Estilos da Clinica
ISSN 1415-7128 ISSN 1981-1624
Estilos clin. v.13 n.24 São Paulo jun. 2008
EDITORIAL
Mais uma vez, a Estilos da Clínica propõe um dossiê sobre escrita. Se, da primeira vez (nº14, ano 2003) a abordagem do tema se deu a partir do acontecimento da escrita na clínica psicanalítica com crianças, nesta oportunidade a discussão se realiza em outro ponto.
O dossiê "Escritas" trabalha com a noção de escrita em duas ordens diferentes: a escrita inconsciente, psíquica, marca/cifra do acontecimento subjetivo; e a escrita alfabética, acontecimento linguístico relativo ao ato de escrever.
É fato que no âmbito das duas escritas existem termos comuns, tais como letra, marca, registro, traço etc. Há, ainda, trabalhos que sustentam a hipótese de que a escrita alfabética está relacionada à escrita inconsciente o sujeito aparece no seu modo de escrita, a escrita alfabética é um possível campo sintomático para o sujeito. Nesse sentido, torna-se fundamental marcar os pontos de convergência e divergência dessas duas ordens de escrita, pois os homônimos aqui fazem referência a noções distintas. E é a essa tarefa que esse dossiê se propõe.
Escrita alfabética e inconsciente se dão em planos topológicos diferentes. Se, para muitos ainda que não pra todos , a escrita alfabética é um objeto que deve ser apreendido na ordem do conhecimento, a escrita inconsciente, por sua vez, se aproxima de uma cifragem que não se organiza como texto, é tecida na ordem da letra. Letra que cifra o gozo, litoral entre Real e Simbólico.
Porém, tais planos topológicos se relacionam. A escrita alfabética, fato de linguagem, pode apresentar-se como um plano de impacto do sujeito do inconsciente. Como se dá esse jogo? Alguns artigos vão discutir, a partir da clínica, a inibição e o sintoma na escrita, considerando, para tal, a escrita com a ordem significante e pulsional. Através desse caminho, será possível tomar o escrever como ato de comparecimento subjetivo.
Para desfazer o curto circuito simplista entre as duas ordens de escrita a noção de letra apresenta-se como um operador conceitual fundamental. Desse modo, outros artigos desse dossiê apresentam essa discussão no eixo da teoria psicanalítica, da relação da psicanálise com a pesquisa e com a ciência e, de importância relevante, mas a partir de outro ângulo, a discussão é realizada também em relação à tecitura do sujeito.
"Escritas" está organizado em dois volumes distintos da Estilos da Clínica. Nesta edição, apresentamos os trabalhos de Ana Costa, Angela Vorcaro e Viviane Veras, Anna Rita Sartore, Claudia Riolfi e Mical Magalhães, Francisca Lier-DeVitto e Lourdes Andrade, Gérard Pommier, Jeanne D'Arc Carvalho, Julieta Jerusalinsky e Manoel Tosta Berlink e Rejane Rubino.
Estilos recolhe, neste dossiê, diferentes abordagens da temática da escrita nos campos teórico e clínico, bem como a sua articulação ao discurso social. São artigos que avançam porque fazem trabalhar as noções de letra e escrita e, apostamos, ao encontrar com o leitor, sustentam um retorno rigoroso à clínica.
Ilana Katz Zagury Fragelli
Doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo