Cógito
ISSN 1519-9479
Cogito v.3 Salvador 2001
FUNÇÃO PATERNA
Batman e o parricídio
Miriam Elza Gorender1
Círculo Psicanalítico da Bahia
Universidade Federal da Bahia
RESUMO
A partir de um estudo do conceito de mito, levando em conta principalmente o estruturalismo de Lévi-Strauss, e os achados psicanalíticos de Freud e de Lacan, a autora procura determinar com maior precisão a função do mito para o indivíduo e para a coletividade. A partir deste conceito, parte para um exame do papel da cultura de massa e mais particularmente das histórias em quadrinhos e dos super-heróis na constituição dos mitos da sociedade contemporânea.
Palavras-chave: Mito, Histórias em quadrinhos, Estrutura, Mito individual do neurótico.
Segundo Marcel Detienne, quando se considera as diversas escolas e correntes que procuram estudar o mito, haveria dois grandes campos que se oporiam, “… a ignorância fingindo-se profunda ou o essencial ignorado” (Detienne, 1992, p. 11). Ou seja, de um lado o mito é visto como algo reprovável pela sua falta de veracidade, produto da barbárie e irracionalismo dos povos primitivos, a ponto de se tornar verdadeiramente “escandaloso” que possa ter ocorrido aos mesmos gregos, dos quais nos vem o logos. O mito é considerado como sinônimo de mentira, falsidade, invenção fantasiosa. Não é por acaso que a patologia psiquiátrica ligada à mentira compulsiva foi batizada como mitomania.
No outro campo, o mito seria portador de verdades essenciais sob sua capa narrativa, à espera apenas de serem descobertas. A Psicanálise inscreve-se neste segundo campo, ainda mais por sua escolha de antemão realizada, do estudo do irracional representado pelo inconsciente. Freud começa por referir o mito heróico ao “… mito científico do pai da horda primeva” [1980g (1921), p. 170]. Neste, descrito em Totem e Tabu, o pai tirânico da horda, que expulsava os machos mais jovens e monopolizava as mulheres, foi morto pelos filhos, conjuntamente. O pai morto acabou por ter um poder muito mais amplo do que quando vivo, iniciando-se, em seu nome, a lei da sociedade humana. No entanto, apesar de ser o que cada um dos filhos mais desejava, nenhum poderia tomar o lugar do pai morto por todos.
Foi então que talvez algum indivíduo, na urgência de seu anseio, tenha sido levado a libertar-se do grupo e a assumir o papel do pai. Quem conseguiu isso foi o primeiro poeta épico e o progresso foi obtido em sua imaginação. Esse poeta disfarçou a verdade com mentiras consoantes com seu anseio: inventou o mito heróico. O herói era um homem que, sozinho, havia morto o pai – o pai que ainda aparecia no mito como um monstro totêmico. (Freud, 1980g(1921), p. 171).
Ora, segundo esta visão, o mito se apoia em uma mentira encobridora e um não-dito inconsciente. De uma forma indireta, portanto, a Psicanálise confirma a interpretação do mito como exagero ou mentira. Não qualquer mentira, mas aquela que encobre ou se coloca no lugar de um determinado conteúdo inconsciente. Uma mentira que é, como o sintoma, uma das maneiras pelas quais a verdade do inconsciente se manifesta. Lacan também fala do mito como tendo similaridade com a lógica da estrutura inconsciente, podendo inclusive tornar-se uma das portas para o estudo desta última. A visão lacaniana do mito parte dos estudos de Lévi-Strauss unindo a Antropologia ao Estruturalismo. Lévi-Strauss toma, para o estudo do mito, como, aliás, para outras áreas da Antropologia, a predominância do significante como princípio metodológico. Um mito possui determinados elementos, que Lévi-Strauss chama mitemas, que sempre se repetem, e aos quais pode ser reduzido, e seriam justamente os mitemas que revelariam a estrutura básica, invariável, de determinado mito. Tais mitemas, no entanto, poderiam ser permutados, dando origem a inumeráveis combinações de variantes. O mito não será, portanto, correspondente a qualquer destas variantes isolada, nem haverá uma variante que corresponda de forma mais autêntica ao mito, ou à sua forma original. Todas as versões pertencem ao mito. Assim é que Lévi-Strauss inclui o próprio Freud como uma das fontes do mito de Édipo.
