3 2"Quarenta anos atrás"Consultoria em psicologia do esporte: orientações práticas em análise do comportamento de Garry L. Martin, Campinas: Instituto de Análise do Comportamento (2001) 
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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

 ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.3 no.2 São Paulo dez. 2001

 

SOBRE LIVROS

 

Análise do comportamento no laboratório didático de Maria Amélia Matos e Gerson Yukio Tomanari, Editora Manole (2002)

 

 

Rachel Rodrigues Kerbauy

USP - Universidade de São Paulo

 

 


 

 

Esta sessão da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva está ainda esperando contribuições. No entanto, eu a inicio neste último número que organizo. Especialmente porque recebi, há poucos dias, o livro: Análise do comportamento no laboratório didático, de Maria Amélia Matos e Gerson Yubio Tomanari, publicado pela Editora Manole em 2002.

Espero que outros artigos sejam escritos sobre o mesmo livro e que sejam encaminhados a esta ou a outras publicações. Séria interessante que fossem escritos por alguém que está, no momento, lecionando Análise do Comportamento na graduação e ensinando alunos a verificar os princípios básicos, replicando-os no laboratório, discutindo sobre eles e escrevendo relatórios. Faz alguns anos que não faço isso, por contingências do local onde trabalho.

Foi um prazer ler o livro. Esse prazer se inicia ao analisar o sumário e verificar os nomes dos capítulos. Esperava as denominações usuais para as práticas de laboratório. Encontrei. Mas surpreendentemente precedidos por questões instigantes sobre o comportamento: "as conseqüências do que fazemos são importantes para nosso fazer?" Nomes precedidos por letras, que especificam os exercícios introduzidos para responder essa questão. São outras perguntas: "o que ocorre antes do fazer é importante para esse fazer?" Nesse caso a resposta vem com contribuições para o laboratório e explicações detalhadas sobre esquema múltiplo e remete o leitor a reler cuidadosamente as instruções. Buscar a resposta para pergunta relevante que equaciona o problema.

Ao lermos o livro, vamos desfazendo indagações e formulando outras, auxiliadas pelas instruções, explicações e conceitos introduzidos e as dicas para o cuidado de entendê-las claramente. A busca das soluções para questões é lógica, mostrando que o caminho para responder é o experimental. Este será o percurso do aluno através de sua prática de laboratório.

Com este livro o trabalho do professor é renovado. Ele não vai, com seu aluno, somente seguir instruções. Vai mostrar a relação entre os resultados obtidos, a metodologia empregada e o enfoque conceitual de Análise do Comportamento. Como professora universitária, tendo um manual de exercícios em pombos citado no livro, vejo a distância que existe entre nosso começo e hoje. A sofisticação da análise requerida ao ensinar e aprender mostra também o empenho na formação do aluno mas acrescida das relações possíveis, hoje, com o desenvolvimento do conhecimento e o embasamento de anos ensinando e refletindo.

O livro se inicia com sete capítulos sobre ciência. Além de conceitos de análise do comportamento, ele mostra o que o laboratório didático propicia, o que é o ambiente experimental e como mostrar as medidas obtidas nos experimentos. É uma concepção de ensino que ultrapassa "ter o laboratório". É um ensinar a pensar sobre Psicologia.

Esses seis capítulos iniciais, principalmente, são leituras para o aluno de qualquer ano do curso de Psicologia. Os conceitos sobre observação e inferência, por exemplo, no capítulo 4 "Como estudar o comportamento", além de explicar o conceito, fornece exemplos e esclarece novamente sobre variáveis. Há mesmo um exercício de classificação de palavras segundo esses conceitos. Ingenuamente aconselham que esse trecho seja lido apenas pelo docente, inicialmente, e após as atividades solicitadas, também, pelos alunos. Será que a ingênua sou eu, por considerar que os alunos terão sua curiosidade aguçada ao iniciar seus trabalhos com o livro e o laboratório, especialmente ao encontrar as palavras observação e inferência?

Não consigo resistir de falar no poder de uma história decorrente de um condicionamento verbal. Na página 91, sobre método em pesquisa, os autores destacam a descrição dos organismos com os quais o estudo foi realizado. Dizem que a palavra sujeito é para os animais e participante para os seres humanos. Correto. É o que fazemos hoje. No entanto, ao escrever sobre os experimentos com humanos, no último capítulo, e apresentar quatro práticas de laboratório, inúmeras vezes escorregam em ... sujeitos no lugar de participantes. Desculpem. Não resisti.

O tempo muda as coisas, mas não mudou a descrição de experimentos e a tentativa de explicar o comportamento humano, dos dois autores. Ambos ensinam. Ambos aceitaram uma maneira de estudar o comportamento e ensinar a seus alunos. Eles reiteram durante todo o livro o cuidado com a demonstração, com a replicação sistemática.

As relações que o cientista descreve, e sobre as quais postula as leis, são relações entre variáveis independentes e variáveis dependentes. Contudo, embora a descrição dessas relações seja necessária e importante, ela é insuficiente. É necessário, também, demonstrar e provar a veracidade e a generalidade dessa relação (p. 20).

E continuam: "fazemos isso...". Reencontrei entre os quatro exercícios com humanos o experimento que fazia com alunos, com pronomes e palavras e a escolha de reforçar alguns pronomes, por grupos da classe e depois comparar. É um experimento de Taffel (1955). Esse experimento no livro é analisado como comportamento verbal e os reforçadores empregados são verbais. É interessante lembrar o "hum ... hum" de Greenspoon (1972), que demonstrou que só isso alterava a seqüência de falas e conteúdos durante sessões gravadas. Os autores deste livro de laboratório introduziram conceitos de comportamento verbal e desenvolveram experimentos. A pergunta que inicia essa prática é "Podemos mudar o modo como a pessoa fala?" Discorrem, salientando o livro "Comportamento Verbal", de Skinner, como desencadeador de uma série de pesquisas e usam esses conceitos e os expõem de forma didática. O exercício não é nada menos que o emprego dos conceitos aprendidos em trechos reproduzidos do "O primo Basílio" de Eça de Queiroz. O último experimento, com estudantes universitários, vem precedido da questão: "posso afetar o modo como uma pessoa decide ou pensa?". Portanto, novamente concluo que as questões são instigantes e facilitam o pensar sobre comportamento.

A apresentação do material para os experimentos, as folhas de registro, são primorosos. Há material a construir, e há instruções detalhadas de como fazer. Muitos registros estão no livro, especialmente aqueles que podem interferir nos resultados.

Concluo que o livro, além de ser excelente para o ensino, é bem organizado e fascinante. A leitura é agradável porque a escrita é concatenada e fundamentada. Muitos analistas de comportamento podem beneficiar-se dele.

 

Referências

Greenspoon, J. (1972). Condicionamento Verbal e Psicologia Clínica. Em A.J. Bachrach (Org.), Fundamentos Experimentais da Psicologia Clínica, pp. 645-700. Trad. Dante M. Leite. São Paulo: Herdes.

Taffel, C. (1955). Anxiety and the Conditioning of Verbal Behavior. J. Almorm. Soc. Psychol., 51, 496-501.