Revista da SPAGESP
ISSN 1677-2970
Rev. SPAGESP vol.10 no.1 Ribeirão Preto jun. 2009
ARTIGOS
Grandes grupos: dinâmica e terapia 1
Large groups: dynamic and therapy
Grandes grupos: dinámica y terapia
Carla Maria Pires e Albuquerque Penna 2
Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de localizar o início dos trabalhos na Inglaterra com grandes grupos, praticamente desconhecidos dentro de uma perspectiva psicanalítica no Brasil, apresentando as pioneiras contribuições de John Rickman e Pierre Turquet, que culminaram com a postulação em 1975, de um quarto suposto básico – a teoria de Oneness – presente em grandes grupos não estruturados. O artigo ressalta a importância da psicoterapia analítica de grupo voltar-se para a pesquisa teórica e a prática com grandes grupos que trazem interessantes perspectivas na atualidade para o trabalho grupal, que envolvem violência, trauma ou situações de conflito intra e inter grupais. Vale assinalar que estes trabalhos vêm sendo conduzidos em diversos países da Europa.
Palavras-chave: Grupos; Psicanálise de grupo; Tamanho do grupo.
ABSTRACT
This paper aims to present the first works conduced with Large Groups in England, almost unknown within a psychoanalytical view in Brazil, presenting the pioneering contributions of John Rickman and Pierre Turquet, who postulated in 1975, a fourth basic assumption – Theory of Oneness – presented in unstructured large groups. This article emphasizes the importance of group-analytic psychotherapy to turn to theoretical research and practice with large groups who bring interesting perspectives to contemporary group work, involving violence, trauma and conflict within and between groups. It is worth noting that these studies have been conducted in several countries in Europe.
Keywords: Groups; Group psychoanalysis, Group size.
RESUMEN
Este trabajo tiene como objecto es de localizar el início de los trabajos en Inglaterra con grandes grupos, practicamente desconocidos en Brasil, presentando las pioneras contribuiciones de John Rickman e Pierre Turquet que culminaran con la postulacion en 1975, el quarto supuesto básico - la teoria de Oneness - presente en grandes grupos no estructurados. El artigo resalta la importáncia de la pisicoterapia analítica del grupo volverse para la investigacíon teórica y la practica con grandes grupos que traén interesantes perpectivas en la actualidad para el trabajo en grupo, que involucran la violencia, traumas o situaciones de conflito intra y inter los grupos. Vale señalar que estos trabajos vienem siendo conducidos en diversos paises de Europa.
Palabras clave: Grupos; Psicoanálisis de grupo; Tamano de grupo.
As primeiras tentativas de aplicação da psicanálise aos grupos provêm dos primórdios do movimento psicanalítico, através de iniciativas de alguns de dissidentes, como Adler. Entretanto para Martins (1986, p. 44) foi durante a guerra, quando os homens foram compelidos a ingressarem num grupo artificial - o Exército – que o tratamento grupal adquiriu importância. Foi assim na Primeira Guerra Mundial, com Ernst Simmel que utilizando o método catártico (ab-reação ativa) foi o primeiro a aplicar conhecimentos analíticos ao tratamento em grupo de neuróticos de guerra na Alemanha.
Os trabalhos com grupos tiveram grande avanço durante a Segunda Guerra Mundial. Diante da necessidade de seleção e agrupamento de oficiais, inúmeros psiquiatras, que pertenciam ao War Selection Board, passaram a se interessar pelos fenômenos grupais. Foi ainda através da iniciativa de psiquiatras e psicanalistas, como Rickman, Bion, Tom Main, Foulkes e Anthony, que diversos experimentos com grupos foram desenvolvidos no hospital de Northfield na Inglaterra, considerado o berço do trabalho grupal (KREEGER, 1975). Duas grandes correntes surgiram a partir dessas experiências. De um lado a grupanálise de Foulkes, que incorporou a teoria clássica freudiana e contribuições da Gestalt e da Sociologia, aplicadas a situação de pequenos grupos, que culminaram com a fundação da Sociedade de Grupanálise de Londres na década de 60. Por outro lado deram origem no pós-guerra, na clínica Tavistock, a trabalhos grupais de influência kleiniana, desenvolvidos por Bion e Ezriel e à criação da Tavistock Institute of Human Relations em 1946. Tom Main designado para o Cassel Hospital no mesmo ano foi ainda o fundador das comunidades terapêuticas na Inglaterra, assim como Pierre Turquet (1994) desenvolveu a pesquisa com grandes grupos e também com famílias que resultou na criação do Institute of Marital Studies dentro do Tavistock Institute (KREEGER, 1975).
