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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.21 no.2 Campinas abr./jun. 2022

https://doi.org/10.15689/ap.2022.2102.20186.05 

ARTIGOS

 

Adaptação e Evidências de Validade da Escala de Mindsets da Sexualidade

 

Adaptation and validity evidence for the Sexual destiny and sexual growth beliefs measure

 

Adaptación y evidencias de validez de la Escala de Mindsets de la Sexualidad

 

 

Fabricio de Andrade RochaI; Adriana WagnerII

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre-RS, Brasil Orcid: 0000-0002-0439-1016
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre-RS, Brasil Orcid: 0000-0002-0629-2310

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho apresenta dois estudos que visaram adaptar e buscar evidências de validade da Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure para a população brasileira. Essa escala tem como objetivo medir o quanto as pessoas acreditam que satisfação sexual depende de encontrar o parceiro certo ou de investimento na relação. No primeiro estudo, realizou-se a adaptação transcultural, da qual participaram quatro tradutores, quatro pesquisadores e clínicos em famílias, uma amostra do público-alvo (N = 9) para verificar compreensão dos itens e finalmente 100 respondentes para o estudo piloto, que revelou boa consistência interna. O segundo estudo (N = 637) confirmou a estrutura de dois fatores da escala e a invariância entre grupos de homens e mulheres. Outras evidências de validade foram obtidas por meio da correlação com escalas de qualidade conjugal e satisfação de vida. Conclui-se que a escala foi adaptada com sucesso para a população brasileira e que foram demonstradas evidências de validade.

Palavras-chave: crenças; relacionamento conjugal; satisfação conjugal; matrimônio; satisfação pessoal.


ABSTRACT

This paper presents two studies that aimed to adapt and seek evidence of validity for the Sexual destiny and sexual growth beliefs measure for the Brazilian population. This scale aims to measure how much people believe that sexual satisfaction depends on finding the right partner or depends on investment in the relationship. In the first study, a cross-cultural adaptation was carried out, with the participation of four translators, four experts in the study with families, a sample of the target audience (N = 9) to verify the understanding of the items, and finally 100 respondents for the pilot study, which revealed good internal consistency. The second study (N = 637) confirmed the two-factor structure and the invariance between men and women. Other validity evidence was obtained through the correlation with scales of marital quality and life satisfaction. The scale was successfully adapted for the Brazilian population and evidence of its validity was demonstrated.

Keywords: : beliefs; marital relations; marital satisfaction; matrimony; personal satisfaction.


RESUMEN

Este trabajo presenta dos estudios que visaron adaptar y buscar evidencias de validez de la Sexual destiny and sexual groth beliefs measure para la población brasileña. Esta escala tiene como objetivo mensurar en qué medida las personas creen que la satisfacción sexual depende de encontrar la pareja adecuada o de invertir en la relación. En el primer estudio se realizó la adaptación transcultural, en la cual participaron cuatro traductores, cuatro investigadores y clínicos en familias, una muestra del público objetivo (N=9) para averiguar la comprensión de los ítems y, finalmente, 100 encuestados contestaron al estudio piloto, que reveló una buena consistencia interna. El segundo estudio (N=637) confirmó la estructura de dos factores de la escala y la invarianza entre grupos de hombres y mujeres. Otras evidencias de validez fueron obtenidas a través de la correlación con escalas de calidad marital y satisfacción con la vida. Se concluye que la escala fue adaptada con éxito para la población brasileña y que se evidenciaron evidencias de validez.

Palabras clave: creencias; relaciones conyugales; satisfacción marital; matrimonio; satisfacción personal.


 

 

Está comprovado na literatura que um dos aspectos fundamentais das relações conjugais é a sexualidade (Bohns et al., 2015; Impett et al., 2013). Diversos estudos na área têm demonstrado que satisfação sexual e conjugal estão positivamente correlacionadas, comprovando a necessidade de atenção para a área da sexualidade nas pesquisas sobre casais e famílias (Impett et al., 2013; McNulty et al., 2016). A interdependência entre os parceiros amorosos na conjugalidade é potencializada pela intimidade envolvida na relação sexual e pelo caráter monogâmico adotado na maioria dos relacionamentos de longo prazo (Maxwell et al., 2017). Isso contribui para que a sexualidade se apresente como uma área que pode gerar intimidade, satisfação, companheirismo, apoio mútuo, mas também pode ser fonte de conflitos e estresse constantes e agudos para os casais (Bohns et al., 2015; Maxwell et al., 2017).

Apesar dessa importância, a literatura psicológica a respeito da sexualidade dos brasileiros no contexto conjugal é escassa, em comparação com as produções de outros países. Isso mostra que o assunto é pouco estudado no país, embora já na década de 1980 se afirmasse que a sexualidade era uma das dimensões mais importantes da conjugalidade (Féres-Carneiro, 1987) e, em uma pesquisa recente, mais de 95% dos brasileiros considerarem o sexo importante ou muito importante para a harmonia do casal (Ferreira, 2016). Justifica-se, portanto, a necessidade de mais investimento em pesquisas nessa área.

Além de poucos estudos dessa temática no Brasil, não há instrumentos validados para a população brasileira que avaliem especificamente a vivência da sexualidade na conjugalidade. Frente a esse panorama, o presente trabalho se propôs a adaptar para a população brasileira e investigar evidências de validade da Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure (Maxwell et al., 2017), a qual foi construída com o objetivo de medir o quanto uma pessoa acredita que satisfação sexual depende de encontrar o parceiro certo (destiny beliefs, 11 itens, M = 3,08, SD = 1,19, α = 0,91), ou de investimento na relação (growth beliefs, 13 itens, M = 5,54, SD = 0,83, α = 0,85), em uma escala tipo Likert de 7 pontos. Essa medida é importante porque, tendo em vista o que já se conhece da dinâmica conjugal, sabe-se que as convicções e atitudes de um dos parceiros com relação à sexualidade podem influenciar não somente sua própria satisfação com o sexo e com a relação, mas também a satisfação sexual e conjugal do outro parceiro mutuamente (Muise et al., 2018).

Considerando que as convicções das pessoas moldam sua forma de agir no mundo, Carol Dweck e Ellen Leggett introduziram há mais de duas décadas o conceito das teorias implícitas (Dweck et al., 1995; Dweck & Leggett, 1988), que tem sido muito utilizado em pesquisas psicológicas desde então, inclusive na área dos relacionamentos amorosos e no domínio da sexualidade (Lyons & Bandura, 2017; Maxwell et al., 2017; Özduran & Tanova, 2017). O conceito de teorias implícitas (ou mindsets, como tem sido usado o termo mais recentemente) pode ser definido como pressupostos centrais que as pessoas têm sobre a maleabilidade dos atributos próprios ou dos outros (Dweck, 2007; Lüftenegger & Chen, 2017). Assim, os mindsets podem ser definidos como teorias que as pessoas utilizam para prever e julgar atributos e comportamentos, podendo defini-los como fixos ou maleáveis. Um exemplo são as teorias implícitas da inteligência: uma pessoa pode acreditar que a inteligência é um atributo fixo e se ela não tem facilidade com matemática, isso não mudará. Da mesma forma, se ela tem facilidade em aprender, acredita que isso é por causa de uma qualidade inata e que dispensa grandes esforços. Essa crença (mindset rígido) configura a forma como a pessoa lida com determinados aspectos da vida e pode gerar desistência precoce ou atitudes negativas de coping diante de situações desafiadoras. Por outro lado, se essa pessoa julga que a inteligência é um atributo maleável (mindset flexível), ela tomará atitudes para aperfeiçoar essa capacidade e superar desafios, demonstrando maior resiliência (Yeager & Dweck, 2012).

Nas relações conjugais, as pessoas podem acreditar que o que favorece um relacionamento de qualidade é o fato de encontrar o parceiro ideal (mindset rígido), ou podem entender que, independentemente de quem seja o parceiro, o relacionamento precisa ser nutrido, ou seja, a relação exige investimento (mindset flexível). Tendo isso em vista, pesquisas têm demonstrado que essas crenças, ou mindsets, moldam as atitudes dos cônjuges, o que influencia os índices de satisfação conjugal (Bohns et al., 2015; Knee, 1998; Maxwell et al., 2017). Nesse mesmo sentido, no âmbito da sexualidade, as pessoas podem acreditar que a satisfação sexual depende de encontrar um parceiro compatível ou que é mantida com esforço e investimento. Assim sendo, neste trabalho, o mindset mais fixo da sexualidade será chamado de mindset de compatibilidade e o mais flexível, de mindset de investimento. Esses termos foram adaptados da terminologia usada em inglês, destiny mindset e growth mindset, respectivamente (Maxwell et al., 2017).

Um levantamento das teorias e métodos que são utilizados nas pesquisas sobre relacionamentos românticos demonstrou a importância da teoria dos mindsets para o estudo da sexualidade (Muise et al., 2018). Isso porque pessoas com altos índices de mindset de investimento na sexualidade apresentam maior satisfação sexual e conjugal, assim como seus parceiros também experimentam maior satisfação nessas áreas. Por outro lado, as pessoas com maiores índices de mindset de compatibilidade têm sua satisfação mais condicionada às circunstâncias da relação (Maxwell et al., 2017). Fica evidente a necessidade de investigar mais profundamente a relação entre os mindset sobre sexualidade e demais aspectos do relacionamento. Além disso, está bastante documentado na literatura que homens e mulheres respondem de forma diferente a estímulos sexuais e diferem também na importância que dão ao sexo no relacionamento amoroso (Dewitte, 2016; Impett et al., 2014; Rocha & Fensterseifer, 2019), por isso um dos objetivos deste trabalho é verificar a invariância da escala adaptada entre os gêneros, para atestar a possibilidade de futuras comparações entre esses grupos.

Neste trabalho, o processo de adaptação da Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure (Maxwell et al., 2017) será apresentado em dois momentos: No primeiro estudo, é apresentado o processo de adaptação da escala para a população brasileira e, no segundo, buscou-se evidências de validade da escala adaptada. As hipóteses testadas no segundo estudo foram as seguintes: 1. O Mindset de Investimento na sexualidade se correlacionará positivamente com todos os cinco índices de qualidade conjugal e com a satisfação da vida. Espera-se que a correlação será maior com o índice de compromisso. 2. O Mindset de Compatibilidade da sexualidade se correlacionará negativamente com todos os índices de qualidade conjugal e com a satisfação da vida. Espera-se a maior correlação do Mindset de Investimento na sexualidade com o índice de compromisso com a conjugalidade, tendo em vista que considerar a relação sexual um aspecto do relacionamento que demanda investimento, torna as pessoas mais comprometidas com a relação.

 

Estudo 1. Adaptação da Sexual Destiny And Sexual Growth Beliefs Measure

Neste estudo, a Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure foi submetida a um processo de adaptação transcultural, com o objetivo de torná-la acessível às idiossincrasias da população brasileira. Todo o processo foi realizado com o objetivo de produzir uma escala acessível ao maior número possível de pessoas, de diferentes classes sociais, níveis de escolaridade e regiões brasileiras.

Método

Participantes

Para a adaptação do instrumento foram entrevistadas nove pessoas do público-alvo (idade de 35 a 55 anos, cinco mulheres), com baixos níveis de escolaridade (no máximo Ensino Médio) e de baixo nível socioeconômico, para assegurar a compreensão dos itens para o maior número possível de pessoas. No estudo piloto, participaram 50 homens e 50 mulheres, de sete diferentes estados brasileiros. A idade variou entre 21 e 62 anos (M = 36,5 SD = 9,07). 94% se declararam heterossexuais e 74% estavam casados. O tempo de união variou de 7 meses a 39 anos (M = 10,65, SD = 7,96). 23% já tiveram mais de uma união conjugal e 70% deles declararam ter filhos. No que se refere à escolaridade, 37% tinham Ensino Superior completo.

A amostra foi por conveniência e snow ball sampling (TenHouten, 2017), pois os participantes indicaram e compartilharam com outras pessoas a pesquisa. Os critérios de inclusão foram: ser maior de 18 anos e estar em união conjugal por pelo menos seis meses.

Instrumentos

A Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure (Maxwell et al., 2017) foi construída no Canadá, baseada na Implicit Theories of Relationships Scale (Knee et al., 2003). Seu objetivo é acessar o quanto uma pessoa acredita na satisfação sexual como algo que depende de encontrar o parceiro correto (destiny mindset, neste estudo, mindset de compatibilidade) ou como algo que depende de investimento e esforço (growth mindset, neste estudo, mindset de investimento).

Os respondentes devem apontar o quanto concordam ou discordam com 24 afirmações em uma escala de tipo Likert de 7 pontos (1= Discordo totalmente; 7= Concordo totalmente). Os mindsets da sexualidade são acessados, nessa escala, por meio de duas dimensões. Os itens 2, 3, 5, 7, 8, 9, 10, 12, 16, 17, 19, 23, 24 acessam o mindset de investimento (sexual destiny beliefs α = 0,91) e os demais (1, 4, 6, 11, 13, 14, 15, 18, 20, 21, 22) acessam o mindset de compatibilidade (sexual growth beliefs α = 0.85). Não há itens invertidos. Compreende-se que as pessoas podem ter os dois tipos de mindset funcionando simultaneamente, podendo ter pontuações altas em ambos.

Procedimentos

A adaptação da escala foi realizada seguindo estes procedimentos: tradução, avaliação pelo público-alvo, tradução reversa e estudo piloto (Borsa et al., 2012). A Figura 1 demonstra as etapas realizadas nessa adaptação.

Na primeira etapa, realizou-se a tradução e versão da escala por meio de quatro tradutores independentes: dois pesquisadores na área de família, um tradutor profissional e um norte-americano proficiente na língua portuguesa. As quatro traduções foram compiladas em uma síntese. Posteriormente, essa síntese foi encaminhada para três experts em pesquisa com casais e famílias e uma expert em construção e adaptação de instrumentos, que avaliaram de forma independente a estrutura das questões, o layout, as instruções e a adequação aos públicos de diversas regiões e classes econômicas. Algumas correções sugeridas foram incorporadas. As experts fizeram também observações quanto à adequação da linguagem a públicos de classe social mais baixa, recomendando que se observasse junto ao público-alvo a compreensão de algumas palavras (e.g., "incompatibilidade", "vínculo", "conexão").

A escala foi então apresentada a uma pequena amostra do público-alvo (N = 9), para que os sujeitos pudessem avaliar a compreensão de cada item. Para isso, foram feitas entrevistas individuais. O objetivo de entrevistar pessoas com escolaridade e nível socioeconômico mais baixos foi assegurar que o instrumento estivesse compreensível para o maior número possível de pessoas (Hutz, Bandeira, & Trentini, 2015). Foi solicitado que as pessoas falassem em voz alta o que estavam pensando enquanto liam cada uma das afirmativas. Esse método, conhecido como Think Aloud, é bastante utilizado em processos de tradução para outras culturas, pois deixa explícitas palavras ou expressões que possam estar incompreensíveis (Davey, 1983). Foi possível, dessa forma, identificar que a palavra "incompatibilidades" (itens 3 e 4) era de difícil compreensão. Uma das participantes disse enquanto lia os itens: "Isso é palavra de gente chique". Dessa forma, a palavra "incompatibilidades" foi substituída por "dificuldades".

Após a finalização desse processo, como uma forma de controle de qualidade dos itens adaptados (Borsa et al., 2012), o instrumento foi novamente traduzido para o inglês por dois tradutores independentes e enviada para aprovação da autora da escala original. Alguns ajustes foram feitos seguindo a orientação da autora e a versão brasileira da Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure (Escala de Mindsets da Sexualidade) foi aprovada para utilização no estudo piloto, visando verificar propriedades psicométricas da escala adaptada.

Todos os procedimentos éticos foram seguidos de acordo com a legislação brasileira. Os participantes entrevistados receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os participantes da coleta online foram instruídos a ler e guardar uma cópia do TCLE, que estava disponível em um link na primeira página do formulário online. Para começar a responder a pesquisa, os participantes precisavam declarar que concordavam com o conteúdo do Termo. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Análise de Dados

Como a escala é bidimensional, para cada dimensão calculou-se o coeficiente alfa (𝛂), a correlação item-total e o ômega de McDonald (ωt). O ômega de Mcdonald tem sido considerada uma medida mais precisa de consistência interna, pois não é enviesado pela quantidade de itens, nem pela proporção de variância do teste, já que utiliza as cargas fatoriais dos itens, o que torna os cálculos mais estáveis (Dunn, Baguley, & Brunsden, 2014). Considera-se bons os valores de 𝛂, maiores do que 0,8 e de ωt entre 0,7 e 0,9 (Dunn et al., 2014; Revelle & Zinbarg, 2009; Ventura-León & Caycho-Rodríguez, 2017). Espera-se que a correlação item-total seja superior a 0,3 (Field, 2009). No software R utilizou-se a função alfa do pacote psych (Revelle, 2021) para o 𝛂 e o ωt foi obtido por meio da função ci.realiability do pacote MBESS (Kelley, 2020), com o método BCA e 1000 replicações de bootstrap (Dunn et al., 2014).

Resultados

O resultado do processo de adaptação transcultural da Escala de Mindets da Sexualidade pode ser visto na Tabela 1. A dimensão Mindset de Investimento (M itens = 6,09; M dimensão = 79,3; SD = 7,53) apresentou boa consistência interna (𝛂 = 0,83, 95%CI [0,78, 0,88] ; ωt = 0,83, 95%CI [0,77, 0,88]). Todos os itens tiveram correlação acima de 0,30 com o score total da escala, mas a retirada dos itens 2 e 10 aumentaria a consistência interna (𝛂 = 0,86, 95%CI [0,81, 0,90]; ωt = 0,86, 95%CI [0,80, 0,90]). A dimensão Mindset de Compatibilidade (M itens = 20,87; M dimensão = 310,6; SD = 100,87) também demonstrou bons índices de consistência interna (𝛂 = 0,83 95%CI [0,78, 0,88]; ωt = 0,83, 95%CI [0,76, 0,88]). A correlação item-total de todos os itens foi acima de 0,30, e a retirada de itens não aumentaria a consistência interna. Não houve correlação entre as duas dimensões da escala (r = 0,06, p = 0,58).

Discussão

Durante o estudo ficou evidente que o processo de adaptação de uma escala é complexo e exige mais do que a simples tradução literal dos itens. Esse processo deve envolver tradução, avaliação de experts, avaliação do público-alvo, tradução reversa e estudo piloto (Borsa et al., 2012). No presente estudo, a avaliação de experts chamou atenção para possíveis dificuldades de compreensão de algumas palavras, o que foi confirmado nas entrevistas com o público-alvo. A avaliação da autora da escala original também foi importante para verificar se a adaptação não modificou o sentido de cada item, contribuindo com a validade do conteúdo dos itens. A realização do estudo piloto demonstrou que a escala funcionou bem. Todos os índices medidos apresentaram bons escores, indicando que o trabalho de adaptação foi bem-sucedido. A remoção dos itens 2 e 10 aumentaria os índices de consistência interna, mas outras análises se fazem necessárias para essa decisão. Na escala original, havia correlação negativa entre as dimensões de Investimento e Compatibilidade ( r = -0,28, p < 0,001; Maxwell et al., 2017). No entanto, no presente estudo, as duas dimensões não se correlacionaram (r = 0,06, p = 0,58). O resultado deste artigo está de acordo com os achados de outros autores (Knee et al., 2003; Knee, 1998), que afirmam que investimento e compatibilidade são duas dimensões independentes, e não dois polos de uma mesma dimensão. Assim, uma pessoa que apresente alto índice de Mindset de Compatibilidade, por exemplo, não necessariamente teria um índice baixo de Mindset de Investimento e vice-versa. Seria possível, dessa forma, que determinadas pessoas acreditem que é imprescindível investir na relação, se o(a) parceiro(a) for altamente compatível. Esse resultado demonstra que é necessário avaliar separadamente, em estudos futuros, o impacto de cada tipo de mindset sobre a vida conjugal, já que há tais indícios de que eles não são correlacionados.

Conclui-se que o processo de adaptação transcultural da Escala de Mindsets da Sexualidade foi bem-sucedido, permitindo que ela fosse utilizada no Estudo 2 deste artigo.

 

Estudo 2. Evidências de Validade da Escala de Mindsets da Sexualidade

Método

Participantes

Participaram 637 pessoas (75% mulheres) que viviam em união conjugal por pelo menos seis meses. A caracterização a amostra pode ser vista na Tabela 2.

Instrumentos

Os seguintes instrumentos foram utilizados nesta pesquisa:

Sexual Destiny and Sexual Growth Beliefs Measure (Escala de Mindsets da Sexualidade). A escala foi adaptada no estudo anterior deste artigo. Possui 24 afirmações, que avaliam as dimensões de Investimento e Compatibilidade em uma escala tipo Likert de 7 pontos.

Escala de Qualidade Conjugal (Delatorre & Wagner, no prelo). Avalia a qualidade do relacionamento conjugal em 29 afirmações, pontuadas em escala tipo Likert de 6 pontos, variando de 1 (Não representa quase nada) a 6 (Representa muito). Possui cinco dimensões: Satisfação conjugal (𝛂 = 0,94), Intimidade (𝛂 = 0,91), Atração e sexo (𝛂 = 0,91), Carinho e afeto (𝛂 = 0,89) e Compromisso (𝛂 = 0,82). Por ser uma escala construída recentemente, ainda não há outros estudos psicométricos com ela, além dos realizados em sua construção.

Escala de Satisfação de Vida. É uma escala utilizada mundialmente para avaliação da satisfação geral com a vida (Larsen et al., 1985). Apesar de ter apenas cinco itens, estudos psicométricos têm demonstrado boas qualidades do instrumento, usado em centenas de trabalhos ao redor do mundo (Pavot & Diener, 1993; 2008). A escala usada neste estudo foi adaptada e validada para o contexto brasileiro mostrando boas propriedades psicométricas (𝛂 = 0,87), e invariância entre homens e mulheres (Hutz, Zanon, & Bardagi, 2014; Zanon, Bardagi, Layous, & Hutz, 2014). O nível geral de contentamento com a vida é avaliado em cinco afirmações, respondidas em escala tipo Likert de 7 pontos, variando de 1 (Discordo plenamente) a 7 (Concordo plenamente).

Procedimentos

A coleta foi feita via formulário online entre junho e agosto de 2019, com convites enviados por redes sociais e e-mail. A amostra foi por conveniência e snowball sampling (TenHouten, 2017), já que cada participante foi convidado a indicar outros respondentes e compartilhar a pesquisa em suas redes sociais. Todos os procedimentos éticos foram seguidos de acordo com a legislação brasileira. Os participantes foram instruídos a ler e guardar uma cópia do TCLE, disponível na primeira página do formulário online. Para participar, era necessário declarar concordância com Termo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da UFRGS.

Análise de Dados

A Análise Fatorial Confirmatória (AFC) foi realizada com o objetivo de verificar a estrutura de dois fatores, proposto e testado no estudo da escala original (Maxwell et al., 2017). Para a avaliação dos índices de ajuste, adotou-se os seguintes pontos de corte: RMSEA < 0,08, CFI > = 0,90, SRMR < 0,08 (Hooper et al., 2008; Jackson et al., 2009; Kline, 2005), que são considerados adequados, apesar dos índices mais amplamente usados serem os de Hu e Bentler (1999). Os índices de modificação foram considerados após a análise, com o objetivo de adicionar ao modelo a covariância entre os itens da escala. Tal covariância é esperada, já que os itens de cada dimensão buscam medir a mesma variável latente. O método utilizado foi o Maximum Likelihood, com variáveis latentes padronizadas, livre estimação das cargas fatoriais e análise da matriz de covariância. Verificou-se que os dados não são normalmente distribuídos, utilizando-se, por isso, a correção robusta de Huber-White (método estimador MLR). Utilizou-se a função cfa do pacote lavaan do software R (Rosseel, 2012), com os seguintes parâmetros: missing = "fiml", std.lv = TRUE, estimator = "MLR". Não havia dados perdidos e não foram feitas transformações. Dois modelos foram testados. O primeiro com todos os itens e o segundo sem os itens 2 e 10, que foram identificados no primeiro estudo como possivelmente problemáticos. Conduziu-se então uma ANOVA para verificar se houve diferença significativa entre os dois modelos (Satorra & Bentler, 2010).

Para verificar a fidedignidade, calculou-se o alfa (𝛂) e o ômega de McDonald (ωt). Considera-se bons os valores de 𝛂, maiores do que 0,8 e de ωt entre 0,7 e 0,9 (Dunn et al., 2014; Revelle & Zinbarg, 2009; Ventura-León & Caycho-Rodríguez, 2017). Espera-se também que a correlação item-total seja superior a 0,3 (Field, 2009).O alfa foi calculado utilizando-se a função alfa do pacote psych do R (Revelle, 2021) e o ômega foi obtido por meio da função ci.realiability do pacote MBESS (Kelley, 2020), com o método BCA e 1000 replicações de bootstrap (Dunn et al., 2014).

A análise de invariância foi realizada para verificar se a comparação entre homens e mulheres é estatisticamente viável no uso da escala. Foram testadas as invariâncias: configural, métrica, escalar, residual e média latente. Como o qui-quadrado (c2) é sensível ao tamanho de amostra, considerou-se como ponto de corte CFI < 0,01, Gamma Hat <0,001 e McDonald NCI < 0,02 (Damásio, 2013). Para isso. realizou-se uma AFC Multigrupo utilizando a função measEq.syntax do pacote lavaan do R (Rosseel, 2012; Svetina et al., 2020). Para as evidências de validade, foram verificadas correlações com qualidade conjugal e satisfação da vida.

Resultados

Foram testados dois modelos na análise fatorial confirmatória (AFC), com base nos dados do Estudo 1 deste artigo, que indicaram melhoras na confiabilidade do instrumento no caso da retirada dos itens 02 e 10. Testou-se o Modelo 1 com todos os 24 itens, e o Modelo 2, com 22 itens, removidos os itens 02 e 10. A ACF demonstrou bons índices de ajuste para os dois modelos testados, como pode ser observado na Tabela 3, entretanto, a ANOVA comparando os dois modelos (Satorra & Bentler, 2001; 2010) demonstrou que o Modelo 2 apresentou melhora significativa (p < 0,001) nos índices. Além disso, a análise das cargas fatoriais do Modelo 1 demonstrou que os itens 02 (β = 0,28) e 10 (β = 0,31) possuem carga fatorial baixa, fornecendo mais uma indicação de que tais itens devem ser removidos. A Tabela 4 mostra as cargas fatoriais do Modelo 2, que é o modelo final da escala, após a remoção dos itens 02 e 10.

Quanto à consistência interna, a dimensão Investimento demonstrou bons índices (𝛂 = 0,82; 95%CI [0,80, 0,84]; ωt = 0,82; 95%CI [0,79, 0,85]). Assim como no Estudo 1, a análise indicou que a remoção dos itens 2 e 10 aumentaria a confiabilidade (𝛂 = 0,85; 95%CI [0,83, 0,86]; ωt = 0,86; 95%CI [0,80, 0,90]). Os índices da dimensão Compatibilidade também foram satisfatórios (𝛂 = 0,82, 95%CI [0,80, 0,84]; ωt = 0,82, 95%CI [0,79, 0,84]).

O resultado da Análise Fatorial Multigrupo pode ser visto na Tabela 5. A diferença do CFI e do Mcdonald NCI em todos os níveis testados foi menor do que os pontos de corte de 0,01 e 0,02, respectivamente. No entanto, o gamma hat não foi satisfatório para a invariância escalar nem para a invariância residual (Damásio, 2013). Verifica-se, portanto, que a configuração e os parâmetros da Escala de Mindsets da Sexualidade não são totalmente equivalentes para ambos os sexos.

No que se refere às evidências de validade, a dimensão Mindset de Investimento na sexualidade se correlacionou positivamente e significativamente, como esperado, com os seguintes índices de qualidade conjugal: Compromisso, Carinho e afeto, Atração e sexo e Intimidade (Ver Tabela 6). Essa correlação foi maior com o índice de Compromisso (r = 0,23; p < 0,01), confirmando também essa hipótese. Entretanto, não foi confirmada que o Mindset de Investimento na sexualidade se correlacionaria positivamente com satisfação conjugal (r = 0,05; p = 0,19) e com satisfação com a vida (r = 0,06; p = 0,11). Com relação ao Mindset de Compatibilidade, foram confirmadas as hipóteses de correlações negativas e significativas com os cinco índices de qualidade conjugal e com o índice de satisfação com a vida (Ver Tabela 6).

Discussão

A Escala de Mindsets da Sexualidade demonstrou bons índices de consistência interna com uma amostra bem maior do que a do estudo piloto, o que atesta sua confiabilidade. Mais uma vez foi confirmado que a remoção dos itens 02 e 10 aumenta a consistência interna do instrumento. A análise fatorial confirmatória (AFC) demonstrou que a carga fatorial desses itens era abaixo ou no limiar de 0,30. Sugere-se remover itens com carga abaixo desse valor (Hair et al., 2009) e alguns autores recomendam cautela quanto a itens com valores muito próximos de 0,30 (Peterson, 2000). Após a AFC de um modelo com todos os 24 itens e outro sem os itens 02 e 10, verificou-se que o modelo sem esses itens possui índices de ajuste significativamente melhores. Dessa forma, optou-se por remover os itens 02 e 10 da escala adaptada para a população brasileira.

A versão final Escala de Mindsets da Sexualidade ficou com 22 itens, sendo 11 da dimensão Investimento e 11 da dimensão Compatibilidade. Entretanto, para fins de pesquisa, recomenda-se coletar todos os 24 itens, para possibilitar comparações com estudos internacionais. Após determinar a estrutura da escala adaptada, realizou-se a análise fatorial multigrupo, buscando verificar a invariância entre homens e mulheres. Como os índices foram satisfatórios, exceto o gamma hat, recomenda-se parcimônia na utilização da escala para fazer comparações entre homens e mulheres.

Com relação às evidências de validade, parte da primeira hipótese foi confirmada. A dimensão de Investimento se correlacionou positivamente com os índices de Compromisso, Carinho e afeto, Atração e sexo e Intimidade. Isso indica que ter uma mentalidade de investimento na relação faz com que a pessoa se engaje mais em afetos positivos e em atitudes que promovem melhora na intimidade e na atração sexual, assim como outros estudos demonstram (e.g, Maxwell et al., 2017). A correlação maior com o índice de compromisso também era esperada, pois quanto mais a pessoa acredita que uma vida sexual demanda esforço, mais comprometida ela se torna com a relação, inclusive em momentos de conflitos (Knee et al., 2004).

Nessa amostra não foi encontrada correlação entre Mindset de Investimento com satisfação conjugal, tampouco com satisfação com a vida, o que fez com que parte da primeira hipótese não fosse confirmada neste estudo. Esperava-se que o resultado do investimento na relação sexual promovesse melhores índices de qualidade conjugal e, consequentemente, maior satisfação com a relação e com a vida. Entretanto, alguns estudos demonstram que é possível estar satisfeito sexualmente, mas insatisfeito com a relação e vice-versa (Apt et al., 1996; Leiblum & Brezsnyak, 2006). Além disso, o fato de um dos cônjuges acreditar que satisfação sexual se obtém por meio de investimento não garante que o outro cônjuge também esteja engajado nesse esforço, o que pode gerar frustração e insatisfação.

Por outro lado, a dimensão Mindset de Compatibilidade da sexualidade se correlacionou negativamente com todos os cinco índices de qualidade conjugal, também com a satisfação com a vida, como foi previsto na segunda hipótese. Isso demonstra que acreditar que é preciso encontrar um cônjuge compatível para obter satisfação sexual pode ter impactos negativos em todas as áreas do relacionamento, influenciando também a satisfação com a vida. No entanto, compreende-se também que esses resultados não podem ser utilizados para prever causalidade, por isso não se sabe se o Mindset de Compatibilidade gera atitudes que influenciam negativamente a relação ou se a baixa qualidade da relação aumenta a crença de que é preciso encontrar o parceiro certo para sentir-se satisfeito.