Lacan aponta para o que denomina “homologia” (no sentido geométrico, designando a relação de elementos que se correspondem ordenadamente, ponto por ponto, em figuras semelhantes) entre as gerações envolvidas no mito de Édipo.
Se há uma homologia nas gerações envolvidas em um mito, cujo paradigma é o Édipo, esta mesma homologia se manifesta no trabalho da análise, passando do mito familiar vindo das gerações passadas para o que Lacan chama o “mito individual do neurótico”, afirmando que “Tudo se passa como se os impasses próprios da situação original se deslocassem para um outro ponto da organização mítica, como se o que num sítio não está resolvido se reproduzisse sempre noutro” (Lacan, 1987, p. 60). Ou seja, aquilo que ficou pendente na situação do mito familiar retornará, repetindo-se, no mito individual. Repetição que no trabalho analítico surge não apenas no discurso do paciente, mas principalmente através das questões transferenciais que ele traz.
Citando Joseph Campbell,
Todavia, o que mais nos chama a atenção são as revelações manifestas na clínica de doentes mentais. Os ousados e verdadeiramente marcantes escritos da psicanálise são indispensáveis ao estudioso da mitologia. Isso ocorre porque, como quer que encaremos as interpretações detalhadas, e por vezes contraditórias, de casos e problemas específicos, Freud, Jung e seus seguidores demonstraram irrefutavelmente que a lógica, os heróis e os feitos do mito mantiveram-se vivos até a época moderna. Na ausência de uma efetiva mitologia geral, cada um de nós tem seu próprio panteão do sonho – privado, não reconhecido, rudimentar e, não obstante, secretamente vigoroso. A última encarnação de Édipo, a continuidade do romance entre a Bela e a Fera, interrompidas esta tarde na esquina da 42th Street com Fifth Avenue, esperam que o semáforo mude. (Campbell, 1997, p. 16)
Foucault, embora mostrando uma dimensão distinta que concerne os usos da narrativa mítica pelo poder, assinala que “Esta passagem à escrita das existências reais não é mais um processo de heroicisação, funciona como procedimento de objetivação e de sujeição. A vida minuciosamente colacionada dos doentes mentais ou dos delinqüentes tem a ver, como a crônica dos reis ou a epopéia dos grandes bandidos populares, com uma certa função política da escrita.”
Foucault também afirma que o “epos” moderno a que Lacan se refere2 é antes o da procura interior da infância. Lacan, segundo Erik Porge, tinha sempre por conduta desconstruir os mitos, “… compreendido aí o mito freudiano de Totem e Tabu, com o propósito de extrair deles os componentes lógicos, e isto em nome mesmo de um reconhecimento do valor dos mitos que, diz ele, dão forma épica ao que se opera da estrutura” (Porge, 1998, p. 77). Ainda segundo Porge, “O mito fornece elementos lógicos que vão servir de material a esta escrita lógica, a qual em retorno permite que se leia de outro modo o mito.” (Porge, 1998, p. 146). Se ao mito corresponde uma lógica de funcionamento psíquico, tal lógica deve necessariamente se encontrar atuante nos dias de hoje.
Seria tolice, no entanto, pensar que as sociedades contemporâneas continuam a fazer uso dos mesmos mitos da Antigüidade, e ainda, nas mesmas formas nas quais tais narrativas atravessaram o tempo até nossa época. Cada cultura, cada sociedade deve construir suas próprias formas de mito. Ou seja, deve haver formas de mito que correspondam à civilização ocidental contemporânea. Mas o mito, como o demonstrou Detienne, é continuamente rejeitado pela cultura do logos, o mito é a herança da barbárie e da desrazão que deve ser esquecida, e a cultura contemporânea é uma cultura que se ancora na crença na razão, no logos, na ciência. Ao se dar a qualquer produto cultural o apodo de mítico, o adjetivo vem de forma geral acompanhado por um laivo de ironia que o diminui e desvaloriza. O mito passou, de muitas maneiras, a integrar o domínio do infantil, do desprezado, da ignorância.
