Psicologia Escolar e Educacional
ISSN 1413-8557
Psicol. esc. educ. v.13 n.1 Campinas jun. 2009
HISTÓRIA
Psicologia Escolar e Educacional: compromissos com a educação brasileira
Educational and School Psychology: commitments with Brazilian education
Albertina Mitjáns Martinez
Faculdade de Educação, Universidade de Brasília
Constitui um verdadeiro desafio analisar as diferentes possibilidades por meio das quais uma ciência particular ou um grêmio profissional podem expressar compromissos com uma realidade social. No caso da Psicologia Escolar e Educacional e dos psicólogos que trabalham nos contextos educativos, seu compromisso com a educação brasileira pode evidenciar-se de diferentes formas, porém dados os limites de este espaço, me centrarei no aspecto que considero central: o compromisso dos psicólogos com a transformação dos processos educativos, com a efetivação das mudanças necessárias que demanda a melhoria da qualidade da educação no país.
Em relação à forma em que tenho formulado o que considero ser o compromisso essencial dos psicólogos com a educação brasileira, parece-me importante esclarecer dois aspectos: por uma parte a ênfase nos psicólogos mais do que na Psicologia e por outra os diferentes níveis nos quais os psicólogos podem contribuir à melhoria da qualidade da educação brasileira.
Já em um trabalho anterior (Mitjáns Martínez, 2003a) salientava a importância de discutir a noção de compromisso social devido a que o significado que atribuímos a essa noção e o sentido que tem para cada um dos que fazemos psicologia torna-se altamente diferenciado em função de nossa formação , nossa ideologia , nossos contextos de constituição e de atuação e de outros muitos fatores.
Compromisso social, da mesma forma do que acontece com os conceitos de ética e cidadania constitui um desses conceitos que com freqüência de tanto ser utilizados com acepções e sentidos diferentes correm o risco de representar palavras “vazias” cujo real alcance quando utilizadas escapa à nossa compreensão. Às vezes incluso formam parte de uma espécie de modismo que as coloca como parte de um discurso politicamente correto porém que pouco tem a ver com as práticas sociais reais de quem as utiliza.
Nesse trabalho também analisava quem o sujeito do compromisso social: o compromisso social é da psicologia? Ou é dos psicólogos? É o corpus articulado de conhecimentos representado pela psicologia como ciência particular quem se compromete socialmente ou são os psicólogos, ou seja, os produtores desses conhecimentos, e os que os utilizam nas suas práticas profissionais específicas?
Chamava, na época, a uma discussão dessas questões e personalizava o compromisso social nos psicólogos na sua condição de sujeitos por considerar que são os indivíduos com sua ação, seja no fazer ciência, seja na utilização dela nos diversos contextos nos quais trabalha, os que efetivamente expressam de uma ou outra forma (ou não!!), seu compromisso com a transformação da realidade social. Considero que personalizar o compromisso nos indivíduos resulta também importante porque contribui para a necessária reflexão individual do que profissionalmente se faz e com que objetivo se faz, elemento importante na produção de novos sentidos subjetivos3 mobilizadores da própria ação. Assim os psicólogos que atuam no campo da educação na sua condição de sujeitos revelam-se, a meu modo de ver, como o elemento central na análise do compromisso da psicologia com a educação brasileira.
Outro aspecto que merece ser esclarecido é ao que estou me referindo quando defendo que as transformações dos processos educativos e as necessárias mudanças que demanda a educação brasileira constituem o compromisso essencial dos psicólogos com a educação. Uma afirmação de tal abrangência pode ser interpretada como uma meta sumamente pretensiosa, até mesmo inalcançável e conseqüentemente desmobilizadora. Muito mais se levando em conta que nos processos educacionais e nas suas necessárias transformações intervem múltiplos fatores - econômicos, políticos, ideológicos, culturais, históricos - e não apenas fatores de ordem técnica ou científica. E considerando, além do anterior, que na educação, como prática social, participam uma ampla gama de profissionais, entre os quais os psicólogos constituem apenas uma pequena parte.
No entanto, o que desejo enfatizar quando defendo o compromisso dos psicólogos com as mudanças que a educação brasileira demanda como sendo seu compromisso essencial é sua participação consciente, ativa e compromissada na promoção e efetivação de transformações nos lugares onde exerce sua ação científicoprofissional e no marco de abrangência desta. Também incluo sua participação consciente, ativa e criativa nas formas em que se organizam ou poder-se-iam organizar para potenciar sua ação. Assim, tanto a participação ativa na formulação e discussão de políticas publicas, como tem sido promovida pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais de Psicologia, quanto o trabalho que promove uma significativa melhoria da qualidade do trabalho docenteeducativo em uma escola concreta, constituem expressões do compromisso com as mudanças almejadas.
Hoje os psicólogos escolares e educacionais trabalham em múltiplos espaços educativos nos quais realizam diversas e importantes tarefas: casas abrigos, programas de educação comunitária, penitenciárias, meios de difusão massiva, universidades coorporativas, entre outros. No entanto, sua contribuição às mudanças requeridas na educação brasileira, se dá essencialmente, no seu trabalho compromissado no sistema educativo, o qual constitui o eixo central da estruturação da educação como prática social no país e um dos principais lócus onde os sérios problemas da educação brasileira são gerados.
