados mutuamente pelo casal, em relação aos papéis parentais.
À medida que se entende que a mãe é a responsável por introduzir o pai na relação com o bebê, (WINNICOTT, 2000) se busca investigar que sentido elas dão ao ser pai. Levando-se em conta o que trazem os autores Lewis e Dessen (1999), sobre o fato que a maioria das pesquisas coloca a mãe como figura central, como a principal informante do funcionamento das relações familiares, buscou-se compreender o papel do pai na visão do casal.
As mulheres entrevistadas evidenciaram a importância da presença dos pais. Para elas, "o pai tem que estar presente constantemente", "acompanhar o filho em todos os sentidos" e "participar ativamente na educação dos filhos", falas estas de M2, M3 e M4, respectivamente. No discurso das mães, não se encontraram papéis diferenciados entre elas e os homens. Em nenhum momento, o pai foi definido como responsável por prover financeiramente a família. A caracterização do ser pai, para as mulheres, deixou claro que, na revolução nas relações de gênero, a mulher, em seu discurso ao menos, desconstruiu os papéis tradicionais ligados ao masculino (BRASILEIRO; JABLONSKI; FÉRES-CARNEIRO, 2002). Essas falas vieram ao encontro dos discursos midiáticos que mostram relações igualitárias de poder entre o casal (HENNIGEN; GUARESCHI, 2002).
Acredita-se que a própria caracterização da amostra, constituída por casais de dupla renda, definiu um perfil de mulheres capazes de quebrar com estereotipias de gênero. Para Gomes e Resende (2004), nos casais de dupla renda a dinâmica familiar muda. Se o homem não participar da vida familiar sua função se restringe à reprodução. Assim, a maioria das mães permitiu-se fazer a distinção das concepções tradicionais de papel paterno ao trazer que pai, conforme M4, "Não é só nome". Nesse sentido, M2 corrobora ao falar, "antes o pai (...) não cuidava dos filhos". Assim, a nova mulher se opõe a modelos ultrapassados, busca parceiros que queiram dividir o amor e a educação dos filhos (MONTGOMERRY, 1998), e vê a paternidade social e biológica de maneira separada (ROUDINESCO, 2003).
Já as mães, em suas falas, referiram-se à importância da participação paterna, os homens trouxeram outras características para definir o que é ser pai. Para P1, "não tem como descrever o que é ser pai, acho que tu tem que viver isso no dia a dia", a experiência paterna diz respeito a algo construído. A parentalidade, de acordo com Grzybowski (2007), é algo complexo que ocorre independentemente da relação conjugal. Nesse mesmo sentido, Vasconcelos (1998) refere-se à experiência do ser pai como uma identidade a ser construída, a partir da troca com o filho. Ao encontro disso, dois dos pais evidenciaram uma mudança de pensamento com a paternidade, sendo que, para P4, ser pai, "(...) é deixar de ter objetivos só pra si (...) tu direciona mais a tua vida em função dos teus filhos", e, ainda conforme P1, "eu vivo para eles e eles são tudo para mim, deixo muitas vezes de ter as coisas para mim (...)".
Para Teykal e Rocha-Coutinho (2007), neste momento de transição, há, evidentemente, uma maior participação dos pais na esfera privada, embora ainda se misturem às antigas referências com novos modelos e cobranças sociais, permitindo assim novas concepções de paternidade. Um dos pais trouxe a questão da responsabilidade de ser pai e, como consequência, o comprometimento que tal função gerou.
Dessa forma, observou-se que ser pai exige entregar-se à relação. Isso esteve em destaque, já que, ao responder o que é ser pai, todos se remeteram, de alguma forma, às suas próprias experiências de paternidade. Apenas P3 trouxe um conceito mais tradicional de paternidade, segundo o qual ser pai é "um esteio para o futuro (...) pra procriação a minha família, porque eu vou morrer, porque todos morrem, né, e o que que eu quero, é passar a minha eternidade, o meu sangue para meus filhos".
Verificou-se a existência de mudanças nos papéis familiares, com intensidades diferentes nos núcleos familiares (WAGNER et al., 2005). Gomes e Resende (2004) referemse ao novo pai como aquele que, no momento de transformação, "transita entre valores novos e arcaicos" (p.120), de tal maneira que esses modelos coexistem (STAUDT, 2007). Por tal razão, a herança deixada para o homem atual é a mutação, pois não há mais nem um reconhecimento da virilidade masculina, nem um novo modelo através do qual este reconhece a si mesmo (BADINTER,1993).
Há tempo para exercer a paternidade?
