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Boletim - Academia Paulista de Psicologia
versão impressa ISSN 1415-711X
Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.41 no.101 São Paulo jul./dez. 2021
I. TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASO
A psicologia escolar na educação superior: uma revisão da literatura
School Psychology in higher education: a literature review
La Psicología escolar en la educación superior: una revisión de la literatura
Eveline Tonelotto Barbosa PottI; Douglas Aparecido de CamposII
IUniversidade Federal de São Carlos. UFSCar. ORCID https://orcid.org/0000-0001-8263-6093
IIUniversidade Federal de São Carlos. UFSCar. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1190-7532
RESUMO
este artigo tem como objetivo realizar uma revisão sobre as contribuições da Psicologia Escolar para o Ensino Superior. Para tanto, optou-se por uma revisão integrativa da literatura, conduzida de maneira sistemática, a fim de analisar as evidências encontradas sobre o tema nos últimos 10 anos. A busca foi realizada nas bases de dados SciELO, PePSIC/BVS-Psi Brasil, utilizando-se os seguintes descritores: Psicologia Educacional, Psicologia Escolar, Psicologia, Educação Superior e Ensino Superior. Vinte e um artigos foram selecionados para a análise deste estudo. Como resultado, evidencia-se a falta de pesquisas no campo da Psicologia Escolar voltadas para as demandas do Ensino Superior, em especial a partir de modelos ou relatos de como este profissional pode atuar em uma perspectiva coletiva e institucional. Na maioria dos estudos acessados o foco de trabalho do psicólogo escolar é específico com os alunos, em especial aqueles que possuem algum tipo de fracasso escolar. Sendo assim, o presente artigo aponta para a necessidade de avanços teóricos e empíricos em relação ao conhecimento da Psicologia Escolar no que se refere a suas possibilidades de ação no âmbito do Ensino Superior, a fim de superar uma prática pautada na concepção de fracasso escolar.
Palavras-Chave: psicologia escolar; educação superior; Ensino Superior.
ABSTRACT
This article aims to review the contributions of School Psychology to Higher Education. Therefore, we opted for an integrative literature review, conducted systematically, in order to analyze the evidences found on the topic in the last 10 years. A search was performed in the databases of SciELO, PePSIC/BVS-Psi Brazil, using the following descriptors: Educational Psychology, School Psychology, Psychology and Higher Education. Twenty-one articles were selected for analysis in this study. As a result, there is a lack of research in the field of school psychology focused on the demands of higher education, especially from models or reports of how this professional can act in a collective and institutional perspective. In most studies accessed, the focus of work of the school psychologist is specific with students, especially those who have some type of school failure. Thus, this article points to the need for theoretical and empirical advances in relation to the knowledge of School Psychology with regard to its possibilities of action in the scope of higher education, in order to overcome a practice based on the conception of school failure.
Keywords: school psychology; college education; Higher Education.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo revisar las contribuciones de la psicología escolar a la educación superior. Para esto, se realizó una revisión integral de la literatura de manera sistemática, con el fin de analizar la evidencia encontrada sobre el tema en los últimos 10 años. La búsqueda se realizó en las bases de datos SciELO, PePSIC/BVS-Psi Brasil, utilizando los siguientes descriptores: psicología educativa, psicología escolar, psicología y educación superior. Veintiún artículos fueron seleccionados para el análisis de este estudio. Como resultado, se observa una falta de investigación en el campo de la psicología escolar centrada en las demandas de la educación superior, especialmente a partir de modelos o informes de cómo este profesional puede actuar en una perspectiva colectiva e institucional. En la mayoría de los estudios a los que se tuvo acceso, el enfoque del trabajo del psicólogo escolar es específico con los estudiantes, especialmente aquellos que tienen algún tipo de fracaso escolar. Así, este artículo señala la necesidad de avances teóricos y empíricos en relación con el conocimiento de la Psicología Escolar en cuanto a sus posibilidades de acción en el ámbito de la educación superior, con el fin de superar una práctica basada en la concepción del fracaso escolar.
Palabras Clave: psicología escolar; educación universitaria; Enseñanza Superior.
Introdução
Esta pesquisa é parte integrante de um estudo de pós-doutorado que investigou os sentidos configurados por estudantes de uma universidade pública do interior do estado de São Paulo com relação as experiências e vivências na graduação, destacando-se o papel da Psicologia Escolar para este segmento educacional. Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão integrativa da literatura com relação ao campo da Psicologia Escolar na interface com o contexto da educação superior nos últimos 10 anos. Portanto, trata-se de um estudo que a partir de um recorte histórico busca demonstrar as tendências, pressupostos e concepções da Psicologia Escolar inserida no Ensino Superior, permitindo também pensar caminhos e horizontes para a construção teórica e prática do fazer da Psicologia neste segmento educacional. Neste sentido, frente ao desafio de propor estudar um recorte temporal de um determinado saber científico, objetivo que permeia um estudo de revisão da literatura, é importante considerar que tal fragmento não está desvinculado de uma produção histórica, muito pelo contrário, é fruto e resultado de um longo processo de construção social. Sendo assim, ao propor neste artigo realizar uma análise das produções científicas da Psicologia Escolar voltadas ao Ensino Superior nos últimos 10 anos, é fundamental retomar e considerar as principais características da construção da Psicologia enquanto profissão e ciência e sua consolidação na interface com a educação.