Sabemos, no entanto, que a rejeição consciente em nada diminui a potência daquilo que vem do inconsciente. Apenas assegura seu retorno de uma forma ainda mais surpreendente e inescapável. E se existem de fato mitos que pertençam à nossa época, estes devem sua existência à função que cumprem, função que emana do inconsciente, a de um semidizer o que não poderia ser dito de outra forma. Sendo assim qualquer narrativa que preencha esta função específica pode ser considerada como possuindo uma característica mítica. E sendo a nossa uma era de comunicação de massa, nada impede que um caráter mítico possa ser atribuído aos produtos desta mesma comunicação de massa. Cinema, literatura, jornais, qualquer formato ou tecnologia pode se constituir em via para uma obra que possa adquirir função mítica. O que vai definir tal função não é apenas a obra em si, mas a maneira como é recebida por quem a usufrui.
Pode haver relação entre histórias em quadrinhos (HQ) e mito? Creio que a resposta deve ser afirmativa. Aponto aqui para uma direção específica: o único gênero que é próprio e particular à HQ, tendo nela se originado, a HQ de super-heróis. O primeiro personagem moderno de HQ com poderes super-humanos foi Popeye, (McClue&Bloom, 1993, p. 10), que podia cuspir balas após ser baleado, suspender casas, cair de precipícios e aterrissar sobre seu próprio queixo, ileso. A partir de 1938, com o surgimento do Super-Homem, nasce verdadeiramente o conceito de super-herói.
O Super-Homem foi concebido por Spiegel e Schuster nos moldes de Hércules, Sansão, ‘e todos os homens fortes dos quais eu já tinha ouvido contar em um só. Apenas mais ainda’ (McClue & Bloom, 1993, p. 18)3 ; a primeira descrição do personagem feita por Schuster trazia as seguintes características: ‘Um Gênio em intelecto. Um Hércules em força. Um Nêmesis para os malfeitores. O Super-Homem’.
Batman surgiu em 1939, seguindo-se ao sucesso do Super-Homem. Sua origem também já é lendária: ainda criança, Bruce Wayne presencia o assassinato dos pais por um assaltante, e jura dedicar sua vida ao combate ao crime. Após longo treinamento, deseja uma aparência que infunda terror aos criminosos. Neste momento, um morcego quebra a janela, e Bruce toma isto como um sinal: “Sim, Pai. Eu serei um morcego”. Dentre os super-heróis, Batman é um dos de maior e mais prolongado sucesso. E nas duas últimas décadas, a marca do morcego se tornou tão conhecida que Ricardo Giassetti a considera como um “meme”:
Timothy Leary, o guru da contracultura, se referia a esse tipo de imagem como “os memes”, ou seja, elementos cujo tempo entre a visualização, a identificação e a história desses ícones é tão rápida e usual para nós (os humanos de todo o mundo) que têm uma mitologia própria e completa, traduzida por esse milionésimo de segundo de exposição ao olho humano. (Giassetti, in Monstro do Pântano, 1999, sem números de página).
Em 1986 surge o Cavaleiro das Trevas (The Return of the Dark Knight), de Frank Miller, obra que tornou o personagem o mais popular herói de HQ nos Estados Unidos e em vários outros países, e contribuiu de forma significativa para a reformulação do conceito de HQ. Traz aos leitores um Bruce Wayne de meia-idade, perturbado, bebendo muito, com idéias de suicídio, em luta contra a força que o impulsiona a tornar-se o morcego, após uma ‘aposentadoria’ de dez anos. Força que afinal consegue fazê-lo voltar a ser o Batman, após o retorno do criminoso psicótico Duas-Caras à cena, personagem que pode ser visto como um alter-ego.
É significativo que o retorno de Batman se dê de uma forma absolutamente determinada: após a notícia da fuga do Duas-Caras e com a lembrança da cena da morte dos pais, desencadeada pelo anúncio do filme Zorro na TV. Interessantes, ainda, e na mesma conexão, são as declarações do Dr. Bartholemew Wolper, personagem da obra. O Dr. Wolper é psicólogo e cientista social, autor do best-seller ‘Hey – I’m okay’. O Dr. Wolper trabalha ainda no Asilo Arkham para Criminosos Insanos, tendo sido responsável pelos tratamentos de, entre outros vilões “loucos”, Duas-Caras e Coringa.