A partir da década de 70, através do incremento das atividades grupais, dos trabalhos nas comunidades terapêuticas, bem como, devido às transformações sócio-culturais do período, a pesquisa grupanalítica, antes restrita à psicodinâmica dos pequenos grupos, volta-se para o trabalho com os Grandes Grupos - a partir 40 a 80 pessoas para Turquet (1994) e até mesmo centenas para Sverre e Volkan (2008) – que foram considerados importantes ferramentas na compreensão de processos sociais interativos e de dimensões, ainda pouco exploradas do comportamento dos indivíduos em grupo, não observadas no setting dos pequenos grupos.
RICKMAN E TURQUET
Pierre Turquet é um dos pioneiros do estudo psicanalítico dos movimentos grupais. Veterano do War Office Selection Boards, membro da British Psycho-Analytical Society e do Tavistock Institute of Human Relations, desenvolveu desde 1952 experiências com grandes grupos realizadas em tradicionais conferências da Leicester University em parceria com o Tavistock Institute. Suas observações conduziram à conceitualização do que foi chamado nos anos 70, um quarto suposto básico – a teoria de Oneness – referente ao comportamento dos indivíduos dentro de grandes grupos não-estruturados (KREEGER, 1975).
Entretanto antes de falarmos sobre a psicodinâmica dos grandes grupos e do quarto suposto básico de Turquet, é importante nos reportarmos à influência do pouco conhecido - e só recentemente editado por Pearl King (2003) – artigo de John Rickman de 1938 “Uniformity and Diversity in groups” (RICKMAN, 2003). Encontramos nesta publicação o relato da experiência de Rickman, que se junta ao Friends War Victims Relief Unit, durante a Primeira Guerra Mundial e trabalha como médico em um vilarejo no interior da Rússia Tzarista, às vésperas da revolução entre 1914-1917. Lá encontra uma comunidade vivendo modestamente da agricultura, sem líderes, e numa condição de homogeneidade de laços, crenças e intensa coesão. Nesta comunidade o grupo pedia a uniformidade como seu ideal. Através de dois episódios, que revelam discrepâncias no comportamento agressivo da comunidade em relação à indulgência com que tratam seus próprios membros e a intolerância que dirigem aos estrangeiros, Rickman (2003) observa a forte correlação entre homogeneidade grupal e a necessidade de segurança. Estes mecanismos funcionam basicamente como proteção contra o medo da aniquilação e contra a irrupção de impulsos agressivos individuais no seio da comunidade.
O relato de Rickman foi fundamental para o desenvolvimento das postulações de Turquet (1974, 1994) e podemos até imaginar que Freud tomou conhecimento da experiência de Rickman durante a análise que a que este se submeteu com Freud em 1920 (antes da redação de Psicologia de Grupo e Análise do Ego em 1921). Para Earl Hopper (2003, p. 51) os dois artigos de Turquet (1974, 1994) são “virtualmente idênticos” ao trabalho de Rickman. O original trabalho de Rickman ficou anos restrito ao círculo de colaboradores mais próximos tendo sido dado à Turquet pelo próprio Rickman no período da Tavistock.
A visão de Turquet (1994) sobre os grandes grupos privilegia o comportamento do indivíduo dentro do grande grupo, mais do que o próprio grupo como um todo (Bion). Inspirado na experiência russa de Rickman (2003), Turquet (1994) postula que os membros do grupo estariam em busca de uma união com uma força onipotente, que levaria os sujeitos a se renderem como indivíduos ao grupo com o objetivo de preservar sua existência através de um sentimento de wholeness. O quarto-suposto básico de Oneness resulta da transformação do comportamento dos indivíduos, que sentem suas identidades ameaçadas, diante da ausência de fronteiras delimitadas para o grupo, bem como devido aos múltiplos estímulos e do bombardeamento de reações provocadas por estes. Como resposta, observamos uma profunda regressão nos indivíduos levando a um comportamento caracterizado por: (a) inveja, (b) formas malignas de identificações projetivas, (c) medo de aniquilação (d) angústia de separação (e) fusão e “skin phenomena”.