A psicologia escolar e suas marcas históricas
A Psicologia Escolar por muito tempo esteve voltada a construção de práticas resultantes de concepções sobre o desenvolvimento humano focalizadas no âmbito individual, por meio da intervenção e adaptabilidade social em especial de alunos frente ao contexto escolar. Segundo Guzzo, Mezzalira, Moreira, Tizzei e Neto (2010), por muito tempo o Psicólogo Escolar era representado como o profissional especializado por solucionar problemas de comportamento e aprendizagem, o qual também tinha como papel realizar o processo adaptacional de crianças e jovens que apresentavam algum tipo de "desvio do comportamento" com relação às representações da escola. Ainda, outra ação que caracterizava prioritariamente o fazer do psicólogo escolar eram as tendências psicométricas, em especial no que se refere a aplicação de testes psicológicos que se voltavam ao diagnóstico e seleção dos alunos mais "adaptados" ou não às condicionantes sociais. Muitas vezes, esse fazer do psicólogo contribuía para o processo de segregação de crianças e jovens nas conhecidas "salas especiais", destinadas a separar os alunos que apresentavam algum tipo de "desvio do comportamento". Portanto, a Psicologia desenvolvida e promulgada em meados da década de XX tendia à preservação de um certo conservadorismo e reprodução do ideário neo-liberal. Neste sentido, não é possível pensar a história da Psicologia Escolar desvinculada das leis de produção da sociedade em que esta ciência foi e é construída. Isto é, há uma tendência expressiva na história da Psicologia Escolar em reafirmar e subsidiar concepções pautadas no individualismo social, na crença de que o "sucesso" ou o "fracasso" reside predominantemente no âmbito individual. Em uma sociedade de consumo, voltada para a valorização das individualidades e formada por uma doutrina liberal, a psicologia ocupou-se por muito tempo dessa mesma lógica (Guzzo et al., 2010; Martinez, 2010; Souza, 2009). Apesar da história da Psicologia Escolar ter sido marcada pela concepção de desenvolvimento humano pautada na individualidade, seleção e adaptação social, atualmente, acompanhamos um cenário bastante diferente o qual não anula sua historicidade mas a toma como base para a superação e construção de novos paradigmas para a Psicologia Escolar no Brasil. Neste sentido, estudiosos da área da Psicologia Escolar (Guzzo et al., 2010; Martinez, 2010; Souza, 2009; Marinho-Araujo, 2016; Sawaia, 2009; Antunes, 2008), vem movimentando-se na busca da construção do que podemos chamar de uma "nova Psicologia Escolar", a qual compreende o fenômeno psicológico indissociável da realidade material e histórica em que os sujeitos estão inseridos. Ainda, estes teóricos destacam o papel político e ético da Psicologia Escolar no que se refere à promoção de formas de existência e desenvolvimento mais dignas e humanas. Sendo assim, na busca de promover melhores condições de desenvolvimento do psiquismo humano, é necessário que o psicólogo questione criticamente sua realidade concreta, social e história. Não obstante, é fundamental um compromisso da Psicologia Escolar com o processo de democratização do processo de escolarização. Isto porque, a educação compreendida como instância social que apresenta como função a socialização dos conhecimentos historicamente produzidos, tem a importante função de favorecer a ascensão do conhecimento do senso-comum para o conhecimento científico, os quais são articulados e guiam nossa ação no e com o mundo. Esta concepção de educação e o compromisso da Psicologia com ela exige também um envolvimento com a concretização de políticas públicas de educação que estejam coadunadas aos interesses das classes populares. Portanto, o processo de democratização da educação é um dos principais foco e defesa que permeia a ação da Psicologia Escolar (Guzzo et al, 2010; Martinez, 2010; Souza, 2009; Marinho-Araujo, 2016; Sawaia, 2009; Antunes, 2008). No que se refere ao Ensino Superior no Brasil, nos últimos anos esse segmento educacional teve um salto expressivo com relação a democratização do ensino, em especial, ao acesso da população de classe econômica menos favorecida nas universidades públicas e privadas. Em especial no âmbito público, o qual vem sendo campo prioritário de nossas investigações, segundo Campos (2017) a democratização em relação ao acesso teve como marco importante as propostas e implementações da reestruturação e expansão das Universidades Federais - REUNI, constituindo-se como um movimento importante no que se refere a construção de uma universidade para todos. Outros programas também podem ser citados como exemplos para a ampliação e acesso do Ensino Superior e que impactam também no âmbito privado, como por exemplo: Programa Universidade para Todos (PROUNI), o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), entre outras políticas. Nesse sentido, tais ações demonstram um importante avanço com relação a ampliação das possibilidades e democratização do acesso ao Ensino Superior, contudo, não são suficientes para garantir a permanência e o desenvolvimento pleno dos ingressantes e concluintes no Ensino Superior (Gomes, Comonian & Araújo, 2018). Ainda, associado ao movimento de expansão houve também uma mudança significativa do perfil de aluno ingresso no