A relevância que lhe confiro ao trabalho dos psicólogos escolares ou educacionais no sistema educativo (sem desmerecer, naturalmente, o trabalho dos psicólogos em outros contextos) se expressa na minha própria conceitualização da Psicologia Escolar, a qual considero como:
Um campo de atuação do psicólogo (e eventualmente de produção científica) caracterizado pela utilização da Psicologia no contexto escolar, com o objetivo de contribuir para otimizar o processo educativo, entendido este como complexo processo de transmissão cultural e de espaço de desenvolvimento da subjetividade (Mitjáns Martínez, 2003b, p.107).
A especificidade do que denomino Psicologia Escolar em relação a outras áreas ou ramos da psicologia, tal como estão constituídas hoje, está dada pela conjunção de dois elementos. Em primeiro lugar, pelo seu objetivo sendo esse a contribuição para a otimização dos processos educativos que acontecem no contexto escolar entendidos estes processos de forma amplia e também complexa devido aos múltiplos fatores que neles intervém (não apenas aqueles de ordem pedagógica, mas também da ordem subjetiva, relacional e organizacional). E, em segundo lugar, pelo locus de atuação constituído pelas diferentes instâncias do sistema educativo, em especial a instituição escolar.
Tanto os psicólogos que trabalham em instituições do sistema educativo nos seus diferentes níveis e modalidades - desde a educação infantil até as crescentes formas de educação a distância - quanto aqueles que ocupam posições de gerencia, formação e assessoria técnica nas diferentes instâncias em que o sistema educativo se organiza - desde secretarias municipais até os órgãos do Ministério de Educação & podem expressar seu compromisso com as necessárias transformações da educação brasileira a partir de um trabalho criativo e inovador direcionado a promover, desde o lugar que ocupam, formas de trabalho que contribuam para processos educativos realmente sólidos e eficazes. Isto implica, inevitavelmente, a revisão e o aprimoramento constante das práticas científico-profissionais a adoção de posturas proativas e criativas.
A MUDANÇA NAS PRÁTICAS TRADICIONAIS E A EMERGÊNCIA DE NOVAS PRÁTICAS CIENTÍFICO - PROFISSIONAIS: CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA EXERCER O COMPROMISSO COM A TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO.
Enfatizo que o compromisso dos psicólogos com as necessárias transformações da educação passa necessariamente pela reflexão aprofundada sobre a própria prática científico - profissional e pela continua transformação desta visando sua atualização e adequação às demandas que a concretização de processos educativos mais sólidos e efetivos lhe impõem.
No país se apreciam mudanças graduais na atuação dos psicólogos vinculados ao sistema educativo as que têm sido influídas pelo debate crítico iniciado na década de oitenta em relação às formas de atuação orientadas por um modelo clinico - terapêutico que não corresponde às demandas que a realidade social coloca à Psicologia, assim como pela crescente sensibilização dos psicólogos com as transformações sociais que o país demanda. Essas mudanças junto à análise de seus determinantes têm sido objeto de diferentes estudos e pesquisas entre os que se destacam os trabalhos de Cruces & Maluff (2007), Maluff (1994, 2003), Meira (2002) e Souza (2007).
Especificamente nas instituições educativas, se evidenciam graduais mudanças nas formas de atuação “tradicionais” dos psicólogos, ou seja, naquelas formas de atuação que já tem uma história relativamente consolidada no país. Por outra parte, têm-se desenvolvido nos últimos anos novas formas de atuação profissional que podem ser denominadas como “emergentes” por apresentar uma configuração relativamente recente e estar ainda pouco difundidas.
Mesmo que as formas de atuação “emergentes” são mais abrangentes e complexas do que as tradicionais e nesse sentido, potencialmente mais efetivas para promover transformações nos processos educativos, consideramos que todas as formas de atuação do psicólogo no contexto escolar a que faremos referência a seguir, se desenvolvidas com criatividade e qualidade, podem ter, de algum modo, impactos reais na melhoria da qualidade dos processos educativos da escola.
Formas de atuação “tradicionais”
As formas de atuação que categorizo neste grupo estão principalmente associadas à dimensão psicoeducativa do contexto escolar, dimensão essa que tem sido o principal objeto de atenção do trabalho na escola e na qual se centra a atenção de todos os seus atores, entre eles, os psicólogos. Elas estão definidas, em grande parte, pelos problemas concretos que, em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem dos alunos, tem que ser enfrentados e resolvidos no cotidiano, e para os quais o trabalho do psicólogo se configura como uma resposta.
1. Avaliação, diagnóstico, atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades escolares.
A concepção de avaliação e diagnóstico das dificuldades escolares tem ido gradualmente variando. Da consideração da avaliação e do diagnóstico como um momento específico, realizado à margem da situação real onde as dificuldades escolares se expressam, centrado no aluno e feito por um profissional isolado a partir, fundamentalmente, de testes de forte conotação quantitativa ou clínica vem se transformando para uma concepção na qual a avaliação e o diagnóstico configuram como processos nos que se consideram os espaços sócio-relacionais onde as dificuldades escolares se expressam, no marco de um trabalho em equipe no qual o professor tem um importante papel.
