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Estilos da Clinica
versão impressa ISSN 1415-7128
Estilos clin. vol.17 no.2 São Paulo dez. 2012
EDITORIAL
O Dossiê "A clínica psicanalítica com crianças: desafios e resultados", proposto para a edição 17.2 de Estilos da Clínica e colocado no ar em dezembro de 2012, está vindo a público em momento bastante oportuno. Dois meses antes, a comunidade psicanalítica de São Paulo acompanhou chocada a adoção de medidas do poder público paulista tomadas na direção de restringir a prática psicanalítica com crianças, com a alegação de que se trata de práticas ineficazes e não científicas.
O Edital para Credenciamento de instituições que trabalham com autistas, lançado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo, exige uma "declaração do responsável legal pela Instituição de que utilizará métodos cognitivos comportamentais validados na literatura científica, tais como PECS (Picture Exchange Communication System) - Sistema de Comunicação por figuras; ABA (Applied Behavior Analysis) - Análise do Comportamento Aplicada; TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handiscapped Childrem) - Tratamento e Educação de Crianças Autistas com desvantagem na Comunicação". Isto quer dizer, obviamente, que para a SES a psicanálise não tem comprovação científica, já que não está listada entre os métodos que deveriam obrigatoriamente ser adotados.
A SES é também responsável por uma segunda medida de alto teor político: fechou o CRIA (Centro de Referência da Infância e da Adolescência - UNIFESP), instituição que recebia verbas daquela Secretaria, também com a alegação de que ali se praticavam métodos sem comprovação científica.
A revista Estilos da Clínica vem, porém, desmentindo essas afirmações há mais de quinze anos, por meio da publicação de artigos científicos de psicanalistas de crianças dentro do mais exigente padrão de publicação, e no interior dos quais se demonstram o rigor, a pertinência e a eficácia dos tratamentos psicanalíticos com crianças. Em um trabalho publicado em 2011, Anahi Marfinati e Jorge Luis Abrão fizeram um levantamento dos artigos da Estilos que abordam o tema do autismo e encontraram trinta e cinco artigos entre 1996 e 20071, mostrando com isso que a revista Estilos tem de fato uma vocação - e agora uma responsabilidade redobrada - de dar visibilidade ao importante e significativo trabalho dos psicanalistas que trabalham com autismo.
Assim, a chegada deste Dossiê vem reafirmar, em tempos de retrocesso político e científico, o vigor e o rigor dessas práticas, mais do que nunca vivas e em constante inovação. Os artigos mostram como é necessário ir além do orgânico, ouvir e apoiar os pais, ler sobre o trabalho clínico de Françoise Dolto, Donald Winnicott e Melanie Klein, dar importância ao brincar no tratamento e no desenvolvimento das crianças, acolher bebês, prevenir. E acompanhem a beleza do tratamento de Irene, uma menina autista que aprendeu, entre outras coisas, a dizer "vamos conversar" e a perguntar "o que é a vida".
Os editores
1 Marfinati, A. C., & Abrão, J. L. F. (2011). O pensamento psicanalítico sobre o autismo a partir da análise da Revista Estilos da Clínica. Estilos da Clínica, 16(1). Recuperado em dez. 2012, do Portal de Revistas da USP: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141571282011000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt [ Links ]