Ensino Superior, vindo de camadas populares, com idade acima de 30 anos, que não tiveram acesso à uma escolarização básica de qualidade, que interromperam seus estudos há tempos atrás e que neste momento retorna à sala de aula, ou seja, são pessoas que, por muito tempo, estiveram excluídas da forma&ccedi l;ão superior (Marinho-Araujo, 2016; Dias, Soares, Marinho-Araújo & Almeida, 2018). Na mesma direção em que houve um aumento no número de pessoas ingressantes no Ensino Superior, também surgiu a necessidade de repensar os currículos, as estratégias de aprendizagem, as concepções de ensino e aprendizagem, a evasão e permanência estudantil, entre outros assuntos que a Psicologia Escolar tem muito a contribuir. Em uma revisão da literatura acerca da atuação do Psicólogo Escolar na interface com o Ensino Superior, realizada entre 1995 a 1999, Bariani, Buin, Barro e Escher (2004) destacam um aumento acentuado de estudos sobre o Ensino Superior no campo da Psicologia Escolar. Os estudos analisados no período revisado, abordam predominantemente que a atuação da Psicologia Escolar é focalizada nos estudantes, em especial em suas características cognitivas e afetivas, tendo como principal foco a adaptação ao contexto do Ensino Superior. Coadunando a estes achados, no estudo realizado por Serpa e Santos (2001) destaca-se que uma das frentes prioritárias da atuação do Psicólogo Escolar no Ensino Superior é focalizada nos estudantes universitários, por meio do Serviço de Atendimento ao Universitário destinado a orientação e acompanhamento psicológico aos alunos que buscam o serviço. No âmbito internacional, Feitosa, Marinho-Araujo e Almeida (2020) apontam que em Portugal, por exemplo, as políticas de expansão e democratização do Ensino Superior é acompanhada da ampliação dos serviços de apoio e assistência discente, o que inclui a presença de psicólogos nesses serviços. Apesar dos avanços dos estudos da Psicologia Escolar no contexto do Ensino Superior, autores como Santos, et. al. (2018) ressaltam que dentro no campo da Psicologia Escolar o Ensino Superior precisa ser melhor explorado, tendo em vista que os estudos se concentram predominantemente no âmbito da Educação Básica. Neste sentido, destaca-se a necessidade de estudos sobre o Ensino Superior, em especial a partir de abordagens teóricas que permitem a compreensão dos problemas e dilemas que perpassam a relação ensino-aprendizagem a partir de uma visão crítica. Apesar dos estudos encontrados que buscam realizar uma revisão da literatura acerca do campo da Psicologia Escolar, não se encontrou na literatura nacional um estudo que busca mapear os estudos existentes especificamente sobre a atuação do psicólogo no contexto do Ensino Superior nos últimos 10 anos. Sendo assim, o presente estudo justifica-se pela possibilidade de apresentar um recorte significativo da literatura sobre as produções científicas da Psicologia Escolar no contexto do Ensino Superior, permitindo apontar avanços e lacunas existentes na área e impulsionar o desenvolvimento de novas pesquisas na área. Portanto, a fim de destacar a Psicologia Escolar voltada às demandas do Ensino Superior, este estudo busca sistematizar e problematizar o papel da Psicologia neste segmento educacional por meio de uma revisão integrativa da literatura com relação às produções científicas da área.
Método
Esta ação metodológica trata-se de uma revisão integrativa da literatura, organizada de maneira sistemática, a fim de sintetizar e analisar as evidências encontradas em um recorte significativo da literatura nacional disponível com relação às contribuições da Psicologia Escolar para as demandas voltadas ao Ensino Superior. A escolha em realizar uma revisão integrativa da literatura justifica-se pela necessidade de analisar diferentes abordagens teóricas e metodológicas, o que é uma característica no campo da Psicologia Escolar que parte de diferentes epistemologias. Segundo Souza, Silva e Carvalho (2010), a revisão integrativa permite a realização de uma síntese do conhecimento científico acerca de uma área, podendo ser um elemento importante de condução da prática profissional, e que permite incluir na busca e análise diferentes abordagens metodológicas.
Estratégia de busca
A busca bibliográfica teve a seguinte pergunta norteadora: Qual é a produção científica da Psicologia Escolar na interface com o contexto da educação superior nos últimos 10 anos?
Para o acesso às produções científicas foi realizado uma busca eletrônica nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Períodicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC)/Bibliotéca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil (BVS-Psi Brasil) A escolha por essas bases de dados se deu em função de indexarem estudos do campo da Psicologia e serem reconhecidas para busca de estudos científicos. Foram utilizados os seguintes descritores e operador booleano como estratégia de busca combinada: ("Psicologia Educacional" OR "Psicologia" OR "Psicologia Escolar") AND ("Educação Superior" OR "Ensino Superior"), os quais foram escolhidos com base no vocabulário de terminologia em Psicologia da BVS-Psi e da terminologia em Ciências da Saúde (DeCS). A busca e seleção dos artigos que compõem essa revisão foi realizada pela autora principal deste artigo.
