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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.55 no.4 São Paulo out./dez. 2021

 

EDITORIAL

 

Supervisão

 

 

Claudio Castelo Filho

Editor - São Paulo / claudiocasteloeditor@rbp.org.br

 

 

Antes de entrar propriamente no tema deste editorial, gostaria mais uma vez de incentivar nossos experientes colegas de todo o Brasil a nos encaminharem seus trabalhos. Temos recebido, na sua grande maioria, artigos das federadas mais antigas, situadas entre São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e poucos artigos vindos de outras regiões. O mesmo ocorre com aqueles que provêm de meios acadêmicos e não associados à Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi).

Também gostaria de enfatizar os critérios de avaliação da rbp. Os trabalhos precisam obedecer, imprescindivelmente, às normas que estão publicadas no site www.rbp.org.br, quanto a número de caracteres, resumos, palavras-chave etc. Para ser aceito neste periódico de grande prestígio, não basta ser um trabalho correto e suficientemente bem escrito. Um dos critérios decisivos é que ele tenha relevância e originalidade. O conhecimento de autores clássicos não basta. É prioridade que o autor traga uma contribuição original, que abra novas trilhas de pensamento ou questionamentos dentro de nosso campo.

Com frequência aparecem artigos que são boas aulas ou conferências, mas que não trazem algo novo ou relevante, e por isso, apesar de bem escritos, acabam não sendo publicados, por carecerem de algo pessoal e original do autor, em sua clínica ou em sua proposta teórica, e também por não estarem formatados como artigos científicos. Outras vezes, deparamos com trabalhos que teriam um razoável potencial, porém a forma como são apresentados deixa a desejar, com imprecisão tanto na escrita quanto na articulação de ideias, as quais poderiam ser estimulantes se não fossem mal desenvolvidas e não lhes faltasse clareza. Outro problema que surge amiúde é o da confidencialidade do material clínico. Não é possível publicar trabalhos que ameacem a confidencialidade dos pacientes por não terem sofrido as distorções ou omissões necessárias, condição sine qua non para esse fim.

Os trabalhos não aceitos são devolvidos com comentários anônimos dos pareceristas sobre os pontos críticos, que requerem revisão, maior aprofundamento e reformulação para que sejam inteligíveis e estimulantes para o leitor. Nem sempre as sugestões são bem recebidas pelos autores, mas a rbp necessita manter seus critérios de avaliação científica - similares aos utilizados por periódicos científicos internacionais significativos, como o International Journal of Psychoanalysis - para assegurar o alto nível de qualificação e prestígio.

Os artigos recebidos pela rbp que estejam dentro das normas são encaminhados de forma completamente anônima - com exceção da região ou da federada de origem, informação que somente a editoria conhece para fins de direcionamento do artigo - para pareceristas que não pertençam ao mesmo grupo ou federada do autor, mas que tenham afinidade teórica com ele. A comissão de avaliação, o editor e a editora associada recebem os pareceres, que são cotejados e sintetizados para encaminhamento do trabalho. Se houver grande discrepância entre os pareceristas, outros são chamados para que haja outras opiniões, que desempatem o impasse. O editor só toma conhecimento da autoria ao final de todo o processo, quando as cartas de aceitação, aceitação com modificações e recusa já estão prontas para ser encaminhadas.

Para o número atual, recebemos muitas contribuições, e foi muito estimulante ler a maioria delas. Vários, porém, não puderam ser aproveitados. Além dos critérios já mencionados, pesaram de maneira decisiva o critério de relevância e contribuição original e as notas atribuídas pelos pareceristas.

O número inicia-se por uma entrevista com Ignácio Paim Filho, que trata da mais que atual questão do racismo e suas consequências, tanto sociais quanto na formação psicanalítica. Focaliza-se a trajetória pessoal do entrevistado e sua experiência na Sociedade da qual faz parte.

Além de uma contribuição valiosa, fora do tema, intitulada "Melancolia e luto na infância e na adolescência: algumas reflexões sobre o papel do objeto interno", da autora Anne Alvarez, que dispensa apresentações, recebemos contribuições de diversos outros autores estrangeiros, caso de Angelika Staehle, Gisela Grünewald-Zemsch, Alain Vanier e Raul Moncayo, que trouxeram textos estimulantes sobre a história da supervisão, os diferentes modelos existentes, a evolução e as controvérsias ocorridas em seus países e nas formações da Associação Psicanalítica Internacional (IPA).

Os artigos internacionais têm um aspecto histórico e técnico mais definido, enquanto os brasileiros se caracterizam por um testemunho das experiências pessoais, tanto pelo ângulo do supervisor quanto pelo ângulo do supervisionando, sem deixar de considerar os aspectos históricos e técnicos, que ficam como "baixo contínuo" para a melodia da experiência subjetiva, frequentemente tocante, que se desenvolve a partir dele.

O interessantíssimo e testemunhal artigo de Jansy Berndt de Souza Mello foi publicado originalmente em 1997, no caderno do simpósio comemorativo dos 100 anos de nascimento de W. R. Bion, promovido pela Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). Nele, a autora narra sua experiência como acompanhante e tradutora de inúmeras supervisões de Bion no Brasil. Fala de suas impressões subjetivas do contato muito próximo que manteve com ele enquanto exercia essa atividade. Dada a sua relevância, consideramos conveniente resgatar esse artigo e republicá-lo neste momento.

Os artigos temáticos brasileiros estão muito bem representados por Elizabeth Lima da Rocha Barros, Marlene Rozenberg, Augusta Gerchmann e Paula Daudt Sarmento Leite, Flávio José Gosling e, finalmente, Candice Pasqualin de Campos, Fernanda Crestana e Luciane Falcão.

Entre os artigos não temáticos, publicamos os trabalhos de Luiz Alberto de Souza Junior e Juliano Moreira Lagoas, Marcos de Jesus Oliveira e Ane Marlise Port Rodrigues, que foram selecionados na editoria de Marina Massi, mas que por falta de espaço nas edições anteriores só puderam ser publicados agora.

O artigo de Vera L. C. Lamanno-Adamo foi recebido na atual gestão.

Nós do corpo editorial aprendemos muitíssimo com o que nos chegou para este número dedicado à supervisão, processo que é um dos pilares da formação de psicanalistas, mas que raramente está na ribalta para ser pensado.

Tenho certeza de que a leitura do que se segue há de enriquecer muito e fomentar a curiosidade de todos.

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