Natureza humana
ISSN 1517-2430
Nat. hum. v.2 n.1 São Paulo jun. 2000
ARTIGOS
Agressividade e provisão ambiental
Aggressiveness and enviromental provision
Maria Ivone Accioly Lins
Doutora em Psicanálise pela Universidade de Paris X - Nanterre
Psicanalista da Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro
RESUMO O artigo apresenta algumas das principais idéias de Winnicott sobre a agressividade, particularmente no que diz respeito às suas raízes e à relação entre agressividade e fase intermediária do desenvolvimento emocional. Enfatiza o papel do meio ambiente na transformação do impulso agressivo natural em destrutividade ou em criatividade. É utilizada, como ilustração clínica, a mudança das atitudes destrutivas em atividades construtivas de Boaz, um adolescente de 16 anos, personagem de Caixa preta, livro do escritor israelense Amós Oz.
Palavras-chave: Agressividade, Fase intermediária, Agressividade potencial, Meio ambiente, Comportamento anti-social, Destrutividade, Criatividade.
ABSTRACT
This paper presents some of Winnicott's ideas on aggressiveness, with special attention to its roots and to the relationship between aggression and the intermediate stage of the emotional development. It emphasizes the role of the environment in transforming the natural aggressive impulse into destructibility or creativity. Boaz's - the sixteen-year-old character in "Black Box", a romance by the Israeli writer Amós Oz - change from destructive attitudes to constructive activities is used as a clinical illustration.
Keywords: Aggressiveness, Intermediate stage, Potential aggressiveness, Environment, Antisocial behavior, Destructiveness, Creativity.
Antes de iniciar meu relato, de caráter clínico, sobre o comportamento agressivo de um adolescente, acredito ser necessário apresentar certos pressupostos teóricos winnicottianos sobre a agressividade.
Segundo Winnicott, o estudo da agressividade deve inserir-se em uma teoria do processo de maturação do ser humano, uma teoria que leva em conta a história do impulso agressivo e da provisão ambiental. Os limites de minhas reflexões serão dados pelo que considero essencial à compreensão da agressividade, em uma etapa do desenvolvimento da criança, denominada por Winnicott de estágio intermediário. É aí que se dá a passagem de um estado que se define pela ausência de agressividade (estágio pré-cruel) para o estado em que já se pode falar de agressividade, no sentido de uma disposição para o desencadeamento de condutas hostis, destrutivas, ligadas à frustração, ao medo ou à raiva.
A escolha desse momento tem sua justificativa: a teoria do amadurecimento, em Winnicott, não tem um sentido absoluto de desenvolvimento linear, mas, como ele próprio afirma: "as pessoas não têm apenas a sua própria idade; elas têm, em certa medida, todas as idades ou nenhuma idade" (1984c, p. 144). Ao falar dos adolescentes, estamos falando da infância, uma vez que eles revivem, de maneira especialmente intensa, experiências e defesas próprias da infância mais remota.
Em um estudo da história do impulso agressivo, a primeira questão que se coloca diz respeito à origem da agressividade. Winnicott, em "Agressão e sua relação com o desenvolvimento emocional" (1958b), descarta a hipótese de a agressividade ser inata e aponta duas raízes para ela.
Ele substitui o conceito de pulsões sexuais pela noção de um potencial instintual erótico associado a zonas. Afirma que isto é biológico, inato, e, como tudo que é herdado, pouco variável de um bebê para outro. No impulso amoroso primário, primeira manifestação desse potencial instintual erótico, encontra-se uma das raízes da agressividade.
Para Winnicott, o amor é "na origem, uma forma de impulso, de gesto, de contato, de relação" (1955c, p. 441). Já em 1939, quando fala de agressividade inerente ao instinto erótico, esclarece:
Quanto a essa agressividade instintiva, é importante assinalar que, embora se torne em breve algo que pode ser mobilizado a serviço do ódio, é originalmente uma parte do apetite, ou de alguma outra forma de amor instintivo. É algo que recrudesce durante a excitação, e seu exercício é sumamente agradável. (1984a, p. 92)
Segundo Winnicott (1964d, p. 98), quando o lactente se encontra sob o domínio dos impulsos instintuais, isto é, quando busca o objeto e a satisfação do impulso amoroso primitivo, ele vive a experiência da devoração; uma devoração que visa à satisfação do impulso e não à destruição do objeto. O impulso amoroso primário, um incitamento voraz que clama por relacionamentos, só é agressivo por acaso.
A outra raiz da agressividade, Winnicott vai encontrá-la na motilidade, uma das manifestações de um outro patrimônio herdado, pouco variável, denominado por ele potencial de força vital. À motilidade do bebê se associa sua sensorialidade, uma espécie de erotismo muscular que difere do erotismo de zonas, pois, enquanto o erotismo de zonas exige, por sua qualidade instintual, uma ação específica para ser aplacado, a motilidade e os demais elementos da força vital não o exigem.