Critério de exclusão e inclusão
Para a seleção dos estudos, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: artigos científicos publicados nos últimos 10 anos; considerando o período entre 01/01/2010 a 24/12/2020; publicações em português; e que abordaram a Psicologia Escolar no Ensino Superior no Brasil. Foram excluídos da seleção: estudos que não declaravam como sendo do campo da Psicologia Escolar; que não abordavam a temática do Ensino Superior no Brasil; livros, monografias, dissertações, tese, editorial e carta ao editor.
Desfecho da busca e organização
No levantamento bibliográfico inicial, identificou a presença total de 171 publicações, sendo realizado uma leitura do título e resumo a fim de identificar os artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Em um segundo momento, realizou-se a leitura dos artigos na íntegra, a fim de selecionar especificamente aqueles que abordavam as contribuições da Psicologia Escolar para o Ensino Superior. A partir deste processo, foram selecionados uma amostra final de 21 artigos os quais foram analisados no presente estudo.
Na figura a seguir é apresentado um fluxograma contemplando as diferentes fases da revisão sistemática.
Após a seleção dos estudos, foi realizado uma segunda leitura dos artigos, identificando temas centrais em cada um deles. Em seguida, os artigos com temas similares foram agrupados em categorias. No total, foram criadas quatro categorias as quais serão analisadas no presente estudo, a conhecer:
(I) Tendências em Psicologia Escolar: avanços, processos e retrocessos; (II) Adaptação acadêmica e assistência estudantil; (III) Inclusão de alunos com deficiência: a ampliação do conceito exclusão/inclusão; (IV) Sentidos configurados: em busca pelo acesso ao sujeito.
Resultados e discussão
Frente ao objetivo de acessar, sistematizar e compreender os estudos da Psicologia Escolar voltados ao Ensino Superior dos últimos anos, nos deparamos com um cenário instigante e de elevada demanda para a construção de novas abordagens e concepções com relação ao fazer do psicólogo inserido no Ensino Superior. Na tabela 1 são apresentados os resultados da busca bibliográfica e artigos selecionados para a análise.
Os artigos foram organizados em quatro categorias de análise, as quais apresentamos e discutimos a seguir.
Tendências em psicologia escolar: avanços, processos e retrocessos
Nesta categoria busca-se identificar de que modo os estudos contemplados abordam as tendências com relação ao fazer do psicólogo no Ensino Superior. Nos estudos encontrados, é comum a ideia de que, na maioria das práticas investigadas, as ações do Psicólogo Escolar são voltadas ao atendimento de alunos, em especial no que se refere às demandas de fracasso escolar, associado às dificuldades na graduação. Nos estudos realizados por Bisinoto e Marinho-Araujo (2011 e 2015), buscou-se mapear os serviços de Psicologia que são oferecidos nas instituições de Educação Superior brasileiras públicas e privadas e destacar o trabalho que é realizado pelos psicólogos escolares. Na análise apresentada no estudo, destaca-se que as ações dos psicólogos escolares estão direcionadas principalmente aos alunos, realizando um trabalho mais tradicional de orientação e encaminhamento para atendimento especializado. No entanto, apesar deste fazer mais tradicional da Psicologia, há práticas mais emergentes, como por exemplo, a recepção de calouros, apoio a coordenadores de curso, acompanhamento aos egressos e avaliação institucional. Neste sentido, o estudo destaca que apesar das ações do psicólogo escolar no Ensino Superior serem predominantemente voltadas a uma abordagem que visa tratar e adaptar o aluno frente as demandas desse nível de ensino, há um certo deslocamento para a superação de um modelo clínico-terapêutico para um mais preventivo-institucional voltado para a atenção coletiva. No estudo de Moura e Facci (2016), a maior parte dos psicólogos entrevistados atuavam em uma concepção focalizada no aluno e em seu processo de dificuldades escolares. Já o estudo realizado por Lima (2018), traz uma atuação prática do psicólogo com grupos de universitários em uma instituição federal, em que se realizou grupos de aconselhamento psicológico, orientação vocacional e técnicas de estudo. Estes grupos foram realizados com alunos de cursos das engenharias que apresentavam um alto índice de reprovação nas disciplinas e desistência do curso. O estudo concluiu que os grupos com maior aderência foram aqueles em que se focalizou nas técnicas de estudo, o qual também envolvia discussões sobre a complexidade do cotidiano escolar. Portanto, nota-se nas ações do psicólogo uma tendência na centralização da questão do fracasso escolar, buscando estratégias de minimizar tal situação a partir de uma abordagem clínica. Este cenário é destacado por Libâneo e Pulinho (2018), sendo necessário a superação desse fazer psicológico uma vez que reforça as leis de produção da sociedade pela busca de respostas no âmbito individual, descontextualizadas da realidade social. Paralelo a este cenário, pesquisas como a de Santana, Pereira e Rodrigues (2014) e Zavadski e Facci (2012) destacam que ao acessar a percepção de professores e coordenadores com relação a atuação do psicólogo escolar, encontram-se a ideia de que o psicólogo deveria voltar-se as dificuldades dos alunos, como por exemplo: dificuldade de organização pessoal para o estudo, ausência de conhecimento prévio, etc. Ou seja, uma ação voltada especificamente para a questão do fracasso escolar. Neste sentido, nota-se uma associação direta entre o que o psicólogo escolar realiza no contexto do Ensino Superior e as expectativas e concepções dos professores e coordenadores, o que nos permite compreender que o psicólogo escolar vem correspondendo de certo modo aos anseios dos profissionais das instituições de Ensino Superior. Ainda, nos permite