Ao analisar o tempo que cada pai teve disponível com seu filho, a maioria deles falou das dificuldades em lidar com a questão. A demanda de trabalho é bastante intensa, conforme relatou P2: "eu trabalho de 10 a 12 horas por dia", outro diz, "Eu saio de casa muito cedo (...) cinco e meia, seis horas e nesse horário o P.(filho) está dormindo; eu volto bem à tardinha, então eu passo o dia inteiro longe dele".
Dos quatro pais entrevistados, três deles são autônomos, o que poderia dar a ideia de maior flexibilidade quando ao tempo em casa e no trabalho. Entretanto, constatou-se, conforme Mizrahi (2004), que nem sempre o tempo de trabalho flexível permite o melhor contato com a família. O fato de ser autônomo faz com que o sujeito fique no dilema de produzir ou atender ao filho. Isso porque ele mesmo é o responsável pela produção financeira de seu negócio.
Assim, a acessibilidade dos pais está diretamente relacionada à sua disponibilidade de tempo de lazer (SILVA; PICCININI, 2007). Uma das mães (M2) evidenciou isso ao referir que "eles brincam muito, quando ele tem tempo, quando o P2 tem final de semana (...) ou de noite, quando ele não está cansado, ele brinca". M1 também trouxe a questão do pouco tempo para o filho e relatou "tu não precisa ter 24 horas com o filho, mas que tu tenha uma ou duas, mas que valha pelas 24 h". Apesar de constatarem que o número de horas de trabalho profissional do pai altera o envolvimento paterno (LEWIS, DESSEN, 1999), em nenhum momento das falas, os pais ou as mães se referiram à necessidade de redução da carga horária de trabalho, mas sim a organização de seu tempo, para as atividades com a(s) criança(s).
Referente a isso, constatou-se que a maioria dos pais dedica um tempo de sua rotina para ficar com a(s) criança(s), conforme relataram: "Então quando eu chego em casa, tipo, sete horas (...) na hora que eu chego ele vem para casa, automaticamente ele vem, não precisa chamar, ai a gente começa a conversa" (P1). Já P2 disse: "eu fico menos tempo com eles, então de noite podem ficar duas, três horas, podem me incomodar um monte, mas eu não fico assim irritado com eles.". E, no caso de P4, ele organizou a sua rotina da seguinte forma: "Eu fico normalmente de manhã sempre com o G.(filho) ou com a J.(filha); eles revezam(...) de manhã o que tá na creche não almoça com a gente; hoje, por exemplo, a J. (filha) vai almoçar na creche". Percebeu-se que, apesar da carga horária de trabalho interferir na disponibilidade física e psicológica, tendo influências na interação do pai com a criança, eles também participam dos cuidados básicos dos filhos, assim como os pais da pesquisa de Silva e Piccinini (2007).
Apenas um dos pais apresentou maior dificuldade em organizar o tempo com seus filhos. Isso apareceu na fala da esposa M3, segundo a qual há dificuldade, porque "ele é autônomo, então ele pode dispor mais, mas muitas vezes ele fica com o compromisso dele e ele não distribuiu muito bem o tempo que ele poderia".
Para Mizrahi (2004), essa visão dos pais sobre o trabalho foi um ponto destacado em suas falas, tais como queixa e sobrecarga, elementos esses que interferem na relação com os filhos, embora muitas vezes essa questão seja colocada apenas no âmbito da escolha pessoal, como trouxe a mãe. Conforme a autora,
As pressões da vida laboral passam a ameaçar as próprias funções parentais tais como construídas na modernidade: não apenas em seus aspectos concretos, mas também nos ideais que pressupõem, não apenas entre classes desfavorecidas, mas também no seio da classe média (p. 58).
Esse mesmo pai apresentou a dificuldade em manusear o tempo que ele tinha no lar. "Eu queria ter mais tempo para eles, só que eu não consigo ter esse tempo ainda, mas eu to sempre tentando encaixar esse tempo (...) eu não sei se não é tarde demais né, mas eu quero ter mais tempo pra minha família", afirmou (P3). Pode-se pensar, a partir da fala acima, que não foi somente o tempo (horário) de trabalho que interferiu na relação pai-filho. P3 ao falar sobre sua profissão diz "A minha atividade é assim, ó, ela mudou muito de uns anos para cá (...) com a situação econômica que enfrenta o país, com a questão das secas (...) então, com essa situação, eu achei melhor parar de plantar, e aí voltei para a parte da pecuária". As questões de trabalho são abordadas no estudo de Cia e Barham (2006), a respeito das influências das condições de trabalho, no envolvimento do pai com os filhos, esse estudo mostrou que, mais do que as condições de trabalho, a satisfação em relação às atividades pessoais está diretamente relacionada ao desempenho no papel familiar.
Além disso, os demais pais também tinham seu horário de trabalho bastante elevado. Um deles, trabalhador no turno noturno, disse: "Aí eu chego 7, 8 horas da manhã, aí tem vezes que eu chego em casa e vamos andar de bicicleta e aí eu já voltava fazia um chimarrão(...) eu já emendei, mas é bom, é diferente, eu gosto de no verão fazer essas coisas diferentes" (P4). Já, o pai, que atualmente passa por uma transição profissional, considera que "ela mudou muito de uns anos para cá" (P3), e, isso é somado à dificuldade de organizar o seu tempo com a família.
Observou-se também que, quando o casal trabalha fora, embora o trabalho doméstico fique predominantemente com a mulher, o homem também assume as tarefas do lar. Se comparados aos casais onde só um deles trabalha fora, de maneira voluntária ou não, o pai realiza atividades domésticas quando a mulher também está inserida no mercado de trabalho (LEWIS; DESSEN, 1999). No caso do casal que não tem empregada doméstica em casa, isso ficou bem evidente. Pois, de acordo com P1, "a vida é mais agitada, é mais corrida, hoje é pouco todo tempo que você tem e ainda fica faltando para terminar (...). Por isso que eu digo (...) você tem que participar em tudo, o cara não pode ter vergonha de estender uma roupa íntima da mulher".
Por outro lado, para outros casais, o serviço doméstico é tarefa da diarista (empregada doméstica) e, ainda, no caso de dois casais, se as mães realizarem tais tarefas é por capricho, conforme retratou P3: "Mas como eu sei que tem uma funcionária na segunda-feira, eu deleto, eu não vô me envolver, qué limpá, limpe, porque a senhora que fica sábado ela já deixa limpa a casa, então alguma sujeirinha, seria o quê, capricho, né?". Dessa forma, a dinâmica familiar e a disponibilidade de tempo do casal irão interferir na forma como o pai maneja as demandas profissionais e familiares.
Faço igual ou diferente de meu pai?
A partir da questão que diz respeito à relação do pai com seus pais, vislumbrou-se uma possibilidade de compreensão dessa relação, agora ressignificada, com seus próprios filhos. Nesse sentido, Hurstel (1999, p.83) acredita que o "'tornar-se pai' é fazer surgir seu próprio pai, as relações com a mãe de sua infância e a função paterna, tal como seu próprio pai - ou um substituto - a exercia". Dessa forma, conhecer o envolvimento paterno atual requer remeter às questões da geração anterior.
De maneira geral, os pais reconhecem características de certo distanciamento afetivo de seus pais em relação a eles próprios. P1 evidenciou: "meu pai que nunca participou de nada, bem pelo contrário, tu tentava chegar perto do meu pai e ele te afastava mais ainda". P2 corrobora ao falar que "era bastante distante assim, não existia uma conversa, uma explicação até as mudanças nas fases da vida (...) era aquele estilo antigo que os pais não tinham muito contato com os filhos". P3 assim descreveu o pai: "Ele era uma pessoa séria, séria, mas muito boa para mim"; e P4 relatou que "naquele momento que os pais davam atenção e brincavam, mas tudo no seu horário, e criança tinha que brincá com criança".
Observou-se, nas falas acima, o que também foi destacado no estudo de Gomes e Resende (2004), quando os pais descreveram o pai de antigamente como autoritário e de grande poder hierárquico, de relacionamento frio com os filhos. E, neste sentido, Balancho (2004) diz que o pai atual caracteriza o pai antigo como uma pessoa autoritária, ausente na vida dos filhos e com característica de fazer valer a autoridade de chefe de família.
Trindade, Andrade e Souza (1997) mostram que há diferença nas representações sociais entre pais de diferentes gerações, tendo o grupo de pais da década de 80, principalmente aqueles com ensino superior, demonstrado aspectos mais afetivos nas relações com seus filhos, em comparação aos pais da década de 60, que evidenciavam mais seu papel de provedores. Observou-se, assim, que mudanças estão ocorrendo com o passar das gerações. Nas falas de três pais participantes deste estudo, identificou-se que, na relação com os filhos, eles buscaram fazer diferente do que seus pais fizeram, na questão afetiva. Isso foi dito, explicitamente, na fala de P1: "eu pensei assim, ó: o dia que tiver a minha família, que tiver os meus filhos eu vou fazer diferente, mas não precisou eu fazer força para esse tipo de coisa acontecer".
