11 1Perspectiva grupal nas instituiçõesPsicanálise de grupo no trabalho social: contribuições à intervenção psicossocial 
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Revista da SPAGESP

 ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.11 no.1 Ribeirão Preto jun. 2010

 

ARTIGOS

 

Formação em Psicologia: a experiência de estudantes de graduação na atuação em grupos com educadores

 

Formation in Psychology: the graduation students' experience in a group performance with educators

 

Formación en Psicología: la experiencia de estudiantes de graduación en la actuación en grupo con educadores

 

 

Carolina Martins Pereira Alves 1; Fernanda Pavão Corrêa 2; Jéssica Bezerra Soares 3; Amanda Miareli 4; Fabio Scorsolini-Comin 5; Conceição Aparecida Serralha 6

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo relata a experiência de graduandos de um curso de Psicologia envolvidos em um projeto de extensão universitária, buscando compreender o modo como a atuação nesse contexto repercutiu na formação desses alunos. O projeto de extensão teve como objetivo discutir a temática da agressividade na primeira e na segunda infância com grupos de profissionais de educação infantil. Os grupos foram realizados em encontros de capacitação com esses educadores. Após as palestras, eram realizados grupos de reflexão coordenados pelos graduandos. Foram analisados os relatos dos alunos após a participação nesses grupos, destacando a repercussão dessa prática para a formação profissional. De modo geral, os alunos relataram que a experiência de realizar grupos com os educadores os aproximou da realidade vivenciada nas escolas e seus desafios contemporâneos, bem como contribuiu para uma melhor compreensão acerca do profissional educador. Isso abriu a possibilidade de significar o espaço do grupo como importante recurso também para a formação dos psicólogos, na medida em que a atividade de escuta foi considerada um fator positivo tanto para os educadores como para os graduandos.

Palavras-chave: Formação profissional; Formação do psicólogo; Grupo.


ABSTRACT

This study reports the experience of Psychology undergraduate students involved in a college practical project, aiming to understand how their work in this context echoed in those students' formation. The student's project discussed the aggressiveness in the early childhood with groups of professionals from child education. Training groups with professors were proposed. After the training groups, reflection groups were coordinated by the students. The students' reports were analyzed after the participation in those groups, highlighting the repercussion of that practice for the professional formation. In general, the students mentioned that the experience of coordinating groups with the educators put them closer to the reality in the schools and their contemporary challenges, and also contributed to a better understanding about the professionals practice. That opened possibilities to signify the group space as important resource for the psychologist's education, since the listening capacity was considered a positive factor to the educators and for the undergraduate students.

Keywords: Professional formation; Psychologist's formation; Group.


RESUMEN

Este estudio relata la experiencia de graduandos de un curso de Psicología involucrados en un proyecto de extensión universitaria, buscando comprender el modo como la actuación en ese contexto se ha repercutido en la formación de esos alumnos. El proyecto de extensión tuvo como objetivo discutir la temática de la agresividad en la primera y en la segunda infancia con grupos de profesionales de educación infantil. Los grupos fueron realizados en encuentros de capacitación con esos educadores. Después de las palestras, eran realizados grupos de reflexión coordinados por los graduandos. Fueran analizados los relatos de los alumnos después de la participación en esos grupos, destacando la repercusión de esa práctica para la formación profesional. De manera general, los alumnos relataron que la experiencia de realizar grupos con los educadores los han aproximado a la realidad vivida en las escuelas y sus desafíos contemporáneos, bien como ha contribuido para mejor compresión a cerca del profesional educador. Eso ha abierto la posibilidad de significar el espacio del grupo como importante recurso también para la formación de los psicólogos, en la medida en que la actividad de escucha fue considerada un factor positivo tanto para los educadores como para los graduandos.

Palabras clave: Formación profesional; Formación del psicólogo; Grupo.


 

 

INTRODUÇÃO

Contemporaneamente, a Psicologia tem buscado uma reformulação em seus currículos universitários, o que também pode ser encarado como resultado das diversas críticas que a caracterizam como uma atividade "impregnada de forte conteúdo ideológico, individualista e despreocupada com os problemas sociais" (DIMENSTEIN, 1998, p. 67). No esteio dessa discussão, faz-se necessário adequar à formação em Psicologia as competências que são vistas como necessárias ao profissional atual (MARTÍN-BARÓ, 1997; CRUZ; SCHULTZ, 2009).

A mudança curricular deve girar em torno principalmente do desenvolvimento de áreas que permitam integrar e discutir os conteúdos teóricos a partir de práticas reais ou simulações da vida profissional, visando à complementação entre teoria e prática (LIMA, 2005). Essa nova metodologia busca o desenvolvimento de compromissos no âmbito social, guiando as relações interpessoais no ensino e a prática dos futuros profissionais (SORDI; BAGNATO, 1998). Além disso, possibilita formar profissionais com capacidade de problematizar, que envolve a identificação do problema em destaque, a tentativa de formular explicações para este de forma adequada e a apresentação de propostas de resolução compatíveis (GONDIM; 2002; ZANOTTO; ROSE, 2003).

Os estudantes devem ser instruídos visando o "aprender a fazer", ou seja, devem ser capazes de associar a técnica aos conhecimentos teóricos e não aceitar passivamente a teoria que lhes é apresentada, de forma que acabem por não conseguir associar o saber ao fazer. Neste novo cenário de mudança tecnológica, devem-se buscar meios para que a formação profissional se diferencie das demais formações oferecidas. Com isso, as universidades vêm buscando melhorias por meio do aumento de atividades práticas diferenciadas (BOCK, 1999; DIMENSTEIN, 2000; FLEURY, 2002; SILVA; CUNHA, 2002; SOUZA; MONTEIRO; ELGUES, 2007; REINHARDT, 2008; SCORSOLINI-COMIN; SOUZA; SANTOS, 2008; ARROYO; ROCHA, 2010).

Nesse contexto, a extensão universitária surge atendendo à necessidade de formação de profissionais com as competências e a sensibilidade necessária para lidarem com as questões sociais, a partir da inserção destes em suas práticas (ALBUQUERQUE, 2009). A extensão se caracteriza como uma atividade responsável pela constituição do profissional e cidadão, conectando a universidade, por meio do ensino e da pesquisa, com as necessidades da população (RIBEIRO, 2009). Essas práticas crescem cada dia mais, passando a contar financiamentos de diferentes agências de fomento, inclusive do governo federal.

A extensão possibilita não apenas troca de conhecimentos entre a comunidade acadêmica e a população, mas também a divulgação dos conhecimentos obtidos durante a execução do projeto em eventos científicos. A partir disso, sucede-se uma interação entre assistência, ensino e pesquisa, de modo a facilitar a inserção no mundo profissional (FERNANDES; ALVES; NITSCHKE, 2008; PONTE; TORRES; MACHADO; MANFRÓI, 2009). Desse modo, a extensão universitária contribui para a formação profissional, na medida em que possibilita uma formação crítica, reflexiva e atenta para as necessidades sociais.

É a partir dessas considerações que destacaremos as percepções e reflexões de graduandos em Psicologia de uma universidade pública da região do Triângulo Mineiro (MG) envolvidos diretamente na execução de um projeto de extensão com educadores.

 

O OBJETO DE INVESTIGAÇÃO

A equipe foi composta por alunos do terceiro ao quinto períodos do curso de Psicologia. O projeto de extensão realizado teve como objetivo discutir a temática da agressividade na primeira e na segunda infância com grupos de profissionais de educação. A cada encontro com os educadores, os alunos ministravam uma palestra acerca da temática agressividade e, posteriormente, realizavam um grupo de reflexão com os educadores. Para alcançar o objetivo proposto no presente estudo, foi proposto que os discentes emitissem um parecer escrito (relato) sobre as reflexões feitas em grupo durante e após a execução do projeto, e a relevância deste em sua formação profissional em Psicologia.

O projeto de extensão foi realizado ao longo do ano de 2010. Participaram sete graduandos. Antes de iniciar as atividades nas escolas, foram necessárias diversas reuniões, nas quais os alunos e a professora coordenadora construíram o plano de cada encontro: o seu conteúdo, a escolha das dinâmicas a serem realizadas e a confecção dos slides para serem exibidos nos grupos. O conteúdo teórico foi digitado e impresso, sendo repassado aos profissionais participantes durante o último encontro. Foi confeccionada também, pelos alunos, uma cartilha, com diversas instituições da cidade que oferecem atendimento psicológico a crianças e seus familiares, para orientá-los quando de alguma necessidade.