Um indivíduo que adere a um grande grupo entra em um estado, que Turquet (1975) nomeou de Singleton (S) - que se refere à existência de uma única carta de um naipe na mão de um jogador de bridge. Ou seja, em busca de uma relação com outros singletons (S) ou de um papel para si mesmo dentro do grupo, o indivíduo se depara com inúmeras dificuldades inerentes a sua dinâmica. Em grandes grupos não-estruturados o diálogo é paralisado em função da descontinuidade na comunicação e ao malogro nos esforços de estabelecimento de subgrupos ou fronteiras seguras. Remetido apenas a si mesmo tomado por identificações projetivas múltiplas e temeroso quanto a agressividade dos demais membros, o indivíduo regride. Tal estado de coisas leva ao medo da aniquilação e à ameaça da perda da identidade. Em virtude de tamanha ameaça, um Singleton (S) oscilará entre três estados – Membership Individual(MI), Individual Member (IM) ou Isolate (I) – que determinam diferentes comportamentos e caminhos no grande grupo. Estes estados são intermediários e transitórios e representam possibilidades, conscientes ou não, de pertencimento (TURQUET, 1994, p. 95). Em última instância, revelam a luta interna dentro do indivíduo que anseia por interagir, mas que defende sua individualidade, diante das poderosas forças unificadoras do grupo (PENNA, 2009, p.178).
Para Turquet (1994) a agressão no grande grupo adquire a forma da inveja - inveja do pensamento, da individualidade, da racionalidade, da diferença. Diante da ameaça evocada pelo grande grupo surge então uma tendência natural à homogeneização, na tentativa de neutralização dos efeitos ameaçadores do grupo sobre o indivíduo. Desta forma, em grandes grupos onde os indivíduos assumem o papel de Membership Individual (MI) ocorre um estado de homogeneidade social e cultural, caracterizada por uma absoluta igualdade, semelhança de crenças, nenhuma diferenciação de papéis e uma linguagem própria. Ou seja, todos esses mecanismos têm o objetivo de magicamente unificar os membros do grupo como um todo, eliminando quaisquer diferenças. Através da homogeneização, o desejo de fusão dos indivíduos no grupo se realiza ao mesmo tempo em que funciona como uma defesa contra a inveja. Este tipo de comportamento é basicamente aquele que caracteriza o quarto suposto básico de Oneness atribuído a Turquet (1994).
A segunda alternativa observada no comportamento defensivo dos indivíduos diante de um grande grupo ocorre através da participação como Isolate (I), onde não há nenhuma integração entre os membros do grupo, e predominam vivências de caos e múltiplos splitings, caracterizados por errâncias e polaridades e dissaroy 3,que conduzem à desintegração e à dissolução do grupo.
A possibilidade de encontrarmos um grupo de trabalho em um grande grupo pressupõe a inexistência de condições de Oneness, já que a principal característica esperada em um grupo de trabalho é a heterogeneidade entre seus membros. Para que isto ocorra, a maioria dos participantes deve funcionar como Individual Member (IM), preservando a individualidade e a diversidade de papéis que propiciam a consecução das tarefas esperadas.
Para Turquet o estado de Oneness é ubíquo e inevitável no grande grupo, pois ele acredita que a inveja, derivada do instinto de morte, é também ubíqua e inevitável. Entretanto, cabe ressaltar, que sua principal fonte de pesquisa sempre foram os grandes grupos, realizados nos Congressos da Leicester University e da Group-Analytic Society de Londres e que suas contribuições foram fortemente influenciadas pela escola kleiniana, predominante na psicanálise da época. Atualmente, através de experiências em outros settings, como em situações de trauma ou em regiões de conflitos políticos e étnicos, como na Faixa de Gaza ou na Iugoslávia, podemos evidenciar novos desenvolvimentos teóricos que se apóiam em desenvolvimentos da psicanálise contemporânea.