Assim, foi possível perceber que o homem atual consegue reinventar seu papel e construir a subjetividade de pai, transformando-se a partir de valores novos e antigos (GOMES; RESENDE, 2004), tal como destacaram os autores. Além disso, P1 destacou: "uma coisa que eu procuro hoje inverter, sabe, fazer bem diferente" e P2 completou: "aquela parte de carinho, a gente não tinha muito, então além do que ele transmitiu a mim eu procurei agregar tudo o que eu não tinha dele e gostaria de ter tido". Tais relatos reforçaram a ideia de que o pai da atualidade não quer, na maioria das vezes, repetir as atitudes do pai de antigamente, embora essa não seja uma tarefa fácil (STAUD, 2007), já que esta atitude exige dele responder a demandas que não lhe indicam um caminho certo (POLITY; SETTON; COLOMBO, 2004).
Na maioria dos casos, os pais destacaram a necessidade de estarem mais próximos, afetivamente, de seus filhos, como contou P4, "meu pai não dizia eu te amo, que é o melhor amigo e isso aí eu faço. Eu passo para o G. (filho) essa relação de não ter vergonha de dizer eu te amo, aquela coisa toda". O que ficou em destaque nas falas dos pais é que esses sujeitos que reconhecem o que é transmitido transgeracionalmente, e, graças a isso, poderão seguir caminhos diferentes em sua vida, modificar comportamentos até então esperados e, a partir de reflexões sobre sua própria história familiar, construir sua individualidade (FALCKE; WAGNER, 2005).
Conforme postulou Balancho (2004), o que também apareceu nos relatos dos participantes deste estudo, os pais atuais se veem como compreensivos/dialogantes, como presentes na vida dos filhos, capazes de partilhar o poder conquistado, como pessoas descontraídas e lúdicas.
No entanto, para os pais, são as características aprendidas com seus próprios pais, que eles buscam transmitir a seus filhos, as quais estão bastante ligadas à construção do caráter e da educação. Isso foi evidenciado no que disse P2, "A parte que eu mais aplico que veio dele é (...) que tem que ser uma pessoa correta, benquista, pessoa de bom relacionamento (...) então eu já to para mostrar que a mentira é um defeito", e também no comentário de P4: "Eu acho que filho não pode levantar a voz para os pais. Isso é uma coisa que eu recebi e passo para eles." Tais posicionamentos corroboram com Gomes e Resende (2004), que destacam que o pai contemporâneo é visto como um sujeito que se faz presente no contexto familiar e que, para descobrir tal papel, precisa se redefinir e repensar modelos em torno da paternidade. Isso também vem ao encontro do que Hennigen e Guareschi (2002) reiteram, sobre o pai contemporâneo:
[...] ao contrário de sustentar novas polaridades, devemos considerar as construções identitárias contemporâneas como marcadas pela composição, flexibilidade, mutabilidade e, sim, pelo que pode afigurar-se como contraditório à primeira vista. Assim, para buscar uma compreensão que contemple a diversidade, é fundamental questionar as formas, significados e abrangência desta participação (p.62).
Diante disso, não se deve criar uma nova dicotomia. Mesmo sabendo que, antigamente, no que diz respeito às funções parentais, os polos eram mulher, no espaço privado versus homem no público, busca-se atualmente criar outra, a do pai tradicional versus o pai participativo, na qual, segundo Hennigen e Guareschi (2002, p.62), é considerada, "hierarquizada, restrita e artificial". O pai contemporâneo, na verdade, não está em um extremo, nem em outro, e sim, se encontra num momento de transição (HURSTEL, 1999).
Necessidade e Desejo: por que ser Pai é uma boa experiência.
Outro questionamento que percorreu esta pesquisa foi se esse "novo pai" está guiando seus comportamentos pela necessidade ou pelo desejo de participação na vida dos filhos. Vale destacar que tal questão se apresenta em muitos estudos sobre o exercício paterno atual (BALANCHO, 2004).
No discurso dos pais, a participação paterna apareceu em um nível de necessidade. Conforme P1, "então a gente tinha a necessidade de quem chegasse primeiro começasse a fazer alguma coisa, interagir junto". Para P3, "o V. (filho) eu trocava bastante, porque a M3 trabalhava de noite, aí eu precisava né, aí eu trocava mais, aí com o G. (filho), aí eu já fiquei meio malandro, passei mais para a M3."
Na verdade, nas quatro entrevistas, os pais relataram que participavam mais nas atividades, principalmente dos cuidados primários das crianças, quando as mulheres tinham menos disponibilidade para realizá-las. Isso foi reforçado no relato de P4, sobre o período de licença maternidade, "aí eu deixei mais com ela, me omiti mais nessa parte quando ela tava em casa, mas depois que ela começou a trabalhar não tinha como fugi, aí eu comecei a fazer sem problema nenhum também".