Segundo Winnicott, o bebê não tem, inicialmente, um motivo claro para uma ação. Sua motilidade é sinônimo de espontaneidade.
O que existe em toda criança é uma tendência para movimentar-se e obter alguma espécie de prazer muscular no movimento, lucrando com a experiência de mover-se e de dar de encontro com alguma coisa. (1964d, p. 98)
Admitindo que a agressividade tem uma raiz no impulso amoroso primário e outra na motilidade, uma segunda questão se coloca: quais os fatores responsáveis pela grande variedade do elemento agressivo e sob quais condições se dá a transformação de elementos, não agressivos por natureza, em agressividade? A resposta a essa questão exige a consideração da história da provisão ambiental.
Agressividade e provisão ambiental no estágio pré-cruel
No início da vida de um recém-nascido a agressividade está ausente. Nesta fase, a motilidade tem um papel importante na descoberta do meio ambiente que, primordialmente, é sentido como oposição ao gesto do bebê. A mãe vai ao encontro dos gestos espontâneos do seu filho, dando-lhes um significado quando atende às necessidades dele. Se ocorrerem, nesse encontro, falhas maternas graves ou excessivas, o bebê experimentará uma sensação de aniquilamento. Um bebê aniquilado não agride.
Um caminho terá que ser percorrido pelo bebê até que sua motilidade e seu impulso amoroso primitivo sejam transformados em agressividade.
Agressividade e provisão ambiental no estágio intermediário
Embora afirme em vários textos que a etapa intermediária corresponde à "posição depressiva" descrita por Melanie Klein, Winnicott usa freqüentemente esta expressão entre aspas, indicando, assim, não só a inadequação dos termos para explicar os fenômenos próprios deste período, como seu desconforto quando emprega termos consagrados pela psicanálise clássica na apresentação de novas idéias.
Considero aqui o estágio definido por Winnicott como um lugar de passagem. Passagem da indiferenciação para a diferenciação em relação ao objeto. Passagem, podemos dizer, da agressão por acaso para a agressividade intencional, da ignorância da dívida para o seu reconhecimento, do amor voraz para o ódio. Passagens que se dão na área da ilusão, denominada por Winnicott de espaço potencial.
É a inconsistência das aquisições do bebê, nesta fase de passagem, que levou Winnicott a chamar o estágio intermediário de "estágio Humpty Dumpty", em alusão à precária posição daquele ovo personificado que, sentado sobre um muro alto e estreito, conversa com Alice. Depois de passar através do espelho, Alice chega à casa do outro lado do espelho. Na busca de tudo conhecer, é surpreendida por uma voz que a interpela sobre sua identidade. Trata-se de Humpty Dumpty, constata Alice, lembrando-se imediatamente da canção de ninar tão conhecida em seu país: "Humpty Dumpty em cima de um muro se sentou/ Humpty Dumpty lá de cima despencou / Erguê-lo não podem os cavalos do rei / Nem todos os cavalos do rei também".
Em Através do espelho, Lewis Carroll, ao tratar da passagem do mundo real para o mundo não real, recorre a um acalanto, deixando-nos imaginar a conversa de uma mãe com seu bebê quando o embala, enquanto aguarda sua passagem do mundo real para o mundo dos sonhos, lugar de integração entre os dados da realidade e os da imaginação. Podemos dizer que, quando canta, a mãe diz a si própria que seu filho precisa ser contido de uma maneira especial nos seus braços. Ela sabe que não é perfeita. Como o muro que sustenta Humpty Dumpty, seu colo pode não ser um apoio suficiente, pois depende, a cada instante, de sua capacidade para atender às necessidades dele.
Considerando a provisão ambiental como muros dumpty-humptyanos que possuem diferentes capacidades de sustentação, veremos como a variedade da agressividade depende das experiências do bebê segundo o tipo de resposta da mãe aos gestos espontâneos e aos impulsos vorazes do bebê no estágio intermediário. Winnicott fala de dois tipos de provisão ambiental e da conseqüência deles na fase intermediária.
A mãe pode tomar os impulsos libidinais, ou os movimentos espontâneos de seu filho, como expressão de agressividade intencional e, em represália, deixar de atendê-lo como fazia antes. Segundo Winnicott, a mãe não sobrevive pois o bebê não a reconhece mais como a mãe - até então, criada onipotentemente pelas suas necessidades - mas como um objeto externo com direitos próprios. O bebê desilusionado, precocemente, não só toma consciência de sua própria capacidade para destruir como faz a experiência de ter destruído a mãe, na fantasia. Tem lugar, então, um sentimento de culpa consciente, que poderá levar à inibição do impulso agressivo pessoal, que faz parte da motilidade e do amor primário, ou à projeção da agressividade no mundo externo. Em ambos os casos, o bebê se encontrará privado do impulso pessoal agressivo, próprio de sua natureza, fonte de realização das atividades construtivas.
Mas a mãe, na maioria das vezes, não vê propósito agressivo nos gestos espontâneos nem na voracidade do seu bebê. Ela sobrevive quando,acolhendo a vitalidade e o amor voraz do seu filho, continua a dispensar-lhe o mesmo desvelo concedido durante os momentos tranqüilos. Ela mantém esta situação o tempo necessário à retenção, na memória dele, da imago de um bom objeto. E, por continuar lá, não perde por esperar, pois logo mais o bebê a presenteia com um sorriso especial ou com a maneira como manuseia as fezes, dando-lhe a idéia de um gesto dadivoso. Segundo Winnicott, a repetição de experiências deste tipo cria um ciclo benigno propiciador de um espaço para a capacidade de o bebê preocupar-se e sentir-se responsável pelos seus atos, sem perda do impulso destrutivo que lhe é próprio.
Em 1960, Winnicott propõe uma compreensão intelectual do que acontece no momento da transformação da destrutividade em construtividade. Deixa claro que, se for dada ao bebê a oportunidade de contribuir, e se sua contribuição for reconhecida e acolhida, o sentimento de culpa funciona de modo especial. O bebê experimenta a possibilidade de sentir-se culpado.Winnicott fala de um sentimento de culpa potencial e explica:
Deve-se assinalar que aqui, geralmente, o sentimento de culpa de que estou falando é silencioso, não consciente. É um sentimento de culpa potencial, anulado pelas atividades construtivas. O sentimento de culpa clínico, que é uma carga consciente, é outra questão. (1984c, p. 150)
Só em 1968, no entanto, Winnicott relaciona claramente a destrutividade com a qualidade da provisão ambiental, levando em conta que a mãe, na fase intermediária, é um objeto transicional para o bebê. Considerando o papel dos cuidados maternos no que diz respeito às variações do elemento agressivo, ele afirma que: "são grandes as variações que se originam das diferenças nas experiências de diversos bebês recém-nascidos, conforme sejam eles conduzidos ou não através dessa fase muito difícil (1971a, pp. 129-30, itálicos meus).
Winnicott parte da idéia de falhas maternas naturais quando lembra que o encontro da mãe com o gesto do bebê, dentro do processo evolutivo da relação entre eles, perde a prontidão e a qualidade adaptativa do começo. Tem início o desilusionamento necessário à evolução do bebê que, por sua vez, começa a perceber que ele e a mãe não são a mesma coisa. Esta separação incipiente, denominada por Winnicott repúdio do objeto, dá início à perda do seu controle onipotente sobre ela.
Falando em termos de seio, diz Winnicott: "Qualquer que seja a idade em que um bebê começa a permitir ao seio uma posição externa, a destruição do seio está em causa". Mas, acrescenta Winnicott, "essa destrutividade real relaciona-se ao fracasso do objeto em sobreviver. Sem esse fracasso, a destruição permanece potencial" (1969i, p. 129).Winnicott distingue, assim, a experiência da possibilidade de destruir da experiência de ter destruído algo.
As noções de sentimento de culpa e de destrutividade potenciais só podem ser entendidas se inseridas na teoria do espaço potencial, lugar que se abre não para a atualização de potenciais herdados, mas para a realização de experiências que só podem ser definidas em termos paradoxais. É a essa área que se refere Winnicott quando afirma que os objetos "são destruídos porque são reais e tornam-se reais por que são destruídos" (1969i, p. 126). Do mesmo modo podemos dizer que, no espaço potencial, os objetos são destruídos porque são construídos e são construídos porque são destruídos.
A história de Boaz
Segundo Winnicott:
para termos uma idéia do que ocorre durante o trabalho de reorganização interna após a experiência instintiva, devemos nos remeter às obras dos artistas que [...] conseguem alcançar a quase totalidade da força que existe na natureza humana. Um quarteto de Beethoven da última fase, as ilustrações de Blake para o livro de Job, ou uma novela de Dostoievski, mostram-nos uma parte da complexidade do mundo interno, o entrelaçamento do bem e do mal, a manutenção do que é bom na reserva, e o controle, ainda que com o total reconhecimento, do que é mau. (1988, p. 97)
Com estas palavras inicio meu relato da história de Boaz, personagem de Caixa preta, livro de Amós Oz, israelense considerado um dos grandes escritores contemporâneos. Contarei a história de um adolescente e das respostas dadas pelo meio ambiente à sua capacidade de destruição e de construção. Uma história que começa quando Ilana, funcionária de um pelotão do Exército, apaixona-se pelo tenente Alexandre, seu comandante.
Quem eram Ilana e Alexandre?
O ambiente que os pais proporcionam a seus filhos traz muitas vezes a marca da história de cada um deles. Ilana teve uma infância traumática. Na Polônia, seu país de origem, a família vivia em situação de grande privação econômica. De Israel, lembra da morte do pai, um professor asmático que, tendo arranjado trabalho na construção como estucador, leva um tombo fatal de um andaime. Com a morte da mãe, menos de um ano depois, Ilana, aos sete anos, é enviada para uma instituição, enquanto sua irmã vai para um kibutz.