compreender que se a concepção dos profissionais com relação ao fazer do psicólogo relaciona-se a uma ação mais individualizada, é porque suas experiências com esse profissional se concentram nesse tipo de intervenção, voltada mais para uma ação clínico-individual ao fracasso escolar. Ainda, em nossa busca encontramos poucos estudos que trazem relatos práticos e direcionadores da ação do psicólogo escolar em busca de superar suas ações pautadas em concepções mais individuais e clínicas. O estudo de Marinho-Araujo (2016) é uma representação importante para a superação deste cenário, uma vez que apresenta um modelo de atuação do psicólogo escolar inserido no Ensino Superior, o qual é baseado em cinco eixos principais: mapeamento institucional; escuta psicológica; gestão de políticas e programas educacionais; propostas pedagógicas e funcionamento de cursos, e perfil do estudante. Segundo a autora, a intervenção do psicólogo deve voltar-se para a construção e consolidação de princípios promotores da transformação coletiva. Neste sentido, a intervenção psicológica na Educação Superior deverá acontecer a partir de uma perspectiva institucional, coletiva e relacional. Ainda com relação às ações inovadoras no âmbito da Psicologia Escolar, encontramos o estudo de Zavadski e Facci (2012) o qual destaca a importância da Psicologia Escolar na formação de professores do Ensino Superior, em especial no sentido de contribuir para a compreensão da relação entre a atividade pedagógica e o desenvolvimento psicológico, corroborando também as ideias apresentadas por Bisinoto & Marinho-Araujo (2015) que além de discutir a importância das ações do Psicólogo com os docentes também incluiu os funcionários. Também há o estudo de Caixeta e Souza (2013), o qual destaca como tendência a importância do psicólogo escolar se envolver com as ações promotoras da responsabilidade social no contexto da Educação Superior. Neste aspecto, o psicólogo escolar pode planejar, executar e avaliar aç&oti lde;es como: trotes, cursos de extensão e de formação de docente e funcionários, ressaltando as atuações de responsabilidade social universitária como oportunidade de compartilhamento de conhecimentos e práticas que favorecem o desenvolvimento de ações e concepções que são fundamentais no processo de formação. A partir da análise destes estudos é possível acessar que nos últimos anos apesar dos avanços há um consenso sobre a necessidade de se renovar e repensar as práticas do psicólogo escolar, em especial a partir de perspectivas que considerem a complexidade interacional presente nos processos de ensino e aprendizagem no ensino superior. A seguir, na próxima categoria, vamos destacar o movimento existente na busca de ações voltadas ao cuidado com os estudantes.
Adaptação acadêmica e assistência estudantil
Nesta categoria, encontrou-se estudos que apresentam uma abordagem teórico-metodológica voltada predominantemente na utilização de testes psicológicos a fim de buscar indícios e parâmetros reveladores do processo de adaptação acadêmica no mundo universitários. No estudo de Martins e Santos (2019), buscou-se investigar e avaliar as estratégias de aprendizagem e sua autoeficácia acadêmica em estudantes ingressantes. De acordo com os resultados encontrados a partir da aplicação de testes psicológicos, a maior parte dos estudantes utilizam estratégias de Autorregulação Cognitiva e Metacognitiva, que se referem a estratégias gerais para: 1- processar as informações como repetição pela fala e escrita; 2 - realizar conexões entre o conteúdo novo e o conteúdo que já conhece; 3- imposição de estrutura ao material, como fazer tópicos e, 4- construir estratégias mais amplas como o estabelecimento de objetivos para o estudo, conscientização das dificuldades e mudança do comportamento de estudo. Em sua discussão, os autores apontam que os alunos que relataram maior uso de estratégias de aprendizagem são aqueles com maior autoeficácia na realização de tarefas acadêmicas pertinentes ao Ensino Superior. No estudo de Oliveira, Santos e Inácio (2018), buscou-se verificar os estilos intelectuais e o processo de adaptação acadêmica. Os estudantes investigados tiveram uma pontuação superior nos testes psicológicos na dimensão de adaptação acadêmica denominada planejamento de carreira. Referente aos estilos intelectuais observou-se que a maior pontuação foi em relação ao estilo hierárquico, que é caracterizado pela preferência na execução de várias tarefas ao mesmo tempo, priorizadas segundo graus de importância. A conclusão do estudo volta-se para o princípio de que a escolha por hierarquizar as atividades segundo graus de importância, poderia ser vista como uma estratégia utilizada pelos universitários ao se considerar a alta demanda de atividades a serem realizadas e uma forma de adequação do seu estilo intelectual às demandas do contexto. Portanto, os estudos apresentados trazem em comum a possibilidade de pensar nos estilos e estratégias acadêmicas que garantem uma permanência e aproveitamento discente no Ensino Superior, focalizando em estratégias cognitivas e associadas a recursos desenvolvidos pelos próprios estudantes, destacando-se inclusive o papel de algumas abordagens teóricas, em especial nas contribuições da terapia cognitivo comportamental para o enfrentamento das dificuldades de adaptação acadêmica (Oliveira, Dias & Piccoloto, 2013). Nota-se, portanto, que os estudos voltados para o processo de adaptabilidade à vida universitária trazem contribuições no sentido de pensar as estratégias cognitivas e individuais com relação ao processo acadêmico. Identifica-se também, uma tendência dos estudos na área da Psicologia Escolar voltada para a identificação e testagem de padrões e estratégias cognitivas de adaptação escolar. Não obstante, também se encontrou estudos mais voltados ao processo de assistência estudantil. O estudo de Oliveira