A equipe de extensão foi dividida em duas, para que todos tivessem a oportunidade de ministrar as palestras, ter a experiência de falar em público e também de receber as experiências dos educadores de cada instituição. Dessa forma, eram sempre três os alunos que ministravam as palestras realizadas em um mesmo local, ficando os outros como monitores, situação que era revezada quando da mudança de instituição.

Em cada instituição foram ministradas três palestras. A primeira tratou do tema "O que é Agressividade?" e teve como objetivo inicial conhecer a noção dos participantes sobre o tema. Na sequência, os alunos apresentaram o conteúdo programado, deixando margem para discussões no grupo realizado após a apresentação da parte teórica. A segunda palestra tratou do tema "Origens da Agressividade", em que foi mostrado como a agressividade é inerente ao ser humano, embasando-se principalmente na teoria do amadurecimento de Winnicott (1999). Exemplos e vídeos sobre situações com capacidade de potencializar a agressividade, recrudescendo-a, também foram apresentados. O terceiro e último encontro tratou do tema "Lidando com a Agressividade", em que foram discutidas algumas situações relatadas pelos participantes, buscando encontrar maneiras diferentes e mais eficientes de evitar o recrudescimento da agressividade, ou mesmo de lidar com crianças que já estivessem manifestando alto grau de agressividade. Após cada palestra, foram realizados grupos de reflexão com os participantes, processo esse coordenado pelos graduandos, com o suporte de um supervisor. Especificamente, serão analisados os relatos desses alunos após sua participação nos grupos de reflexão.

 

ANÁLISE DOS DADOS

Os pareceres individuais (relatos) obtidos por meio dessas discussões foram registrados de forma escrita e analisados qualitativamente. Esses relatos dos graduandos foram lidos inicialmente em profundidade, levantando-se os principais pontos abordados. Esse processo, segundo Turato (2003), "trata-se de considerar em destaque um ponto falado sem que necessariamente apresente certa repetição no conjunto do material", mas que é "rico em conteúdo" (p. 446). Em seguida, destacaram-se os pontos que se repetiram nos relatos. Posteriormente, organizaram-se os dados em função das temáticas trazidas nesses relatos e de suas relações com a formação profissional desses alunos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos relatos dos integrantes da equipe acerca de suas vivências na extensão ficou clara a percepção da importância da experiência de se conhecer a demanda de cada instituição, buscando respostas de acordo com as necessidades demonstradas:

Com o projeto pude perceber a importância de se conhecer a comunidade com a qual se trabalha, o que fica provado pelo fato de que nas instituições surgiram diferentes queixas, que acabavam orientando os encontros para rumos distintos... (Graduanda A).

Uma das características da extensão é o fato de proporcionar uma dupla formação, ou seja, além da formação dos membros da comunidade a quem se dirige o trabalho do projeto, há também a formação dos próprios extensionistas (ARROYO; ROCHA, 2010). Esta última diz respeito não somente ao profissional, mas também ao desenvolvimento do aluno como pessoa, como cidadão, ou seja, uma formação mais ampla.

Como atualmente a concorrência e as exigências do mercado de trabalho crescem a cada dia, é necessária uma formação profissional completa, na qual existam processos de aprendizagem que possam estimular a aquisição de competências profissionais. Segundo Cruz e Schultz (2009), as pessoas não nascem com competências, estas se constituem ao longo da vida baseadas em experiências de aprendizagem tanto formais como informais, de forma que se adquiram habilidades e capacidades para uma prática satisfatória da profissão.

Durante o projeto realizado foi possível observar certas apropriações importantes para a constituição das competências dos alunos envolvidos: (a) habilidade da utilização dos conhecimentos anteriormente adquiridos para a realização das atividades; (b) adaptação na maneira de agir dos integrantes da extensão, de acordo com a realidade específica de cada instituição; (c) capacidade de socializar-se, desenvolvida ao longo dos encontros, no contato com os educadores e também entre o próprio grupo de alunos durante o desenvolvimento das atividades propostas; (d) capacidade de enfrentar situações não programadas.

No início, foram destacadas algumas dificuldades, como ansiedade e insegurança de se perder ou não saber o que falar diante de alguma situação vivida no grupo. Contudo, de acordo com o relato dos estudantes, à medida que eles passaram a lidar diretamente com as professoras e educadoras das instituições, tiveram de se adaptar a situações inesperadas, como, por exemplo, perguntas sobre casos reais dentro da escola, pois foi muito grande a participação de todos nos encontros, enriquecendo as discussões. Esta dificuldade pode ser mostrada no seguinte relado de uma das integrantes da extensão:

O momento no qual eu ficava mais ansiosa era quando as professoras levantavam suas dúvidas no grupo de reflexão, conflitos e anseios, além de exporem as práticas que realizavam. Elas esperavam que transmitíssemos a elas fórmulas mágicas para que elas lidassem com determinadas situações ou que aprovássemos o que elas faziam. (Graduanda B).