Nos últimos 25 anos, a pesquisa com grandes grupos têm evoluído e as reflexões sobre o tema prosseguem através de autores como Lawrence, Bain e Gould (2000), que ensaiaram a postulação de um quinto suposto básico (Me-ness). Earl Hopper (2003), baseando-se na observação dos processos de incoesão nos grandes grupos, postula a universalidade de um quarto suposto básico – Incohesion: Agregation / Massification ou (ba) I:A/M – que vem sendo largamente utilizado na compreensão e estudo de conflitos intra e inter grupais em toda a Europa.
DINÂMICA E TERAPIA COM GRANDES GRUPOS
As principais especificidades em relação aos grandes grupos dizem respeito ao seu tamanho e aos seus objetivos que implica em dificuldades técnicas adicionais especialmente numa maior dificuldade de manejo. Dentre as imensas possibilidades de trabalho com grandes grupos destacaremos duas de especial relevância. A primeira tem uma perspectiva histórica e consiste em uma espécie de laboratório humano desenvolvido nas Conferências de Grupo na Europa e nos Estados Unidos que realizam grandes grupos com o intuito de observação, análise e pesquisa teórica. Uma segunda possibilidade reside na utilização da teoria dos grandes grupos pela psicanálise com o intuito de compreender a dinâmica, a interação e os conflitos inter e intragrupais de sociedades traumatizadas ou submetidas a traumas massivos (SVERRE; VOLKAN, 2008). As teorias de Turquet sobre grandes grupos, apoiadas na Psicologia de Grupo de Freud (1974), em Experiências com Grupos de Bion (1970) e na Psicologia das Multidões de Le Bon (1995) deram incremento ao estudo de questões da atualidade referentes à violência, trauma e terrorismo e identidades nacionais (KERNBERG, 1998; SVERRE; VOLKAN, 2008). Os estudos sobre transmissão psíquica e transgeracionalidade em grandes grupos são hoje um novo campo de pesquisa em psicanálise, tendo como expoentes Vamik Volkan, Salman Akhtar, Werner Bohleber, George Awad.
No que se refere às instituições de saúde mental, os trabalhos com os grandes grupos lembram os tradicionais trabalhos com comunidades terapêuticas. Como novidade apresenta uma teorização consistente que facilita a compreensão e manejo de situações e conflitos na área institucional. Muitas das questões atuais em torno dos grandes grupos dizem respeito à pergunta: Eles possuem funções terapêuticas ou não? Não existe consenso entre os autores. Muitos se referem à imensa dificuldade de trabalho e manejo com grandes grupos. No entanto experiências bem sucedidas em países distintos como Noruega, Inglaterra e Israel relatam os benefícios terapêuticos dos grandes grupos tanto para pacientes psiquiátricos (ou não) quanto para o staff médico-institucional. Os grandes grupos estão ainda presentes no treinamento de terapeutas de grupo em vários países europeus. Fazem parte do programa oficial de formação das sociedades de grupo, oferecendo um espaço de experimentação tão importante para o treinamento de grupoterapeutas quanto são os nossos pequenos Grupos de Reflexão (PENNA, 2002), propiciando ainda aos jovens profissionais vivências grupais que conduzem a estágios bastante regressivos, o que contribui para o autoconhecimento e para uma formação terapêutica mais sólida (SPRINGMAN, 1975).
O grande desafio no trabalho com o grande grupo diz respeito às suas dimensões o que irá refletir nas possibilidades de comunicação e diálogo. A regressão e o tamanho do grupo dão ao indivíduo a possibilidade de expressão da agressividade latente devido à frustração e a ameaça a individualidade. Assim os ataques verbais são veementes e os líderes ficam exaustos no final da empreitada. Os principais temas que surgem nas discussões de grandes grupos são: (a) rejeição, (b) violência, (c) sexualidade, (d) divisões no staff, (e) dependência-independência, (f) relações institucionais (KREEGER, 1975).
O aumento do tamanho do grupo traz desvantagens como: (a) maior tendência a criação de subgrupos, (b) menos oportunidade para o indivíduo de falar, (c) diluição dos vínculos afetivos e da identidade de gênero, (d) decréscimo da familiaridade com o outro e por conseqüência tendência a esteriotipização ou ao anonimato, (e) líderes mais ativos e participantes mais passivos, (f) grande ameaça a individualidade (g) funcionamento pré-edípico (SPRINGMAN, 1975).