e Gomes (2020), a partir de uma revisão da literatura, aponta a existência de estudos a partir de 2015 voltados a ações em defesa de uma política de assistência estudantil com o objetivo de diminuir a desigualdade social entre os estudantes. U exemplo disto, é o estudo de Silva e Silva (2019) que defende as ações do Psicólogo Escolar na assistência ao estudante a partir de uma ação ampla, envolvendo não somente o cuidado e atenção ao discente, mas também sua importância na participação da elaboração do projeto político-pedagógico e formação e ações com os docentes, focalizando nos processos educacionais da instituição. Ainda, o estudo de Peretta, Oliveira e Lima (2019) destaca o importante papel do psicólogo escolar em relação ao assunto da evasão escolar, em especial na compreensão sobre os motivos associados ao abandono do Ensino Superior. As pesquisas analisadas nesta categoria apontam caminhos e estratégias importantes que podem ajudar o fazer do psicólogo escolar com relação a intervenção e construção de caminhos para compreender o processo de aprendizagem acadêmica do aluno. Ainda, aponta-se o avanço de alguns estudos em reforçar o papel do psicólogo pautado em um questionamento que vai além do âmbito individual focado no aluno, questionando-se por exemplo: Qual é o papel da instituição com relação a adaptação e aproveitamento do aluno? Qual é o papel do professor enquanto mediador e importante figura social com relação ao "sucesso" ou "fracasso" discente? Qual é o papel do coletivo nas instituições de Ensino Superior? Enfim, estas são questões que provocam no sentido de pensar a necessidade de um contexto mais amplo que interage e é indissociável com a questão da adaptação ou não do estudante universitário. As pesquisas que apontam a atuação profissional do Psicólogo a partir desses questionamentos, são voltadas para os aspectos coletivos do desenvolvimento psicológico, se pautando em uma perspectiva mais crítica da realidade e que precisam ter seu espaço no que se refere a compreensão e ampliação das questões voltadas ao processo de cuidado ao discente. Outro tema que foi presente em nossa busca foi a questão da inclusão no Ensino Superior, tema que abordaremos a seguir.
Inclusão de alunos com deficiência: a ampliação do conceito exclusão/inclusão
O processo de inclusão de pessoas com deficiência no ensino, deixou-se de ser um tema importante e restrito à Educação Básica, uma vez que esses sujeitos vêm ocupando cada vez mais o nível superior. Isto, sem sombra de dúvidas, é um avanço importante e revelador com relação ao importante papel que as ações de Educação Inclusiva na Educação Básica vem ocupando, apesar dos inúmeros percalços e dilemas que não cabe neste momento descrevê-los. Portanto, as demandas voltadas ao processo de inclusão também vem sendo foco de trabalho do psicólogo escolar inserido no Ensino Superior. No estudo realizado por Ciantelli, Leite e Nuernberg (2017), buscou-se identificar a atuação do psicólogo nos núcleos voltados à acessibilidade nas instituições federais de Ensino Superior de estudantes com deficiência e/ ou mobilidade reduzida. Como resultados, o estudo aponta que o papel do psicólogo neste contexto poderá voltar-se à promoção de ações que busquem superar as barreiras atitudinais presentes nestes espaços, como por exemplo, a efetivação de programas de sensibilização e conscientização, palestras e campanhas. Coadunando a este mesmo pressuposto, o estudo realizado por Lima, Marques, Lima e Lobato (2016) analisa as ações do psicólogo escolar com relação ao processo de inclusão no Ensino Superior. O estudo aponta que para a inclusão de alunos com deficiência no Ensino Superior é necessário medidas que facilitem e concretizem esse processo, atentando-se para o processo de formação de professores, adequação de recursos pedagógicos e curriculares, de modo a envolver uma reflexão e conscientização de todos os envolvidos nos processos educativos. Nota-se a importante contribuição dos estudos no que se refere ao olhar da Psicologia Escolar para as demandas de inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior, demonstrando que esse público vem ocupando os espaços na Educação Superior. Se por um lado, tal cenário aparece como uma conquista (ainda que expressa em poucos estudos), por outro, nos leva aos seguintes questionamentos: o conceito de inclusão no Ensino Superior se dá somente na relação com a deficiência? Por que as pesquisas que enfocam o conceito de inclusão, via de regra a associam prioritariamente (ou exclusivamente) à deficiência? Com estes questionamentos, não estamos nos referindo que as pessoas com deficiência não precisam ser olhadas por meio do conceito de inclusão, já que são pessoas que estão e foram excluídas de seu processo de escolarização por muito tempo e sofrem uma serie de barreiras. O que queremos apontar é que no Ensino Superior, há uma demanda com relação a inclusão que é muito mais ampla e que precisa ser olhada, vista e revelada. O Ensino Superior por sua reconfiguração e democratização vem acolhendo pessoas de diversos níveis econômicos e demográficos, como por exemplo: sujeitos que não estudavam a muito tempo e tiveram nesse nível de ensino a oportunidade de retomar tal prática social. Em continuidade a isso, são sujeitos que enfrentam uma série de dificuldades com relação ao saber acadêmico; sujeitos que geralmente tem e tiveram um histórico de vida de inúmeras vulnerabilidades socias e que encontram no Ensino Superior a possibilidade de superação. Geralmente são sujeitos de diversas regionalidades que migram para centros em busca de melhor qualificação e apresentam inúmeras dificuldades quanto a apropriação da cultural local. Enfim, dentre tantos outros fatores esses são exemplos de sujeitos que passaram e passam por inúmeras dificuldades com relação ao que podemos chamar de inclusão no Ensino Superior.