Uma pesquisa norte-americana buscou traçar essa causalidade e demonstrou que o efeito do Mindset de Compatibilidade nas relações conjugais é mediado pelo nível de certeza que as pessoas têm que seu cônjuge é o seu "par perfeito" (Knee & Canevello, 2006). Pessoas com altos índices de Mindset de Compatibilidade, que estão certas de que encontraram o parceiro certo, apresentaram maior capacidade de lidar com situações aversivas na relação e maior qualidade conjugal. Por outro lado, aquelas que tinham dúvida se seu parceiro era realmente compatível apresentavam índices mais baixos de qualidade conjugal e menor capacidade de lidar com as dificuldades. Esses resultados indicam que, possivelmente, quanto mais a pessoa acredita na necessidade de compatibilidade nas relações amorosas, mais vulneráveis suas relações estão à certeza de ter encontrado o parceiro certo. O mesmo acontece com a satisfação sexual, como o presente estudo demonstra.

Limitações

Entre as limitações deste estudo, cita-se a alta proporção de mulheres no Estudo 2 (75%), uma característica comum de estudos com coletas online. Sabe-se também que os participantes deste trabalho possuem nível socioeconômico maior do que a média populacional brasileira, o que dificulta a generalização dos resultados. Trabalhos posteriores podem buscar uma distribuição sociodemográfica de participantes mais próxima da população geral.

 

Considerações Finais

Pode-se afirmar que a Escala de Mindsets da Sexualidade passou por um bem-sucedido processo de adaptação para a população brasileira, apresentando boas propriedades psicométricas e algumas evidências de validade. Os resultados demonstram que, apesar do Mindset de Investimento na sexualidade estar associado positivamente com alguns índices de qualidade conjugal, este não se relacionou com satisfação conjugal ou satisfação com a vida. Por outro lado, o Mindset de Compatibilidade apresentou correlação negativa com a qualidade conjugal, com a satisfação conjugal e com a satisfação com a vida. Isso demonstra que se deve ter uma atenção especial para pessoas com altos níveis de Mindset de Compatibilidade, pois esse mindset pode afetar negativamente o relacionamento conjugal, principalmente durante as crises na relação. Estudos posteriores podem buscar compreender melhor esse fenômeno e desenvolver intervenções sobre esse tipo de mindset, para verificar se é possível melhorar a qualidade conjugal a partir de mudanças de mindset. Conclui-se que a Escala de Mindsets da Sexualidade pode ser utilizada em contexto clínico para obter maior compreensão sobre as crenças a respeito da sexualidade e para direcionar intervenções de profissionais, focando principalmente nas pessoas com altos índices de Mindset de Compatibilidade.

 

Agradecimentos

Os autores agradecem aos participantes que dispuseram de seu tempo e forneceram informações sobre suas relações amorosas para a realização deste trabalho, assim como aos colegas do Núcleo de Pesquisa Dinâmica das Relações Familiares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por todo o apoio dado durante a realização da pesquisa.

Financiamento

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, por meio de bolsa de mestrado.

Declaração de participação da elaboração do manuscrito

Declaramos que todos os autores participaram da elaboração do manuscrito. Especificamente, os autores Fabricio Rocha e Adriana Wagner participaram da redação inicial do estudo - conceitualização, investigação, visualização, os autores Fabricio Rocha e Adriana Wagner participaram da análise dos dados, e os autores Fabricio Rocha e Adriana Wagner participaram da redação final do trabalho - revisão e edição.

Disponibilidade dos dados e materiais

Todos os dados e sintaxes gerados e analisados durante esta pesquisa serão tratados com total sigilo devido às exigências do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Porém, o conjunto de dados e sintaxes que apoiam as conclusões deste artigo estão disponíveis mediante razoável solicitação ao autor principal do estudo.

Conflito de interesses

Os autores declaram que não há conflitos de interesses.

 

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Endereço para correspondência:
Fabricio de Andrade Rocha
Rua São Guilherme, 295, Cs 02
Bairro São Guilherme, Porto Alegre-RS
CEP: 91520-650
E-mail: fabriciorochapsi@gmail.com

Recebido em março de 2020
Aprovado em setembro de 2021

 

 

Notas sobre os autores
Fabricio de Andrade Rocha é psicólogo (PUC-Minas), mestre em Psicologia (UFRGS) e atualmente é doutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Adriana Wagner é psicóloga (PUC-RS), doutora em Psicologia Social (Universidad Autónoma de Madrid). Atualmente é professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS e coordena o Núcleo de Pesquisa Dinâmica das Relações Familiares.

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