A utilização de diversos instrumentos de investigação, como a observação dos alunos em situações de atividade escolar cotidiana, as conversações com eles e com aqueles com quem eles interagem, assim como, a utilização de jogos e situações diversas para a compreensão das causas que originam as dificuldades, tem contribuído para superar o caráter rotulador do diagnóstico, que em nada ajuda a delinear as estratégias de ação psicopedagógicas necessárias para a superação das dificuldades detectadas.
O caráter qualitativo, processual, comunicativo e construtivo do diagnóstico e da avaliação das dificuldades escolares vai superando, não sem dificuldades, o diagnóstico rotulador e estático que caracterizou o diagnóstico das dificuldades escolares durante muitos anos.
Salientamos a importância do trabalho do psicólogo direcionado à compreensão da gênese das dificuldades escolares, elemento essencial para o delineamento das estratégias educativas e cujo acompanhamento, em parceria com o professor e com outros profissionais necessários, constitui a via para a superação dos problemas detectados.
A tarefa de encaminhamento dos alunos para outros profissionais especializados fora da instituição escolar deve ser realizada pelo psicólogo em casos excepcionais, nos quais esgotados todos os esforços junto à equipe da escola, sua complexidade e especificidade assim o demandem. A prática de encaminhar as crianças para outros profissionais, sem uma situação excepcional que a justifique, tem sido evidenciada em muitos casos como extremamente nociva, já que o próprio aluno e a família incorporam a crença da existência de sérias dificuldades na criança, o que contribui para gerar sentidos subjetivos que “reforçam” a dificuldade inicial e que podem inclusive criar dificuldades adicionais.
2. Orientação a alunos e pais.
O trabalho de orientação aos alunos e pais em relação às dificuldades escolares e a outros assuntos de interesse para o desenvolvimento do aluno tem constituído uma das atuações tradicionais do psicólogo que vai ampliando seu foco visando a promoção do desenvolvimento nos alunos de recursos psicológicos importantes em correspondência com os objetivos da educação integral que a escola propõe.
Um olhar atento ao desenvolvimento integral dos alunos permite ao psicólogo estruturar um trabalho de orientação a alunos e pais, seja de forma individualizada, seja de forma grupal, que contribua ao desenvolvimento almejado. A coordenação de grupos de orientação a pais, em função de suas demandas no que diz respeito aos aspectos psicológicos do desenvolvimento e da educação dos filhos, tem constituído uma das vias mais significativas do trabalho do psicólogo neste sentido mais amplo.
3. Orientação profissional.
Da tradicional orientação profissional baseada na utilização de testes para caracterizar habilidades e interesses dos alunos e assim em função dos resultados, analisar quais as melhores opções de cursos ou de atividades, a orientação profissional vem se tornando cada vez mais, um espaço promotor de auto-conhecimento, de reflexão e de elaboração de planos e projetos profissionais.
Na concepção mais ampla de orientação para o trabalho, a orientação não se reduz ao momento da “escolha profissional”, mas constitui um processo anterior e posterior a esse momento, direcionado ao desenvolvimento de recursos psicológicos importantes tanto para a escolha do percurso profissional a ser seguido, quanto para a inserção no mundo do trabalho.
Entre eles destacamos, por exemplo, a criatividade, a capacidade de reflexão própria, a capacidade de valorar diferentes alternativas e de tomar decisões. Os trabalhos de orientação individual ou grupal nessa direção constituem uma das contribuições do psicólogo ao cumprimento dos objetivos da instituição escolar.
4. Orientação sexual.
A orientação sexual também constitui uma forma específica da função de orientação na qual tem se produzido mudanças. Nesse sentido, da ênfase dada à informação sobre a sexualidade humana, dos sentimentos afetivos nela envolvidos e dos cuidados que devem ser considerados, se passa, com justeza, a dar ênfase na contribuição ao desenvolvimento dos recursos subjetivos favorecedores de um comportamento sexual responsável e positivamente significativo para os envolvidos.
A orientação em relação ao sentido atribuído à sexualidade, à responsabilidade para com o outro, às duvidas e inquietações sobre desejos e afetos, assim como, a contribuição para o desenvolvimento do autoconhecimento, a auto-reflexão, a capacidade de antecipar consequências e a tomada de decisões éticas, se constituem em um objeto significativo do trabalho do psicólogo escolar tanto na sua expressão individual quanto grupal.
5. Formação e orientação de professores.
A orientação aos professores em relação ao trabalho para superar dificuldades escolares de seus alunos tem sido uma das formas nas quais o psicólogo também tem contribuído para o processo educativo. Na aprendizagem, como uma função do sujeito que aprende, participa, junto com importantes fatores contextuais e sócio-relacionais, a configuração subjetiva do aluno em toda sua complexidade e não apenas como uma dimensão “cognitiva”.
Isto supõe a necessidade de considerar a complexidade constitutiva da subjetividade no trabalho para a superação das dificuldades, uma vez que muitas dificuldades escolares se alastram e se cristalizam precisamente pela falta de estratégias de atuação que tenham em conta a multiplicidade de elementos que nela participam.
A orientação aos professores, assim como, a contribuição para sua formação no que diz respeito à complexidade, especificidade e singularidade dos processos subjetivos implicados na aprendizagem e no desenvolvimento nas suas mais variadas formas de expressão, torna-se uma importante contribuição do psicólogo na instituição escolar.
