10 1Apontamentos sobre a psicanálise e as práticas institucionais na América Latina 
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Revista da SPAGESP

 ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.10 no.1 Ribeirão Preto jun. 2009

 

EDITORIAL

 

O trabalho com grupo na América Latina: repetição ou invenção?

 

Manoel Antônio dos Santos 1

 

Este fascículo corresponde ao volume 10, número 1, da Revista da SPAGESP. Os artigos enfeixados nessa coletânea tratam de diferentes temáticas que têm merecido a atenção dos profissionais e pesquisadores do campo grupal.

O primeiro artigo, intitudado Apontamentos sobre a psicanálise e as práticas institucionais na América Latina, de Pablo de Carvalho Godoy Castanho, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, traz apontamentos valiosos sobre a questão da Psicanálise e das Práticas Institucionais na América Latina. O autor reforça a necessidade de se pensar o caminho que a psicanálise faz do divã aos grupos institucionais, às práticas intersticiais e outras modalidades de atuação.

O artigo seguinte, O grupo e a institucionalização do movimento analítico, de Fernando Silveira, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, contribui com um diálogo acerca da institucionalização do movimento analítico de grupos no Brasil, a partir dos resultados obtidos em uma revisão bibliográfica, para compreender como o grupo aparece no movimento psicanalítico brasileiro durante o período de consolidação das instituições psicanalíticas.

A próxima contribuição, intitulada Grandes grupos: Dinâmica e terapia, de Carla Maria Pires e Albuquerque Penna, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, objetiva localizar o início dos trabalhos com grandes grupos na Inglaterra, praticamente desconhecidos dentro de uma perspectiva psicanalítica no Brasil. O artigo ressalta a importância da psicoterapia analítica de grupo voltar-se para a pesquisa teórica, bem como a prática com grandes grupos, que trazem interessantes perspectivas na atualidade para o trabalho grupal.

O próximo artigo é Subjetividade e alteridade: Considerações sobre os fundamentos de uma clínica grupal na perspectiva winnicottiana, de Tânia Maria José Aiello Vaisberg, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. As condições de possibilidade de proposição de uma clínica grupal, que permita a abordagem de problemáticas psicopatológicas que emergem no campo da pré-subjetividade, são consideradas a partir das mudanças paradigmáticas que, no interior do discurso psicanalítico, possibilitaram a percepção de um nexo essencial entre a constituição da subjetividade, no plano individual, e uma natureza humana que assume, no registro ontológico, um caráter fundamentalmente co-existencial e intersubjetivo.

No artigo seguinte, Grupos breves: Uma nova experiência e possibilidade na atual realidade, Maria Amélia Andréa, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, descreve a forma como estruturou os grupos psicoterapêuticos com número de sessões pré-determinadas após a aprovação da Lei ANS 9656, momento em que passou a ser obrigatório que os convênios proporcionassem 12 sessões de psicoterapia ao ano para seus usuários. Conclui que, por ter uma duração breve, esse formato de grupo traz, desde o inicio, a certeza do seu término, mas pode ser vivenciado intensamente enquanto dura esse processo.

O artigo de Juan Adolfo Brandt, da Universidade Bandeirante de São Paulo, intitulado Grupos Balint: Suas especificidades e seus potenciais para uma clínica das relações do trabalho, apresenta os fundamentos teóricos que sustentam a modalidade grupal criada por Michael Balint. Essa estratégia tem por objetivo contribuir na formação dos médicos generalistas, para capacitá-los a estabelecer uma adequada relação médico-paciente. O autor abre um espaço de discussão sobre as potencialidades desse setting grupal para a constituição de uma clínica das relações de trabalho.

O próximo artigo, intitulado Método psicanalítico e o discurso da criança no grupo: Um estudo piloto da sintomatologia depressiva no escolar, de Maria Aparecida Bernardes Orlandi e Antonios Terzis, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, pontua alguns aspectos levantados em uma pesquisa piloto com um grupo de cinco crianças, tendo o método do “Grupo como um sonho”, de René Kaës, como suporte teórico para o enquadramento das especificidades do discurso da criança. Segundo os autores, o método demonstrou qualidades interessantes como apoio logístico ao analista na condução de sua estratégia clínica.

Encerrando esse número, o artigo Atuação de estagiários em Psicologia do Trabalho com grupos, de Dinael Corrêa de Campos, da Universidade São Francisco, relata as vivências grupais de estagiários na área da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Para o autor, a atuação da Psicologia Organizacional e do Trabalho na implementação de estratégias para criação de organizações e comunidades melhores passa pelo trabalho de/em grupo. A atuação de estagiários em Psicologia do Trabalho com grupos pode ser um início para estimular novas práticas engajadas no cotidiano das pessoas que trabalham.

Os artigos publicados nesse fascículo reforçam a expectativa de que o trabalho com grupos que se pratica no contexto brasileiro e latino-americano está mais vivo do que nunca. Vivo e inovador, portanto, longe das armadilhas da estereotipia e da repetição.

Esperamos que todos encontrem nesses estudos subsídios para enriquecer sua prática grupal. É com essa inspiração que desejamos uma boa leitura para todos.

 

 

1 Professor Doutor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Editor da Revista da SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, e-mail: masantos@ffclrp.usp.br.