Verificou-se, então, que essas falas vão ao encontro do que alguns autores também dizem, a respeito dos casais que trabalham fora. Para Lewis e Dessen (1999), o homem é levado a realizar tarefas do lar quando a mãe trabalha e as modificações não estão ocorrendo, na prática, tão rapidamente quando a cultura vem mostrando (JABLONSKI, 1998). Pode-se pensar tal questão sob o prisma de Barsted (1998, p.68) "[...] a entrada das mulheres no mundo público, em particular no mundo do trabalho, não significou sua liberação das tarefas familiares e nem, tampouco, a entrada dos homens na execução dessas mesmas tarefas". Há, para além disso, uma pressão social para que o homem participe mais do âmbito privado (TRINDADE; ANDRADE; SOUZA, 1997; TEYKAL; ROCHA-COUTINHO, 2007).
Entretanto, três, dos quatro pais, demonstraram vivenciar, efetivamente, a paternidade, e descreveram com afetividade a relação com os filhos (WAGNER, 2002). Ao tratar da experiência como pai, P1 disse que, "eles têm orgulho de serem meus filhos, tem pessoas que dizem, ah! tu é filho do P1? E eles respondem com orgulho que sim"; P2 demonstrou a sua satisfação ao dizer que, em meio ao cansaço do dia a dia, os filhos "sugam no bom sentido, eu chego em casa eles querem isso, querem aquilo, me agarram, me abraçam (...) então isso torna uma experiência boa de pai, essa ligação, essa emotividade, eu vejo que eu faço falta para eles". Assim, os pais conseguiram construir uma relação de reciprocidade com os filhos e um exercício paterno pautado no desejo (RAMIRES, 1997; BARSTED, 1998).
Além disso, eles parecem enxergar a relação no sentido troca, assim como P4 relatou: "eu gostei muito da experiência de ser pai, mudou bastante a minha vida, a maneira de viver, de pensar e agir, então eu acho que é compartilhar, é dar muito mais do que receber e dar sem esperar nada em troca". Nesse sentido, Ramires (1997) refere-se ao novo pai como um indivíduo que manifesta a necessidade e o desejo de envolver-se com os filhos, e coloca tal função como prioridade, em comparação às outras questões da vida. Dessa forma, tanto necessidade quanto desejo são experiências que fazem parte do exercício da paternidade e que vem ao encontro do momento atual, em que há necessidade de enxergar um pai multifacetado com antigos e novos padrões (BADINTER,1993; STAUDT, 2007).
O lazer com meus filhos revelados através das fotos
A utilização da câmera fotográfica como instrumento de pesquisa teve a finalidade de aproximar a família do estudo e o pesquisador do dia a dia da família. Acredita-se que este objetivo foi atingido, à medida que os casais tiraram um número de fotos bem maior do que foi pedido no contato inicial. Eles fotografaram momentos importantes e íntimos da família, tais como refeições, festas de aniversários e o dia dos pais. Essa prática, de entregar uma câmera fotográfica aos sujeitos da pesquisa, vem se tornando uma técnica bastante utilizada, de acordo com Maurente e Titooni (2007), pois este instrumento corrobora com um ideário da modernidade, sendo esta uma maneira de conhecer o olhar do homem sobre nosso campo de trabalho, permitindo observar e dissecar a realidade pesquisada. Dessa forma, o objetivo de entregar uma câmera fotográfica ao casal possibilitou uma aproximação com a realidade dos mesmos.
Nas fotos em que havia pai e filhos (as), eles apareceram, predominantemente, em momentos de lazer com as crianças. Nesse caso, dois deles descreveram de maneira detalhada as atividades que estavam realizando com as crianças, no momento das fotos. P1 explicou, "ele grita da sala, pai me procura, (...) coloca o cobertor por cima e está escondido e na cabeçinha dele lá ele está escondido e eu não vou achar ele, eu tenho que fazer quinhentas voltas para achar ele (...) acho que respira bem baixinho para eu não achar ele"; P2 também descreveu essa mesma brincadeira com os filhos, e relatou, "quando eu chego em casa, eu assobio lá na porta e eles sabem que eu to chegando (...) daí eles saem correndo os três para se esconder, daí eu tenho que demorar uns 10 minutos procurando eles, tem que passar por cima deles e fingi que não vi".
Apesar de as mães explicitarem o fato de os pais estarem presentes em qualquer atividade referente aos cuidados primários com os filhos, tanto nas falas quanto nas fotos o pai está mais presente nas atividades lúdicas. A esse respeito, as pesquisas trazem que as atividades maternas estão mais ligadas aos cuidados diretos e acompanhamento do cotidiano (WAGNER et al., 2005; GOETZ; VIEIRA, 2009), ficando o pai como aquele que brinca mais, e, conforme Badinter (1993), suas brincadeiras são mais intensas e excitantes do que as das mães. Evidenciou-se, assim, que os pais estão mais envolvidos em atividades de recreação do que voltados aos cuidados primários, ficando esses direcionados às mães. Pode-se, então, pensar que as tarefas domésticas e os cuidados primários com as crianças ainda ferem as questões de masculinidade (STAUT, 2007).
A utilização das fotos não veio, pois, no sentido de averiguar fatos, mas de possibilitar que, no momento da entrevista, a conversa sobre as fotos auxiliasse na hora de relembrar aos participantes sobre seu dia a dia. Para tanto, ao olhar para uma das fotos, P3 relatou "a gente brinca muito pouco, a gente fica mais olhando televisão". Também, ao olhar para a foto dele com as crianças, deitados na cama, P4 contou, "Eu sô o contador oficial da história do G.(filho) (...) ele sempre pede para eu cantar o hino do inter baixinho para ele dormi, é uma coisa que eu confesso, sempre cantei o hino do inter para ele dormi".
Dessa forma, corrobora-se com Maurente e Titooni (2007) que apostam nas fotografias como formas de linguagem, como possibilidade de documentar a percepção do participante. Para os autores, o ato de fotografar, por si mesmo, leva o autor das fotos a refletir sobre sua produção, assim como ocorreu neste estudo, ficando claro que a produção de saberes ocorreu de maneira conjunta.
Considerações finais
A presente pesquisa conseguiu responder aos objetivos propostos, sendo possível, através dela, conhecer mais sobre o envolvimento paterno na atualidade. Ao trabalhar um tema tão amplo, percebeu-se que diversos aspectos puderam, de maneira geral, ser abordados, desde as dificuldades encontradas pelo pai, no exercício da paternidade, como o pouco tempo disponível para os filhos, até as atividades diárias e lúdicas, descritas, de modo bastante particular, nos relatos de participação do dia a dia da criança.
Acredita-se que essas e outras questões foram trabalhadas de maneira descritiva e profunda. Entrar no cotidiano de uma família, tarefa tão almejada pelo pesquisador, não era algo fácil, daí a importância da câmera fotográfica como instrumento de pesquisa, apesar do temor de que as fotos saíssem em poses, em passeios e em finais de semana, parecendo artificiais. No entanto, as fotos dos quatro casais, posteriormente reveladas, contemplaram momentos bem íntimos e descontraídos da família, possibilitando considerar que o objetivo do uso desse instrumento, juntamente com a entrevista semiestruturada foi alcançado.
Ao abordar a paternidade, com os homens, a questão referente ao próprio pai apareceu de maneira bem relevante. E esse foi um ponto importante, à medida que as pesquisas mostram o pai atual na busca de parâmetros na relação com a criança. Nesse sentido, a referência que apareceu nas falas, para o exercício da paternidade, foi a relação com seu próprio pai. Os pais participantes buscaram, na relação com seus pais, a ressignificação do que fazem, especialmente no que diz respeito aos aspectos afetivos e reafirmaram questões educativas que lhes foram transmitidas. Isso evidenciou, pois, a importância de realizar estudos referentes à transgeracionalidade na paternidade, apesar de a maioria dos participantes buscar fazer diferente na relação com seus filhos. Na verdade, as peculiaridades dessas diferenças estão associadas à maneira como cada um significou o distanciamento do genitor.
Estudar e refletir sobre a paternidade na atualidade exigiu do pesquisador olhar para o singular. Ou seja, para cada sociedade, família, casal e indivíduo há crenças, valores e afetos que fazem da relação pai-filho algo único. O pai da atualidade não se presta a copiar padrões antigos, nem mesmo quer ocupar o lugar materno. Ele busca, através de seus próprios parâmetros, pautados em questões transgeracionais, construir uma relação pautada no desejo de realizar trocas afetivas com seus filhos, juntamente com o que a sociedade lhe exige. Por essa razão este estudo não se propôs a generalizar o comportamento dos pais, e sim respeitar as particularidades de cada um dos pais e mães desta pesquisa.