6. Elaboração e coordenação de projetos educativos específicos (em relação, por exemplo, à violência, ao uso de drogas, à gravidez precoce, ao preconceito, entre outros).
Referimo-nos aqui às estratégias de intervenção cuja complexidade e abrangência implicam a estruturação de vários tipos de ações na qual participam, de forma coordenada, outros profissionais da escola. Na maioria das vezes, esses projetos surgem como resposta aos problemas concretos que se expressam na escola ou na comunidade onde a instituição está inserida.
Porém, cada vez com maior frequência, aparecem definidas não apenas pela situação concreta da instituição escolar, mas também pelos objetivos delineados na proposta pedagógica e pelas prioridades definidas para o trabalho educativo, assumindo assim uma natureza essencialmente preventiva. Sabe-se que, para contribuir no sentido de mudanças reais nas formas nas quais os indivíduos pensam, sentem e atuam se requer estratégias educativas sistêmicas e permanentes em correspondência tanto com a complexidade da subjetividade humana, quanto com a complexidade de seus processos de mudança, por essas razões o trabalho do psicólogo nesta direção tem particular relevância.
Formas de atuação “emergentes”.
Estas “novas” formas de atuação têm adquirido visibilidade nos últimos anos e estão associadas a uma concepção muito mais ampla e abrangente do trabalho do psicólogo na escola que inclui sua dimensão psicossocial. Na maioria delas, a posição ativa e criativa do psicólogo é essencial já que dificilmente estas formas de atuação lhe são colocadas como demandas explícitas. No entanto no exercício destas atividades se concentra grande parte do potencial transformador da ação do psicólogo para mudanças significativas nos espaços educativos concretos.
1. Diagnóstico, análise e intervenção a nível institucional especialmente no que diz respeito à subjetividade social da escola visando delinear estratégias de trabalho favorecedoras das mudanças necessárias para a otimização do processo educativo.
A caracterização e o funcionamento da escola como instituição, bem como, o impacto desta nos processos de ensino-aprendizagem que nela se desenvolvem e no cumprimento da sua função educativa em um sentido mais geral, tem sido temas relativamente pouco abordados pela Psicologia Escolar a qual, como já dito, tem focalizado muito mais a dimensão psicoeducativa do que propriamente a dimensão psicossocial da escola.
Porém, na medida em que se reconhece que os indivíduos se constituem e, simultaneamente, são constituidores dos contextos sociais nos quais estão inseridos, os aspectos organizacionais da escola como instituição, em especial, sua subjetividade social4 adquirem especial importância. Esses constituem aspectos relevantes para compreendermos os processos relacionais que na escola ocorrem e que participam dos modos nos quais os profissionais e alunos sentem , pensam e atuam nesse espaço.
Por sua vez, a ação dos sujeitos nesse espaço social contribui para a configuração subjetiva que este assume, estabelecendo-se uma relação recursiva entre subjetividades individuais e subjetividade social. Os sistemas de relações que se dão entre os membros da instituição, os estilos de gestão, os valores, as normas, e o clima emocional, constituem apenas alguns exemplos de importantes fatores que influem, direta ou indiretamente, não apenas os modos de agir dos integrantes do coletivo escolar, mas também, os seus estados emocionais, a sua satisfação com a instituição e o seu compromisso e motivação com as atividades que realizam.
Enxergar a escola não apenas como um lugar onde uns ensinam e outros aprendem, mas como um espaço social sui generis no qual as pessoas convivem e atuam, implica reconhecer a importância da sua dimensão psicossocial assim como, o papel do trabalho do psicólogo escolar nesta importante dimensão.
A partir de um sensível processo de diagnóstico e análise das necessidades institucionais o psicólogo pode sugerir, delinear e coordenar estratégias de intervenção direcionadas a potencializar o trabalho em equipe, mudar representações cristalizadas e inadequadas sobre o processo educativo, desenvolver habilidades comunicativas, mediar conflitos, incentivar a criatividade e a inovação, melhorar a qualidade de vida no trabalho e outras tantas ações, como contribuição significativa ao aprimoramento do funcionamento organizacional.
Poder perceber a escola simultaneamente, na sua dimensão psicoeducativa e psicossocial, permite ao psicólogo o delineamento de estratégias de trabalho que, a partir da articulação das duas dimensões, resultem mais efetivas para a otimização dos processos educativos que nela ocorrem.
2. Participação na construção, acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica da escola.
Apesar de se estabelecer como uma importante exigência para o funcionamento escolar, a proposta pedagógica, em muitas escolas, não tem sido ainda produto de um trabalho coletivo dos integrantes da instituição, nem funciona como um referente real que dá coerência necessária ao trabalho educativo que nela se realiza. Em muitas instituições escolares constitui um documento formal que pouco se relaciona com a realidade da vida escolar.
Tendo em conta que a proposta pedagógica não é apenas o documento escrito, mas sim a intencionalidade educativa que se expressa de forma viva no conteúdo e na forma que assumem as ações educativas que caracterizam o trabalho da escola em seu conjunto, se faz evidente a importância de um conjunto de fatores para os quais, por sua natureza, o psicólogo pode contribuir significativamente. Entre eles podemos salientar o trabalho coletivo, a reflexão conjunta, os processos de comunicação, a negociação de interesses e de pontos de vistas diferentes assim como os processos de mudança, criatividade e inovação.