Para Sawaia (2007), ao discutir o conceito de inclusão é prioritariamente necessário pensar em seu contrário, a exclusão. Este conceito relaciona-se a uma dimensão objetiva e concreta que caracteriza a desigualdade social, as relações de violação de direitos e a dimensão subjetiva do sofrimento humano em meio a estas condições. Em especial em países mais pobres (como é o caso do Brasil), a sociedade exclui o sujeito de diversas formas, seja não oferecendo um ensino de qualidade que o permite transcender e superar sua condição social ou então não garantindo condições básica de sobrevivência e existência como comida, trabalho, etc. Ainda, ao mesmo tempo que as condições sociais são promotoras da exclusão busca-se ações que visam a inclusão. Cria-se programas, propostas e ações no âmbito das políticas públicas e sociais a fim de "incluir" as pessoas que foram "excluídas" de alguma forma. Ou seja, segundo a autora "a sociedade exclui para incluir e está transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão" (Sawaia, 2007, p. 8). Sendo assim, não se pode pensar o conceito de inclusão sem o conceito de exclusão, os quais se imbricam dialeticamente. A psicologia ao discutir o conceito de inclusão precisa adentrar e pensar em um processo de exclusão muito mais amplo, e que talvez seu esforço principal não seja avançar somente nas discussões sobre a inclusão, mas também na problematização a fim de dar visibilidade aos processos de exclusão que, muitas vezes, não estão facilmente revelados. Portanto, sem dúvidas este é um desafio para a Psicologia Escolar a qual relaciona-se de modo imbricado a seu comprometimento ético-político com as práticas nas quais participa e atua, uma vez que as ações de exclusão no Ensino Superior e o modo como são tratadas e compreendidas atuam de modo bastante incisivo no processo de configuração de sentidos dos atores envolvidos nos processos de Educação Superior.
Sentidos configurados: em busca pelo acesso ao sujeito
O processo de configuração de sentidos envolve muitas variáveis que se imbricam na constituição do sujeito, referindo-se não somente às características singulares dos atores educacionais, mas também seu contexto histórico e social. No estudo de Matos e Hobold (2015) buscou-se conhecer a construção de sentidos subjetivos com relação aos processos de ensino e aprendizagem, destacando o importante papel da relação professor-aluno neste processo. Tanto na análise com os professores quanto com os alunos, houve um destaque do trabalho docente em sua dimensão comportamental, técnica e profissional como um fator importante para a configuração de sentidos positivos tanto para alunos com relação a sua permanência e realização, quanto para os professores com relação ao sentimento de seu papel social. Com o foco nos sentidos, encontra-se também o estudo de Pan e Litenski (2018) que discute a prática de letramento acadêmico no Ensino Superior e seu impacto na subjetividade discente. Pela análise das falas dos estudantes existe a presença do sentimento de muita dificuldade na compreensão e apropriação da linguagem acadêmica, em especial, no momento de ingresso na universidade. Ainda, esta dificuldade é configurada pelos estudantes como uma certa incompetência para o estudo, fruto de uma produção subjetiva que remete a individualização e culpabilização pela dificuldade com a leitura e escrita acadêmica. O estudo avança também no sentido de propor uma metodologia de oficinas como intervenção da Psicologia Escolar para a apropriação e discussão, análise e trabalho com as demandas voltadas a dificuldade com a linguagem acadêmicas em ingressantes universitários. Os estudos com relação aos sentidos configurados no Ensino Superior, nos permitem acessar o modo como os sujeitos se apropriam e configuram as relações sociais e demandas da vida acadêmica, destacando também a necessidade da Psicologia, na interface com a educação adentrar e olhar para a dimensão do sujeito, buscando compreender seus afetos, vivências e emoções, podendo avançar e propor projetos, programas e propostas que vão ao encontro das demandas apresentadas por alunos e profissionais. No entanto, é necessário maior investimento em estudos com relação ao processo de configuração de sentidos, uma vez que com as rápidas transformações sociais e políticas que afetam diretamente o Ensino Superior (e a educação como um todo) é necessário considerar o impacto dessas medidas no processo de configuração de sentidos dos sujeitos.