Referências
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Traduzido por Dora Flaksman. Rio de Janeiro: LTC, 1981. [ Links ]
BADINTER, E. XY: sobre a identidade masculina. Traduzido por Maria Ignez Duque Estrada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. [ Links ]
BALANCHO, L. Ser pai: Transformações intergeracionais na paternidade. Análise Psicológica. Lisboa, v.22, n.2, p.377-386, 2004. [ Links ]
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Traduzido por Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977. [ Links ]
BARSTED. L.L. Contribuições do Feminino para o Exercício da Paternidade. In: SILVEIRA, P. (org.). Exercício da Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p.65-73. [ Links ]
BRASILEIRO, R. F.; JABLONSKI, B.; FERES-CARNEIRO, T. Papéis de gênero, transição para a paternidade e a questão da tradicionalização. PSICO. Porto Alegre, v.33, n.2, p.289-310, jul./dez. 2002. [ Links ]
CIA, F.; BARHAM, E.J. Influências das condições de trabalho do pai sobre o relacionamento pai-filho. Revista Psico-USF. Itatiba, São Paulo, v.11, n.2, p.257-264. jun./dez. 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141382712006000200014&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 15 ago. 2009.
COLLING, A. A construção histórica do feminino e do masculino. In: STREY, M.; CABEDA, S.; PREHN, D. (Orgs.). Gênero e Cultura: Questões Contemporâneas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004, p.13-38. [ Links ]
DESSEN, M. A.; LEWIS, C. COMO ESTUDAR A "FAMÍLIA" E O "PAI"? Revista Cadernos de Psicologia e Educação Paidéia. Riberão Preto, v.8, p.105-121, fev./ago. 1998. [ Links ]
DIEHL, A. O homem e a nova mulher: novos padrões sexuais de conjugalidade. In. WAGNER, A. (org.). Família em Cena: tramas, dramas e transformações. Rio de Janeiro: Vozes. 2002, p.135-158. [ Links ]
FALCKE, D.; WAGNER, A. A dinâmica familiar e o fenômeno da transgeracionalidade: definição de conceitos. In: WAGNER, A. (Coord.). Como se perpetua a FAMÍLIA? A transmissão dos modelos familiares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, p.25-46. [ Links ]
FLECK, A. C.; WAGNER, A. A mulher como a principal provedora do sustento econômico familiar. Psicologia em Estudo. Maringá, v.8, n.spe, p.31-38, 2003. [ Links ]
FRIZZO, G.B. et al. O conceito de coparentalidade e suas implicações para a pesquisa e para a clínica. Revista Brasileira de Desenvolvimento Humano. São Paulo, v.15, n.3, p.84-94, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822005000300010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 13 jun. 2009.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2006. [ Links ]
GOETZ, E. R.; VIEIRA, M. L. Percepções dos filhos sobre aspectos reais e ideias do cuidado parental. Estudos de Psicologia. Campinas, v.26, n.2, abr./jun. 2009. [ Links ]
GOMES, A. J. S.; RESENDE, V. R. O Pai Presente: O Desvelar da Paternidade em Uma Família Contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.20, n.2, p.119-125, maio/ago. 2004. [ Links ]
GRZYBOWSKI, L. S. Parentalidade em tempo de mudanças: Desvelando o Envolvimento Parental após o fim do casamento. 2007. Tese de Doutorado em Psicologia, Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. [ Links ]
HENNIGEN, I.; GUARESCHI, N. M. F. A paternidade na contemporaneidade: um estudo de mídia sob a perspectiva dos estudos culturais. Revista Psicologia & Sociedade. Belo Horizonte, v.14, n.1, p.44-68, jan./jun. 2002. [ Links ]
HOUZEL, D. As implicações da parentalidade. In: SILVA, M. C. P; PONTON, L. S. (Orgs.). Ser Pai, Ser Mãe: Parentalidade: um desafio para o terceiro milênio. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p.47-51. [ Links ]
HURSTEL, F. As novas fronteiras da paternidade. Traduzido por Emma Elisa Carneiro de Castro. Campinas: Papirus, 1999. [ Links ]
JABLONSKI, B. Identidade masculina e o exercício da paternidade: de onde viemos e para onde vamos. In: FERES-CARNEIRO, T. (Org.). Casal e Família: Entre a tradição e a transformação. Rio de Janeiro: NAU, 1999, p.55-69. [ Links ]
JABLONSKI, B. Paternidade Hoje: Uma Meta-análise (O que dizem as últimas pesquisas). In: SILVEIRA, P. (Org.). Exercício da Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p. 21-129. [ Links ]
KEHL, M. R. LUGARES DO FEMININO E DO MASCULINO NA FAMÍLIA. In: COMPARATO, M. C. M; MONTEIRO, D. S. (Orgs.). A Criança na Contemporaneidade e a Psicanálise: Família e Sociedade: Diálogos Interdisciplinares. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001, p.29-38. [ Links ]
LEWIS, C.; DESSEN, M. A. O Pai no Contexto Familiar. Psicologia Teoria e Pesquisa. Brasília, v.15, n. 1, p.9-16, jan./abr. 1999. [ Links ]
LOIZOS, P. Vídeo, Filme e Fotografias como documentos de Pesquisa. In: BAUER, M.; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um manual prático. Traduzido por Pedrinho Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. [ Links ]
MAURENTE, V.; TITOONI, J. Imagens como estratégia metodológica em pesquisa: a fotocomposição e outros caminhos possíveis. Revista Psicologia & Sociedade. Porto Alegre, v.19, n.3, p.33-38, 2007. [ Links ]
MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. [ Links ]
MIZRAHI, B.G. A Relação Pais e Filhos Hoje: A Parentalidade e as Transformações no Mundo do Trabalho. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2004. [ Links ]
MONTGOMERRY. M. Breves Comentários. In: SILVEIRA, P. (org.). Exercício da Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p.113-118. [ Links ]
NEGREIROS, T. C. G. M.; FERES-CARNEIRO, T. Masculino e Feminino na família contemporânea. Estudos e Pesquisa em Psicologia. Rio de Janeiro, v.4, n.1, p.34-47, jun. 2004. [ Links ]
OSÓRIO, L. C. Casais e famílias: uma visão contemporânea. Porto Alegre, Artmed, 2002. [ Links ]
PETRINI, J. C. Pós-modernidade e Família: um itinerário de compreensão. Bauru, SP: EDUSC, 2003. [ Links ]
POLITY, E.; SETTON, M. Z.; COLOMBO, S. F. Ainda existe a cadeira do papai?: conversando sobre o lugar do pai na atualidade. São Paulo: Vetor, 2004. [ Links ]
RAMIRES, V. R. O exercício da Paternidade Hoje. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997. [ Links ]
ROUDINESCO, E. A Família em Desordem. Traduzido por André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. [ Links ]
SILVA, M. R.; PICCININI, C. A. Sentimentos sobre a paternidade e o envolvimento paterno: um estudo qualitativo. Estudos de Psicologia. Campinas, v.24, n.4, p.561-573, out./dez., 2007. [ Links ]
SOUZA, C. L. C.; BENETTI, S. P. C. Paternidade contemporânea: levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia. Riberão Preto, v.19, n.42, p.97-106, jan./abr. 2009. [ Links ]
STAUDT, A. C. P. Novos tempos, Novos Pais? O ser pai na contemporaneidade. 2007. Dissertação não publicada - Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade, Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. [ Links ]
SUTTER, C.; BUCHER-MALUSCHKE, J. S. N. F. Pais que cuidam dos filhos: a vivência masculina na paternidade participativa. PSICO. Porto Alegre, v.39, n.1. p.74-82. jan./mar. 2008. [ Links ]
TEYKAL, C. M.; ROCHA-COUTINHO M. L. O homem atual e a inserção da mulher no mercado de trabalho. PSICO. Porto Alegre, v.38, n.3, p.262-268, set./dez. 2007. [ Links ]
TRINDADE, Z. A.; ANDRADE, C. A.; SOUZA J. Q. Papéis Parentais e Representações da Paternidade: a Perspectiva do Pai. PSICO. Porto Alegre, v.28, n.1, p.207-222, jan./jun. 1997. [ Links ]
UNBERHAUN, S. Paternidade e masculinidade em contextos diversos. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v.9, n.2, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2001000200023&script=sci_arttext>. Acesso em 15 set. 2009.
VASCONCELOS, V. M. R. Desenvolvimento Humano, Psicologia e Cultura. In: SILVEIRA, P. (Org.). Exercício da Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p.41-45. [ Links ]
WAGNER, A. et al. Compartilhar tarefas? Papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, v.21, n.2, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010237722005000200008&script=sci_arttext>. Acesso em 2 maio 2009.
WAGNER, A. Possibilidades e Potencialidades da Família: a construção de novos arranjos a partir do recasamento. In: WAGNER, A. (Org.). Família em cena: tramas, dramas e transformações. Petrópolis: Vozes, 2002, p.23-38. [ Links ]
WINNICOTT, D.W. Da pediatria à psicanálise: obras escolhidas. Traduzido por Davy Bogomoletz. Rio de Janeiro: Imago, 2000. [ Links ]
Data de recebimento: 19/05/2010
Data de aceite: 23/07/2010
Sobre as autoras: Greyce Rocha Beltrame é Psicóloga graduada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA).
Cristiane Bottoli é Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Especialista em Desenvolvimento Infantil (UNISC) e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSM.