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Psicologia: ciência e profissão

 ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.28 n.3 Brasília set. 2008

 

HOMENAGEADO

 

 

 

Monique Rose Aimée Augras

 

 

Chatearoux. Foi nessa pequena cidade do interior da França que nasceu, em 1937, Monique Rose Aimée Augras. Aprendeu a ler com apenas quatro anos de idade, na única escola da cidade, em que havia várias turmas e apenas um professor. Isso possibilitou sua entrada precoce no mundo dos livros. Desde cedo, já manifestava preferência por mitos e lendas, e esse interesse pela diversidade cultural marcaria sua obra futura.

Depois dos primeiros anos de formação escolar, Monique iniciou estudos na área de Filosofi a. Foi nesse período que descobriu a Psicologia, um campo ainda novo, mas que parecia promissor. Transferiu-se para Paris e fez a licenciatura e Doutorado na Sorbonne, entre os anos de 1955 e 1960.

Na sua formação, ela teve a infl uência inicial de Jean Piaget. Com a dissolução do grupo de pesquisa do qual Monique fazia parte, devido a problemas de saúde de Piaget, buscou outras linhas de estudo, dedicando-se à clínica e à área social e cultural.

Nessa nova fase, Monique Augras foi infl uenciada por Jean Stoezel, Daniel Lagache, Etienne Souriau e pela introdução à obra de Hegel, por Juliette Favez-Boutonnier, pela iniciação ao método fenomenológico, por Jean Delay, a quem deve o interesse pela psicofarmacologia, por Robert Pagés, pela descoberta da cibernética e, fi nalmente, por Didier Anzieu, com quem aprendeu o método de psicodiagnóstico de Rorschach.

A mudança para o Brasil foi motivada por dois fatores: a insatisfação com a situação política francesa e a ausência de perspectivas para a carreira de psicólogo, que não era legalizada na França. Na ocasião, recebeu um convite do professor Mira y Lopez para trabalhar no setor de provas do ISOP (Instituto de Orientação e Seleção Profi ssional) da Fundação Getúlio Vagas, onde ingressou em março de 1961.

No ISOP, atuava na aplicação do Rorschach e do TAT. Foi a partir desse trabalho que começou a questionar a necessidade de reavaliar as normas para aplicação dos testes na população brasileira. Em 1968, publicou Teste de Rorschach: Atlas e Dicionário, trabalho no qual teve a colaboração das colegas do ISOP, Elida Sigelmann e Maria Helena Mattoso Moreira.

Um ano antes, a profi ssão de psicólogo havia sido regulamentada no Brasil, e os psicólogos que já atuavam há mais de cinco anos, como era o caso de Monique, puderam obter o registro. Ela obteve o registro de número 22, estando no grupo dos primeiros psicólogos brasileiros. Nesse período, vários cursos começaram a ser estruturados, e, em 1968, foi contratada pela UFRJ para lecionar técnicas projetivas. Pouco depois, começou a ser organizado o curso de mestrado na PUC-Rio, e Monique foi contratada para fazer parte do corpo docente. Em 1985, passa a atuar também na graduação em Psicologia da PUC-Rio.

Monique Augras lançou, em 1978, uma de suas mais importantes obras, o livro O Ser da Compreensão, que integra os estudos que fez sobre a teoria junguiana e abriu novos horizontes, em especial o da pesquisa, na área dos mitos sobre os orixás.

Passou dos terreiros à Psicologia da cultura. A partir do contato com alunos de mestrado que se interessavam por candomblé, começou a desenvolver pesquisas em terreiros e realizou seu primeiro estudo, focalizando 21 histórias de vida de sacerdotes da nação queto. Desse estudo, nasceu O duplo e a metamorfose, publicado em 1983, que começa a fortalecer a imagem de uma Monique Augras interessada também pelo mundo da Antropologia. Um desses caminhos foi a criação de uma cadeira de Psicologia da cultura e de uma linha de pesquisa sobre a cultura brasileira no Centro Brasileiro de Pesquisas Psicossociais do ISOP, que então chefiava.

Os estudos voltados para as questões afro-brasileiras e manifestações religiosas no Brasil foram temas de alguns dos 11 livros publicados por Monique Augras, entre eles De Iyá Mi a Pomba-Gira, 1989, Zé Pelintra, Patrono da Malandragem, 1997, e o Terreiro na Academia, 2000, e Todos os Santos são Bem-vindos, 2005.

Aposentada desde o final de 2006, Monique continua ativa, fazendo conferências no Brasil e na França e participando de bancas de teses. Teve o livro O Duplo e a Metamorfose republicado pela Vozes, em 2008, e deve publicar um novo livro no início de 2009. Paralelamente, tem se dedicado à cerâmica, na qual deixa brotar aspectos de seu outro lado, pouco conhecido: o da artista plástica.