Bem diferente, do ponto de vista econômico, são as lembranças de Alexandre, ou Alec, como Ilana o chamava: o palacete com seus jardins, roseiras, bichos da seda, borboletas, louça chinesa. Do ponto de vista afetivo, entretanto, tudo indica que sua infância foi mais traumática que a de Ilana. Sem mãe, sem irmãos, tinha apenas um amigo: um macaco rhesus que foi fulminado em sua frente no dia em que mordeu seu pescoço, por ordem de seu pai. Até os quatro anos, Alec não sabia falar mas sabia asfixiar uma topeira com fumaça e matar uma pomba a pedradas. Aos nove anos, por ordem do pai, começa a freqüentar aulas de box.
Aos dez, num acesso de raiva, joga uma cadeira e quebra o nariz do professor. É nessa idade que o pai lhe ensina a montar e desmontar um revólver, a dar tiros e a dominar os segredos de um punhal.
O casamento
Ilana sentiu-se atraída por seu comandante; pelo seu ar de dominação e desprezo, por suas expressões vorazes diante de qualquer sinal de oposição. Enquanto as demais secretárias ficavam petrificadas e rompiam em pranto, Ilana, enfeitiçada, provocava-o num impulso cego, mesmo sabendo que o preço seria uma detenção no quartel ou a suspensão de uma folga. Alec, virgem aos vinte e oito anos, não resiste às provocações. Os encontros, dominados por violenta paixão, abrem espaço para sentimentos afetivos. Casam em pouco tempo e, logo em seguida, Ilana engravida de Boaz.
A infância de Boaz e seu meio ambiente
A relação de domínio e provocação entre Ilana e Alec continua depois do casamento. Rapidamente, Alec começa a se excitar com o jogo imaginário de um terceiro na cama. Pede a Ilana para lhe contar, em detalhe, suas experiências sexuais antes do casamento ou para atribuir notas, do ponto de vista da excitação suscitada nela, aos seus comandantes e amigos, ao encanador, ao entregador de pizza. Com todos esses homens Ilana passará a traí-lo.
Quando Boaz completou dois anos, escreve Ilana, os fornos do nosso inferno já eram aquecidos por um fogo negro. Nosso amor se encheu de ódio que devorava tudo mas continuava disfarçado em amor. Sobram para Boaz as conseqüências desta relação.
Ilana lembra da idade de Boaz nesse momento de transformação do amor em ódio. Uma mudança do ambiente, na fase em torno do segundo ano, tem como conseqüência, segundo Winnicott, um sentimento de privação afetiva nas crianças. Os pais, envolvidos com seus próprios problemas, privam a criança dos cuidados aos quais ela estava habituada. O autor vê esse tipo de privação na origem dos comportamentos anti-sociais.
Alec lembra como Boaz, nesta idade, dormia todo encolhido no cobertor pesado, cobrindo a cabeça loira como um filhote de animal acuado. Mas também se lembra das brincadeiras de Boaz: por um lado o canteiro de balas no jardim, o cemitério de borboletas e as batalhas de tanques no tapete; por outro, o labirinto e o parque de diversões que montava para as tartarugas.
A alusão às brincadeiras permite entender qual o recurso usado por Boaz para curar-se da privação de afeto, pois, como Winnicott nos ensinou, a brincadeira tem um valor terapêutico e cabe aos pais favorecer aos filhos um playground, lugar de integração de suas experiências. Embora, a cada dia, o ambiente familiar de Boaz mais se deteriorasse, um espaço de jogo era preservado. Alec acolhia as brincadeiras do filho e participava delas.
Um fato da história familiar ficou marcado, de maneira singular, na memória dos três. Alec recorda a noite em que, ao chegar em casa, encontrou sobre a mesa da cozinha um isqueiro que não era seu. Enquanto bate em Ilana com os punhos, Boaz aparece de pijama de astronauta e lhe pede baixinho que parasse porque ela era mais fraca. Quando Alec lhe diz para voltar para a cama e continua a bater em Ilana, Boaz arremessa um pequeno cacto no seu rosto. Enfurecido, Alec larga a mãe do garoto e agarra loucamente o filho, batendo com a cabeça deste inúmeras vezes na parede.
Ilana lembra do mesmo fato. Absorvido na preparação do seu doutorado, Alec desaparecia dias e noites de casa. Sem aviso prévio regressava, e então, após trancar Boaz em seu quarto, arrancava-lhe confissões detalhadas de suas traições, antes de descarregar sobre ela a torrente de seus desejos. No dia em que, ardendo em febre, ele encontra aquele isqueiro, é tomado por uma alegria enlouquecida. Após esmurrá-la até arrancar dela, num interrogatório implacável, cada detalhe de sua traição, finca seus dentes em seus ombros e bate nela com as costas da mão, como se castigasse um cavalo rebelde.
Diz Boaz, aos dezesseis anos, a Ilana: Eu ficava maluco com os gritos e as pancadarias de vocês. Achava que era tudo por minha causa. Como é que eu podia saber? Toda vez que você tentava suicídio e levavam você para o hospital, eu queria matar ele. Quando você trepava com os amigos dele, eu queria envenená-los. Em vez disso, eu surrava qualquer um que se metesse comigo.
Com perspicácia, Amós Oz nos introduz no ambiente familiar de Boaz. Ilana recorda os fins de semana chuvosos, quando ela e Alec ficavam na cama até as dez, moídos e exaustos da crueldade de suas noites. Quando chegavam à sala, encontravam Boaz, um garoto de apenas seis anos, acordado. Tinha se vestido com a camisa abotoada errada e usava meias diferentes uma da outra. Sentado, o abajur aceso, o cachimbo do pai na boca, desenhava painéis de naves espaciais ou um avião caindo em chamas. Às vezes cortava para o pai uma pilha de pequenos cartões retangulares espantosamente exatos, a contribuição dele para o doutorado de Alec.
Para Winnicott, o ato de doar é expresso pela criança na brincadeira. "Inicialmente, porém, o jogo construtivo necessita da proximidade da pessoa amada, aparentemente envolvida ou então apreciando, realmente, a verdadeira conquista construtiva do jogo" (1955c, p. 449). Tal como procediam Alec e Ilana.
As falhas ambientais não conseguiam destruir a capacidade criativa de Boaz, que teima em se expressar nas brincadeiras. Na vida de Boaz, a violência e a ternura chegavam até ele em grandes medidas, deixando lugar para a esperança. Para Winnicott, quando há esperança, o indivíduo pode usufruir dos impulsos destrutivos convertendo em bem, na vida real, o que era dano na fantasia. Nessa conversão se encontram as bases do brincar e do trabalho.
A experiência de ter seu gesto dadivoso acolhido dava a Boaz a possibilidade de experimentar, na brincadeira, seu impulso destrutivo. Como diz, ainda Winnicott, com clareza e simplicidade: "Só se soubermos que a criança quer derrubar a torre de cubos, será importante para ela vermos que sabe construí-la" (1984a, p. 96).
Mas, pouco a pouco, como se assumisse o papel de controlador dos impulsos destrutivos dos pais, Boaz começa a se comportar como um adulto. Ilana lembra quando ia à cozinha preparar o café e descobria que Boaz já tinha posto a mesa para três. Como um assistente social, ele agia como um intermediário, pedindo a Ilana que servisse mais café para Alec e a Alec que passasse o queijo para ela. Os gestos espontâneos da infância, perdidos, serão cobrados por Boaz na adolescência.
O divórcio dos pais
Boaz tem oito anos quando os pais se divorciam. Ilana descreve Boaz nesta época: um menino magro, cuidadoso, disciplina- do, quase medroso, capaz de suportar humilhações com contida e silenciosa determinação. Concentrado, construía para o pai modelos de avião. Dois meses antes do divórcio, quando o filho é hospitalizado com uma infecção renal seguida de complicações, Alec vai ao hospital, sem o conhecimento de Ilana, para perguntar ao médico se, em caso de necessidade, poderia doar um rim ao filho. Entretanto, em um processo de divórcio litigioso, dos mais violentos, o mesmo Alec nega a paternidade de Boaz, saindo do casamento livre de qualquer responsabilidade em relação a ele e a Ilana.
Depois de confessar suas traições diante de três rabinos e um juiz, e de ser acusada, publicamente, por Alec, de tê-lo traído com um exército inteiro e ter-lhe dito mentiras suficientes para um regimento de maridos enganados, Ilana é, juntamente com Boaz, expulsa de casa. Sem dinheiro, deixa sua casa em Londres, onde moravam, e vai com o filho viver no kibutz dirigido pela sua irmã, antes de encontrar um emprego em Jerusalém.
Boaz permanece dos oito aos treze anos no kibutz. Ilana visita-o com regularidade no início até que, ao saber do seu casamento com Michel, Boaz passa a chamá-la de puta e bate o telefone quando lhe é anunciado o nascimento da irmã. Diria que Boaz revive, certamente, a carência afetiva dos dois anos, quando o amor entre Ilana e Alec se encheu de ódio.
Winnicott sugere que a mudança da crueldade primitiva em capacidade de preocupação se dá entre os cinco e os doze meses da criança. Na adolescência, particularmente, essa mudança pode se perder em função das respostas do meio. No início da puberdade começam as manifestações destrutivas de Boaz.