Considerações finais
Com base nas produções científicas acessadas e analisadas acerca da ação da Psicologia no contexto da Educação Superior, é possível afirmar que há um movimento predominante em apontar tendências e caminhos para a ação e pesquisa do psicólogo no Ensino Superior. Isto porque, parece haver uma consciência crítica de que as ações da Psicologia Escolar produzidas ao longo da história muitas vezes não são suficientes para uma ação efetiva e socialmente comprometida com as demandas que são apresentadas. Contudo, apesar dos estudos apontarem a necessidade de novos modelos de atuação do psicólogo escolar neste nível de ensino, ainda são poucas as pesquisas que de fato trazem modelos ou relatos de como este profissional pode atuar. Na maioria dos estudos empíricos acessados o foco de trabalho do psicólogo escolar é específico com os alunos, em especial aqueles que possuem algum tipo de fracasso escolar, ainda que haja o reconhecimento da necessidade de envolver um coletivo e outros atores educacionais. Tal constatação nos leva aos seguintes questionamentos: será que a ação do psicólogo escolar no Ensino Superior ser focalizada em uma proposta mais individual, centrada no processo do fracasso e adaptação estudantil, justifica-se pelo não saber realizar/conduzir outras possibilidades de ação? Por que pouco ou quase nada é colocado em prática no que se refere a um trabalho voltado para a dimensão institucional e no envolvimento de diversos atores?
Para pensar nestas questões, as quais apresentam sua funcionalidade de provocar e levantar hipóteses, é necessário pensar o fazer do psicólogo como vinculado à realidade social na qual ele está inserido. E quando voltamos o olhar para a estrutura das instituições de Ensino Superior, vemos diversos problemas e dilemas que podem justificar e limitar o fazer do psicólogo escolar, como por exemplo: coordenação de cursos envolvida e tomada com a "burocracia" exigida com relação aos trâmites institucionais; professores horistas que recebem somente pela hora trabalhada em sala de aula no contexto privado, e que também apresentam uma demanda expressiva de tarefas burocráticas com relação a condução das disciplinas (correção de provas, lançamento de notas, faltas, construção de avaliação, alimentação de sistemas, etc), entre muitos outros problemas que ilustram o cotidiano dos profissionais inseridos no Ensino Superior e que nos levam a mais questionamentos: Qual seria o espaço para pensar e promover o bem estar de estudantes e melhorar seu aproveitamento acadêmico? Qual seria o espaço para pensar caminhos com relação aos processos de aprendizagem e sua importância no desenvolvimento do sujeito? Em síntese, estas questões nos levam a pensar, portanto, qual é o espaço para a Psicologia Escolar exercer seu saber? Qual é o espaço da psicologia no envolvimento de coordenadores e professores em seus processos interventivos? Tais questionamentos que são colocados apontam para a necessidade de um pensar crítico e contextualizado com relação as possibilidades e limites da atuação do psicólogo escolar no Ensino Superior. Neste sentido, ao discutir a questão do cenário das produções científicas da Psicologia Escolar no Ensino Superior no âmbito do Brasil é fundamental uma análise crítica sobre o modo com as instituições de ensino vem sendo organizadas. Porém, cada vez mais torna-se necessário a produção da Psicologia Escolar com relação as suas contribuições para a promoção do desenvolvimento das instituições de Ensino Superior. Isto porque, a Psicologia Escolar com seu conhecimento tem muito a contribuir não somente para um público específico, mas para a instituição como um todo, em especial na criação de espaços de "arejamento" e reflexão com relação ao papel da Educação Superior na formação e desenvolvimento de futuros profissionais. Portanto, a partir da análise apresentada evidencia-se a necessidade de maiores investigações, em especial de natureza empírica que tragam modelos e caminhos para a atuação do psicólogo escolar a partir de uma proposta coletiva e institucional, que envolvam as instituições de ensino em sua dimensão coletiva, caminhando em direção aos pressupostos de atuação da Psicologia Escolar defendidos por alguns estudiosos da área (Souza, et al., 2014). No que se refere às limitações deste estudo destaca-se o recorte realizado considerando apenas estudos nacionais, sendo que as produções internacionais poderiam contribuir para a ampliação das discussões acerca da contribuição da Psicologia Escolar com relação as demandas no Ensino Superior, constituindo-se como desafio para estudos futuros. Ainda, outro limitador é que podem existir estudos que não foram contemplados na presente revisão por não apresentarem os descritores utilizados na busca da presente revisão ou por não declararem o foco na Psicologia Escolar. Sendo assim, ressalta-se a necessidade e importância do uso adequado das palavras-chave para os estudos, a fim de que os mesmos possam ser localizados nas buscas bibliográficas.
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Recebido: 26.05.21
Corrigido: 22.06.21
Aprovado: 05.09.21