Em uma das suas muitas entrevistas televisivas (dentro da história em quadrinhos), o bom doutor afirma:
Sim, Merv, eu estou convencido da inocência de Harvey. Sem dúvida. No entanto, eu não irei tão longe a ponto de afirmar que estou certo de que ele não voltou para o crime. Eu sei que isso soa confuso. Essas coisas freqüentemente soam confusas para o leigo. Mas vou tentar explicar sem me tornar por demais técnico. Veja, tudo remete a esse indivíduo Batman. O padrão psicótico sublimativo/psico-erótico de Batman é como uma rede. Neuróticos de ego fraco, como Harvey, são atraídos para padrões intersticiais correspondentes. Você pode dizer que Batman comete seus crimes... Usando seus, assim chamados, vilões como substitutos narcísicos... (Miller, 1986, p. 47).
Consideremos por um momento que o bom doutor diz possa fazer algum sentido. Ora, se Batman utiliza os criminosos como seus substitutos para a execução dos crimes, é lícito supor que a miríade de crimes e vilões, aos quais se opõe, está recobrindo, ou seja, encontra-se no lugar de um único crime e um único criminoso, ao qual oculta. Tais crimes e tais criminosos se ordenam, desta forma, ao longo de uma série interminável mas cujo início é, ao contrário, bem conhecido. A própria cena inicial e fundadora do personagem nos dá este início.
Caso se aceite como premissa que Batman usa os vilões como substitutos para a execução de seus crimes inconscientes, o crime original, fundamental, a ser cometido por um outro que ocupa o lugar do personagem, é o assassinato de seus pais.
Se assim for, há aqui uma torção curiosa do “mito científico” de Freud. O assassino do(s) pai(s) não é o herói, mas toma, como criminoso que é, o lugar do monstro totêmico que em outros mitos é ocupado pelo próprio pai da horda primeva. O herói, aparentemente liberto da culpa pelo assassinato, passa a exercer sua função ao vingar o assassinato, perseguindo o criminoso e, depois deste, todos os criminosos. Ocupa, também, o lugar do próprio totem, ao tornar-se o representante do morcego.
Ou seja, Batman passa a agir como um “agente da lei”, embora (o que indica claramente uma formação de compromisso) não possa ser tomado como legítimo representante da justiça. Por sua vez, o lugar do assassino do pai volta a ser ocupado por uma fratria, a classe ‘covarde e supersticiosa’ dos criminosos em geral.
Mais adiante, ao defrontar-se com Harvey Dent, o Duas-Caras, personagem que leva a extremos o conceito de dissociação a partir da mutilação de metade de seu rosto, após derrotá-lo em seu retorno ao crime (os textos entre parênteses correspondem a pensamentos de Batman):
– O mundo inteiro sorriu para mim! Ninguém vomitou quando viu meu rosto! Todos disseram que eu tinha sido curado... que o defeito estava corrigido! (Eu fecho os olhos e ouço). Olhe para mim! Ria também! O defeito foi corrigido! Os dois lados estão iguais! (Sem me iludir pela visão... eu o vejo como ele realmente está...) Vamos, Batman ... dê sua risada! Olhe para mim! (... por dentro). Olhe para mim... (Eu o vejo. Eu vejo...)
Eu vejo... um reflexo, Harvey! Só um reflexo! (Miller, 1987, p.49)4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1 Psicanalista, membro do Círculo Psicanalítico da Bahia, professora auxiliar do departamento de Neuropsiquiatria da UFBa, doutora em psicanálise pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
2 Se nos vamos guiar pela definição do mito como uma certa representação objetivada de um epos ou de uma gesta, exprimindo de forma imaginária as relações fundamentais características de um certo modo de ser humano numa determinada época, se o vamos compreender como sendo a manifestação social latente ou patente, virtual ou realizada, plena ou esvaziada do seu sentido, deste modo do ser, poderemos então encontrar de certeza a sua função no próprio vivido de um neurótico. (Lacan, 1987, p. 48-49)
3 ‘... and all of the strong men I ever heard tell of rolled into one. Only more so’.
4 – ...got the whole world to smile at me... got them all to keep their lunches down when they saw my... my face… saying I was cured… saying I was fixed… (The scars go deep. Too deep… I close my eyes and listen) Take a look… have your laugh. I’m fixed all right. At least… both sides match… (Not fooled by sight, I see him…) Have your laugh, Batman…take a look! (…as he really is.) …take a look… (I see him. I see…)
– …I see… a reflection, Harvey. A reflection. (Miller, 1986, p. 55)