A violência de Boaz e as respostas do meio ambiente
Com quatorze anos e meio, Boaz abandona o kibutz e chega à casa de Ilana e Michel, numa noite de inverno, fazendo duas exigências: a primeira é que o matriculem em uma escola agrícola, a segunda é que jamais o visitem. Caso contrário, diz, passará a viver na rua e nunca mais ouvirão falar dele. Michel pergunta se ele é um cavalo e o manda pedir desculpas à mãe. Boaz desacata Michel e, com a face contorcida por desespero e escárnio, sussurra para Ilana: e você deixa essa coisa foder você toda noite? Mas ao ver a irmã, Yifat, passa a mão sobre os cabelos da mãe e diz: o bebê de vocês é bem bonito.
A agressividade de Boaz não anula sua capacidade de expressar, espontaneamente, um gesto de carinho. Na base dos comportamentos anti-sociais não se encontra um recalque devido ao conflito entre o amor e o ódio, mas uma dissociação entre os dois sentimentos. Nas diferentes manifestação anti-sociais de Boaz, tal dissociação fica evidente.
Primeiras manifestações de comportamentos anti-sociais
De acordo com o pensamento winnicottiano, o comportamento anti-social é organizado na esperança de compelir o ambiente a retroceder à situação de carência e a reconhecer sua responsabilidade. Existem duas direções da tendência anti-social.
Destrutividade
Uma das direções, diz Winnicott, manifesta-se na destrutividade. Através dela,
a criança está procurando aquele montante de estabilidade ambiental que suporte a tensão resultante do comportamento impulsivo. Ela busca um suprimento ambiental que se perdeu, uma atitude humana que, uma vez que se possa confiar nela, dê liberdade ao indivíduo para se movimentar, agir e se excitar. (1958c, p. 132)
Com dezesseis anos, um metro e noventa e dois de altura, Boaz é descrito por Ilana como um garoto amargo e selvagem a quem o ódio e a solidão deram uma força física espantosa. Um garoto estranho que chama a mãe de puta, o padrasto Michel de pequeno alcoviteiro, cafetão da mãe, o pai de cachorro e a escola de "Ilha do Diabo".
Durante os dois anos em que ficou na Escola Agrícola, as únicas notícias de Boaz foram dadas pelos avisos da diretora: O rapaz é violento. Meteu-se numa briga e quebrou a cabeça do guarda noturno. Foge à noite. Tem ficha na polícia. Está sob a guarda de um oficial de correção. O rapaz tem de deixar a escola. Este rapaz é um monstro. A Escola Agrícola não pode dar a Boaz a resposta ambiental de que necessitava, isto é, a estabilidade ambiental que suportasse a tensão resultante de seus impulsos destrutivos. Boaz é expulso da escola. Ele fez uma brincadeira pesada com a professora, levou uma bofetada dela e deu duas de volta. Diz Winnicott:
A destrutividade, embora compulsiva e enganadora, é mais honesta que a construtividade, quando esta última não está fundada no sentimento de culpa decorrente da aceitação dos impulsos destrutivos. (1984c, p. 144)
Ilana dirige-se ao ex-marido, pedindo ajuda a Alec, um professor e escritor muito rico, mundialmente conhecido por suas teorias sobre a violência na História. É assim que Alec começa a se envolver intensamente na vida de Boaz, mesmo que à distância e, no início, sem o conhecimento do filho. Dá uma enorme ajuda financeira, não só para Boaz mas para toda a família de Ilana, e consegue transformar a expulsão de Boaz em admoestação. Porém, tudo é inútil, pois o filho, sem esperança no ambiente familiar, abandona a escola e desaparece.
Roubo
A outra direção da tendência anti-social se manifesta, segundo Winnicott, no roubo. Ao deixar a Escola Agrícola, Boaz é preso por posse de objetos roubados. Para Winnicott, "a criança que furta um objeto não está desejando o objeto roubado mas a mãe, sobre quem tem direito" (1958c, p. 132). Boaz se comporta como aquela criança que busca, em algum lugar, um ambiente que supra sua carência afetiva e, não o encontrando, busca-o em outro lugar porque tem esperança de encontrá-lo.
Afirma Winnicott:
Quando existe na época da privação original alguma fusão das raízes agressivas (ou motilidade) com as raízes agressivas libidinais, a criança reclama da mãe através de uma combinação de furto, agressividade e sujeira [...] Quanto existe menos fusão, [...] há um maior grau de dissociação na criança. Isto leva à proposição de que o valor de incômodo da criança anti-social é uma característica essencial, e também é, sob o aspecto positivo, uma característica favorável que indica ainda uma potencialidade de recuperação da fusão perdida dos impulsos libidinais e da motilidade. (1958c, p. 132)
Michel e a busca de Boaz por um ambiente acolhedor
Filho de um deficiente físico, bilheteiro de metrô, e uma faxineira de hospital, Michel teve uma infância de humilhações infligidas pelos árabes na Argélia, e, depois, em Paris, entre os pieds noirs franceses. Ele tem uma tática própria para lidar com Boaz: ao mesmo tempo em que procura encontrar soluções para as situações criadas pelos impulsos violentos do enteado, humilha-o e agride verbalmente, na tentativa de lhe impor seus próprios preceitos morais e religiosos.
Vai ao encontro de Boaz na prisão e consegue liberá-lo sob protestos. Boaz lhe diz que não quer nada da vida e muito menos pessoas à sua volta perguntando-lhe o que quer. O que deseja é trabalhar e não depender de ninguém, diz finalmente Boaz, expressando, assim, sua desesperança em relação ao meio.
Michel arranja-lhe trabalho no mercado de Tel Aviv junto a um atacadista de verduras, marido de sua prima. Consegue também, com uma amiga, um lugar de guarda noturno, com dormida, no planetário.
O gesto acolhedor de todos que lhe davam uma nova oportunidade permitiu a Boaz uma nova confiança no meio ambiente e o despertar de sua capacidade construtiva. Arrastando caixotes o dia inteiro, procura ser bom na manutenção do telescópio do planetário. Pede a Michel uma grana emprestada para a construção de um telescópio pelo método faça-você-mesmo, porém não quer que Ilana saiba desse pedido. A resposta de Michel vem impregnada de doutrinamentos. Ajuda-lo-á sempre que for solicitado por bons motivos mas, mesmo por mais sublimes que sejam seus motivos, jamais manterá qualquer segredo com ele. Michel destrói o que construiu.
Numa demonstração de responsabilidade e desejo de se constituir a partir de si mesmo e não de preceitos morais impostos, Boaz escreve ao padrasto: "Cada um deve saber fazer bem uma coisa, ao invés de ficar dizendo para os outros o que fazer". Para Winnicott, com o tempo, por processos naturais, a criança começa a ter o sentido do certo e errado, que é pessoal, ao invés de uma falsa moral adquirida por submissão.
Mais tarde, respondendo ao questionamento de Boaz, Michel lhe explica que o dinheiro que lhe mandou foi enviado pelo pai. A confiança de Boaz no ambiente aumenta. Ele vai a Jerusalém, onde passa um fim de semana prazeroso com a família. A descrição das brincadeiras de Boaz com a irmã é divertida e comovente.
Mas, como diz Winnicott, um ciclo benigno precisa ser criado para a consolidação da experiência de confiabilidade no meio. É uma criação que demanda tempo. É Michel que rompe o ciclo benigno do qual fala Winnicott.
Poucos dias depois de sua visita a Jerusalém, Boaz, que começa a ter esperança no ambiente, precisa testá-lo; dirige-se de maneira insolente ao atacadista de verdura, que lhe responde com um pontapé no traseiro. Sem conter sua raiva, Boaz responde com violência, arremessando-lhe um caixote.
Algumas páginas de decepção e de indignação são a resposta de Michel, que humilha e culpabiliza Boaz o quanto pode. Boaz mordeu a mão que o alimentou, diz Michel em sua carta, não poupando Alec, em quem vê um modelo de arrogância e monstruosidade. Encerrando um discurso religioso, fanático, moralista e sentimental, Michel diz ter sentimentos positivos em relação a Boaz e lhe dá seu ultimato: para continuar sendo ajudado deve mudar suas maneiras. Poderá financiar-lhe um curso de ótica sob condição de ele pedir desculpas a quem ofendeu.
Embora Boaz tenha pedido desculpas, mesmo sem a convicção de que deveria fazê-lo, não se submete a Michel. Pede que ele e Ilana o esqueçam e parte em busca de trabalho em um navio. A destrutividade de Boaz começa a lhe servir na busca de autonomia.
Alec, um ambiente acolhedor
Amós Oz cria, na personagem de Alec, um modelo de pai que, ao contrário de Michel, é capaz de entender algo que Winnicott costuma dizer: "os adolescentes estão mais preocupados em não traírem a si mesmos do que em fumar ou não, dormir fora ou não. Para eles, a solução falsa é descartada" (1984b, p. 117).
Desde o divórcio, os detetives de Alec passavam-lhe informações sobre Boaz e Ilana. "Tudo o que fiquei sabendo", escreve Alec a Ilana, "inclusive a violência dele, me agrada muito. Essa árvore está crescendo longe das maçãs podres. Nós não o merecemos, nenhum de nós".
Ao descobrir que o filho trabalha no setor de turismo, Alec pede aos detetives e a Michel para deixarem Boaz em paz. Livre para buscar seus caminhos, Boaz tenta junto ao advogado de Alec e a Michel recursos financeiros para trabalhar e viver condignamente. Ambos lhe recusam ajuda e propõem a ele que procure Alec.
A dupla recusa rompe, mais uma vez, com os precários elos do ciclo benigno formado pelas boas experiências ambientais. Como se não bastasse, o barco em que Boaz trabalha é roubado. Vendo seu amigo beduíno, considerado suspeito, ser espancado pela polícia, Boaz não controla seus impulsos agressivos. Com a ajuda de um pneu preso a uma corda, fere nove soldados e cinco policiais. Seu ódio e sua força física são suficientes para fugir, depois de conseguir derrubar o muro pré-moldado da prisão para a qual fôra levado.