O psicólogo escolar pode atuar de múltiplas formas visando que a proposta pedagógica constitua-se efetivamente como um instrumento útil para a organização coerente do trabalho educativo. Seu trabalho pode ser especialmente importante na integração e na coesão da equipe escolar; na coordenação do trabalho em grupo; na mudança de representações, de crenças e mitos, na definição coletiva de funções e, ainda no processo de negociação e resolução de conflitos, os quais são frequentes em qualquer tipo de trabalho coletivo que implique no encontro de pontos de vistas diferentes.
Particular importância tem também o trabalho que o psicólogo pode realizar na geração de ideias e na solução criativa de problemas utilizando técnicas específicas.
3. Participação no processo de seleção dos membros da equipe pedagógica e no processo de avaliação dos resultados do trabalho.
Fundamentalmente no ensino particular se dá cada vez mais atenção à qualidade dos processos de recrutamento e seleção dos membros da equipe pedagógica com o objetivo de escolher os candidatos que melhor possam desenvolver um trabalho potencialmente efetivo. O psicólogo participa, junto a outros membros da equipe de direção pedagógica, na fundamentação e no delineamento geral do sistema de seleção levando em consideração a preparação e as características requeridas para o exercício de cada uma das funções a serem realizadas, em correspondência com a proposta pedagógica da escola e seus objetivos institucionais mais gerais.
O psicólogo também participa na elaboração dos instrumentos que integram o sistema de seleção (instrumentos escritos, vivenciais, de execução, etc) como também atua no processo de avaliação dos candidatos a partir dos indicadores que vão sendo gerados pelas informações proporcionadas por cada um dos instrumentos.
O processo de autoavaliação e avaliação individual e coletiva dos resultados do trabalho educativo realizado, ainda não faz parte essencial da cultura escolar. O psicólogo pode contribuir no delineamento de sistemas e estratégias de avaliação que, simultaneamente com seu objetivo de evidenciar os pontos fortes e fracos do trabalho realizado visando seu aprimoramento, possa também, se constituir em um processo construtivo de desenvolvimento para todos os envolvidos.
O processo de resignificação da avaliação do trabalho que, possui uma conotação negativa por razões muito diversas, dentre as quais se destaca o significado negativo com o qual os processos de avaliação em geral aparecem na representação social dominante, emerge como um importante desafio para o trabalho do psicólogo. A esse último corresponde delinear estratégias e ações tanto individuais quanto coletivas que possam contribuir para vencer resistências, assim como, para superar os obstáculos que impedem a utilização deste importante instrumento de trabalho no contexto escolar.
4. Contribuição para a coesão da equipe de direção pedagógica e para sua formação técnica.
Existe hoje uma ampla produção científica que baliza a importância e a necessidade do trabalho em equipe para se atingir os objetivos organizacionais sendo que a instituição escolar, como um tipo específico de organização, não escapa a esta regra. Na instituição escolar, o trabalho em equipe torna-se particularmente relevante já que devido à complexidade dos processos educativos que constituem seu foco, demandam-se ações coerentes e sistêmicas da equipe escolar para cuja realização, a unidade de ação da equipe de direção pedagógica resulta essencial.
Sobre as diferenças entre grupo de trabalho e equipe de trabalho, assim como, sobre os fatores que podem contribuir ao necessário processo de trânsito da condição de grupo à condição de equipe também existe uma extensa produção científica. O desenvolvimento de equipes se caracteriza como uma importante área de trabalho para diversos especialistas que trabalham nas organizações, especialmente para os psicólogos.
A necessidade de o grupo de direção técnica da escola se constituir em uma verdadeira equipe de trabalho está justificada não apenas pelo seu papel no complexo processo de implementação e acompanhamento da proposta pedagógica, mas também pelo seu papel estimulador e mobilizador de todos os atores sociais da escola na consecução dos principais objetivos institucionais.
O trabalho do psicólogo escolar pode ser muito útil na utilização de estratégias e técnicas para o desenvolvimento de equipes de trabalho, começando pela equipe de direção e atingindo todos os outros coletivos possíveis.
Igualmente, cabe ao psicólogo contribuir para a formação técnica da equipe de direção não somente em temas da psicologia que possam ser importantes para o trabalho educativo e de direção que a equipe tem que gerenciar, mas principalmente no desenvolvimento de habilidades e competências relevantes para o trabalho de direção pedagógica.
5. Coordenação de disciplinas e de oficinas direcionadas ao desenvolvimento integral dos alunos.
Com maior frequência começam a ser incluídos nas propostas pedagógicas das escolas espaços curriculares não-tradicionais. Alguns destes componentes curriculares em forma de disciplinas, projetos de trabalho, oficinas ou outras, abordam temas de conteúdo propriamente psicológico como: autoconhecimento, desenvolvimento de habilidades interpessoais, desenvolvimento da criatividade, valores, elaboração de planos e projetos futuros e muitos outros.
As experiências do psicólogo em condição de “professor” ou de coordenador de disciplinas, oficinas e projetos dessa natureza, se evidenciam como positivas.
Uma das preocupações que tem surgido perante este tipo de atuação, quando realizada de forma simultânea com outras funções próprias do psicólogo dentro de um mesmo ambiente escolar, tem sido a de que a condição de “professor”, segundo o poder simbólico que esta figura apresenta, possa então limitar outras funções, que, na representação social estão associadas ao psicólogo como profissional, tais como confidente, mediador de conflitos, etc.
Mesmo significando uma preocupação legítima, pela importância das representações sociais nas formas de pensar e de agir dos indivíduos que delas participam, tal prática, até onde temos podido conhecer, mostra que este perigo potencial não se concretiza se, o psicólogo com profissionalismo, é capaz de delinear e articular adequadamente ações que na realidade não são antagônicas. Inclusive, constatamos em escolas nas quais temos trabalhado, que a participação do psicólogo no desenvolvimento de atividades curriculares, longe de afetar a realização de outras tarefas, potencializa-as.
Psicólogos bem preparados e com sucesso na sua atividade docente ganham prestígio diante do coletivo de professores, ampliam as oportunidades para conhecer mais profundamente os alunos e adquirem uma melhor compreensão da complexidade dos processos de ensinoaprendizagem e de muitas das dificuldades que têm que ser enfrentadas e resolvidas no dia a dia da vida escolar, elementos esses muito importantes para o aprimoramento de seu trabalho profissional.
6. Contribuir para a caracterização da população estudantil com o objetivo de subsidiar o ensino personalizado.
Conhecer o aluno em aspectos essenciais que possam ajudar a compreender seus processos e condições de aprendizagem e desenvolvimento visando delinear ações educativas que tentem contemplá-las na medida do possível, constitui atualmente uma exigência dos processos educativos que reconhecem o aluno na sua condição de sujeito singular. Reconhecimento esse que implica em ações educativas diferenciadas em função das suas características, nível de desenvolvimento e sistemas relacionais e contextos sociais nos quais participa.
Junto com o professor e o orientador educacional, atores chaves neste processo, o psicólogo contribui especialmente no delineamento e realização de ações que permitam a caracterização daqueles aspectos da subjetividade individual que possam estar marcadamente vinculados, em cada caso, aos processos de aprendizagem e desenvolvimento.
Sua contribuição é igualmente importante na caracterização das turmas, pela significação desta para à compreensão dos sistemas de relações e da subjetividade social que as caracterizam, elementos que participam no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos que as integram.
7. Realização de pesquisas diversas com o objetivo de aprimorar o processo educativo.
Pesquisar, como forma de melhor compreender os mais variados processos e situações que acontecem no contexto escolar com o objetivo de tomar as decisões mais acertadas para o aprimoramento do processo educativo constitui uma atividade que deve formar parte consubstancial do trabalho da escola. Infelizmente, um conjunto de fatores como a tradicional separação entre pesquisa e trabalho profissional, a representação social da pesquisa como atividade essencialmente acadêmica e a dinâmica complexa do cotidiano considerando as difíceis condições em que se desenvolve o trabalho, tem dificultado a constituição de uma cultura da pesquisa na instituição escolar.
No entanto, reconhece-se que a complexidade do processo educativo, e especialmente, a complexa teia de elementos que dele participam, exige cada vez mais um olhar atento para a atividade escolar e as decisões que sobre ela devem ser tomadas. Nesse sentido, a pesquisa se revela como um instrumento útil que pode e deve ser parte do trabalho profissional dos diferentes atores da escola, e dentre eles também dos próprios psicólogos.
Em função das particularidades e necessidades da instituição e com profundo sentido ético, o psicólogo, em articulação com outros profissionais da escola, pode realizar pesquisas com alunos, professores, pais e membros da comunidade sobre questões que, por sua importância, contribuam com informações relevantes para a otimização do processo educativo entendido no seu sentido mais amplo, assim como para aprimorar o funcionamento organizacional e promover o bem-estar emocional e o desenvolvimento daqueles que participam do espaço social da escola.
Pesquisas sobre questões diversas como, por exemplo, satisfação com aspectos concretos da vida escolar, concepções, expectativas, motivações, representações, estilos de aprendizagem, barreiras à criatividade, para mencionar algumas, têm se mostrado úteis para o aprimoramento do trabalho pedagógico na escola.
8. Facilitar de forma crítica, reflexiva e criativa a implementação das políticas públicas.
O reconhecimento de que a efetivação de qualquer mudança ou inovação idealizada fora do contexto escolar passa necessariamente pela forma como os atores da escola assumem-na, tem sido evidenciado na produção científica sobre inovação educativa. No entanto, na tentativa de implantar as políticas públicas esse aspecto tem sido pouco considerado e tem se constituído como um dos múltiplos fatores que explicam a distância que muitas vezes se observa entre o que é concebido na política e sua real expressão no contexto escolar.
A pesar dos esforços dos Conselhos de Psicologia na participação na formulação e discussão de políticas públicas e do trabalho técnico realizado por psicólogos vinculados às diferentes instancias nas quais as políticas são geradas facilitar sua implementação não tem sido foco da ação intencional do psicólogo na instituição escolar devido, entre outros fatores à tendência dominante, que como foi apontado, parece conceber o processo de ensino-aprendizagem fora da complexa rede de elementos que configuram sua qualidade. Porém, quando se adota um olhar mais abrangente da vida escolar, não centrado exclusivamente na dimensão psicoeducativa, mas também na sua dimensão psicossocial a importância do trabalho do psicólogo em relação à implementação das políticas públicas no espaço escolar evidencia-se com clareza.
Entre as atividades que os psicólogos podem realizar nesta direção destacam-se:
• Analisar criticamente as políticas a serem implantadas reconhecendo seus pontos fortes e seus aspectos vulneráveis, visando a difusão de seus fundamentos na comunidade escolar.
• Analisar as experiências na implantação de políticas similares ou da mesma política em outros contextos visando delinear estratégias específicas para o contexto em que atua.
• Identificar os pontos que possam constituir empecilhos para os processos de mudanças e delinear estratégias para neutralizá-los.
• Favorecer formas abertas de comunicação e de gestão participativa que possibilitem o envolvimento dos professores no processo de tomada de decisões.
• Favorecer a coesão da equipe pedagógica e potencializar a receptividade da comunidade educativa às mudanças.
• Contribuir para a difusão de conhecimentos que possam favorecer a criatividade e a inovação.
• Contribuir para enfrentar e negociar os conflitos que comumente acompanham os processos de mudanças.
• Favorecer a criação de sistemas de estímulos e de premiação dos resultados positivos alcançados.(Mitjáns Martinez , 2007)
Direcionar intencionalmente as formas de atuação mencionadas - algumas das quais não são exclusivas do psicólogo - para mudanças significativas na qualidade dos processos educativos constitui, no meu ponto de vista, a principal forma pela qual os psicólogos que trabalham vinculados às escolas podem expressar seu compromisso profissional com as necessárias mudanças na educação.
Vale a pena apontar que o compromisso dos psicólogos com a melhoria da qualidade da educação se expressa não apenas na sua prática profissional mas também na sua produção científica. A psicologia como qualquer outra ciência constitui uma construção humana condicionada histórica e culturalmente. Os conhecimentos científicos são produzidos por seres humanos em diferentes momentos e em diferentes contextos desde perspectivas filosóficas, epistemológicas, ideológicas e teóricas diferentes. No processo de se fazer ciência influem, entre outros fatores, a concepção do mundo, a ideologia e os valores de seus protagonistas. Por isso considero que o compromisso com a transformação da educação se expressa de alguma forma nas filiações teóricas, nos problemas de pesquisa, nas concepções epistemológicas e metodológicas utilizadas, escolhas todas nas que participam as motivações, valores e concepções de seus autores.
O PSICÓLOGO COMO AGENTE DE MUDANÇAS NOS SEUS CONTEXTOS DE ATUAÇÃO: O DESAFÍO DE SER SUJEITO.
Considerar o indivíduo como o centro da produção e utilização do conhecimento psicológico em uma prática compromissada com as necessárias transformações que precisa a educação, coloca em primeiro plano a análise do psicólogo na sua condição de sujeito e nessa condição, das suas possibilidades de ação transformadora nos contextos em que atua.
Refero-me ao sujeito com tem sido conceitualizado na perspectiva histórico-cultural da subjetividade: “o indivíduo concreto, portador de personalidade, quem, como características essenciais e permanentes de sua condição, é atual, interativo, consciente, intencional e emocional” (González Rey, 1995, p.61). Diferentemente da categoria personalidade que expressa as formas complexas e dinâmicas nas quais o psicológico se organiza, conteúdos e processos que se constituem ao longo do percurso da história de vida do individuo, a categoria sujeito aponta para o aspecto interativo e conjuntural da subjetividade. É o sujeito psicológico quem se relaciona com os outros nos contextos sociais onde está inserido, vivencia emoções, toma decisões e constrói representações da realidade.
O sujeito psicológico é quem atua, e o faz a partir das configurações subjetivas que constituem sua personalidade e da forma como se representa o espaço social onde sua ação tem lugar. A ação do sujeito se dá sempre em um contexto que é percebido por ele não apenas pelas suas características “reais”, mas pela construção que faz da situação, e dos sentidos subjetivos que produz no curso da própria ação.
A categoria sujeito expressa o caráter ativo e criativo do individuo que na sua ação desafia e amplia os limites que lhe são impostos pelas formas de organização de seu espaço social, tentando não sujeitar- se totalmente a eles. Assim, o sujeito se movimenta na tensão entre os processos de continuidade e de ruptura, de adaptação e de transformação, orientando-se com força a estes últimos. Por isso, apenas no exercício da condição de sujeitos podem os psicólogos se constituir em agentes de mudanças da educação, promovendo, com autonomia e força, tensões e rupturas criativas com o status quo.
Ser sujeitos na atuação profissional implica agir com autonomia, força e criatividade, tentando vencer as dificuldades e resistências de natureza diversa que inevitavelmente estão presentes nos espaços sociais complexos como os contextos educativos.
Promover mudanças intencionalmente constitui um processo difícil já que os efeitos de qualquer ação intencional não dependem diretamente da ação mesma, mas da forma em que é percebida, compreendida e assumida pelas pessoas a quem vai dirigida. Os sentidos subjetivos que estas produzem são decisivos para compreender os possíveis desdobramentos das ações direcionadas ao câmbio. A complexidade dos processos de mudança no contexto educativo muitas vezes demanda, dos profissionais decididos a promovê-los, o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e características pessoais que infelizmente não tem sido objeto de especial atenção nas instituições que formam psicólogos.
No meu trabalho junto a psicólogos escolares motivados e criativos tenho constatado um conjunto de características, que associadas à sua condição de sujeitos os tem colocado em situação favorável para atuar em prol de mudanças nos seus respectivos contextos. Entre elas: prestigio técnico e pessoal, sensibilidade em relações aos outros, habilidades comunicativas, força e solidez nas argumentações, coerência, e habilidade para negociar e gerenciar conflitos. Esta tem sido apenas uma das razões pelas que insisto na necessidade de colocar a formação pessoal como um dos eixos estruturantes da formação profissional do psicólogo. (Mitjáns Martinez, 2003a)
Uma questão que em ocasiões se levanta ao ser discutida a necessidade dos psicólogos, junto a outros profissionais, se tornarem agentes de mudanças, referese à sua condição numericamente minoritária na grande maioria dos contextos educativos nos quais participa. Acho que neste sentido valeria a pena lembrar a Psicologia das Minorias Ativas de Serge Moscovici (1981, p. 264), quem afirma que .... “esta psicologia supõe que um individuo ou um grupo, qualquer que seja seu status, seu poder ou falta de poder, é capaz de exercer influencia sobre a coletividade da qual forma parte” (p.264 ) . Segundo ele, para que isto seja possível devem se cumprir três condições: “ primeiro,optar por uma posição própria visível; segundo, tentar criar e manter o conflito com a maioria quando a maior parte das pessoas se sentem normalmente tentadas a evitálo e terceiro, comportar-se de forma coerente....... ( p.264)
Podemos então nos perguntar: até que ponto somos sujeitos da uma ação científico-profissional transformadora? Tendo em conta as dificuldades que as mudanças implicam, qual o esforço pessoal que estamos dispostos a fazer, inclusive em relação a mudanças em nós mesmos, para um exercício profissional criativo e inovador? Em quais condições poderíamos nos constituir em minorias ativas promotoras de influências para a transformação da educação nos contextos em que atuamos?
Considero que estas são exemplos de questões que devem orientar a reflexão dos psicólogos interessados em um compromisso real com o salto qualitativo que a educação demanda. Sem um compromisso pessoal com a mudança, com a criatividade e com a inovação, o compromisso da Psicologia com a educação brasileira pode constituir apenas mais uma ilusão.
Referências
Cruces, A. V. V., & Maluf, M. R. (2007). Psicólogos recém formados: oportunidades de trabalho e atuação na área educacional. Em H. Campos (Org.), Formação em Psicologia Escolar: realidades e perspectivas (pp.163-210 ). Campinas, SP: Alínea. [ Links ]
González Rey, F. (1995). Comunicación , personalidad y desarrollo. Habana: Pueblo y Educación. [ Links ]
González Rey, F. (2002). Sujeto y subjetividad: una aproximación histórico-cultural: México: Thomson. [ Links ]
Maluff, M. R. (1994). Formação e atuação do psicólogo na educação: dinâmica de transformação. Em Conselho Federal de Psicologia, Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes e desafios para a formação (pp. 195-249). São Paulo: Casa do Psicólogo. [ Links ]
Maluff, M. R. (2003). Psicologia Escolar: novos olhares e o desafio das práticas. Em S. F. C. Almeida (Org.), Psicologia Escolar: ética e competências na formação profissional (pp. 135-145). Campinas, SP: Alínea. [ Links ]
Meira, M. E. M. (2002). Psicologia Escolar: pensamento crítico e práticas profissionais. Em M. P. R. Souza, E. Tanamachi, & M. Rocha (Orgs.), Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos (pp. 35-71). São Paulo: Casa do Psicólogo. [ Links ]
Mitjáns Martínez, A. (2003a). O psicólogo na construção da proposta pedagógica da escola: áreas de atuação e desafios para sua formação. Em S. F. C.Almeida (Org.), Psicologia Escolar: ética e competências na formação profissional (pp. 105-124). Campinas, SP: Alínea. [ Links ]
Mitjáns Martínez, A. (2003b). O compromisso social da Psicologia: desafios para a formação dos psicólogos. Em A. M. M. Bock (Org.), Psicologia e Compromisso social (pp.143- 160). São Paulo: Cortez. [ Links ]
Moscovici, S. (1981). Psicología de las minorías activas. Madrid: Morata. [ Links ]
Souza, M. P. R. (2007). Reflexões ao respeito da atuação do psicólogo no campo da psicologia escolar/educacional em uma perspectiva crítica. Em H. R. Campos (Org.), Formação em Psicologia Escolar: realidades e perspectivas (pp. 140-162). Campinas, SP: Alínea. [ Links ]
Albertina Mitijáns Martinez
Doutora e docente da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.
3 A categoria de sentido subjetivo refere-se a uma unidade psicológica da subjetividade que representa a “relação inseparável do emocional e o simbólico onde um evoca ao outro sem ser a sua causa” (González Rey, 2002, p.168)
4 Entende-se por subjetividade social a dimensão subjetiva dos espaços sociais, constituída pelos processos de sentido e significado que caracterizam-no (González Rey, 2002).