Muitas vezes, durante essa participação das professoras, expondo suas práticas, algumas destas eram entendidas como inadequadas pelo grupo extensionista. Nesses momentos, os alunos demonstravam insegurança. Um deles relatou:

Com o tempo e a prática passei a me sentir mais à vontade para, sem ofendê-las, sugerir-lhes novas formas de atuação, também convidando o grupo para participar desse processo. (Graduando C).

Essas dificuldades puderam ser aos poucos superadas, como pode ser notado na fala de outro integrante:

Aprendi a não ficar extremamente nervosa quando fizessem perguntas (o nervosismo atrapalha a responder mesmo quando se sabe a resposta), aprendi a importância de expor uma nova forma de agir, de forma educada... (Graduando C).

Outra aprendizagem importante adquirida foi a percepção da necessidade de:

Ter flexibilidade em sua opinião do que é totalmente certo, e principalmente, compreensão acerca dos motivos pelos quais às vezes as pessoas agem ‘errado'. Muitas vezes, o que considerávamos errado ao ser visto isoladamente, era facilmente compreendido quando percebido em um contexto. (Graduando D).

Esse enfrentamento de situações reais foi de grande importância para o amadurecimento dos estudantes como pessoas e também como profissionais, desenvolvendo, assim, a capacidade de pensar sobre diferentes situações vividas em grupo, de interagir com a realidade e de serem críticos. Segundo Gondim (2002), esta maturidade é necessária e de extrema importância para agir em situações de imprevisibilidade.

A participação no projeto promoveu nos estudantes também a sensação de serem ativos na transformação da sociedade, por meio do conhecimento adquirido na universidade. Nos encontros, os estudantes difundiram as informações que recebiam na Universidade, discutiram-nas e as associaram com a realidade trazida pelos participantes, levando-os a refletir e repensar sua prática como educadores. Os integrantes do projeto entenderam o quanto era fundamental a atividade que efetuavam:

Havia uma responsabilidade grande de nossa parte ao realizarmos os encontros, não era simplesmente um seminário apresentado dentro de sala de aula. Estávamos diante de uma realidade específica e com problemas reais. As pessoas traziam esses problemas nos grupos. (Graduando B).

A partir dos comentários e relatos das professoras e educadoras nos grupos, os estudantes acreditam que puderam modificar alguns pensamentos sobre o tema da agressividade e, consequentemente, influenciar nas relações estabelecidas daqueles com os alunos ditos agressivos. A extensão, portanto, foi importante ao "contribuir para a qualidade da instituição e a melhoria do seu gerenciamento, promovendo não apenas um modo diferente de agir (mudança), como também um jeito diferente de ser (transformação)" (REINHARDT, 2008, p. 92).

Só o fato de as instituições abrirem suas portas para que os estudantes pudessem trabalhar em conjunto, já mostra um movimento importante no que se refere à escuta de outros saberes e opiniões, em uma tentativa de melhorar cada vez mais a instituição, a relação com os alunos e, consequentemente, o desenvolvimento dos mesmos. Ou seja, essa abertura foi muito importante para que os assuntos propostos e discutidos na extensão pudessem, de fato, fazer com que cada membro da instituição pensasse a respeito.

Outra característica dessa experiência de extensão foi o fato de todos os integrantes da equipe terem construído e planejado as atividades conjuntamente, de maneira que todos se sentiram responsáveis pelos bons resultados. A necessidade de planejar e confeccionar juntos os conteúdos apresentados nos encontros promoveu a oportunidade de os integrantes desenvolverem, além da responsabilidade, autonomia e maturidade. Este trabalho em equipe tem tido cada vez mais importância em diversas áreas profissionais, pois, quando esforços são somados, o trabalho realizado torna-se mais efetivo. Porém, saber trabalhar dessa maneira exige treino para que se desenvolva esta habilidade (SOUZA; MONTEIRO; ELGUES, 2007). Além disso, pesquisas apontam a habilidade de trabalhar em grupo como sendo uma das principais competências exigidas do profissional do futuro (FLEURY, 2002; SOUZA; MONTEIRO; ELGUES, 2007). Dessa maneira, percebe-se a importância de experiências como a extensão, que proporcionam uma oportunidade de aprender a trabalhar em uma equipe.