Para livrar Boaz, Michel o chantageia, obrigando-o a trabalhar e estudar em um colégio religioso. Alec, indignado, pede ao filho que se dirija a ele diretamente. Antes disso, porém, depois de agradecer a Michel a ajuda dada em algumas ocasiões, Boaz, o adverte de que não lhe dá o direito de dizer-lhe o que tem de fazer na vida nem admite que lhe diga, novamente, que ele mordeu a mão na qual comeu. Referindo-se, indiretamente, ao uso que o padrastro tem feito do dinheiro enviado por Alec, Boaz diz que, desta vez, é Michel que está comendo em sua mão.
Boaz, dando a medida de sua capacidade para preocupar-se com as conseqüências de seus atos, pede a Ilana para tirá-lo de onde está, antes que se meta em novas encrencas e passe a bater nas pessoas. Seu pedido de ajuda não se manifesta mais sob a forma de comportamentos anti-sociais. Dirige-se diretamente a Alec, mas o adverte: não quer favores de ninguém nem quer que ninguém lhe diga o que tem e o que não tem de fazer.
Alec aceita as condições impostas pelo filho. Da mesma maneira que lhe oferecia um espaço para brincar, agora lhe proporciona um espaço para trabalhar. Entre outras sugestões, dá-lhe a oportunidade de permanecer em Israel e receber para seu uso a imensa casa em ruínas que foi do avô: uma casa perto do mar, vazia e abandonada. Receberá um salário e o material para a reforma. Poderá levar para lá quem ele quiser. Poderá fazer agricultura. No final da carta, Alec escreve: "Fique livre e forte e, se puder, tente julgar-me com justiça. Assina: Papai". Uma comunidade agrícola começa a sair das mãos de Boaz, com a ajuda dos amigos.
Todo o resto da história de Boaz fala de sua capacidade de construção. Quando Ilana aparece na sua casa em estado deplorável e cheia de remorsos, ele a convida para passar um tempo com ele. Mas quem chega antes de Ilana é Alec, por iniciativa própria, enfraquecido pela luta de anos contra um câncer, doença que a família ignorava.
Amós Oz faz o inventário completo das atividades construtivas de Boaz, para quem, como diz Ilana, nenhum trabalho é vergonhoso. Na função de primeiro entre os iguais, segundo expressão de Alec, Boaz e mais sete jovens arrancam espinhos e cardos, espalham estercos de cabra, cavam o chão, cultivam hortas, criam carpas. Boaz constrói um telescópio de verdade, como também um xilofone de sopro feito com garrafas suspensas no teto. Faz, para Alec, uma sandália de pneu e corda, uma bengala para descer ao jardim, uma poltrona para deitar-se na sala, uma espreguiçadeira para sentar-se na varanda, uma rede de corda, e almofadas de saco recheadas de algas. Faz ainda um banquinho e uma mesa com caixotes e galhos de eucalipto, para o pai pôr sua máquina de escrever e responder à carta do cruel e desesperado Michel, enciumado por acreditar que Ilana tinha vindo encontrar Alec na casa do filho.
Boaz cuida de Alec: estende uma pele de carneiro no seu banheiro, compra seus remédios na farmácia, leva diariamente aos seus aposentos um ramo de hortelã para afastar os cheiros da doença. À noite, pega-o com cuidado nos braços, carrega-o pela escada, coloca-o na cama, fecha a porta e sai em silêncio.
Boaz oferece a todos um espaço para trabalhar e sentir-se útil. Convida o pai para classificar sementes ou para dobrar sacos vazios, o que Alec passa a fazer meia hora por dia, quando as dores não são muito fortes. Nos momentos de lucidez do pai, pede-lhe que lhe ensine ortografia e os princípios da sintaxe. Ilana também encontra no trabalho alívio para seus pesares. Enquanto ouve os jovens cantarem e tocarem, ela descasca batatas, bate manteiga, faz conservas de pepino. Cuida ainda das colmeias, do curral das cabras e do galinheiro. Cuida, particularmente, de Alec, na fase final de sua doença.
A história de Boaz tem um final feliz. É a história da responsabilidade pela destruição, do controle dos impulsos e do perdão mais ou menos explícito nas atitudes de cada um dos personagem.
Considerando a exterioridade do objeto quando este já faz parte do mundo compartilhado, Winnicott afirma que não basta dizer que a consciência da destrutividade possibilita a atividade construtiva, é preciso também considerar que as experiências construtivas possibilitam a experiência da destrutividade (cf. Winnicott 1964d), da destrutividade pessoal, fonte do brincar e do trabalhar.
Para Winnicott, o analista que vê na atividade reparadora de seu paciente uma destruição inconsciente está em desvantagem em relação àquele que vê na reparação um meio encontrado pelo paciente para acumular as forças do eu, que possibilitam a tolerância da destrutividade pertencente à própria natureza do ser humano.
Referências bibliográficas
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