De fato, os processos grupais, em geral, impõem uma ameaça básica à identidade pessoal que se traduz pela “ativação de níveis psicológicos primitivos que incluem relações objetais primitivas, operações defensivas primitivas e agressão primitiva com características pré-genitais” (KERNBERG, 1998, p.19). Assim, em grandes grupos não-estruturados predominam mecanismos psicóticos, deflagrados diante da ameaça da perda da identidade que os indivíduos sofrem quando em situação de grande grupo. A dificuldade de manutenção de fronteiras psíquicas delimitadas, a comunicação truncada, a presença de ansiedades paranóides e identificações projetivas maciças conduzem os indivíduos no grande grupo a uma regressão a estados pré-edípicos e uma tendência à homogeneização.
Entretanto se as imensas dissociações, splitings, polarizações e regressões dos estágios iniciais do grande grupo forem ultrapassadas, um grupo de trabalho pode emergir. Assim o potencial terapêutico do grande grupo poderá propiciar insight e comunicação interdisciplinar. Como vantagens, temos a mobilização positivada da transferência institucional e a participação dos pacientes e dos membros da equipe em um esforço conjunto de maturação grupal. Para a equipe médica as vantagens estão na comunicação e na abertura de um espaço conjunto onde conflitos podem ser discutidos e elaborados. Para os pacientes o grande grupo pode representar uma ameaça (buraco negro), mas também um continente (grande útero) e um espaço denúncia, que facilita a auto-revelação/ exibicionismo, mas também funciona como fórum de espelhamento, elaboração e acolhimento.
O grande grupo só funciona como espaço terapêutico se apesar do tamanho puder desenvolver algumas características de pequeno grupo de trabalho, principalmente se houver uma tarefa envolvida, um objetivo pré-determinado ou proposto no aqui-e-agora do grupo. Através de uma relação democrática e acolhedora entre os participantes, o líder e a tarefa o grande grupo acabará funcionando em moldes semelhantes aos postulados por Pichón-Rivière para os grupos operativos. Dependendo do clima instalado no campo grupal, diversas possibilidades de interpretação, insight e elaboração, bem como o desenvolvimento de uma memória grupal, de uma visibilidade e de uma troca real podem ser atingidas. Neste sentido a grande questão em relação aos grandes grupos diz respeito a situações onde não existe uma tarefa ou a sua consecução fracassa. Nestes casos, ou seja,diante de grandes grupos não-estruturados a ansiedade é intensa e generalizada e o grupo rapidamente regride, passando a compartilhar de um sentimento de perigo e de um caos eminente. Em tais situações é que podemos observar e analisar a psicodinâmica intrínseca aos grandes grupos.
As possibilidades de trabalho com grandes grupos são promissoras e englobam desde um aperfeiçoamento no treinamento de terapeutas de grupo até a clássica interdisciplinaridade institucional, passando por grupos com pacientes graves, famílias de enlutados, vítimas de violência ou comunidades em sofrimento. Apesar de não vivermos em sociedades traumatizadas como na faixa de Gaza ou na Iugoslávia, no Brasil estamos inseridos em uma guerra muda que produz anualmente um grande contingente de vítimas da violência e familiares traumatizados que padecem de inúmeras patologias em decorrência da perda violenta de entes queridos. Assim, dentro destas perspectivas teórico-clínicas a psicoterapia analítica de grupo adquire renovado fôlego para fazer face às demandas psicoterapêuticas no século XXI.
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Endereço para correspondência
Carla Maria Pires e Albuquerque Penna
E-mail: carlapenna@ig.com.br
Recebido em 22/10/08.
1ª Revisão em 08/01/09.
Aceite Final em 12/02/09.
1 Trabalho apresentado no XVIII Congresso Latino Americano FLAPAG e X Simpósio CEFAS - “Práticas Institucionais na América Latina: Casal, Família, Grupo e Comunidade”, 2009.
2 Psicanalista do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ). Ex-presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia de Grupo (ABPG). Ex-presidente da Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo do Estado do Rio de Janeiro (SPAGERIO). Membro efetivo da Group-Analytic Society of London.
3 Dissaroy é um termo cunhado em inglês por Turquet e não encontramos tradução para ele, sendo empregado apenas no sentido dado por Turquet (Fonte dicionários Webster’s, Collins, Oxford e internet).