Durante as atividades do projeto, foi preciso melhorar cada vez mais a comunicação entre todos os participantes e respeitar sempre uns aos outros quando diferentes pontos de vista surgiam. Os conflitos e diferenças foram trabalhados com muito diálogo para que não se perdesse de vista o objetivo principal de todo o grupo. Dessa maneira, a extensão proporcionou uma experiência em grupo essencial, de forma que cada aluno aprimorou sua capacidade de conviver com o outro e de saber escutar a opinião de cada um. Este projeto procurou atender a uma determinada demanda das instituições, que era encontrar formas mais adequadas de lidar com a agressividade das crianças. Porém, a equipe, após a experiência da extensão, e ao refletir sobre esta, concordou com o fato de que teria conhecido melhor e de forma mais profunda as necessidades de cada instituição se houvesse a possibilidade de acompanhar mais de perto o cotidiano dos profissionais envolvidos. De modo similar, os alunos destacaram que seria importante que a extensão tivesse ocorrido após a disciplina de Teorias de Grupo, a fim de que eles pudessem ter mais ferramentas para o trabalho com a equipe de educadores e mais conhecimentos acerca dos dispositivos grupais.

Se tivéssemos acompanhado algumas aulas e observado o que realmente estava sendo feito, isso teria nos ajudado um pouco mais a compreender a verdadeira realidade do professor e ver o que mais é, ou não, possível ser feito nas situações das quais apenas ouvimos os relatos. (Graduando E).

A experiência de extensão, portanto, foi de extrema relevância, garantindo uma formação complementar em que competências importantes puderam ser desenvolvidas. Esta prática também nos mostrou a necessidade de respeitar os saberes populares e as diferenças culturais que são encontradas no contato com a comunidade, conforme destacado por Martín-Baró (1997).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a intenção de dar aos alunos maior conhecimento do trabalho prático com grupos de educadores, além da tentativa de colaborar com o conhecimento dos profissionais das instituições atendidas, o projeto de extensão aqui abordado possibilitou reflexões acerca tanto do processo de formação profissional como dos desafios envolvidos na prática com grupos.

Durante a prática da extensão, os alunos também puderam aprender com o contato com os professores, sendo que a experiência se constituiu em uma troca de saberes. Foi preciso respeitar as crenças já existentes dentro da instituição. Assim, a extensão não deve ocorrer de maneira que "sujeitos superiores vão depositar seus conhecimentos em pessoas-recipientes, não considerando e respeitando seus saberes, valores e crenças, ao contrário, impondo os valores e saberes do extensionista" (RIBEIRO, 2009, p. 336). Pelo contrário, esta prática deve ser entendida como uma troca recíproca de experiências e conhecimentos, pois não existe o "detentor da verdade".

A maneira dinâmica com a qual os encontros ocorreram permitiu que não apenas se apresentassem as teorias, mas possibilitou que os participantes se colocassem e mostrassem o seu ponto de vista e as dificuldades que encontravam em aplicar as teorias no seu dia-a-dia, sendo o grupo um espaço privilegiado para a instilação desses aspectos. As observações feitas nos contextos sociais visitados durante o projeto, de acordo com os estudantes extensionistas, enriqueceram muito a sua formação como profissionais, tornando-os mais capacitados a atender a quem necessita do seu trabalho. Além disso, puderam se sentir mais seguros de sua identidade de futuros psicólogos, após se observarem capazes de promover transformação na sociedade por meio das atividades realizadas na extensão.

 

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Endereço para correspondência
Carolina Martins Pereira Alves
E-mail: carolmartins4@gmail.com

Recebido em 05/04/2011
1ª Revisão em 06/05/2011
Aceite Final em 13/05/2011

 

 

1 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: carolmartins4@gmail.com
2 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: fernandinha_pavao@hotmail.com
3 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: jessicabsoares@hotmail.com
4 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: amanda.miareli@hotmail.com
5 Professor do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento, da Educação e do Trabalho da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Psicólogo, Mestre e Doutorando em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br
6 Professora do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento, da Educação e do Trabalho da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: serralhac@hotmail.com